Processo de enfermagem para paciente com fobia de agulha: estudo de caso

Mendonça, Angelo Braga; Pereira, Eliane Ramos; Magnago, Carinne; Silva, Rose Mary Costa Rosa Andrade; Martins, Adriana de Oliveira

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Revista Brasileira de Enfermagem

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Sumário

ARTIGO ORIGINAL • Rev. Bras. Enferm. 73 (4) • 2020 • https://doi.org/10.1590/0034-7167-2019-0095 copiar

Processo de enfermagem para paciente com fobia de agulha: estudo de caso

Autoria SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

RESUMO

Objetivos:

reportar um caso clínico de fobia de agulha que culminou em parada cardiorrespiratória e descrever os resultados de um plano assistencial voltado aos diagnósticos de medo e ansiedade, tendo como referencial o Modelo de Adaptação de Roy.

Métodos:

estudo de caso, desenvolvido em ambulatório de quimioterapia do Rio de Janeiro. A atuação profissional foi orientada pelo processo de enfermagem e subsidiada pelo uso de instrumentos de avaliação da rede venosa, ansiedade e medo.

Resultados:

o Modelo de Adaptação de Roy facultou a proposição de intervenções de enfermagem que permitiram ao sujeito do estudo uma adaptação aos estímulos externos e internos desencadeadores de síndrome vasovagal. Os instrumentos indicaram a escolha de um cateter semi-implantado como dispositivo de acesso venoso adequado que resultou na melhora dos níveis de ansiedade e medo.

Considerações Finais:

após o desenvolvimento das atividades de enfermagem, a ansiedade diminuiu e o paciente obteve maior autocontrole do medo.

Descritores:
Transtornos Fóbicos; Infusões Intravenosas; Assistência de Enfermagem; Cateteres; Ansiedade

Instrumento	Score	Interpretação	Score	Interpretação
Instrumento		Antes		Depois
Inventário de Ansiedade de Beck (BAI)	23	Grau moderado de ansiedade	8	Grau mínimo de ansiedade
Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (Subescala de ansiedade)	7	Quadro improvável de ansiedade	4	Quadro improvável de ansiedade

Focal	Contextual	Residual
Exposição a procedimentos com agulha	Uso do tabaco, substâncias psicoativas, presença do enfermeiro e ambientes que não ofereçam segurança (com cheiro de antissépticos, salão de QT e laboratório).	Eventos traumáticos na infância, medo de não conseguir controlar as próprias emoções, medo de não concluir a quimioterapia.

Intervenções de Enfermagem (NIC) ⁽¹⁰10 Bulechek GM, Butcher HK, Dochterman JM, Wagner CM. NIC - Classificação das intervenções de enfermagem. 6ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2016. ⁾	Atividades de Enfermagem
Controle de dispositivo de acesso venoso central	Indicar precocemente um dispositivo de acesso venoso central, segundo as características individuais e o protocolo quimioterápico proposto. Para a tomada de decisão, foram aplicados os instrumentos Adult Venous Assessment Tool (VAT) e Deciding on Intravenous Access (DIVA) ⁽¹⁶16 Wells S. Venous access in oncology and haematology patients: part two. Nurs Stand. 2008;23(1):35-42. doi: 10.7748/ns2008.09.23.1.35.c6652 https://doi.org/10.7748/ns2008.09.23.1.3... ⁾.
	Fornecer informações relacionadas ao dispositivo (tipo, indicação, função e cuidados).
	Esclarecer quanto aos riscos e benefícios do cateter em curto, médio e longo prazo.
	Verificar a compreensão do paciente sobre o propósito, cuidado e manutenção do cateter semi-implantado.
Redução da ansiedade e do medo	Auxiliar o paciente a identificar situações que precipitam a ansiedade e o medo.
	Identificar outras situações causadoras de pânico e ansiedade como diagnóstico diferencial ⁽⁴4 Marrs JA. Stress, fears, and phobias: the impact of anxiety. Clin J Oncol Nursing. 2006;10(3):319-22. doi: 10.1188/06.CJON.319-322 https://doi.org/10.1188/06.CJON.319-322... ^,²⁰20 McGrandles A, Duffy T. Assessment and treatment of patients with anxiety. Nurs Stand. 2012;26(35):48-57. doi: http://dx.doi.org/10.7748/ns2012.05.26.35.48.c9082 http://dx.doi.org/10.7748/ns2012.05.26.3... ⁾ de fobia à agulha.
	Aplicar escalas específicas para avaliação dos níveis de ansiedade ⁽¹⁰10 Bulechek GM, Butcher HK, Dochterman JM, Wagner CM. NIC - Classificação das intervenções de enfermagem. 6ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2016. ⁾, medo e depressão, antes, durante e após a quimioterapia. Foram aplicados o Inventário de Ansiedade de Beck ⁽¹²12 Beck AT, Epstein N, Brown G, Steer RA. An inventory for measuring clinical anxiety: psychometric properties. J Consult Clin Psychol. 1988;56(6):893-7. doi: 10.1037/0022-006X.56.6.893 https://doi.org/10.1037/0022-006X.56.6.8... ^-¹³13 Cunha JA. Manual da versão em português das Escalas Beck. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2001. ⁾ e a Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (subescala de ansiedade) ⁽¹⁴14 Zigmond AS, Snaith RP. The hospital anxiety and depression scale. Acta Psychiatr Scand. 1983;67(6):361-70. doi: 10.1111/j.1600-0447.1983.tb09716.x https://doi.org/10.1111/j.1600-0447.1983... ^-¹⁵15 Botega NJ, Bio MR, Zomignani MA, Garcia Jr C, Pereira WAB. Transtornos do humor em enfermaria de clínica médica e validação de escala de medida (HAD) de ansiedade e depressão. Rev Saúde Pública. 1995;29(5):355-63. doi: 10.1590/S0034-89101995000500004 https://doi.org/10.1590/S0034-8910199500... ⁾.
	Ensinar exercícios de respiração lenta para a promoção do relaxamento ⁽⁴4 Marrs JA. Stress, fears, and phobias: the impact of anxiety. Clin J Oncol Nursing. 2006;10(3):319-22. doi: 10.1188/06.CJON.319-322 https://doi.org/10.1188/06.CJON.319-322... ⁾. A redução dos níveis sanguíneos de dióxido de carbono, desencadeada pela hiperventilação, deve ser evitada, pois termina em constrição vascular cerebral, redução da disponibilidade de oxigênio e sintomas de síncope. Ademais, os níveis da PA também podem ser elevados com a intervenção ⁽²¹21 Kowalsky JM, Conatser R, Ritz T, France CR. Effects of respiratory and applied muscle tensing interventions on responses to a simulated blood draw among individuals with high needle fear. J Behav Med. 2018;41(6):771-83. doi: 10.1007/s10865-018-9925-8 https://doi.org/10.1007/s10865-018-9925-... ⁾.
	Orientar o cliente a evitar medicamentos e substâncias, como álcool, tabaco, cafeína e estimulantes do sistema nervoso central, dado que podem piorar os sintomas de ansiedade e/ou fobia ⁽⁴4 Marrs JA. Stress, fears, and phobias: the impact of anxiety. Clin J Oncol Nursing. 2006;10(3):319-22. doi: 10.1188/06.CJON.319-322 https://doi.org/10.1188/06.CJON.319-322... ⁾.
	Avaliar sinais verbais e não verbais de ansiedade ⁽¹⁰10 Bulechek GM, Butcher HK, Dochterman JM, Wagner CM. NIC - Classificação das intervenções de enfermagem. 6ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2016. ⁾, medo e potencial para complicações psicológicas associadas à inserção intravenosa.
	Encaminhar para um especialista em saúde mental quando necessário, pois determinadas intervenções escapam às competências técnica, ética e legal do enfermeiro, oportunizando o tratamento psicoterápico e clínico de transtornos fóbicos e de humor ⁽⁴4 Marrs JA. Stress, fears, and phobias: the impact of anxiety. Clin J Oncol Nursing. 2006;10(3):319-22. doi: 10.1188/06.CJON.319-322 https://doi.org/10.1188/06.CJON.319-322... ^,²⁰20 McGrandles A, Duffy T. Assessment and treatment of patients with anxiety. Nurs Stand. 2012;26(35):48-57. doi: http://dx.doi.org/10.7748/ns2012.05.26.35.48.c9082 http://dx.doi.org/10.7748/ns2012.05.26.3... ⁾.
	Reconhecer fatores de risco para estados de pânico no histórico de enfermagem, entre eles, baixo peso, início de tratamento, idade mais jovem, medo de desmaiar, preocupações com riscos à saúde, medo de "sentir medo", dor, tratamento com ansiolíticos ou antidepressivos, fumo, álcool e uso de substâncias ilícitas ⁽²²22 Miedziun P, Czabała JC. Stress Management Techniques. Arch Psychiatry Psychother. 2015;17(4):23-31. doi: 10.12740/APP/61082 https://doi.org/10.12740/APP/61082... ⁾.
Aconselhamento	Educar o paciente sobre o distúrbio ⁽⁴4 Marrs JA. Stress, fears, and phobias: the impact of anxiety. Clin J Oncol Nursing. 2006;10(3):319-22. doi: 10.1188/06.CJON.319-322 https://doi.org/10.1188/06.CJON.319-322... ^,²⁰20 McGrandles A, Duffy T. Assessment and treatment of patients with anxiety. Nurs Stand. 2012;26(35):48-57. doi: http://dx.doi.org/10.7748/ns2012.05.26.35.48.c9082 http://dx.doi.org/10.7748/ns2012.05.26.3... ⁾, fornecendo informação factual conforme necessário e adequado ⁽¹⁰10 Bulechek GM, Butcher HK, Dochterman JM, Wagner CM. NIC - Classificação das intervenções de enfermagem. 6ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2016. ⁾. Ensinar o cliente a substituir pensamentos que aumentam o medo, como a "expectativa de desmaiar", por outros que potencializam a autoconfiança, como "tudo aquilo que sobe (o medo) desce em seguida".
Distração	Encorajar o indivíduo a escolher técnicas de distração, como música, exercícios de respiração profunda e relembrança de eventos positivos ⁽⁴4 Marrs JA. Stress, fears, and phobias: the impact of anxiety. Clin J Oncol Nursing. 2006;10(3):319-22. doi: 10.1188/06.CJON.319-322 https://doi.org/10.1188/06.CJON.319-322... ^,¹⁰10 Bulechek GM, Butcher HK, Dochterman JM, Wagner CM. NIC - Classificação das intervenções de enfermagem. 6ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2016. ^,²³23 Sampaio F, Sequeira C, Canut MTL. Intervenções psicoterapêuticas de enfermagem NIC na prática clínica em Portugal: um estudo descritivo. Rev Port Enferm Saúde Mental. 2016;16:11-8. doi: 10.19131/rpesm.0152 https://doi.org/10.19131/rpesm.0152... ⁾.
Promoção da perfusão cerebral	Orientar quanto à técnica de aplicação de tensão muscular - aplicação de tensionamento isométrico repetido nos músculos das pernas, nádegas, abdômen ou tronco, durante outros procedimentos invasivos ou com agulha. A intervenção previne e ameniza os sintomas de pré-síncope e síncope. Há uma melhora no fluxo sanguíneo cerebral, na oxigenação, no débito cardíaco e na PA. Essa técnica desvia o sangue periférico de grandes músculos para a circulação central ⁽²¹21 Kowalsky JM, Conatser R, Ritz T, France CR. Effects of respiratory and applied muscle tensing interventions on responses to a simulated blood draw among individuals with high needle fear. J Behav Med. 2018;41(6):771-83. doi: 10.1007/s10865-018-9925-8 https://doi.org/10.1007/s10865-018-9925-... ⁾.

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[1] Autor Correspondente: Angelo Braga Mendonça. E-mail: angeloprimax@gmail.com