O uso de si no trabalho de enfermeiros na assistência hospitalar: uma abordagem ergológica

RESUMO

Objetivos:

conhecer como ocorre o uso de si, pelo enfermeiro, no trabalho em pronto-socorro.

Métodos:

estudo qualitativo, realizado com 23 enfermeiros de um pronto-socorro adulto de um hospital universitário do Sul do Brasil. Os dados foram coletados por meio de pesquisa documental, observação sistemática e entrevista semiestruturada. A análise dos dados foi realizada segundo a modalidade temática, ancorada no referencial teórico da ergologia.

Resultados:

evidenciou-se o uso de si no trabalho do enfermeiro, tanto no desenvolvimento de atividades gerenciais como assistenciais, especialmente: na organização do ambiente, na atuação em intercorrências e definição de prioridades de atendimento, bem como na condução das atividades de cada turno de trabalho, junto à equipe de enfermagem e multiprofissional.

Considerações Finais:

o enfermeiro faz uso de si no trabalho em pronto-socorro, com base em valores, conhecimentos e experiência, considerando a organização do processo de trabalho e melhor assistência de enfermagem.

Descritores:
Enfermeiros; Trabalho; Serviços Médicos de Emergência; Assistência Hospitalar; Enfermagem

ABSTRACT

Objective:

to know how happens the nurse use of selfbody in the emergency room.

Methods:

qualitative study, performed with 23 nurses in an adult emergency room at a university hospital in the South of Brazil. The data gathering was through documental research, systematic observation, and semi-structured interview. According to the thematic modality, the data analysis was carried out anchored in the theoretical reference of ergology.

Results:

it was evidenced the use of selfbody in the work of the nurse, as much in the development of managerial activities as assistance, especially: in the organization of the environment, in the performance in intercurrences and definition of priorities of attendance, as well as in the conduction of the activities of each work shift, together with the nursing and multi-professional team.

Final considerations:

the nurse makes use of selfbody at work in the emergency room, based on values, knowledge, and experience, considering the organization of the work process and better nursing assistance.

Descriptors:
Nurses; Work; Emergency Medical Services; Hospital Assistance; Nursing

RESUMEN

Objetivos:

conocer como ocurre el uso laboral de sí, por el enfermero, en el Departamento de Emergencias.

Métodos:

estudio cualitativo, realizado con 23 enfermeros de un Departamento de Emergencias adulto de un hospital universitario brasileño. Han recogidos los datos por medio de investigación documental, observación sistemática y entrevista semiestructurada. El análisis de los datos se realizó segundo la modalidad temática, basada en referencial teórico de la ergología.

Resultados:

se evidenció el uso laboral de sí del enfermero, tanto en el desarrollo de actividades administrativas como asistenciales, especialmente: en la organización ambiental, en la actuación en complicaciones y definición de prioridades de atención, así como en la conducción de las actividades de cada turno laboral, junto al equipo de enfermería y multiprofesional.

Consideraciones finales:

el enfermero hace uso laboral de sí en el Departamento de Emergencias, basado en valores, conocimientos y experiencia, considerando la organización laboral y mejor asistencia de enfermería.

Descriptores:
Enfermeros; Trabajo; Servicios Médicos de Emergencia; Asistencia Hospitalaria; Enfermería

INTRODUÇÃO

As unidades de pronto-socorro estão entre as mais complexas dentro das instituições hospitalares, devido à dinâmica do serviço e por disponibilizarem atendimento em tempo integral e imediato⁽¹⁾. Para isso, as unidades de pronto-socorro necessitam de uma estrutura física adequada e de recursos tecnológicos, além de profissionais preparados e qualificados para prestar assistência adequada em situações de urgência e emergência^(2-3-4).

O enfermeiro se constitui um profissional-chave para a oferta de uma assistência de qualidade, em pronto-socorro, sendo visto como referência para a equipe de enfermagem e multiprofissional, na medida em que exerce a liderança da assistência de enfermagem prestada ao paciente, a qual é indispensável, podendo proporcionar maior autonomia profissional^(4-5). Contudo, sabe-se que esta é uma atividade complexa, que exige uma série de habilidades, além de estar imersa em contextos pautados por muitas normas e rotinas.

Atualmente, uma das formas de analisar o trabalho se dá por meio da abordagem ergológica, fundamentada nos estudos de Yves Schwartz, que considera o trabalho não somente algo mecanizado ou técnico, mas um ato da natureza, algo que constitui o ser humano em toda sua complexidade^(4,6). O trabalho, segundo Schwartz, é compreendido como uma ideia de aplicação e de execução de suas atividades e rotinas, visto como uso, ou seja, quando você faz de si próprio, é o uso de si. A mobilização do si do sujeito instiga qualidades pessoais, assim como seus saberes e fazeres, seus valores, seus julgamentos, que refletem na qualidade de seu trabalho^(4,7).

O uso de si pelos trabalhadores, de acordo com a ergologia, pode caracterizar-se como “uso de si por si próprio”, quando o trabalhador cria as próprias condições e estratégias particulares, utilizando sua subjetividade e autonomia, juntamente com ações a fim de conseguir atuar naquele momento do trabalho que necessitou de mudanças repentinas, modificando prescrições e normas⁽⁴⁾. Entretanto, esse uso de si também pode se dar pelos outros (uso de si pelos outros), quando o trabalhador é chamado a executar conjuntos de normas, prescrições e valores históricos^(4,8-9).

A expressão uso de si remete-se à dedicação do indivíduo no seu todo, no momento de desempenhar suas atividades, “é o indivíduo no seu ser que é convocado”⁽¹⁰⁾, envolvendo sua subjetividade, experiências e história de vida⁽⁴⁾. Nesse sentido, Schwartz afirma que, em toda atividade no trabalho, há o uso de si, pois cada trabalhador usa de sua capacidade, dos seus recursos, das suas escolhas, para gerir diferentes normas, tornando o trabalho singular^(4,10).

Sendo assim, considera-se fundamental ampliar reflexões sobre o trabalho de enfermeiro, particularmente em pronto-socorro, pautando-se na abordagem ergológica, a fim de oferecer subsídios para uma atuação profissional mais autônoma. Com base nisso, a questão orientadora deste manuscrito é: Como ocorre o uso de si, pelo enfermeiro, no trabalho em pronto-socorro?⁽⁴⁾

OBJETIVOS

Conhecer como ocorre o uso de si, pelo enfermeiro, no trabalho em pronto-socorro.

MÉTODOS

Aspectos éticos

Para a realização da etapa de observação e entrevistas, solicitou-se aos participantes a assinatura do Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) em duas vias: uma para o participante e outra para o pesquisador. A fim de garantir o anonimato, os participantes da pesquisa foram identificados com a letra ‘E’ de enfermeiro, seguida de um número relativo à ordem de realização das entrevistas⁽⁴⁾. Primeiramente, solicitou-se a aprovação do desenvolvimento da pesquisa à gerente de enfermagem do campo de estudo (tendo em vista a pesquisa em documentos da unidade), em seguida da Gerência de Ensino e Pesquisa (GEP); por fim, o estudo foi encaminhado, analisado e aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos.

Referencial teórico

Estudo fundamentado na abordagem ergológica de Yves Schwartz^(8-10). A ergologia propõe repensar a maneira como o homem está implicado na história e produz história, partindo de seu contexto de vida. Apresenta o trabalho como sendo uma evidência viva, envolvendo a problemática com os trabalhadores no seu contexto real e atual de trabalho. O uso de si se caracteriza quando o próprio trabalhador cria condições e estratégias particulares, utilizando sua subjetividade, visando à atuação e superação dos desafios do trabalho, modificando prescrições e normas⁽⁴⁾.

Tipo de estudo

Pesquisa qualitativa, do tipo estudo de caso. A pesquisa qualitativa se aplica ao estudo dos valores, opiniões, história e interpretações que os humanos fazem e constroem no seu cotidiano. Caracteriza-se pelo simbolismo e subjetividade existentes entre sujeito e objeto, nos quais as estruturas e as relações acabam se tornando significativas⁽⁴⁾. Justifica-se a escolha dessa abordagem pela consideração de que os participantes da pesquisa são influenciados pelo contexto de trabalho no qual estão inseridos⁽⁴⁾.

Cenário do estudo

O estudo foi desenvolvido na unidade de pronto-socorro adulto de um hospital universitário no estado do Rio Grande do Sul. O local tem capacidade para 23 leitos, atende à demanda regional de alta complexidade e opera, frequentemente, com demanda acima da capacidade instalada, gerando superlotação.

Fonte de dados

A população era composta por 26 enfermeiros, dentre eles assistenciais e gerente. Após a aplicação dos critérios de inclusão/exclusão, foram excluídos três enfermeiros. A amostra foi constituída por 23 enfermeiros da unidade de pronto-socorro, que atuavam no atendimento direto ao paciente e no Núcleo Interno de Regulação (NIR). Foram incluídos no estudo os enfermeiros vinculados a esse local e atuantes na assistência por, no mínimo, seis meses. A definição desse período baseou-se no pressuposto de que seria o tempo mínimo para que o trabalhador estivesse adaptado ao setor de trabalho e, assim, pudesse contribuir de forma mais efetiva com o presente estudo⁽⁴⁾. Os critérios de exclusão foram: estar ausente do trabalho por licença de qualquer natureza, no período estabelecido para a produção de dados, ser enfermeiro-chefe (devido à não atuação direta com a assistência aos pacientes) e participar do grupo de pesquisa promotor da investigação (pois o enfermeiro poderia ter conhecimento sobre o que era a pesquisa e proporcionar algum viés involuntariamente).

Coleta e organização dos dados

A produção dos dados ocorreu no período de fevereiro a junho de 2018. Utilizou-se a pesquisa documental, por meio da qual se obteve acesso aos seguintes documentos: atas de reuniões, protocolos e normativas do setor, prontuários de pacientes, dentre outros. Também foi usada a observação sistemática não participante, que foi realizada nos três turnos de trabalho, num total de 103 horas, com base em roteiro previamente elaborado para esse fim. Finalizando, foram realizadas entrevistas semiestruturadas, baseadas em roteiro contendo questões sobre o trabalho do enfermeiro em pronto-socorro, buscando aprofundar reflexões sobre o uso de si no cotidiano laboral. As entrevistas foram realizadas durante o horário de trabalho, após agendamento prévio, sendo audiogravadas. A duração média foi de 35 minutos.

Análise dos dados

Os dados foram analisados com base no referencial de analise temática, à luz do referencial da ergologia. Desse processo de análise, resultou a categoria “O uso de si no trabalho do enfermeiro em pronto-socorro”.

RESULTADOS

A análise dos dados sociodemográficos dos entrevistados revelou que os participantes apresentaram idade entre 25 a 49 anos, 16 (69,6%) eram do sexo feminino e 7 (30,4%) eram do sexo masculino⁽⁴⁾. O tempo de graduação variou entre 4 a 24 anos de formação. Destes profissionais, 17 (73,9%) possuíam especialização em alguma área específica da enfermagem; e 3, mestrado em enfermagem. Os participantes relataram que realizam capacitações, tanto as oferecidas pela instituição como demais cursos, todos relacionados com o trabalho em pronto-socorro⁽⁴⁾.

O tempo de serviço na instituição variou de 9 meses a 21 anos, sendo que o tempo de trabalho na unidade de pronto-socorro variou de 9 meses a 16 anos. Quanto ao vínculo empregatício, 6 (26,1%) eram servidores públicos federais regidos pelo Regime Jurídico Único, e 17 (73,9%) eram servidores públicos regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho⁽⁴⁾.

O uso de si no trabalho do enfermeiro em pronto-socorro

O uso de si no trabalho do enfermeiro relaciona-se diretamente às suas ações, emoções, atitudes, ou seja, a individualidade de cada trabalhador está presente nas suas atividades⁽⁴⁾. Como já mencionado, o trabalho do enfermeiro está diretamente atrelado à assistência e ao gerenciamento do cuidado⁽⁴⁾.

Na assistência, seu trabalho exige determinação, agilidade, empatia e rapidez na tomada de decisão e no desenvolvimento das ações de cuidado. Segundo os depoimentos, pode-se perceber que os trabalhadores fazem uso de si como uma ferramenta para direcionar o processo assistencial por eles realizado⁽⁴⁾.

Se eu estou nos leitos, procuro sempre dar uma olhada geral em cada paciente, para ver se tem algum paciente instável antes do plantão para tentar agilizar, chamar plantão para avaliar esse paciente. Se está tudo bem, todo mundo estável, segue a rotina. (E14)

Outra coisa que facilita muito é o tempo de experiência que eu tenho na área. Então, 15 anos de formada, 15 anos que trabalho em emergência, então facilita não só o conhecimento porque a gente está sempre aprendendo, mas a questão de ter o “jogo de cintura” para trabalhar em emergência, porque emergência tu tem que ter “jogo de cintura”, não pode deixar o “barco te levar”, tem que estar sempre centrado para saber o que fazer, o correto, na hora certa. (E23)

Nos depoimentos de E14 e E23, evidencia-se que cada profissional é convocado no seu trabalho, fazendo uso de si, com base em seus conhecimentos, experiências e valores⁽⁴⁾. O uso de si também está interligado ao cuidado direto ao paciente, na medida em que o enfermeiro assume a responsabilidade de prestar toda a assistência necessária para que o paciente receba as melhores condições de suporte de vida⁽⁴⁾. Os relatos a seguir exemplificam esse achado:

Eu costumo sempre ficar próximo ao paciente, tem um paciente grave, o paciente tem que fazer tomografia, eu costumo ir junto com o médico, porque já aconteceu do paciente sair e parar [sofrer parada cardiorrespiratória] no elevador, parar no meio do caminho. Então, sempre costumo acompanhar e estar sempre ali monitorizando o paciente, vendo qualquer alteração de sinais vitais, procurando deixar ele o mais estável possível. (E13)

Pacientes que chegam, a primeira coisa é fazer uma avaliação geral do estado neurológico, entender o quadro geral, o motivo do encaminhamento e em seguida providenciar os cuidados, acesso venoso, verificação dos sinais [vitais] e, em cima dos sinais [vitais] alterados ou não, essa atuação de providenciar um oxigênio ou uma infusão, uma medicação. (E17)

Durante o período de observação, percebeu-se que o uso de si de cada profissional, conforme sua maneira de trabalhar, apresenta-se com peculiaridades, que se manifestaram no primeiro momento de atendimento do paciente em situações de urgência e emergência, na sala de emergência, assim como no transporte de pacientes para a realização de exames⁽⁴⁾.. Observou-se, também, que os enfermeiros apresentam condutas e atitudes diferenciadas dependendo do que apontam como prioridade e da equipe que está presente quando do atendimento, direcionando-o conforme as necessidades dos pacientes, de acordo com o seu conhecimento, seus valores e experiências. Dessa forma, organizam o seu trabalho de acordo com o que consideram prioridade naquele momento⁽⁴⁾.

[...] eu faço primeiro o que é prioridade, o que é mais urgente, e algumas coisas vão esperando, colocamos em fila, organiza assim no salão. Nas macas também, chega e tem uma coisa que é tua, o enfermeiro que tem que resolver, então você vai e resolve, eu me organizo assim, por prioridades, por gravidade, por urgência, às vezes não é nem por gravidade, mas por necessidade, não é uma coisa grave, mas [...]. (E2)

A gente chega, primeiro tenta organizar, ver o que está acontecendo, porque é tudo muito imprevisível. Então, tentamos primeiro, “tomar pé da situação”, por que trabalhamos muito com prioridades, o que vamos atender primeiro. (E23)

Conforme a observação realizada e os relatos anteriores (E2, E23), os enfermeiros seguem as prioridades da unidade, buscando estratégias para organizar seu trabalho e fazendo uso de si por si mesmo, de forma singular⁽⁴⁾. No entanto, o objetivo final é que a unidade mantenha um fluxo de assistência, a fim de dar conta dos atendimentos e demandas que a dinâmica do setor exige⁽⁴⁾.

Além de toda a assistência e atuação em intercorrências, os enfermeiros acreditam que, para trabalhar no pronto-socorro, é necessário ter domínio do seu ambiente, do seu meio⁽⁴⁾.

Quando eu chego, principalmente na emergência, a primeira coisa que tento fazer é organizar a emergência, é manter o material para ventilação já a posto. O carrinho [carro de emergência], sempre confiro, vejo se está tudo ali, tudo organizado... e numa situação de emergência, geralmente eu organizo quem vai fazer o que, a hora que vai fazer, tento manter também a equipe calma. Sabemos que, principalmente a equipe médica inexperiente, tem muitos que acabam entrando em pânico, e aí fica aquela bagunça, aquele ‘pede um monte de coisa ao mesmo tempo’. (E23)

Autonomia profissional é a capacidade de tomar decisões, ter assim, não controle, mas tu ter [...] um controle do ambiente que está atuando, as coisas que pode modificar naquele ambiente e as coisas que pode reivindicar... ter essa capacidade de olhar e saber o que pode mudar, o que não pode mudar, entender o que é prioridade e, muitas vezes, se posicionar frente ao que está acontecendo. (E5)

Alguns enfermeiros mencionam como se organizam no seu turno de trabalho e, assim, proporcionam à equipe multiprofissional a visibilidade sobre a importância do seu trabalho dentro dessa unidade, o que desenvolve e fortalece a autonomia desses profissionais⁽⁴⁾.

O uso de si impulsiona a manutenção da organização do ambiente em prol de oferecer a qualidade na assistência, com base em rotinas direcionadas à organização das atividades. Um dos documentos que norteiam essa assistência trata-se do Procedimento Operacional Padrão (POP; enfermeiro – técnico de enfermagem – organização da sala de emergência)⁽⁴⁾. O documento com as rotinas assistenciais está exposto no mural da unidade, assinado pela chefia do pronto-socorro. Tais rotinas são necessárias para manter a qualidade e integralidade dos serviços, a fim de que os profissionais sigam as mesmas condutas⁽⁴⁾.

Nesse sentido, para a organização do serviço e da demanda de trabalho, os profissionais tentam prever as possíveis intercorrências com os pacientes que estão internados, ou ainda daqueles que podem chegar a qualquer momento, por ser um serviço de urgência e emergência⁽⁴⁾.

Primeiramente eu avalio os pacientes mais críticos ou tento pelo menos. É que, às vezes, tem uma intercorrência para resolver no início, mas tento avaliar os pacientes mais críticos, evoluir esses mais críticos, é uma rotina que eu sigo. (E3)

Assim, eu procuro manter uma rotina, mas pronto-socorro não tem rotina. É como eu te disse, eu chego no plantão, tento fazer conforme gosto de fazer, que é entrar, olhar os pacientes e primeiro olhar para depois atender as intercorrências, mas é claro que não é assim que funciona. Procuro organizar de uma forma sistemática, mas normalmente não conseguimos. Já estou acostumada a estar fazendo uma coisa e estar fazendo outra ao mesmo tempo. Aqui funciona assim.(E22)

Nesse segmento, o uso de si de cada profissional é empregado para gerenciar seu turno de trabalho, dentro de sua própria organização de trabalho, a fim de que o tempo seja correspondente às suas atividades⁽⁴⁾.

Então, procuro anotar tudo, porque, às vezes, as intercorrências vão acontecendo e você acaba esquecendo, então eu gosto de estar tudo [...] visualizar isso, deixar tudo anotadinho e, conforme eu vou fazendo os procedimentos, vou riscando do meu checklist, vou dando um ‘ok’. Então, eu consigo visualizar o que eu tenho pendente e, conforme o que vem vindo de demanda também, que está fora daquela programação, vou anotando também nessa lista. (E21)

Eu primeiro vou nos mais graves, além de fazer os cuidados, procedimentos, tu vai para ver o paciente, vai lá avaliar o paciente, se ele está entubado, o que ele está recebendo de medicação, se ele tem os acessos [venosos], se tem sonda e, também, faz os procedimento de aspiração, higiene oral. (E2)

Por meio do período de observação realizado e da análise documental, visualizou-se diariamente esse checklist, usado sobretudo pelos enfermeiros do turno do dia, que estão nos cuidados dos pacientes das macas e salão⁽⁴⁾. O checklist é uma folha contendo a informação dos leitos que precisam de higiene corporal e demais cuidados (procedimentos com tubo orotraqueal/ventilação mecânica/traqueostomia, curativos, troca de acessos venosos e com recomendações dietéticas)⁽⁴⁾. Conforme as atividades são realizadas, os enfermeiros assinalam, no documento, a fim de garantir que todos esses cuidados sejam efetivados⁽⁴⁾.

Para dar continuidade às atividades assistenciais, nas falas a seguir, os enfermeiros apresentaram como atuam no gerenciamento e organização do seu trabalho no pronto-socorro⁽⁴⁾:

Organizar o ambiente, porque geralmente pegamos o ambiente físico faltando material, a estrutura desorganizada para receber a emergência. Outra coisa que fizemos é organização do espaço, dos leitos para fazer transferência das pessoas que estão na sala de emergência para o salão ou retirar as pessoas que estão no salão para as macas, para colocar paciente mais graves no espaço adequado que tem oxigênio, tem a rede elétrica. (E5)

[...] na regulação, o meu trabalho é mais direto; a diferença é que tenho que gerenciar a fala, a conversa, o diálogo que tenho que ter tanto com os médicos, que querem encaminhar o paciente, tanto com os que vão receber [...] essa é minha função de gerenciamento. (E1)

O uso de si mostra-se presente tanto nos depoimentos quanto no período de observação realizado, a fim de conduzir as atividades dentro do setor de urgência/emergência e, também, no gerenciamento de leitos, de cuidados e do espaço físico⁽⁴⁾. No contexto da ergologia, o uso de si está ligado às experiências dos profissionais, iniciadas na formação acadêmica e seguindo-se com as vivências no trabalho⁽⁴⁾. Constituem, portanto, base para que os enfermeiros possam desenvolver mais domínio e agilidade nas ações e nos cuidados no momento de uma emergência e, ainda, atuar com autonomia dentro de suas atribuições⁽⁴⁾.

Então, eu tenho que ter a liberdade, porque eu tenho conhecimento, autonomia e experiência para poder retirar aquele paciente dali para colocar outro. Então, a questão de tomada de decisão, principalmente agora que estou trabalhando de noite, tenho tomado muitas vezes sozinha, porque os colegas da noite já têm algumas dificuldades para tomar certas decisões, pela questão de ter uma equipe médica distante. Então, a equipe da noite tem uma dificuldade grande de tomar decisões, porque tem muita gente que precisa do médico para auxiliar a tomada de decisão, só que o enfermeiro tem a sua autonomia, ele tem o seu conhecimento para tomar certas decisões. (E23)

É tu poder optar junto com a equipe, com o médico, com o fisioterapeuta, com uma farmacêutica, o que seria o melhor tratamento para o paciente, atuar junto... por exemplo, às vezes um médico, prescreveu um cuidado que tu não concorda. (E15)

O processo de trabalho de um setor de urgência e emergência demanda conhecimento técnico-científico, para garantir qualidade e segurança na assistência⁽⁴⁾. Nos depoimentos a seguir, é possível perceber que o conhecimento contribui para o uso de si de cada profissional, capaz de discutir e interagir com a equipe em prol do cuidado; e, ademais, que há a necessidade de buscar constantemente conhecimento⁽⁴⁾.

Autonomia também é você ter capacidade técnica de tomada de decisões específicas para cada caso, é ter conhecimento técnico, saber tomar as medidas e conseguir solucionar problemas que um serviço demanda, problemas integralmente no contexto da área de saúde, sem pedir autorização para outros. (E4)

Saber o que está fazendo, o que tem que fazer, qual a prioridade que tem que dar; se é uma emergência clínica, se é uma emergência traumática, se é um paciente que parou, se está em eminência de parar, se é um paciente chocado, tem que saber o que tem que priorizar; se ele está parado, se é a via aérea, se é um trauma, se eu tenho que estancar a hemorragia primeiro, se o paciente está lúcido, responde, se não responde. Então, tem vários tipos de emergência e, quando vai olhar para o paciente, vai saber o que tu tem que fazer, mas isso, assim, é muito aliado à experiência da gente, o tempo que passou por ali fazendo isso, tem que fazer um procedimento rápido, mas com tranquilidade. (E5)

O uso de si também foi percebido durante o período de observação nas diversas situações de trabalho com a equipe multiprofissional⁽⁴⁾. Os profissionais que compõem a equipe multiprofissional trabalham em prol do paciente, buscam o melhor atendimento e condutas, no entanto cada profissional tem suas atribuições, o que se percebe nos seguintes depoimentos⁽⁴⁾:

[...] eu sempre peço ajuda para alguém, eu nunca tomo uma decisão quando eu estou em dúvida. (E3)

Assim, a intercorrência tem que pensar primeiramente, que nós profissionais da saúde, nós não trabalhamos sozinhos. Segundo quando tem uma intercorrência não é só você que vai salvar a vida de uma pessoa, vai ser o coletivo [...] A autonomia frente à equipe multiprofissional é construída como eu disse anteriormente [...] é na base do conhecimento, de saber passar, e ter essa visão das situações que estão ocorrendo, para poder passar para a equipe multiprofissional. Então, nós temos que ter esse olhar mais do todo assim. (E1)

O trabalho diário do enfermeiro está ligado ao do técnico de enfermagem, e ambos configuram-se pelo cuidado⁽⁴⁾. Dessa forma, cada um com suas atribuições zela pelo bem-estar, humanização e assistência digna aos pacientes, respeitando seu espaço de trabalho e fazendo uso de si em suas atividades⁽⁴⁾.

Eles não tomam nenhuma decisão sem conversar com o enfermeiro antes. Eu acho muito interessante, porque eles reconhecem o enfermeiro como uma linha de frente no cuidado; talvez não seja essa a palavra certa, mas a gente está sempre ali o tempo todo com o paciente, então eles veem a nossa importância e estão sempre falando com a gente antes de tomar alguma decisão sozinhos. (E3)

Então, eu acho que uma coisa que facilita muito aqui é a equipe técnica ter um grande conhecimento, e eles, ao mesmo tempo em que eles têm conhecimento eles veem o enfermeiro aqui como líder, tanto que a gente sabe que tem uns que: “Ah, hoje está corrido, mas está bom, porque a gente está com fulano.” Então, a gente vê que eles reconhecem a liderança do enfermeiro, conhecem essa autonomia, então eles vêm te perguntar, eles não vão tomar uma decisão sozinho de fazer ou não fazer uma insulina, por exemplo, ele vem te perguntar. (E23)

Pode-se perceber que o profissional enfermeiro, no desempenho de suas atividades, faz uso de si nas diferentes situações laborais utilizando-se de valores, conhecimentos e experiências. Em pronto-socorro, em face da complexidade das atividades e da rotina de trabalho, o uso de si permite que cada profissional organize o seu processo de trabalho, com vistas à melhor assistência ao paciente. Dessa forma, o trabalho é executado conforme a demanda que surge, e o uso de si direciona a tomada de decisão por meio das constantes escolhas impostas pelo cotidiano laboral em unidade de emergência⁽⁴⁾.

DISCUSSÃO

As unidades de pronto-socorro, que fornecem serviços de urgência e emergência, constituem a “porta de entrada” da instituição hospitalar para uma grande parte da população brasileira^(4,11). A complexidade de um pronto-socorro concretiza-se mediante seus atendimentos de urgência e emergência, com casos caracteristicamente diferentes e com número de atendimento não limitado^(4,12). O trabalho do enfermeiro no pronto-socorro caracteriza-se pelas atividades de gerenciamento e assistência, extremamente importantes para o andamento da unidade^(4,13-14). Dentro desse contexto de trabalho complexo, dinâmico e imprevisível da unidade de pronto-socorro, o enfermeiro busca e preza pelo atendimento diferenciado, que oferece suporte para a manutenção e recuperação da vida de cada paciente, além de manter a organização do serviço⁽⁴⁾.

De acordo com os resultados deste estudo, os enfermeiros fazem uso de si para desenvolver suas atividades. Percebe-se o intenso trabalho deles quando buscam desenvolver as melhores ações para fazer a diferença no cuidado prestado⁽⁴⁾. O uso de si está presente na condução das atividades de cada turno de trabalho, e esse “uso” assume maior dimensão no momento em que é interligado com a experiência e conhecimento de cada profissional, destacando-se, também, nas atividades que exigem comunicação e trabalho em equipe⁽⁴⁾.

Ao se refletir sobre os atendimentos prestados nos setores de urgência e emergência das instituições hospitalares, depara-se com um dos setores mais críticos em relação ao gerenciamento de enfermagem⁽⁴⁾. O processo de trabalho, nesse ambiente, é dinâmico, estimulante e heterogêneo. Ademais, a equipe de enfermagem é responsável pelo cuidado direto ao paciente, exigindo proximidade física, bem como o manuseio constante de equipamentos/materiais e algumas características como habilidade, agilidade, destreza e capacidade de raciocinar^(4,15).

Cabe ao enfermeiro a avaliação de cada paciente e, para isso, precisa ter conhecimento de avaliação clínica, como buscar informações objetivas, subjetivas e possuir experiência para identificar a necessidade de atendimento imediato ou não, naquele momento⁽¹⁴⁾. Então, pode-se dizer que, mediante as singularidades e particularidades de cada paciente, o profissional desempenha atividades diferenciadas. Ou seja, o trabalho não é uma simples execução de atividades, e sim o uso de si⁽¹⁰⁾, buscando-se resolução de problemas para situações particulares, mesmo quando a atividade da enfermagem parece totalmente hierarquizada e prescrita⁽⁴⁾.

Os dados do presente estudo mostram o uso de si por si no momento de intercorrências, de elencar prioridades, de organizar a equipe, de organizar o ambiente de trabalho, para que as atividades tenham continuidade⁽⁴⁾. Já o uso de si pelos outros ocorre no momento de trabalho em equipe, de desenvolver as atividades que são prescritas e seguir as condutas mais adequadas⁽⁴⁾. Nesse sentido, afirma-se que, muito embora “os outros” estejam presentes no uso que cada trabalhador faz de si, ninguém é substituível, porque cada membro da equipe multiprofissional realiza uma contribuição singular durante o trabalho⁽¹⁶⁾. Destaca-se que, quando o enfermeiro realiza alguma atividade, este é convocado por outros — pode ser chefia, e/ou os colegas de trabalho — a se engajar de qualquer forma em determinada situação. O trabalhador nunca estará isento de ser influenciado e totalmente sozinho ao realizar alguma atividade. Há de se destacar que o enfermeiro necessita utilizar-se de suas mais variadas capacidades, sua memória, de sua psicomotricidade, de sua inteligência^(16-17).

Estudo mostra que, na enfermagem, o uso de si se faz presente na dimensão do gerenciamento e na assistência de suma importância no processo de cuidado⁽⁴⁾. A maneira como o enfermeiro atua e gerencia a suas atividades está diretamente ligada aos seus saberes, conhecimentos e subjetividade, repercutindo na sua prática laboral^(4,18). Seu embasamento científico promove a liberdade de tomada de decisões, a transgressão de normas e alteração na sua prática, segundo a especificidade que a atividade exige, visando à superação de lacunas encontradas, muitas vezes na fragmentação do trabalho^(4,19).

O uso de si evidencia-se no momento que o enfermeiro assume diversas atividades em seu turno de trabalho. Dependendo da área que o enfermeiro está alocado, ele define prioridades de atendimento ou, na sala de emergência, busca atender o paciente no instante em que ele chega, verificando sinais, coletando informações pessoais, chamando a equipe médica⁽⁴⁾. Outros autores descrevem também que a organização de suas ações depende das prioridades e necessidades dos pacientes e que esse planejamento também depende da área em que o profissional está alocado naquele turno de trabalho, como: o de atendimento às urgências e emergências, a assistência aos pacientes em sala de observação e a atenção aos usuários com demandas de saúde não urgentes^(4,14).

Assim, percebeu-se que, mesmo nas atividades realizadas nas emergências, há protocolos e rotinas a serem seguidas⁽⁴⁾. No entanto, cada profissional toma decisões e desenvolve ações de forma a realizar um cuidado mais qualificado. Todo uso de si depende da singularidade de cada atividade; não se trata apenas de uma parte formal da utilização de um protocolo, e sim de sua aplicação de maneira diferente em cada situação⁽⁴⁾.

Nesse sentido, a dimensão do gerenciamento na unidade de pronto-socorro é um pilar de sustentação para a assistência⁽⁴⁾. É de suma importância que o enfermeiro se utilize da gestão e gerenciamento para que tenha um atendimento de qualidade, pois a demanda não organizada por atendimento nas unidades de urgência e emergência na realidade brasileira tem contribuído decisivamente para a sobrecarga das emergências, desorganização da unidade, queda na qualidade dos atendimentos. Assim sendo, o enfermeiro torna-se um profissional de referência nessa organização do serviço^(1,4).

Para desenvolver o trabalho, sobretudo no ambiente da urgência e emergência, a liderança que o enfermeiro desempenha auxilia no planejamento da assistência, na delegação das atividades e na coordenação de enfermagem⁽⁴⁾. Dessa forma, ao exercer o papel de liderança, de coordenação, consequentemente irá desenvolver outras competências, como a comunicação para um melhor relacionamento interpessoal — seja com os outros profissionais, seja com os pacientes ou acompanhantes — e a tomada de decisão^(4-5).

Essa dinamicidade de atividades desenvolvidas pelos enfermeiros está relacionada ao que Schwartz⁽²⁰⁾ descreve com o uso de si nas atividades, como um constante debate de normas, reajustadas no instante do agir para trabalhar com a situação imposta. A nossa vida é uma sequência de normas antecedentes de um lado e, do outro, o impossível e o invivível, que resultam nas renormalizações necessárias para dar continuidade às atividades^(4,20).

Em relação a esse contexto, o enfermeiro, além de realizar diversas atividades, planejamento das ações e coordenação das equipes, está constantemente estabelecendo prioridades no atendimento e dividindo seu tempo e sua atenção entre os pacientes mais graves e a realização de procedimentos técnicos^(4,21). Em um estudo desenvolvido sobre o trabalho da enfermagem e a ergologia, sinalizou-se que as normas antecedentes caracterizadas pelos manuais, notas técnicas, prescrições e procedimentos padronizados existem sempre antes das atividades, mas que é possível renormatizá-las diante da realidade: elas devem ser recriadas, reinterpretadas de acordo com a singularidade de cada trabalhador e atividade^(4,22).

Dessa forma, conclui-se que, ao fazer uso de si, o enfermeiro não faz meramente a execução de um trabalho prescrito, mas mobiliza todo o seu ser, desenvolvendo a atividade laboral de forma singular. Isso, por sua vez, pode se traduzir em maior autonomia e visibilidade profissional, além de maior qualificação do cuidado.

Limitações do estudo

Este estudo apresentou algumas limitações, por ter sido desenvolvido em apenas uma unidade de pronto-socorro de hospital público. Além disso, não existem muitos trabalhos na literatura fundamentados no referencial da ergologia, nesse cenário, o que dificulta a discussão dos achados.

Contribuições para a área da enfermagem, saúde ou política pública

O estudo contribui para a área da enfermagem, na medida em que apresenta novas reflexões sobre a atuação do enfermeiro em pronto-socorro, particularmente no que tange à autonomia para desempenho de suas atividades. Assim, traz maior visibilidade ao trabalho do enfermeiro, com indicativos de maior proatividade, no que diz respeito às atividades tanto assistenciais como gerenciais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com esta pesquisa, foi possível conhecer como ocorre o uso de si, pelo enfermeiro, no trabalho em pronto-socorro. A complexidade desse tipo de unidade exige do profissional enfermeiro habilidade, agilidade, tomada de decisão rápida e autonomia. Na pesquisa, todas essas ações foram observadas no trabalho do enfermeiro dentro desse setor circunstanciado por dinamismo e imprevisibilidade.

Os resultados apontam que o uso de si se fez presente no trabalho do enfermeiro em pronto-socorro, especialmente no momento de priorizar atendimentos e na atuação em intercorrências. As atividades gerenciais também pressupõem o uso de si, que esteve atrelado a valores, ao conhecimento e às experiências de cada profissional. Além disso, evidenciou-se que o trabalho do enfermeiro na unidade pesquisada ocorre por meio da influência do uso de si por outros, ou seja, pela equipe multiprofissional e chefia de enfermagem.

A ergologia constituiu-se em referencial teórico apropriado ao debate desse objeto de estudo, já que visa compreender como ocorrem as atividades de cada profissional. Além disso, reconhece em seus pressupostos que a experiência e os saberes dos trabalhadores são fundamentais para o uso de si. Esse reconhecimento traz a cada um a valorização profissional e estímulo em buscar sempre mais autonomia no exercício de sua profissão.

• FOMENTO
  Agradecemos pelo apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES).

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Editado por

EDITOR CHEFE: Dulce Barbosa

EDITOR ASSOCIADO: Alexandre Balsanelli

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  09 Abr 2021
• Data do Fascículo
  2021

Histórico

• Recebido
  26 Jun 2019
• Aceito
  22 Ago 2020