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Processo de comunicação em saúde da enfermagem com o adolescente: abordagem do Event History Calendar

RESUMO

Objetivos:

apreender os componentes do calendário histórico de eventos relevantes ao processo comunicativo do enfermeiro com o adolescente, no âmbito da Atenção Primária à Saúde.

Métodos:

estudo reflexivo, fundamentado na abordagem do Event History Calendar, nas dimensões relacionais, comunicativas e educativas.

Resultados:

boas práticas para a promoção da saúde dos adolescentes são vitais e configuram um desafio para o enfermeiro. O Event History Calendar é ferramenta potencial para pesquisas e práticas de cuidado para apreender necessidades do adolescente, com recordatório de eventos-chave pessoais, culturalmente e socialmente específicos. A apreensão de dados retrospectivos referentes a atividades, comportamentos, experiências e transições da vida, em determinados períodos de tempo, possibilita o diálogo e novos entendimentos sobre a trajetória do adolescente.

Considerações Finais:

O Event History Calendar confere ao profissional enfermeiro uma expansão de sua atuação em dimensões educativas, relacionais e comunicativas, bem como para instruir planos e gestão do cuidado.

Descritores:
Comunicação em Saúde; Enfermagem; Adolescente; Promoção da Saúde; Enfermagem em Saúde Pública

ABSTRACT

Objectives:

comprehend the Event History Calendar components that are relevant for the nurse to adolescent communicative process, in the context of Primary Health Care.

Methods:

reflective study, based on the Event History Calendar approach, in the relational, communicative, and educational dimensions.

Results:

best practices for adolescent health promotion are vital and constitute a challenge to nurses. The Event History Calendar is a potential tool for research and care practices to comprehend the needs of adolescents, with reminder of key personal events, culturally and socially specific. The comprehension of retrospective data referring to activities, behaviors, experiences and transitions of life, in certain periods of time, enables dialogue and new understandings about the history of adolescents.

Final Considerations:

the Event History Calendar provides nursing professionals with an expansion of their practice in educational, relational, and communicative dimensions, as well as to instruct care planning and management.

Descriptors:
Health Communication; Nursing; Adolescent; Health Promotion; Public Health Nursing

RESUMEN

Objetivos:

comprender los elementos del calendario histórico de eventos relevantes al proceso comunicativo del enfermero con el adolescente, en el ámbito de la Atención Primaria de Salud.

Métodos:

estudio reflexivo, desde el enfoque del Event History Calendar, en las dimensiones relacionales, comunicativas y educativas.

Resultados:

las buenas prácticas para la promoción de la salud de los adolescentes son esenciales y constituyen un desafío al enfermero. El Event History Calendar es una herramienta potencial a las investigaciones y prácticas de asistencia para comprender las necesidades de los adolescentes, y contiene un recordatorio de los eventos clave personales, culturales y sociales específicos. El conocimiento de los datos retrospectivos referentes a las actividades, los comportamientos, las experiencias y el paso de la vida, en ciertos períodos de tiempo, permite el diálogo y nuevos entendimientos sobre la trayectoria del adolescente.

Consideraciones Finales:

el Event History Calendar permite que el profesional enfermero aumente su actuación en las dimensiones educativas, relacionales y comunicativas, además de establecer planes y una gestión del cuidado.

Descriptores:
Comunicación en Salud; Enfermería; Adolescente; Promoción de la Salud; Enfermería en Salud Pública

INTRODUÇÃO

O adolescente, sujeito em desenvolvimento, encontra-se inserido em determinado contexto social, político, econômico e cultural, apresentando vulnerabilidades e potencialidades que devem ser consideradas nas ações voltadas a esse segmento. As práticas de saúde devem considerar as singularidades e necessidades de cada adolescente e, para isso, a construção de espaços que permitam o diálogo horizontalizado emerge como fundamental para a abordagem promotora de saúde, que estimula o protagonismo na adolescência(11 Senna SRCM, Dessen MA. Reflexões sobre a saúde do adolescente brasileiro. Psicol Saude Doenças. 2015;16(2):217-29. doi: 10.15309/15psd160208.
https://doi.org/10.15309/15psd160208...
-22 Silva KVLG, Gonçalves GAA, Santos SB, Machado MFAS, Rebouças CBA, Silva VM, et al. Training of adolescent multipliers from the perspective of health promotion core competencies. Rev Bras Enferm. 2018;71(1):89-96. doi: 10.1590/0034-7167-2016-0532.
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).

A comunicação pode ser compreendida como um instrumento de trabalho dos profissionais de saúde, visto que intermedeia os encontros e contribui para o estabelecimento de relações entre profissionais e sujeitos(33 Coriolano-Marinus MWL, Queiroga BAM, Ruiz-Moreno L, Lima LS. Comunicação nas práticas em saúde: revisão integrativa da literatura. Saude Soc. 2014;23(4):1356-69. doi: 10.1590/S0104-12902014000400019.
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). No âmbito da Atenção Primária à Saúde (APS), o enfermeiro exerce relevante atuação de articulação e mediação, desempenhando diversas ações inerentes ao processo de cuidar e à gestão do cuidado, em atenção às necessidades de saúde das pessoas. Considerando as diferentes necessidades do adolescente, ressalta-se a importância da implementação da comunicação dialógica, embasada nas relações horizontais, com respeito à cultura e ao compartilhamento de saberes(11 Senna SRCM, Dessen MA. Reflexões sobre a saúde do adolescente brasileiro. Psicol Saude Doenças. 2015;16(2):217-29. doi: 10.15309/15psd160208.
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,33 Coriolano-Marinus MWL, Queiroga BAM, Ruiz-Moreno L, Lima LS. Comunicação nas práticas em saúde: revisão integrativa da literatura. Saude Soc. 2014;23(4):1356-69. doi: 10.1590/S0104-12902014000400019.
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-44 Sampaio J, Santos GC, Agostini M, Salvador AS. Limites e potencialidades das rodas de conversa no cuidado em saúde: uma experiência com jovens no sertão pernambucano. Interface (Botucatu). 2014;18(suppl 2):1299-311. doi: 10.1590/1807-57622013.0264.
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).

Na atenção à saúde do adolescente, os enfermeiros podem se deparar com lacunas, muitas vezes, relacionadas a vínculos fragilizados e pouca adesão às ações de saúde, sendo fundamentais as boas práticas no processo de cuidar como centralidade da Enfermagem.

Os aspectos e contextos que proporcionam a apreensão de necessidades ou as situações de saúde requerem constante ampliação de entendimento relevante ao processo de cuidar. Nesse caminho, a coleta de dados retrospectiva pode embasar a prática profissional do enfermeiro para a reconstrução de eventos importantes relacionados à saúde(55 Carter-Harris L. An introduction to key event mapping: a primer for nurse researchers. Appl Nurs Res. 2015;28(2):83-5. doi: 10.1016/j.apnr.2015.01.003.
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). A recordação retrospectiva constitui um desafio e o mapeamento de eventos-chave pode oferecer aos pesquisadores e profissionais enfermeiros um método rico e abrangente para investigar e analisar contextos de saúde(55 Carter-Harris L. An introduction to key event mapping: a primer for nurse researchers. Appl Nurs Res. 2015;28(2):83-5. doi: 10.1016/j.apnr.2015.01.003.
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).

Na perspectiva de contribuir para a expansão do cuidado à saúde do adolescente, que sustente o princípio da integralidade na atenção à saúde, o presente estudo traz reflexões sobre a abordagem do Event History Calendar (EHC)(66 Martyn KK, Belli RF. Retrospective data collection using event history calendars. Nurs Res. 2002;51(4):270-4. doi: 10.1097/00006199-200207000-00008.
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), para iluminar pesquisas e práticas de cuidado com o potencial de apreender as necessidades do adolescente e contribuir para promover o seu desenvolvimento integral.

OBJETIVOS

Apreender os componentes do calendário histórico de eventos relevantes ao processo comunicativo do enfermeiro com o adolescente, no âmbito da Atenção Primária à Saúde.

A atenção ao adolescente no contexto da Atenção Primária à Saúde

A adolescência é definida como um período de intensas transformações, individuais e relacionais, que se configuram como essenciais no processo de desenvolvimento do ser humano(11 Senna SRCM, Dessen MA. Reflexões sobre a saúde do adolescente brasileiro. Psicol Saude Doenças. 2015;16(2):217-29. doi: 10.15309/15psd160208.
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). O adolescente se depara com experiências singulares, que possibilitam a reconstrução de relações e estreitamento de vínculos de amizade e parceria, sendo uma etapa em que o sujeito se vê em um cenário imbuído por mudanças e desafios impostos pelo contexto vivenciado(11 Senna SRCM, Dessen MA. Reflexões sobre a saúde do adolescente brasileiro. Psicol Saude Doenças. 2015;16(2):217-29. doi: 10.15309/15psd160208.
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).

A adolescência não pode ser delimitada apenas com critérios cronológicos, pois envolve também aspectos físicos, sociais e culturais(11 Senna SRCM, Dessen MA. Reflexões sobre a saúde do adolescente brasileiro. Psicol Saude Doenças. 2015;16(2):217-29. doi: 10.15309/15psd160208.
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), a serem considerados na atenção dos profissionais de saúde a esse segmento. A saúde do adolescente envolve o reconhecimento da influência de uma multiplicidade de fatores no processo de adolescer, que podem se relacionar, por exemplo, ao exercício dos direitos, às vivências familiares, às amizades, à inserção no contexto escolar, às aspirações e construções de projetos futuros.

As ações e políticas voltadas para o segmento adolescente devem considerar as diferentes características individuais, sociais e culturais dessa população(11 Senna SRCM, Dessen MA. Reflexões sobre a saúde do adolescente brasileiro. Psicol Saude Doenças. 2015;16(2):217-29. doi: 10.15309/15psd160208.
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). Por conseguinte, na assistência, emerge a necessidade do profissional de saúde entender como cada adolescente vivencia os eventos peculiares dessa fase do desenvolvimento, bem como seus conhecimentos, crenças e competências referentes à saúde(11 Senna SRCM, Dessen MA. Reflexões sobre a saúde do adolescente brasileiro. Psicol Saude Doenças. 2015;16(2):217-29. doi: 10.15309/15psd160208.
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). As leis, as políticas e os programas de saúde podem contribuir para uma abordagem qualificada do adolescente(22 Silva KVLG, Gonçalves GAA, Santos SB, Machado MFAS, Rebouças CBA, Silva VM, et al. Training of adolescent multipliers from the perspective of health promotion core competencies. Rev Bras Enferm. 2018;71(1):89-96. doi: 10.1590/0034-7167-2016-0532.
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). A prática clínica no contexto da APS caracteriza-se pela proximidade e vínculo com os sujeitos, famílias e comunidade, com potencialidades para a atuação dos profissionais enfermeiros, condizente com a realidade e necessidades encontradas.

Nesse sentido, é relevante que os profissionais enfermeiros possuam competências e boas práticas no processo de cuidar do adolescente, com um olhar ampliado para os diferentes determinantes sociais envolvidos no processo saúde-doença e atuação na APS na perspectiva da intersetorialidade e integralidade da atenção ao adolescente.

O processo comunicativo para a promoção da saúde do adolescente

A promoção da saúde do adolescente possibilita a melhoria de suas condições de vida e saúde(22 Silva KVLG, Gonçalves GAA, Santos SB, Machado MFAS, Rebouças CBA, Silva VM, et al. Training of adolescent multipliers from the perspective of health promotion core competencies. Rev Bras Enferm. 2018;71(1):89-96. doi: 10.1590/0034-7167-2016-0532.
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). Considerando a estreita ligação entre comunicação e promoção da saúde, destaca-se aqui a importância do estabelecimento de um processo comunicativo efetivo com o adolescente. A promoção da saúde é compreendida como uma área dinâmica, que precisa responder a constantes desafios(22 Silva KVLG, Gonçalves GAA, Santos SB, Machado MFAS, Rebouças CBA, Silva VM, et al. Training of adolescent multipliers from the perspective of health promotion core competencies. Rev Bras Enferm. 2018;71(1):89-96. doi: 10.1590/0034-7167-2016-0532.
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), suscitados de acordo com o contexto em que se vive.

A partir do entendimento que o desenvolvimento saudável na adolescência encontra-se atrelado a uma multiplicidade de fatores físicos, psicológicos, sociais e ambientais(11 Senna SRCM, Dessen MA. Reflexões sobre a saúde do adolescente brasileiro. Psicol Saude Doenças. 2015;16(2):217-29. doi: 10.15309/15psd160208.
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), e que, além de garantir a sobrevivência do adolescente, é preciso ofertar um cuidado que não seja voltado apenas para as demandas orgânicas, mas que considere a amplitude do processo de adolescer(11 Senna SRCM, Dessen MA. Reflexões sobre a saúde do adolescente brasileiro. Psicol Saude Doenças. 2015;16(2):217-29. doi: 10.15309/15psd160208.
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), a promoção da saúde dos adolescentes é vital e configura um desafio para o enfermeiro da APS.

Nestas circunstâncias, é importante o enfermeiro estimular a contextualização e problematização da realidade vivenciada pelos adolescentes(77 Farre AGMC, Pinheiro PNC, Vieira NFC, Gubert FA, Alves MDS, Monteiro EMLM. Adolescent health promotion based on community-centered arts education. Rev Bras Enferm. 2018;71(1):26-33. doi: 10.1590/0034-7167-2016-0078.
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). Por meio de uma escuta sensível, o enfermeiro poderá identificar vulnerabilidades e adversidades, e desenvolver ações voltadas para o fortalecimento do protagonismo e da resiliência do adolescente, buscando aprofundar a promoção da saúde(77 Farre AGMC, Pinheiro PNC, Vieira NFC, Gubert FA, Alves MDS, Monteiro EMLM. Adolescent health promotion based on community-centered arts education. Rev Bras Enferm. 2018;71(1):26-33. doi: 10.1590/0034-7167-2016-0078.
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). Desse modo, há necessidade de revisão de concepções enrijecidas da adolescência como sendo uma fase difícil, que pode prejudicar o estabelecimento de relações entre enfermeiros e adolescentes e dificultar a formação de um vínculo de confiança e a construção de um cuidado integral.

Assim, na atenção à saúde do adolescente ganham destaque abordagens que possibilitam a fala do sujeito sobre suas vivências e a escuta sensível do profissional, por permitir questionamentos, discussões e reflexões, contribuindo para a criticidade e construção de novos significados(44 Sampaio J, Santos GC, Agostini M, Salvador AS. Limites e potencialidades das rodas de conversa no cuidado em saúde: uma experiência com jovens no sertão pernambucano. Interface (Botucatu). 2014;18(suppl 2):1299-311. doi: 10.1590/1807-57622013.0264.
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). Outro aspecto relevante é a habilidade de comunicação do enfermeiro, com a utilização de linguagem oportuna, postura adotada, conhecimento de estratégias que podem facilitar a abordagem e dinâmicas culturalmente condizentes com as necessidades dos adolescentes(22 Silva KVLG, Gonçalves GAA, Santos SB, Machado MFAS, Rebouças CBA, Silva VM, et al. Training of adolescent multipliers from the perspective of health promotion core competencies. Rev Bras Enferm. 2018;71(1):89-96. doi: 10.1590/0034-7167-2016-0532.
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), evitando atitudes e posturas impositivas e descontextualizadas.

Destarte, o ato comunicativo pode possibilitar a relação terapêutica de compartilhamento e ajuda e as condições para ações transformadoras de promoção da saúde, em que a autonomia e o protagonismo do sujeito sejam fortalecidos, contribuindo, assim, para práticas mais humanizadas e participativas(33 Coriolano-Marinus MWL, Queiroga BAM, Ruiz-Moreno L, Lima LS. Comunicação nas práticas em saúde: revisão integrativa da literatura. Saude Soc. 2014;23(4):1356-69. doi: 10.1590/S0104-12902014000400019.
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).

Ao refletir sobre novas modalidades de cuidado ao adolescente, desvinculadas de ações normativas e prescritivas, emergem as potencialidades das abordagens que possibilitam o acolhimento, a negociação e a criação de vínculos, utilizando metodologia ativa de ensino aprendizagem, como as rodas de conversa, que podem funcionar como uma estratégia de fomento à emancipação do sujeito(44 Sampaio J, Santos GC, Agostini M, Salvador AS. Limites e potencialidades das rodas de conversa no cuidado em saúde: uma experiência com jovens no sertão pernambucano. Interface (Botucatu). 2014;18(suppl 2):1299-311. doi: 10.1590/1807-57622013.0264.
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).

Os adolescentes podem ser protagonistas nas ações em saúde e, buscando o envolvimento e o empoderamento do adolescente, o enfermeiro pode também fomentar a educação entre pares, em que o próprio adolescente, após ser preparado, atua como multiplicador do conhecimento junto a outros adolescentes, o que pode favorecer a promoção da saúde(22 Silva KVLG, Gonçalves GAA, Santos SB, Machado MFAS, Rebouças CBA, Silva VM, et al. Training of adolescent multipliers from the perspective of health promotion core competencies. Rev Bras Enferm. 2018;71(1):89-96. doi: 10.1590/0034-7167-2016-0532.
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).

A atuação em diferentes cenários também pode ser favorável à promoção da saúde do adolescente. A arte/educação, por exemplo, que se apresenta como uma estratégia crítico-reflexiva, pode ser um espaço oportuno para a atuação do enfermeiro(77 Farre AGMC, Pinheiro PNC, Vieira NFC, Gubert FA, Alves MDS, Monteiro EMLM. Adolescent health promotion based on community-centered arts education. Rev Bras Enferm. 2018;71(1):26-33. doi: 10.1590/0034-7167-2016-0078.
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). Para isso, é preciso identificar, na comunidade adscrita, espaços de vivências artísticas e realizar articulação com ações de saúde, buscando um trabalho interdisciplinar(77 Farre AGMC, Pinheiro PNC, Vieira NFC, Gubert FA, Alves MDS, Monteiro EMLM. Adolescent health promotion based on community-centered arts education. Rev Bras Enferm. 2018;71(1):26-33. doi: 10.1590/0034-7167-2016-0078.
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). A comunicação participativa durante os momentos de atenção ao adolescente deve ser estimulada, visto que pode contribuir para o empoderamento deste sujeito(22 Silva KVLG, Gonçalves GAA, Santos SB, Machado MFAS, Rebouças CBA, Silva VM, et al. Training of adolescent multipliers from the perspective of health promotion core competencies. Rev Bras Enferm. 2018;71(1):89-96. doi: 10.1590/0034-7167-2016-0532.
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).

Ao refletir sobre o processo de adolescer e o estabelecimento da comunicação com o adolescente, é preciso considerar também as diversidades geográficas e regionais(11 Senna SRCM, Dessen MA. Reflexões sobre a saúde do adolescente brasileiro. Psicol Saude Doenças. 2015;16(2):217-29. doi: 10.15309/15psd160208.
https://doi.org/10.15309/15psd160208...
). Cabe ressaltar que, para a promoção da saúde na adolescência, os contextos sociais e familiares emergem como essenciais(77 Farre AGMC, Pinheiro PNC, Vieira NFC, Gubert FA, Alves MDS, Monteiro EMLM. Adolescent health promotion based on community-centered arts education. Rev Bras Enferm. 2018;71(1):26-33. doi: 10.1590/0034-7167-2016-0078.
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). Assim, nas práticas de cuidado, o enfermeiro deve considerar as influências da cultura e da rede de relações do adolescente.

Nas ações de cuidado, o enfermeiro deve buscar compreender a fala do adolescente e o seu contexto de vida, além de criar espaços para o compartilhamento de vivências e experiências. Pensando no estabelecimento do processo comunicativo voltado para as necessidades do adolescente, o enfermeiro pode utilizar determinadas ferramentas e, neste estudo, destaca-se o Event History Calendar (EHC).

O Event History Calendar como uma ferramenta de cuidado ao adolescente

As particularidades de cada adolescente e as potencialidades de uma comunicação efetiva necessitam ser consideradas para a promoção da saúde. Nesse âmbito, a utilização pelo enfermeiro de ferramentas que possibilitem o diálogo com o adolescente mostra-se fundamental, como o Event History Calendar (EHC), que aborda diferentes aspectos da trajetória de vida(66 Martyn KK, Belli RF. Retrospective data collection using event history calendars. Nurs Res. 2002;51(4):270-4. doi: 10.1097/00006199-200207000-00008.
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).

O mapeamento de eventos-chave e principais constitui um método que utiliza um processo de recuperação de um período de tempo ou data específica, montando um calendário para auxiliar um indivíduo a recordar episódios e eventos relevantes pessoais, locais, cultural e socialmente específicos(55 Carter-Harris L. An introduction to key event mapping: a primer for nurse researchers. Appl Nurs Res. 2015;28(2):83-5. doi: 10.1016/j.apnr.2015.01.003.
https://doi.org/10.1016/j.apnr.2015.01.0...
).

O EHC tem sido difundido em estudos internacionais(66 Martyn KK, Belli RF. Retrospective data collection using event history calendars. Nurs Res. 2002;51(4):270-4. doi: 10.1097/00006199-200207000-00008.
https://doi.org/10.1097/00006199-2002070...
,88 Martyn KK, Munro ML, Darling-Fisher CS, Ronis DL, Villarruel AM, Pardee M, et al. Patient-centered communication and health assessment with youth. Nurs Res. 2013;62(6):383-93. doi: 10.1097/NNR.0000000000000005.
https://doi.org/10.1097/NNR.000000000000...

9 Martyn KK, Reifsnider E, Murray A. Improving adolescent sexual risk assessment with event history calendars: a feasibility study. J Pediatr Health Care. 2006;20(1):19-26. doi: 10.1016/j.pedhc.2005.07.013.
https://doi.org/10.1016/j.pedhc.2005.07....
-1010 Martyn KK, Darling-Fisher C, Pardee M, Ronis DL, Felicetti IL, Saftner MA. Improving sexual risk communication with adolescents using event history calendars. J Sch Nurs. 2012;28(2):108-15. doi: 10.1177/1059840511426577.
https://doi.org/10.1177/1059840511426577...
), apresentado como uma ferramenta que pode ser utilizada pelo enfermeiro para o levantamento de dados retrospectivos referentes a eventos, atividades, comportamentos, experiências e transições de vida do sujeito, ocorridos em determinados períodos de tempo(66 Martyn KK, Belli RF. Retrospective data collection using event history calendars. Nurs Res. 2002;51(4):270-4. doi: 10.1097/00006199-200207000-00008.
https://doi.org/10.1097/00006199-2002070...
). O desenho do EHC é estruturado em colunas e linhas e é determinado de acordo com os objetivos e as informações que se pretende levantar, apontando nas colunas a indicação do tempo (dia, semana, mês, ano) e nas linhas os domínios da vida do sujeito (comportamentos, atividades ou eventos)(66 Martyn KK, Belli RF. Retrospective data collection using event history calendars. Nurs Res. 2002;51(4):270-4. doi: 10.1097/00006199-200207000-00008.
https://doi.org/10.1097/00006199-2002070...
). A Figura 1 traz um exemplo de EHC utilizado em uma pesquisa sobre comportamento de risco de adolescentes, desenvolvida com meninas de 15 a 19 anos de idade(66 Martyn KK, Belli RF. Retrospective data collection using event history calendars. Nurs Res. 2002;51(4):270-4. doi: 10.1097/00006199-200207000-00008.
https://doi.org/10.1097/00006199-2002070...
).

Figura 1
Esquema do Event History Calendar - Adolescent health risk behavior(66 Martyn KK, Belli RF. Retrospective data collection using event history calendars. Nurs Res. 2002;51(4):270-4. doi: 10.1097/00006199-200207000-00008.
https://doi.org/10.1097/00006199-2002070...
)

Apesar de ser uma ferramenta estruturada, o EHC permite flexibilidade, estimula a recordação de eventos passados(66 Martyn KK, Belli RF. Retrospective data collection using event history calendars. Nurs Res. 2002;51(4):270-4. doi: 10.1097/00006199-200207000-00008.
https://doi.org/10.1097/00006199-2002070...
) e favorece a comunicação(88 Martyn KK, Munro ML, Darling-Fisher CS, Ronis DL, Villarruel AM, Pardee M, et al. Patient-centered communication and health assessment with youth. Nurs Res. 2013;62(6):383-93. doi: 10.1097/NNR.0000000000000005.
https://doi.org/10.1097/NNR.000000000000...
). O EHC busca, portanto, uma reconstrução precisa e ampla de sucessivos acontecimentos da vida do adolescente, fornecendo informações sobre o tempo, a ocorrência e a sequência de eventos(66 Martyn KK, Belli RF. Retrospective data collection using event history calendars. Nurs Res. 2002;51(4):270-4. doi: 10.1097/00006199-200207000-00008.
https://doi.org/10.1097/00006199-2002070...
).

Em situações de uso do EHC, pode ser incentivada o autopreenchimento pelo adolescente e posteriormente revisão(99 Martyn KK, Reifsnider E, Murray A. Improving adolescent sexual risk assessment with event history calendars: a feasibility study. J Pediatr Health Care. 2006;20(1):19-26. doi: 10.1016/j.pedhc.2005.07.013.
https://doi.org/10.1016/j.pedhc.2005.07....
) e discussão(88 Martyn KK, Munro ML, Darling-Fisher CS, Ronis DL, Villarruel AM, Pardee M, et al. Patient-centered communication and health assessment with youth. Nurs Res. 2013;62(6):383-93. doi: 10.1097/NNR.0000000000000005.
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) com o enfermeiro. No campo da APS, em serviços e programas de atenção à saúde, o EHC pode ser preenchido pelo adolescente enquanto aguarda um atendimento em sala de espera, por exemplo, e discutido com o enfermeiro durante a consulta de enfermagem. Em outras situações de atendimento ao adolescente, preliminarmente ao acolhimento, é importante que o enfermeiro analise o EHC preenchido, para identificar os comportamentos e/ou as situações vulneráveis, as fontes de proteção, os cenários, pessoas-chave e outras questões relevantes a serem abordadas na consulta de enfermagem(1010 Martyn KK, Darling-Fisher C, Pardee M, Ronis DL, Felicetti IL, Saftner MA. Improving sexual risk communication with adolescents using event history calendars. J Sch Nurs. 2012;28(2):108-15. doi: 10.1177/1059840511426577.
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).

Cabe ressaltar que é fundamental que antes do primeiro preenchimento, o enfermeiro deve apresentar a ferramenta ao adolescente, explicar a sua finalidade, reconhecer os interesses do adolescente em utilizá-la e esclarecer as possíveis dúvidas. Outra possibilidade é a aplicação durante a consulta de enfermagem. Nas duas situações, o EHC pode operar como um disparador para o estabelecimento do processo comunicativo entre enfermeiro e adolescente.

Em cada atendimento no serviço de saúde, o adolescente preenche uma coluna de tempo do EHC, o que possibilita a identificação de uma sequência de eventos. Após o preenchimento do EHC pelo adolescente, o profissional de saúde pode adaptar a comunicação de acordo com as respostas contidas na ferramenta(88 Martyn KK, Munro ML, Darling-Fisher CS, Ronis DL, Villarruel AM, Pardee M, et al. Patient-centered communication and health assessment with youth. Nurs Res. 2013;62(6):383-93. doi: 10.1097/NNR.0000000000000005.
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). Esse processo pode auxiliar em apontamentos relativos às considerações de perspectivas e contextos vivenciados pelo sujeito, bem como no levantamento e compreensão de suas necessidades(88 Martyn KK, Munro ML, Darling-Fisher CS, Ronis DL, Villarruel AM, Pardee M, et al. Patient-centered communication and health assessment with youth. Nurs Res. 2013;62(6):383-93. doi: 10.1097/NNR.0000000000000005.
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).

Além disso, há um estudo(1010 Martyn KK, Darling-Fisher C, Pardee M, Ronis DL, Felicetti IL, Saftner MA. Improving sexual risk communication with adolescents using event history calendars. J Sch Nurs. 2012;28(2):108-15. doi: 10.1177/1059840511426577.
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) que sugere a facilidade na integração da abordagem EHC ao atendimento do adolescente no serviço de saúde, e a não ocorrência de impacto negativo no quantitativo de atendimentos. Nesse sentido, a utilização do EHC tem potencialidades para a qualidade da atenção ao adolescente e para a gestão do cuidado em saúde.

Ao utilizar o EHC, o enfermeiro possibilita que o adolescente visualize, ao logo do tempo, seus padrões de comportamentos(1010 Martyn KK, Darling-Fisher C, Pardee M, Ronis DL, Felicetti IL, Saftner MA. Improving sexual risk communication with adolescents using event history calendars. J Sch Nurs. 2012;28(2):108-15. doi: 10.1177/1059840511426577.
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). A visualização do EHC preenchido oferece oportunidades ao adolescente para compreensão dos momentos vivenciados e trajetórias de vida(88 Martyn KK, Munro ML, Darling-Fisher CS, Ronis DL, Villarruel AM, Pardee M, et al. Patient-centered communication and health assessment with youth. Nurs Res. 2013;62(6):383-93. doi: 10.1097/NNR.0000000000000005.
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). Ademais, o indivíduo pode revelar informações confidenciais ao refletir sobre sua trajetória de vida com o preenchimento do EHC(88 Martyn KK, Munro ML, Darling-Fisher CS, Ronis DL, Villarruel AM, Pardee M, et al. Patient-centered communication and health assessment with youth. Nurs Res. 2013;62(6):383-93. doi: 10.1097/NNR.0000000000000005.
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), o que sugere contribuições para a identificação de demandas de cuidado pelo enfermeiro. Assim, o EHC possui potencial para auxiliar na recordação e no relato de comportamentos em diferentes dimensões, padrões fisiológicos, adesão a tratamentos e gerenciamento de sintomas(66 Martyn KK, Belli RF. Retrospective data collection using event history calendars. Nurs Res. 2002;51(4):270-4. doi: 10.1097/00006199-200207000-00008.
https://doi.org/10.1097/00006199-2002070...
). Estudo indica que, para os adolescentes, o EHC pode ser vislumbrado também como uma ferramenta que favorece a abordagem de temas complexos, como aqueles relacionados à sexualidade, de uma forma mais aberta e aprofundada(1010 Martyn KK, Darling-Fisher C, Pardee M, Ronis DL, Felicetti IL, Saftner MA. Improving sexual risk communication with adolescents using event history calendars. J Sch Nurs. 2012;28(2):108-15. doi: 10.1177/1059840511426577.
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).

A abordagem EHC pode motivar, portanto, interações, discussões e entendimentos compartilhados, com a valorização da percepção do adolescente(88 Martyn KK, Munro ML, Darling-Fisher CS, Ronis DL, Villarruel AM, Pardee M, et al. Patient-centered communication and health assessment with youth. Nurs Res. 2013;62(6):383-93. doi: 10.1097/NNR.0000000000000005.
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) e a elaboração conjunta de estratégias de promoção da saúde(1010 Martyn KK, Darling-Fisher C, Pardee M, Ronis DL, Felicetti IL, Saftner MA. Improving sexual risk communication with adolescents using event history calendars. J Sch Nurs. 2012;28(2):108-15. doi: 10.1177/1059840511426577.
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). Nesse sentido, o EHC traz muitas potencialidades para o cuidado de enfermagem na atenção integral à saúde do adolescente, com contribuições à prática clínica do enfermeiro no âmbito da APS.

O desenvolvimento do EHC com adolescentes está vinculado à promoção da saúde(99 Martyn KK, Reifsnider E, Murray A. Improving adolescent sexual risk assessment with event history calendars: a feasibility study. J Pediatr Health Care. 2006;20(1):19-26. doi: 10.1016/j.pedhc.2005.07.013.
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-1010 Martyn KK, Darling-Fisher C, Pardee M, Ronis DL, Felicetti IL, Saftner MA. Improving sexual risk communication with adolescents using event history calendars. J Sch Nurs. 2012;28(2):108-15. doi: 10.1177/1059840511426577.
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), com foco no estabelecimento de uma comunicação horizontalizada e de acordo com as singularidades de cada adolescente. Estudo(99 Martyn KK, Reifsnider E, Murray A. Improving adolescent sexual risk assessment with event history calendars: a feasibility study. J Pediatr Health Care. 2006;20(1):19-26. doi: 10.1016/j.pedhc.2005.07.013.
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) apontou as contribuições do EHC para a comunicação e a melhoria da avaliação de risco sexual de adolescentes do sexo feminino. A abordagem do EHC também fornece benefícios à comunicação, ao envolvimento e à conscientização do adolescente diante dos eventos de sua vida(1010 Martyn KK, Darling-Fisher C, Pardee M, Ronis DL, Felicetti IL, Saftner MA. Improving sexual risk communication with adolescents using event history calendars. J Sch Nurs. 2012;28(2):108-15. doi: 10.1177/1059840511426577.
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).

Por conseguinte, nos momentos de atenção à saúde, apreende-se que a atuação de enfermeiros é enriquecedora ao assumir uma postura de abertura às demandas e às percepções do adolescente, o que pode contribuir para a conexão(88 Martyn KK, Munro ML, Darling-Fisher CS, Ronis DL, Villarruel AM, Pardee M, et al. Patient-centered communication and health assessment with youth. Nurs Res. 2013;62(6):383-93. doi: 10.1097/NNR.0000000000000005.
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) e as relações de parceria(1010 Martyn KK, Darling-Fisher C, Pardee M, Ronis DL, Felicetti IL, Saftner MA. Improving sexual risk communication with adolescents using event history calendars. J Sch Nurs. 2012;28(2):108-15. doi: 10.1177/1059840511426577.
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) a favor do cuidado integral à saúde. Nesse sentido, a utilização de ferramentas de cuidado, como o EHC, que possibilitam que contextos de vida sejam considerados e discutidos nos atendimentos de saúde pode contribuir para a efetividade do processo comunicativo e repercutir positivamente na atenção integral ao adolescente(88 Martyn KK, Munro ML, Darling-Fisher CS, Ronis DL, Villarruel AM, Pardee M, et al. Patient-centered communication and health assessment with youth. Nurs Res. 2013;62(6):383-93. doi: 10.1097/NNR.0000000000000005.
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).

Na atenção ao adolescente, a utilização da comunicação dialógica pelo enfermeiro pode favorecer o entendimento das situações vivenciadas, a criação e o fortalecimento de vínculos, bem como o fomento à autonomia e ao autocuidado. O entendimento da unicidade do ser adolescente(11 Senna SRCM, Dessen MA. Reflexões sobre a saúde do adolescente brasileiro. Psicol Saude Doenças. 2015;16(2):217-29. doi: 10.15309/15psd160208.
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), da relevância da promoção da autonomia e do empoderamento do sujeito apontam a necessidade de estratégias inovadoras, com destaque para as potencialidades do EHC como uma ferramenta de cuidado.

Assim, o EHC tem sido vislumbrado como uma ferramenta adequada ao cuidado do adolescente, que possibilita o levantamento e a coleta de informações retrospectivas, o estímulo à discussão e à compreensão de comportamentos e emoções do sujeito(66 Martyn KK, Belli RF. Retrospective data collection using event history calendars. Nurs Res. 2002;51(4):270-4. doi: 10.1097/00006199-200207000-00008.
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), sendo eficiente em termos de tempo e utilidade clínica(99 Martyn KK, Reifsnider E, Murray A. Improving adolescent sexual risk assessment with event history calendars: a feasibility study. J Pediatr Health Care. 2006;20(1):19-26. doi: 10.1016/j.pedhc.2005.07.013.
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), com repercussões positivas na comunicação com o adolescente(1010 Martyn KK, Darling-Fisher C, Pardee M, Ronis DL, Felicetti IL, Saftner MA. Improving sexual risk communication with adolescents using event history calendars. J Sch Nurs. 2012;28(2):108-15. doi: 10.1177/1059840511426577.
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), contribuindo para a compreensão ampliada de determinadas atitudes dos adolescentes, que podem estar relacionadas a eventos passados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A apreensão de dados retrospectivos referentes a atividades, comportamentos, experiências e transições da vida, ocorridos em determinados períodos de tempo, possibilita o diálogo e novos entendimentos sobre as jornadas vivenciadas por adolescentes.

O EHC, reconhecido como parte das boas práticas em saúde, confere ao profissional enfermeiro uma expansão de sua atuação com adolescentes, em dimensões educativas, relacionais e comunicativas, bem como para instruir planos e a gestão do cuidado.

O processo comunicativo do enfermeiro com o adolescente pode ser fomentado por meio da utilização de abordagens que privilegiam o diálogo e permitem o reconhecimento da pluralidade de eventos e contextos da adolescência. O presente estudo reflexivo sugere a necessidade de pesquisas futuras que explorem o uso do EHC em realidades contextualizadas, os domínios da ferramenta e a utilização pelos profissionais de saúde, em diferentes cenários e situações da trajetória na adolescência.

  • FOMENTO
    Estudo vinculado a projeto de pesquisa financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), processo nº 309085/2015-2.

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Editado por

EDITOR CHEFE: Antonio José de Almeida Filho
EDITOR ASSOCIADO: Priscilla Valladares Broca

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Abr 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    13 Jul 2018
  • Aceito
    06 Abr 2019
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