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Adolescência, gravidez e violência doméstica: condições sociais e projetos de vida

RESUMO

Objetivo:

analisar as condições sociais e os projetos de vida de adolescentes não gestantes, adolescentes gestantes e gestantes vítimas de violência doméstica.

Métodos:

trata-se de um estudo exploratório, descritivo e comparativo, de natureza quanti-qualitativa. Participaram do estudo 90 adolescentes entre 12 e 18 anos, constituindo-se em três grupos: Grupo A (30 adolescentes não grávidas e sem histórico de violência); Grupo B (30 adolescentes grávidas e sem histórico de violência); e Grupo C (30 adolescentes grávidas e com histórico de violência). Os instrumentos utilizados foram: questionário de caracterização das condições socioeconômicas, Inventário de Frases de Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes e entrevista estruturada.

Resultados:

adolescentes do Grupo C apresentaram escolaridade mais baixa, maior abandono escolar, menor renda familiar e projetos de vida a curto prazo.

Considerações finais:

nos projetos de vida e nas condições sociais (estado civil, escolaridade, condição de moradia e renda familiar), observou-se certa diferença entre os grupos.

Descritores:
Adolescência; Gravidez; Violência Doméstica; Condições Sociais; Projeto de Vida

ABSTRACT

Objective:

to analyze the social conditions and life projects of non-pregnant adolescents, pregnant adolescents and pregnant women who are victims of domestic violence.

Methods:

This is a exploratory, descriptive and comparative study of a quantitative and qualitative character. Ninety adolescents between 12 and 18 years old participated in the study, consisting of three groups: Group A (30 non-pregnant adolescents with no history of violence); Group B (30 pregnant adolescents with no history of violence); and Group C (30 pregnant adolescents with a history of violence). The tools used were a questionnaire of characterization of socioeconomic conditions, Inventory of Domestic Violence Against Children and Adolescent Phrases and structured interview.

Results:

Group C adolescents had lower schooling, higher school dropout, lower family income and short-term life projects.

Final considerations:

in life projects and social conditions (marital status, education, living conditions and family income) there was some difference between the groups.

Descriptors:
Adolescence; Pregnancy; Domestic Violence; Social Conditions; Life Projects

RESUMEN

Objetivo:

analizar las condiciones sociales y los proyectos de vida de adolescentes no embarazadas, adolescentes embarazadas y mujeres embarazadas que son víctimas de violencia doméstica. Métodos: estudio exploratorio, descriptivo y comparativo de naturaleza cuantitativa y cualitativa. El estudio incluyó a 90 adolescentes entre 12 y 18 años, que consta de tres grupos: Grupo A (30 adolescentes no embarazadas sin antecedentes de violencia); Grupo B (30 adolescentes embarazadas sin antecedentes de violencia); y Grupo C (30 adolescentes embarazadas con antecedentes de violencia). Los instrumentos utilizados fueron: cuestionario de caracterización de condiciones socioeconómicas, Inventario de frases de violencia doméstica contra niños y adolescentes y entrevista estructurada. Resultados: los adolescentes del Grupo C tenían menor escolaridad, mayor deserción escolar, menores ingresos familiares y proyectos de vida a corto plazo.

Consideraciones finales:

en los proyectos de vida y las condiciones sociales (estado civil, educación, condiciones de vida e ingresos familiares), hubo una cierta diferencia entre los grupos.

Descriptores:
Adolescencia; Embarazo; Violencia Doméstica; Condiciones Sociales; Proyectos de Vida

INTRODUÇÃO

Adolescência e Projetos de Vida

A adolescência é uma fase singular da vida de um indivíduo que se situa entre a infância e a vida adulta. Segundo Levisky (11 Levisky DL. Adolescência e violência: a psicanálise na prática social. In: Levisky DL (org.). Adolescência pelos caminhos da violência. São Paulo: Casa do Psicólogo; 1998.), neste momento da vida, o processo de identificação está em plena reestruturação, e o adolescente necessita do suporte familiar e social para a construção dessa identidade. Além disso, é um período de intensas modificações físicas, psíquicas e afetivas.

De acordo com Macedo et al. (22 Macedo MMK, Azevedo BH, Castan JU. Adolescência e psicanálise. In: Macedo MMK (org.). Adolescência e psicanálise: intersecções possíveis (2ª ed.). Porto Alegre: EdiPUCRS; 2012.), os planos para o futuro, tanto pessoais quanto profissionais, começam a ser pensados no início da adolescência. Segundo Freud (33 Freud S. O mal-estar na civilização. In: S. Freud. Obras Completas, Volume 18 - O mal-estar na civilização e outros textos (1930-1936). São Paulo: Companhia das Letras; 2010.), por meio do trabalho, o indivíduo é e valorizado pela sociedade, podendo descarregar seus impulsos libidinais, agressivos e eróticos. Desta forma, o adolescente passa a investir libidinalmente na profissão. Além de ser um aspecto importante na construção de sua identidade, que é a identidade profissional; o trabalho também surge como possibilidade real da concretização de seus sonhos, seus ideais, bem como pela conquista da independência financeira (33 Freud S. O mal-estar na civilização. In: S. Freud. Obras Completas, Volume 18 - O mal-estar na civilização e outros textos (1930-1936). São Paulo: Companhia das Letras; 2010.).

A busca por essa independência financeira, pela formação educacional, pelo reconhecimento de um papel social por meio da profissão, pelas conquistas materiais e pela constituição da família são objetivos mais característicos do final da adolescência (22 Macedo MMK, Azevedo BH, Castan JU. Adolescência e psicanálise. In: Macedo MMK (org.). Adolescência e psicanálise: intersecções possíveis (2ª ed.). Porto Alegre: EdiPUCRS; 2012.). Um estudo buscou investigar os projetos futuros de estudantes do ensino médio de escolas públicas, concluindo que os principais objetivos dos estudantes eram continuar seus estudos e trabalhar (4 4. Costa EFL, Oliveira CT, Dias ACG. Projetos futuros de estudantes do ensino médio de escola pública. Adolesc Saúde . [Internet] 2017 [cited 2019 Aug 21];14(4):31-40. Available from: http://www.adolescenciaesaude.com/detalhe_artigo.asp?id=681
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). Além dos sonhos e desejos pelas conquistas profissionais, pela independência financeira, no final desta fase da vida, o matrimônio também pode ser um desejo e uma possibilidade (22 Macedo MMK, Azevedo BH, Castan JU. Adolescência e psicanálise. In: Macedo MMK (org.). Adolescência e psicanálise: intersecções possíveis (2ª ed.). Porto Alegre: EdiPUCRS; 2012.).

Porém, diante de situações como condições socioeconômicas baixas, gravidez na adolescência e violência doméstica, os sonhos, desejos e busca pela concretização de seus ideais podem ficar interrompidos e/ou comprometidos pelo atravessamento dessas problemáticas. Para Costa e Assis (55 Costa C, Assis S. Fatores protetivos a adolescentes em conflito com a lei no contexto socioeducativo. Psicol Soc . 2006;18(3):74-81. doi: 10.1590/S0102-71822006000300011
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), situações de vulnerabilidade vivenciadas pelo adolescente podem afetar o planejamento de seu futuro, pois a exposição a riscos e a falta de confiança na proteção adulta se tornam obstáculos para pensar este planejamento.

Gravidez na Adolescência

A gravidez na adolescência ainda hoje é um assunto muito discutido e debatido mundialmente devido à expressiva incidência. No mundo, a cada ano, ficam grávidas aproximadamente 16 milhões de adolescentes de 15 a 19 anos e 2 milhões de adolescentes menores de 15 anos. Metade destes partos acontece em sete países: Bangladesh, Brasil, República Democrática do Congo, Etiópia, Índia, Nigéria e nos Estados Unidos da América (66 UNFPA. Estado de la Población Mundial. New York: UNFPA [Internet]. 2017. [cited 2018 Sep 27]. Available from: https://www.unfpa.org/sites/default/files/sowp/downloads/UNFPA_PUB_2017_ES_SWOP_Estado_de_la_Poblacion_Mundial.pdf
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). Em 2016, no Brasil, identificaram-se 24.084 nascimentos de meninas entre 10 e 14 anos, e 476.543 entre 15 e 19 anos (77 Fundo das Nações Unidas para a Criança - Brasil. A cada 7 minutos, uma criança ou um adolescente morre vítima da violência [Internet]. 2017 [cited 2018 nov. 15]. Available from: https://www.unicef.org/brazil/pt/media_37371.html.
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).

Algumas pesquisas apontam que o maior número de mães adolescentes se encontra nas classes economicamente mais baixas, com menor chance de qualificação profissional e de maior vulnerabilidade social (88 Bravo DY, Toomey RB, Umaña-Taylor AJ, Updegraff KA, Jahromi LB. Growth trajectories of Mexican-origin adolescent mothers educational expectations. Int J Behav Develop. 2017;41(2):165-74. doi: 10.1177/0165025415616199
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9 Novellino MSF. Um estudo sobre as mães adolescentes brasileiras. Physis Rev Saúde Colet. 2011; 21(1): 299-318. doi: 10.1590/ S0103-73312011000100018.
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10 Taborda JA, Silva FC, Ulbricht L, Neves EB. Consequências da gravidez na adolescência para as meninas considerando-se as diferenças socioeconômicas entre elas. Cad Saúde Colet. 2014; 22(1):16-24. doi: 10.1590/1414-462X201400010004
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-1111 Pires R, Pereira J, Pedrosa AA, Vilar D, Vicente L, Canavarro MC. Contributo de fatores individuais, sociais e ambientais para decisão de prosseguir uma gravidez não planeada na adolescência: estudo caracterizador da realidade portuguesa. An. Psicol. 2015;33(1):19-38. doi: 10.14417/ap.827
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). Dados também demonstram relação entre gravidez na adolescência e menos anos de estudo. 18,7% das adolescentes entre 15 e 19 anos e com até 7 anos de estudos têm 1 ou mais filhos, já as com 8 ou mais anos de estudos essa porcentagem cai para 8% (99 Novellino MSF. Um estudo sobre as mães adolescentes brasileiras. Physis Rev Saúde Colet. 2011; 21(1): 299-318. doi: 10.1590/ S0103-73312011000100018.
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). Pesquisas apontam que o abandono escolar e a falta de participação no mercado de trabalho decorrem tanto da maternidade na adolescência quanto da condição socioeconômica em que as adolescentes viviam previamente (1010 Taborda JA, Silva FC, Ulbricht L, Neves EB. Consequências da gravidez na adolescência para as meninas considerando-se as diferenças socioeconômicas entre elas. Cad Saúde Colet. 2014; 22(1):16-24. doi: 10.1590/1414-462X201400010004
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-1111 Pires R, Pereira J, Pedrosa AA, Vilar D, Vicente L, Canavarro MC. Contributo de fatores individuais, sociais e ambientais para decisão de prosseguir uma gravidez não planeada na adolescência: estudo caracterizador da realidade portuguesa. An. Psicol. 2015;33(1):19-38. doi: 10.14417/ap.827
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). O abandono escolar, em outra pesquisa, foi identificado não como consequência da gravidez na adolescência, mas como um fato que ocorreu anteriormente à gestação da jovem (1212 Sabroza AR, Leal MC, Souza Jr PR, Gama SGN. Algumas repercussões emocionais negativas da gravidez precoce em adolescentes do município do Rio de Janeiro (1999-2001). Cad Saúde Pública. 2004; 20(sup.1): s130-s137. doi: 10.1590/S0102-311X2004000700014
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).

Esses dados concordam com a revisão descritiva de Dávila et al. (1313 Dávila RF, Fajardo GDE, Jiménez CCA, Florido PC, Vergara CKC. Factores de riesgo psicosocial para embarazo temprano y deserción escolar en mujeres adolescentes. Rev Cienc Salud. 2016;14(1):93-101. doi: 10.12804/revsalud14.01.2016.11
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), na qual foram identificados como os principais fatores psicossociais relacionados à gravidez na adolescência: violência vivida durante a adolescência; abuso sexual; baixa autoestima; baixa renda; transtornos alimentares; alcoolismo; tabagismo; drogadicção; início precoce das relações sexuais; famílias abusivas; falta de acesso à informação e ao planejamento familiar. O estudo de Garwood et al. (1414 Garwood SK, Gerassi L, Jonson-Reid M, Plax K, Drake B. More than poverty: the effect of child abuse and neglect on teen pregnancy risk. J Adolesc Health. 2015;57(2):164-8. doi: 10.1016/j.jadohealth.2015.05.004.
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) apontou os maus-tratos na infância como um fator de risco significativo para a gravidez na adolescência entre jovens de baixa renda. Em consonância, o estudo de Negriff et al. (1515 Negriff S, Schneiderman JU, Trickett PK. Child Maltreatment and Sexual Risk Behavior: Maltreatment Types and Gender Differences. J Dev Behav Pediatr. 2015;36(9):708-16. doi: 10.1016/j.jadohealth.2015.05.004
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) demonstrou especificadamente que as adolescentes que sofreram negligência apresentaram maior frequência de comportamentos sexuais de risco e maior índice de gravidez na adolescência com relação às jovens que não vivenciaram essas situações de violência. Nesta direção, o trabalho de Miura et al. (1616 Miura PO, Passarini GMR, Ferreira LS, Tardivo LSLPC, Barrientos DMS, Paixão RAP. Vulnerabilidade cumulativa: estudo de um caso de violência doméstica, toxicodependência e gravidez na adolescência. Rev Esc Enferm USP . 2014;48(esp.2):55-61. doi: 10.1590/ S0080-623420140000800009
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) abordou sobre a vulnerabilidade potencializada e o abandono dos projetos de vida quando a gravidez na adolescência também foi atravessada pela história de violência intrafamiliar e pelo uso e abuso de drogas lícitas e ilícitas.

Acredita-se que o alto índice da gravidez na adolescência no mundo e, especificamente no Brasil, aponta para uma ausência de estudos e políticas junto a este público, sendo importante o desenvolvimento de trabalho neste âmbito, principalmente na compreensão de fatores relacionados à gravidez nesta fase da vida e se essa condição interfere nos projetos de vida das jovens. Diante do exposto, este trabalho buscou responder algumas questões: será que há diferença nas condições sociais de adolescentes gestantes, não gestantes e gestante vítimas de violência? Será que a gravidez na adolescência interfere nos projetos de vida das adolescentes? Será que a violência doméstica vivenciada pelas adolescentes grávidas interfere nos projetos de vida das jovens?

OBJETIVO

Analisar as condições sociais e os projetos de vida de adolescentes não gestantes, adolescentes gestantes e gestantes vítimas de violência doméstica.

MÉTODOS

Aspectos éticos

O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa da Instituição responsável. As adolescentes participantes preencheram e assinaram os Termos de Assentimento (TA), bem como seus pais e/ou responsáveis os Termos de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Todos os preceitos éticos recomendados pelo Conselho Nacional de Saúde, conforme resolução nº 466/12, foram atendidos.

Tipo de estudo

Esta é uma pesquisa de caráter quantitativo e qualitativo. Para Minayo e Sanches (1717 Minayo MCS, Sanches O. Quantitativo-Qualitativo: oposição ou complementaridade? Cad Saúde Pública [Internet]. 1993 [cited 2019 Sep 20];9(3):239-62. Available from: http://www.scielo.br/pdf/%0D/csp/v9n3/02.pdf
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), o método quanti-qualitativo se complementa, “o estudo quantitativo pode gerar questões para serem aprofundadas qualitativamente, e vice versa” (p. 247). Além disso, trata-se de um estudo exploratório, descritivo e comparativo. Exploratório (1818 Hochman B, Nahas FX, Oliveira FRSde, Ferreira LM. Desenhos de pesquisa. Acta Cir Bras. 2005;20(Suppl-2):2-9. doi: 10.1590/ S0102-86502005000800002
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), pois há o intuito de aproximação e aprofundamento do tema estudado. Descritivo (1818 Hochman B, Nahas FX, Oliveira FRSde, Ferreira LM. Desenhos de pesquisa. Acta Cir Bras. 2005;20(Suppl-2):2-9. doi: 10.1590/ S0102-86502005000800002
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), pois há a intenção de observar, registrar e descrever sobre o fenômeno pesquisado e comparativo (1818 Hochman B, Nahas FX, Oliveira FRSde, Ferreira LM. Desenhos de pesquisa. Acta Cir Bras. 2005;20(Suppl-2):2-9. doi: 10.1590/ S0102-86502005000800002
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) devido a comparação feita entre diferentes grupos.

Cenário do estudo e Fonte de dados

O presente estudo foi desenvolvido junto a 90 adolescentes entre 12 e 18 anos, constituindo-se em três grupos: Grupo A, composto por 30 adolescentes não grávidas e sem comprovação de histórico de violência; Grupo B, composto por 30 adolescentes grávidas e sem comprovação de histórico de violência; e Grupo C, composto por 30 adolescentes grávidas e com comprovação de histórico de violência por meio de laudos institucionais. As participantes do Grupo A e B provieram de instituições de saúde e as do Grupo C de instituições de acolhimento e/ou saúde.

Coleta e organização dos dados

Primeiramente, uma das pesquisadoras entrou em contato com os responsáveis pelas instituições de acolhimento e de saúde para apresentar a pesquisa e solicitar autorização para a realização da investigação, a qual foi concedida prontamente, dada a importância de se realizar estudos sobre essa temática. A instituição de acolhimento é um organização que acolhe crianças e adolescentes que sofreram algum tipo de violência intrafamiliar. Neste local foi feito um convite coletivo para todas as adolescentes, as quais aceitaram voluntariamente participar da presente pesquisa. A instituição de saúde oferece serviços especializados ao público adolescente e, neste local, o convite era feito individualmente conforme a presença da adolescente. Na sequência da realização do convite, eram agendadas as entrevistas com as adolescentes de acordo com suas disponibilidades, e elas compareciam no dia e hora agendados, acompanhadas por educadores da instituição de acolhimento ou pelos responsáveis.

Em sala tranquila, livre de ruídos e interferência, foram realizados os encontros com as adolescentes, individualmente, que duraram cerca de 45 minutos cada. Os instrumentos utilizados nos três grupos foram: questionário de caracterização das condições socioeconômicas (idade, raça/cor, escolaridade, trabalho, condições de moradia e renda familiar); Inventário de Frases de Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes (IFVD) (1919 Tardivo LSLPC, Pinto Jr AA. Inventário de frases no diagnóstico de violência doméstica contra crianças e adolescentes. São Paulo: Vetor; 2010. (Coleção IFVD; vol. 1).) e entrevista estruturada sobre o tema: projeto de vida das adolescentes.

A aplicação do IFVD foi realizada com o intuito de contribuir com a identificação das possíveis adolescentes vítimas de violência doméstica. O IFVD é composto de 57 frases (que não tratam a violência de forma direta) de fácil entendimento, que sugerem algum tipo de experiência de vitimização. As frases estão relacionadas à experiência de violência doméstica, sendo assim, relacionadas a transtornos cognitivos, comportamentais, emocionais, físicos e sexuais. A pontuação máxima no inventário é 47, e a soma total de pontos que for igual ou superior a 22 indica que o entrevistado pode ser vítima de violência doméstica. Tardivo e Pinto Junior (1919 Tardivo LSLPC, Pinto Jr AA. Inventário de frases no diagnóstico de violência doméstica contra crianças e adolescentes. São Paulo: Vetor; 2010. (Coleção IFVD; vol. 1).) apontam que não se pode afirmar com total segurança que a criança sofre algum tipo de violência sem ter nenhum outro dado diagnóstico, sendo assim o IFVD é um auxiliar e útil instrumento aplicado fundamentalmente em crianças e adolescentes entre 6 e 18 anos. Porém, quando existe a suspeita, esse dado é bastante indicativo.

As entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas para análise dos dados. As pesquisadoras que realizaram as entrevistas tinham familiaridade com as normas e rotina das instituições, bem como afinidade em trabalhar com adolescentes, facilitando assim o acesso as adolescentes participantes da pesquisa.

Os grupos A e B foram compostos por adolescentes provenientes de instituição de saúde e sem histórico de violência, ou seja, não foi identificado nos relatos das jovens experiência de violência doméstica e a média de pontuação do IFVD (1919 Tardivo LSLPC, Pinto Jr AA. Inventário de frases no diagnóstico de violência doméstica contra crianças e adolescentes. São Paulo: Vetor; 2010. (Coleção IFVD; vol. 1).) foi inferior a 22 pontos (Grupo A (média=12,60) e Grupo B (média=14,47)). O grupo C foi composto por adolescentes com histórico de violência provenientes de instituição de saúde ou de instituição de acolhimento (legalmente crianças e adolescentes que vivem nesta instituição já vivenciaram em algum momento da vida qualquer tipo de violência doméstica). Nesse último grupo, foi identificado. nos relatos das jovens. experiência de violência doméstica e a média de pontuação do IFVD foi igual ou superior a 22 pontos (média=28,63).

Análise dos dados

Para a análise, foram considerados três grupos acima descritos como Grupos A, B e C. Os dados dos três grupos foram analisados comparativamente. Os dados das condições socioeconômicas foram analisados estatisticamente por meio do Teste do Qui-Quadrado (x2), com nível de significância de 5% (valor de p < 0,05). As entrevistas foram analisadas com base no método de análise de conteúdo (2020 Bardin L. A análise de conteúdo. 3ª ed. Lisboa: Edições 70; 2013.), bem como tabulados e analisados estatisticamente pelo teste descrito acima.

O Teste do Qui-Quadrado (x2) foi realizado entre Grupo A e B; Grupo B e C; Grupo A e C, bem como entre os três Grupos A, B e C. Quando se observava diferença significativa nos três pares de grupos (A-B, B-C e A-C), fazia-se o teste comparando juntamente os dados dos três grupos, mantendo o valor de p apenas deste teste, mas quando não, manteve-se o valor de p dos pares de grupos testados para deixar explícita em qual dos pares de grupos havia ou não diferença estatística significativa. A análise par a par se deu para identificação de diferenças significativas ou não entre todos os grupos e em todos os itens analisados.

RESULTADOS

Perfil socioeconômico

A tabela a seguir apresenta os dados referentes ao perfil socioeconômico das adolescentes entrevistadas.

Tabela 1
Perfil socioeconômico das adolescentes entrevistadas (n(%)) e valor de p

Com relação à idade e à raça/cor, a análise estatística entre os três grupos não apresentou diferença significativa, valor de p respectivamente p<0,2769 e p<0.503037. Com relação ao estado civil, observou-se diferença significativa entre os três grupos (p<0.001446), mas quando feita análise estatística par a par, percebeu-se que não houve diferença significativa entre B-C (p < 0.349018).

Com relação à escolaridade, pôde-se observar diferença significativa entre os três grupos (p < 0,0149), com o Grupo A apresentando um percentual menor de jovens no Fundamental II comparado aos outros grupos. A análise estatística da defasagem idade-série entre os três grupos demonstrou diferença significativa com valor de p < 0.00001. Já a análise estatística quanto à adolescente estar ou não estudando foi significativa entre os três grupos, mas na análise par a par, não houve diferença significativa entre o Grupo B-C (p < 0.052053). Quanto à moradia e à renda familiar, observou-se diferença significativa entre os três grupos (moradia - p <0 .004075 e renda familiar - p< 0.000369), mas quando feita análise estatística par a par, percebeu-se que não houve diferença significativa entre A-B (moradia p < 0.202595, renda familiar - p < 0.131286).

Projetos de Vida

O tema abordado nas entrevistas com as adolescentes foi “projeto de vida”, nas quais cada uma delas relatou mais de um plano, desejo ou sonho, que foram tabulados e contabilizados conforme a Tabela 2.

Tabela 2
Projetos de vida relatados pelas adolescentes participantes n(%)

No Grupo A, pode-se observar que a maioria (n=22, 73,3%) das jovens tem como projeto de vida fazer uma faculdade. A fala de uma das adolescentes representa essa vontade.

Agora estou no 2º ano, né. Então ano que vem vou me esforçar bastante, fazer vestibular. Vou fazer medicina, vou fazer obstetrícia ou pediatria. Eu quero muito ser aquela médica no futuro que vai fazer a diferença na vida dos pacientes. (GA E1, 17 anos)

Os projetos de trabalhar e casar das adolescentes do Grupo A aparecem na mesma proporção (n=12, 40%). Algumas falas das adolescentes demonstram esses sonhos entre outros.

Estou fazendo faculdade de jornalismo, quero terminar, arrumar um emprego bom [de preferência], casar, ter filho e por aí vai. Comprar casa, comprar carro, viver bem, não ser rica, mas viver sem passar necessidade. (GA E13, 18 anos)

Com relação aos projetos de vida das adolescentes grávidas do Grupo B, os planos mais relatados foram cuidar do filho (n=17, 56,7%), trabalhar (n=17, 56,7%), e fazer uma faculdade (n=15, 50%). Quase metade (n=12, 40%) das jovens deste grupo relatou vontade de terminar o Ensino Médio, já no Grupo A isso não apareceu, justamente porque elas estavam estudando ou já tinham terminado o ensino médio. A fala a seguir demonstra esses projetos:

Ah, meu projeto agora é meu filho né! Depois terminar a faculdade, eu quero atuar na minha área e depois fazer pós. (GB E5, 18 anos)

O relato da adolescente abaixo descreve seus projetos pautados em trajetórias que conduzem a sua concretização. Ela tem apoio de seu companheiro para continuar realizando seus planos mesmo com o novo membro da família a caminho.

Como eu vou ganhar em janeiro do ano que vem, no meio do ano eu quero fazer faculdade. O meu marido me incentiva muito, ele vai começar a fazer Engenharia Civil. (GB E12, 18 anos)

A fala da adolescente a seguir demonstra claramente que a gravidez interrompeu seus projetos, mas que quer voltar logo a realizá-los.

Não vejo a hora de voltar a estudar. Odeio ficar em casa sem fazer nada, principalmente agora que eu não posso andar muito que meus pés já incham. Não vejo a hora de voltar a fazer minha faculdade, trabalhar. (GB E13, 18 anos)

No Grupo C, os projetos mais relatados pelas adolescentes foram: vontade de terminar os estudos (ensino médio) (n=16, 53,3%), trabalhar (n=16, 53,3%), cuidar do filho (n=15, 50%) e ter a casa própria (n=9, 30%). A fala a seguir demonstra esses projetos:

Ah, por enquanto eu prefiro cuidar da minha filha. Aí mais pra frente eu quero trabalhar, quero casar e ter a minha casa, né? (GC E24, 18 anos)

Algumas falas das adolescentes demonstraram o desejo de trabalhar com intuito de oferecer melhores condições de vida tanto financeira quanto afetivamente para os filhos.

Quero ser responsável, cuidar direitinho da criança. Eu quero trabalhar, dar tudo que puder, mas não assim do bom e do melhor. Eu quero dar uma vida boa para ela. Sempre dar atenção assim, carinho, atenção, coisa que eu nunca tive, e dar, passar pra ela. Poder estar junto com ele [companheiro] para criar ela [filha]. (GC E9, 18 anos)

Outras adolescentes demonstraram dificuldades em ter que assumir a maternidade, deslocando o papel do cuidado para o outro, neste caso a creche.

Ah, quando essa neném nascer agora, eu vou arrumar um jeito de me cuidar, arrumar meu cabelo, arrumar um servicinho pra mim, colocar ela na creche. (GC E11, 18 anos)

A creche foi relatada como lugar de apoio e suporte no cuidado com o filho por outras adolescentes deste grupo, o que não aconteceu no Grupo B, já que neste grupo as adolescentes relatavam que voltariam a estudar e trabalhar, pois os familiares e companheiros iriam ajudar no cuidado com o filho, apontando para a importância do ambiente familiar e do companheiro neste momento

Eu vou esperar pra poder fazer meus seis meses pra poder colocar na creche, pra poder ter um emprego, né? Pretendo ter minha casa, terminar os estudos. (GC E12, 18 anos)

Adolescentes que relataram não ter projeto de vida foram 13,3% (n=4), no Grupo B apenas uma disse não ter projeto e no Grupo A todas relataram algum projeto.

Eu ainda não tenho. Estou com a cabeça meio confusa. (GC E30, 16 anos)

Observou-se que as adolescentes do Grupo C foram as que demonstraram menor vontade de fazer uma faculdade (n=4, 13,3%) comparado com os outros Grupos (Grupo A n=22, 73.3% e Grupo B n=15, 50%). No entanto, 16 adolescentes (53,3%) do Grupo C relataram vontade de terminar o ensino médio comparado com 12 adolescentes do Grupo B (40%), sendo que isso pode estar relacionado à defasagem idade-série, na qual o Grupo C apresentou maior defasagem comparado com os outros grupos.

As adolescentes do Grupo C relataram mais desejo de ter a casa própria (n=9, 30%) comparado com os outros Grupos (Grupo A n=7, 23.3% e Grupo B n=6, 20%), isso talvez se deva aos dados da condição de moradia, uma vez que este foi o grupo que apresentou menor porcentagem de ter a casa própria comparado com os outros grupos. Outro dado interessante é que o Grupo C foi o único que não mencionou a vontade de casar, enquanto no Grupo A esse projeto foi o segundo mais mencionado (n=12, 40%), e no Grupo B também foi relatado (n=5, 16,7%), mas em menor proporção comparado com o Grupo A.

DISCUSSÃO

Os dados da presente pesquisa concordam com os dados do IBGE (2222 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE. Síntese de Indicadores Sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira 2014[Internet]. Rio de Janeiro: IBGE . 2014[cited 2015 jul. 7]. Available from: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv91983.pdf
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) de que mães adolescentes têm menos tempo de estudo do que as adolescentes sem filhos, indicando a dificuldade da conciliação entre a maternidade e a frequência à escola. Além disso, a pesquisa mostrou que a situação de violência doméstica dificulta ainda mais a permanência das adolescentes na escola, sendo que muitas delas abandonaram a escola antes mesmo da gravidez, demonstrando um pouco a falta de sentido que essa instituição tem na vida dessas adolescentes. Além disso, esse dado parece apontar para uma ausência de políticas educacionais, tanto para crianças e adolescentes vítimas de violência doméstica quanto para adolescentes grávidas.

A UNICEF (2323 United Nations Children's Fund. A familiar face: violence in the lives of children and adolescents. UN: New York; 2017.) aponta para os principais obstáculos que impedem a universalização do acesso e permanência de crianças e jovens na escola que são: barreiras econômicas (pobreza e trabalho infantil); barreiras educacionais (ensino de conteúdos distantes da realidade do aluno, não valorização do profissional de educação, número insuficiente de escolas, falta de acessibilidade aos alunos com deficiências, infraestrutura inadequada e falta de transporte público) e barreiras socioculturais (discriminação racial, exposição à violência e gravidez na adolescência).

Percebe-se nos dados que o grupo de maior evasão escolar e de maior defasagem idade-série foi no Grupo C, em que não havia apenas a gravidez envolvida em seu contexto, mas também a violência doméstica sofrida em algum momento de suas vidas. Pesquisadores já demonstraram a relação entre violência doméstica e baixo rendimento escolar e/ou abandono escolar (1414 Garwood SK, Gerassi L, Jonson-Reid M, Plax K, Drake B. More than poverty: the effect of child abuse and neglect on teen pregnancy risk. J Adolesc Health. 2015;57(2):164-8. doi: 10.1016/j.jadohealth.2015.05.004.
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15 Negriff S, Schneiderman JU, Trickett PK. Child Maltreatment and Sexual Risk Behavior: Maltreatment Types and Gender Differences. J Dev Behav Pediatr. 2015;36(9):708-16. doi: 10.1016/j.jadohealth.2015.05.004
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-1616 Miura PO, Passarini GMR, Ferreira LS, Tardivo LSLPC, Barrientos DMS, Paixão RAP. Vulnerabilidade cumulativa: estudo de um caso de violência doméstica, toxicodependência e gravidez na adolescência. Rev Esc Enferm USP . 2014;48(esp.2):55-61. doi: 10.1590/ S0080-623420140000800009
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). Ao problema da violência doméstica pode somar-se a violência estrutural, aquela determinada pelas desigualdades socioeconômicas, que envolve questões como estado de direito, distribuição de renda, políticas de emprego, habitação, reforma agrária, educação e saúde física e mental, que expõem as pessoas a uma situação de exclusão social (2323 United Nations Children's Fund. A familiar face: violence in the lives of children and adolescents. UN: New York; 2017.-2424 Organización Mundial de la Salud. Maltrato infantil [Internet]. 2016 [cited 2018 Nov. 15]. Available from: http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs150/es/.
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).

Os dados observados neste estudo apontaram que todas as adolescentes tinham acesso a água, luz, esgoto e coleta de lixo. Com relação à moradia e à renda familiar, observou-se diferença significativa entre os três grupos (moradia - p < 0.004075 e renda familiar - p < 0.000369), mas quando feita análise estatística par a par, percebeu-se que não houve diferença significativa entre A-B (moradia p < 0.202595, renda familiar - p < 0.131286), e esses dados reforçam o estudo acima da relação entre violência estrutural e violência doméstica (2323 United Nations Children's Fund. A familiar face: violence in the lives of children and adolescents. UN: New York; 2017.-2424 Organización Mundial de la Salud. Maltrato infantil [Internet]. 2016 [cited 2018 Nov. 15]. Available from: http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs150/es/.
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). Cabe, com essas informações, refletir sobre a ausência e negligência do Estado, além do não cumprimento do artigo 227 da Constituição Federal (2525 Congresso Federal (BR). Constituição 1988. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília (DF): Senado; 1988.) e do artigo 4 do Estatuto da Criança e do Adolescente (2626 Presidência da República (BR). Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente.):

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (2525 Congresso Federal (BR). Constituição 1988. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília (DF): Senado; 1988.-2626 Presidência da República (BR). Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente.).

Quando as barreiras da exclusão social são quebradas e oportunidades sociais, culturais e profissionais são oferecidas aos jovens, percebe-se grande aproveitamento por parte destes. Cortes Neto et al. (2727 Cortes Neto ED, Dantas MMC, Maia EMC. Benefícios dos projetos sociais esportivos em crianças e adolescentes. Saúde e Transformação Social [Internet]. 2015 [cited 2019 Aug 21]; 6(3): 109-17. Available from: http://incubadora.periodicos.ufsc.br/index.php/saudeetransformacao/article/view/3561/4489
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) demonstraram os benefícios dos projetos sociais esportivos no processo de inclusão social e como medida de proteção de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade e risco social. Bolzani e Bittar (2828 Bolzani B, Bittar CML. Oficinas de artes visuais para adolescentes em situação de risco social: uma possibilidade para ações em promoção de saúde. Adolesc Saúde [Internet]. 2017 [cited 2019 Aug 21];14(1):7-13. Available from: http://www.adolescenciaesaude.com/detalhe_artigo.asp?id=630
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) desenvolverem oficinas de artes visuais com a finalidade de empoderamento e desenvolvimento de habilidades pessoais em adolescentes em situação de vulnerabilidade social e identificaram que os participantes do projeto “demonstraram maior interesse nos cuidados consigo e com sua aparência pessoal, além de terem modificado sua percepção em relação ao outro” (p. 7). Os autores (2828 Bolzani B, Bittar CML. Oficinas de artes visuais para adolescentes em situação de risco social: uma possibilidade para ações em promoção de saúde. Adolesc Saúde [Internet]. 2017 [cited 2019 Aug 21];14(1):7-13. Available from: http://www.adolescenciaesaude.com/detalhe_artigo.asp?id=630
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) concluíram que a realização das oficinas possibilitaram melhora nas habilidades sociais, emocionais e cognitivas, contribuindo com o enfrentamento da realidade na qual os jovens estão inseridos.

Com relação aos projetos de vida, as adolescentes do Grupo A comparada com os outros grupos foram as que mais relataram sobre a vontade de “fazer uma faculdade” e foi o único grupo que mencionou a vontade de “estudar no exterior” e “viajar”. Sonhar, desejar, fazer planos para o futuro são ações típicas da fase da adolescência, um período para investir na formação e qualificação profissional, bem como um momento de amadurecimento pessoal (2929 Winnicott DW. A família e o desenvolvimento do indivíduo. São Paulo: Martins Fontes; 2005.).

Pesquisa desenvolvida com adolescentes gestantes e não gestantes identificaram que os planos das adolescentes são semelhantes, o que mudou foi o adiamento de alguns planos pelas jovens grávidas (3030 Dias ACG, Oliveira CT, Jager ME, Patias ND. Semelhanças e diferenças nos planos para o futuro de adolescentes gestantes e não gestantes. Adolesc Saúde [Internet]. 2013 [cited 2019 Aug 21];10(3): 7-13. Available from: http://adolescenciaesaude.com/detalhe_artigo.asp?id=375
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). Na presente pesquisa isso também pôde ser observado: algumas jovens do Grupo B que tinham suporte familiar relataram sobre o desejo de concretizarem seus planos, porém devido à gravidez tiveram que adiar por um tempo a realização dos mesmos.

Observou-se também que tanto no Grupo B quanto do Grupo C a maioria das adolescentes quer cuidar dos filhos, trabalhar e estudar. Esses dados concordam com a pesquisa desenvolvida em Chicago (3131 Universidade de Chicago. Family planning: contraceptive research. Future Goals of Adolescent Mothers [Internet] 2011 [cited 2018 Nov 12]. Available from: http://familyplanning.uchicago.edu/research/studies-by-topic/postpartum-abcs/Goals.pdf
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), na qual se observou que os fatores mais importantes para as adolescentes grávidas a curto prazo eram a estabilidade financeira e residencial e as experiências da vida atual.

Percebe-se que uma das diferenças entre o Grupo B e o C parece estar no investimento em relação aos estudos, no Grupo B a maioria relata querer “fazer uma faculdade” já no Grupo C uma quantidade maior diz querer “terminar o Ensino Médio”. Esse dado revela a defasagem idade-série e a evasão escolar das adolescentes do Grupo C, já apontada anteriormente, enfatizando o impacto negativo da violência doméstica vivenciada por essas jovens não apenas na história de vida escolar, mas também na continuidade de investimento futuro nos estudos. Isso aponta para uma possível ausência de qualificação profissional dessas jovens, dificultando a inserção no mercado de trabalho, ocasionando remunerações baixas de trabalhos e possibilitando menores oportunidades de trabalho e de mudanças nas condições socioeconômicas e de vida (3232 Kudlowiez S, Kafrouni R. Gravidez na Adolescência e Construção de um Projeto de Vida. Psico, Porto Alegre, PUCRS [Internet] 2014 [cited 2018 Nov 12];45(2):228-38. Available from: https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/5633337.pdf
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33 Lomonaco BP, Nakasu MVP, Silva TSS, Hercowitz V, Santos VS. Mundo Jovem: desafios e possibilidades de trabalho com adolescentes. São Paulo: Fundação Tide Setubal; 2008.
-3434 Lima NRB, Nascimento EGC, Alchieri JC. História de vida da mulher: qual a verdadeira repercussão da gravidez na adolescência?. Adolesc Saúde [Internet]. 2015 [cited 2018 Nov 12];12(1):57-65. Available from: http://adolescenciaesaude.com/detalhe_artigo.asp?id=476
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). Os dados mais uma vez parecem apontar para uma carência de políticas educacionais e sociais que possibilitem outras oportunidades de vida às jovens.

O suporte familiar e dos companheiros no Grupo B pôde ser observado em algumas falas, bem como na ausência de relatos em querer colocar o filho na creche. Já a busca de ajuda e apoio profissional no cuidado com o filho, pôde ser observada na fala de algumas adolescentes do Grupo C, que querem colocar o filho na creche para poder trabalhar, estudar e até mesmo cuidar delas mesmas. Esses dados também apontam para a ausência de apoio e suporte, seja da família ou do companheiro, junto as adolescentes do Grupo C, o que aumenta a dificuldade de retorno aos estudos, bem como de investimento na qualificação profissional, além de falta de apoio no cuidado para com o bebê. Essa situação de desamparo vivenciada pelas jovens do Grupo C contribui para que elas pensem em projetos a curto prazo ou nem mesmo reflitam sobre isso, esses dados concordam com a pesquisa de Costa e Assis (55 Costa C, Assis S. Fatores protetivos a adolescentes em conflito com a lei no contexto socioeducativo. Psicol Soc . 2006;18(3):74-81. doi: 10.1590/S0102-71822006000300011
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) sobre a interferência das situações de vulnerabilidade nos projetos de vida dos jovens.

Ainda nesta direção, estudo (88 Bravo DY, Toomey RB, Umaña-Taylor AJ, Updegraff KA, Jahromi LB. Growth trajectories of Mexican-origin adolescent mothers educational expectations. Int J Behav Develop. 2017;41(2):165-74. doi: 10.1177/0165025415616199
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) realizado no México demonstrou a expectativa das adolescentes grávidas quanto à escolaridade e observou que quando a expectativa da mãe da adolescente era alta, influenciando sobre a permanência na escola e a continuidade dos estudos após o nascimento do bebê, a expectativa da adolescente seguia a de sua mãe, já nos casos onde não havia esse incentivo as expectativas foram baixas, prevalecendo a evasão escolar e a não continuidade dos estudos após nascimento do bebê. Os resultados deste estudo convergem com a presente pesquisa sobre a importância do suporte familiar junto às adolescentes grávidas e no processo de continuidade de seus projetos de vida.

No Grupo C, o atravessamento da violência também pode ser observado nos projetos de vida tais como: “sair da instituição”, “não tem projeto”, “não quer ter o filho”, “conhecer o pai”. Inúmeras pesquisas (55 Costa C, Assis S. Fatores protetivos a adolescentes em conflito com a lei no contexto socioeducativo. Psicol Soc . 2006;18(3):74-81. doi: 10.1590/S0102-71822006000300011
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,88 Bravo DY, Toomey RB, Umaña-Taylor AJ, Updegraff KA, Jahromi LB. Growth trajectories of Mexican-origin adolescent mothers educational expectations. Int J Behav Develop. 2017;41(2):165-74. doi: 10.1177/0165025415616199
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,1010 Taborda JA, Silva FC, Ulbricht L, Neves EB. Consequências da gravidez na adolescência para as meninas considerando-se as diferenças socioeconômicas entre elas. Cad Saúde Colet. 2014; 22(1):16-24. doi: 10.1590/1414-462X201400010004
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,1313 Dávila RF, Fajardo GDE, Jiménez CCA, Florido PC, Vergara CKC. Factores de riesgo psicosocial para embarazo temprano y deserción escolar en mujeres adolescentes. Rev Cienc Salud. 2016;14(1):93-101. doi: 10.12804/revsalud14.01.2016.11
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14 Garwood SK, Gerassi L, Jonson-Reid M, Plax K, Drake B. More than poverty: the effect of child abuse and neglect on teen pregnancy risk. J Adolesc Health. 2015;57(2):164-8. doi: 10.1016/j.jadohealth.2015.05.004.
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15 Negriff S, Schneiderman JU, Trickett PK. Child Maltreatment and Sexual Risk Behavior: Maltreatment Types and Gender Differences. J Dev Behav Pediatr. 2015;36(9):708-16. doi: 10.1016/j.jadohealth.2015.05.004
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-1616 Miura PO, Passarini GMR, Ferreira LS, Tardivo LSLPC, Barrientos DMS, Paixão RAP. Vulnerabilidade cumulativa: estudo de um caso de violência doméstica, toxicodependência e gravidez na adolescência. Rev Esc Enferm USP . 2014;48(esp.2):55-61. doi: 10.1590/ S0080-623420140000800009
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,3232 Kudlowiez S, Kafrouni R. Gravidez na Adolescência e Construção de um Projeto de Vida. Psico, Porto Alegre, PUCRS [Internet] 2014 [cited 2018 Nov 12];45(2):228-38. Available from: https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/5633337.pdf
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-3333 Lomonaco BP, Nakasu MVP, Silva TSS, Hercowitz V, Santos VS. Mundo Jovem: desafios e possibilidades de trabalho com adolescentes. São Paulo: Fundação Tide Setubal; 2008.) apontam o quanto a violência contra crianças e adolescentes prejudicam a saúde física, psíquica e emocional dos indivíduos e que este pode ser um dos fatores relacionados à gravidez na adolescência. Além disso, observou-se o quanto as adolescentes que vivenciaram ou vivenciam situações de violência têm suas expectativas futuras de vidas limitadas, o que concorda com o estudo de Bravo et al (88 Bravo DY, Toomey RB, Umaña-Taylor AJ, Updegraff KA, Jahromi LB. Growth trajectories of Mexican-origin adolescent mothers educational expectations. Int J Behav Develop. 2017;41(2):165-74. doi: 10.1177/0165025415616199
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) que demonstra o quanto os projetos de vida educacionais estão relacionados com o incentivo e modelo parental.

O estudo de Updegraff et al (3535 Updegraff KA, Umaña-Taylor AJ, McHale SM, Wheeler LA, Perez-Brena NJ. Mexican-origin youth's cultural orientations and adjustment: changes from early to late adolescence. Child Develop. 2012;83:1655-71. doi: 10.1111/j.1467-8624.2012.01800.x
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) também apontou para a importância do suporte familiar no momento da gravidez na adolescência, observando o desenvolvimento da maternidade, do cuidado consigo e com o bebê quando são amparadas. Para além da família, um outro estudo (3636 Erdmans MP. Title IX and the School Experiences of Pregnant and Mothering Students. Hum Soc. 2012;36(1):50-75. doi: 10.1177/0160597611433269
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) aponta para a importância dos professores e da escola acolherem a adolescente grávida com intuito de evitar a evasão e incentivar a continuidade dos estudos após o nascimento do bebê.

Limitações do estudo

Este estudo foi realizado em apenas um momento com as adolescentes, sendo interessante a realização de pesquisas longitudinais para o acompanhamento dos projetos de vida relatados pelas jovens.

Contribuições para a área da enfermagem, saúde ou política pública

Acredita-se que o presente trabalho possa contribuir com a elaboração de políticas públicas nas áreas da saúde, educação e serviço social para adolescentes grávidas, principalmente para essas jovens que se encontram em condições sociais desfavoráveis e em situação de violência doméstica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo apresentou a análise das condições sociais e os projetos de vida dos três grupos A, B e C. Referente às condições sociais, pôde-se observar que não houve diferença entre os três grupos quanto à idade e raça/cor, os demais aspectos (estado civil, escolaridade, condição de moradia e renda familiar) demonstraram diferença significativa entre os três grupos com p<0.05. Na análise feita par a par, não se observou diferença significativa entre A-B nos aspectos referentes a condição de moradia e renda familiar e entre B-C nos aspectos estado civil e escolaridade (estudando). Esses dados também culminaram no questionamento sobre a ausência de políticas educacionais e sociais para adolescentes grávidas e vítimas de violência doméstica.

Com relação aos projetos de vida, observou que as adolescentes dos Grupos B e C demonstraram expectativas com o futuro no curto prazo (cuidar do filho e trabalhar). As adolescentes do grupo B, mesmo diante da gravidez, expuseram mais vontade de fazer uma faculdade do que as do grupo C, projetando suas conquistas mais a longo prazo no quesito educação. No grupo A, todas as adolescentes relataram ter projetos para o futuro, demonstrando aspectos característicos da adolescência. Já as adolescentes do grupo C foram as que mais mencionaram não ter projetos, apontando para a interferência da violência doméstica no planejamento de vida das jovens. O apoio da família e do companheiro se mostrou fundamental no processo gestacional, bem como na constituição dos projetos de vida das adolescentes.

Este estudo se limitou à análise das condições sociais e dos projetos de vidas das adolescentes dos três grupos, e observou-se que temas como vínculo mãe-bebê, transgeracionalidade da violência, entre outros, seriam importantes de serem estudados e aprofundados, para que possam contribuir com o fortalecimento de serviços e políticas tão necessárias nesta área da adolescência, gravidez e violência doméstica.

AGRADECIMENTO

Agradecimento à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pela concessão de uma bolsa de pós-doutorado que possibilitou a realização deste trabalho.

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Editado por

EDITOR CHEFE: Antonio José de Almeida Filho
EDITOR ASSOCIADO: Hugo Fernandes

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Jun 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    11 Jul 2019
  • Aceito
    06 Nov 2019
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