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Educação em Enfermagem: qualidade, inovação e responsabilidade

A educação em enfermagem com qualidade, inovação e responsabilidade, capaz de forjar um projeto político-profissional, requer a interpretação da realidade complexa da sociedade contemporânea em suas múltiplas possibilidades e de novos modos de relações sociais, de partilha de conhecimento e informação e da diversidade da condição humana em constante transformação(1Castells M, Cardoso G. A sociedade em rede: do conhecimento à ação política. Conferência promovida pelo Presidente da República, 4-5 de março de 2005. Centro Cultural de Belém, Lisboa, Portugal, 2005. [Acesso em: 23 mar. 2014]. Disponível em: <http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/a_sociedade_em_ rede_-_do_conhecimento_a_acao_politica.pdf
http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/def...

Fernandes I. A questão da diversidade da condição humana na sociedade. Revista da ADPPUCRS. 2004; 5:77-86.
-3Polanyi K. A grande transformação: as origens de nossa época. Rio de Janeiro: Campus; 1980.). Ao mesmo tempo, exige a compreensão dos aspectos singulares e localizados nos determinantes socioeconômicos e culturais dos processos saúde-doença, das intervenções do Estado por meio das políticas públicas, bem como das implicações sociais, éticas e políticas para formação e prática profissional(4Silva AL, Camillo SO. A educação em enfermagem à luz do paradigma da complexidade. Rev Esc Enferm USP. 2007;41(3):403-10.-5Pires MRGM. Politicidade do cuidado como referência emancipatória para a enfermagem: conhecer para cuidar melhor, cuidar para confrontar, cuidar para emancipar. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2005; 13(5):729-36.). Implica, portanto, o aprofundamento constante da articulação entre a educação e o trabalho, de forma a tomar a prática pedagógica impulsionadora do novo modo de pensar e fazer a educação, capaz de construir projetos educacionais comprometidos com a consolidação dos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS)(6Moura A, Liberalino FN, Silva FV, Germano RM, Timóteo RPS. SENADEn: expressão política da Educação em Enfermagem. Rev Bras Enferm. 2006; 59(esp):442-53.).

No campo da educação em enfermagem, seja com a finalidade de formação profissional, seja para a promoção da saúde da população, é fundamental o intercâmbio de múltiplos saberes e práticas para a ressignificação do conhecimento, tendo em vista a mudança nos processos de ensino-aprendizagem na busca pela formação de sujeitos críticos, criativos e competentes para a vida e para o trabalho(7Silva KL, Sena RR, Grillo MJ, Horta NC, Prado PMC. Educação em enfermagem e os desafios para a promoção de saúde. Rev Bras Enferm. 2009; 62(1):86-91.). No campo do trabalho, urge a reflexão sobre as formas de produção em saúde e a permanente atenção sobre a inserção profissional na estrutura produtiva do país, de forma a contribuir para a superação do modelo biologicista e na natureza setorial que caracteriza a formação e a atuação dos profissionais de saúde(7Silva KL, Sena RR, Grillo MJ, Horta NC, Prado PMC. Educação em enfermagem e os desafios para a promoção de saúde. Rev Bras Enferm. 2009; 62(1):86-91.).

Nesse cenário, a proposição de projetos pedagógicos potentes para a formação de sujeitos inventivos e, ao mesmo tempo, responsáveis e engajados em intervenções criativas sobre a realidade, é um grande desafio. Trata-se de construção compartilhada de novos compromissos éticos e políticos para a produção em saúde, para o ensino-aprendizagem, para a pesquisa científica.

Foi com este propósito que a Associação Brasileira de Enfermagem, em parceria com sua Seção Alagoas, realizou o 14º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem (14º SENADEn), no período de 6 a 8 de agosto de 2014, na cidade de Maceió. O tema central do evento - Educação em Enfermagem: qualidade, inovação e responsabilidade - foi definido com o intuito de dar continuidade à discussão e construção de propostas para as políticas de educação profissional em enfermagem no Brasil, à semelhança do que já ocorre nos seminários nacionais de educação em enfermagem e nos demais eventos da Associação Brasileira de Enfermagem desde sua criação(7Silva KL, Sena RR, Grillo MJ, Horta NC, Prado PMC. Educação em enfermagem e os desafios para a promoção de saúde. Rev Bras Enferm. 2009; 62(1):86-91.). A temática debatida nas diferentes atividades do evento foi alicerçada em três eixos.

Eixo I - Modelos pedagógicos inovadores potentes para a formação generalista, ética e responsável de profissionais de enfermagem. Debateram-se as questões relacionadas à expansão de cursos de graduação em enfermagem e ensino técnico, bem como aos sistemas de regulação e avaliação da qualidade das instituições de ensino, nos aspectos pedagógicos, de infraestrutura e de formação docente. Também foram analisados os projetos inovadores para a formação técnica e de nível superior em enfermagem, especialmente os currículos integrados e que adotam metodologias ativas de ensino-aprendizagem, coerentes com uma formação ampla, responsável e engajada.

Eixo II - Formação em Enfermagem e o cenário atual do trabalho em saúde nacional e internacional: discrepância entre o desejo da competência profissional e a demanda do mercado do trabalho. Neste eixo analisaram-se os cenários do mercado de trabalho, o impacto e a inserção do trabalho da Enfermagem na efetivação do SUS; os desafios da formação técnica e pós-técnica em enfermagem na perspectiva das Escolas Técnicas do SUS e da rede federal de educação técnica e tecnológica; a educação em enfermagem na América Latina e Caribe e suas contribuições para o fortalecimento da profissão e para a qualidade da atenção à saúde.

Eixo III - A pós-graduação e a pesquisa: retroalimentação/atualização da formação e do exercício profissional de pessoal de Enfermagem? Neste eixo debateram-se a pós-graduação em suas diferentes modalidades e os desafios para potencializar o compromisso social da Enfermagem. Analisaram-se a oferta e as demandas por residências multiprofissionais e em área profissional, bem como as contribuições dessas modalidades de formação para o trabalho em equipe, para a melhoria da resolubilidade e da qualidade do cuidado no âmbito do SUS. Em relação à pós-graduação stricto sensu, discutiu-se a visão da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior sobre os potenciais e limites dos cursos da área de enfermagem e o necessário intercâmbio de saberes e práticas entre a graduação, a pós-graduação e o trabalho em saúde/enfermagem.

Também foram objeto de intenso debate as iniciativas no desenvolvimento e inovação tecnológica para a educação e para o cuidado, como propulsoras de criatividade e inovação, de forma a aplicar essa capacidade de aprendizagem a todos os domínios da vida social e profissional.

O 14º SENADEn possibilitou análises amplas sobre as políticas de saúde e educação brasileiras, bem como o exame acurado de alternativas para o campo da educação em enfermagem. Também propiciou a discussão sobre a necessidade de integração com a América Latina e Caribe, na formação de profissionais de Enfermagem para o fortalecimento da profissão no continente. Conferencistas, palestrantes, convidados, autoridades, lideranças, trabalhadores do ensino e do serviço e estudantes viveram momentos de rico aprendizado e discussões que resultaram em pactuações e oportunidades de parcerias destinadas ao fortalecimento e desenvolvimento da profissão e da sua contribuição para a consolidação do SUS. Os consensos e proposições estão consolidados na Carta de Maceió publicada no sítio da ABEn. Todas as proposições reforçam os compromissos da enfermagem brasileira com a consolidação da atenção à saúde enquanto bem inalienável da pessoa humana, portanto direito de todos os cidadãos e cidadãs sob responsabilidade do Estado. As conclusões e recomendações centraram-se no resgate do compromisso das entidades, instituições de ensino e demais atores, com a elevação da qualidade do cuidado de enfermagem na perspectiva dos direitos e necessidades da população, em todas as etapas do itinerário formativo em enfermagem: ensino técnico, graduação e pós-graduação.

REFERÊNCIAS

  • 1
    Castells M, Cardoso G. A sociedade em rede: do conhecimento à ação política. Conferência promovida pelo Presidente da República, 4-5 de março de 2005. Centro Cultural de Belém, Lisboa, Portugal, 2005. [Acesso em: 23 mar. 2014]. Disponível em: <http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/a_sociedade_em_ rede_-_do_conhecimento_a_acao_politica.pdf
    » http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/a_sociedade_em_ rede_-_do_conhecimento_a_acao_politica.pdf
  • 2
    Fernandes I. A questão da diversidade da condição humana na sociedade. Revista da ADPPUCRS. 2004; 5:77-86.
  • 3
    Polanyi K. A grande transformação: as origens de nossa época. Rio de Janeiro: Campus; 1980.
  • 4
    Silva AL, Camillo SO. A educação em enfermagem à luz do paradigma da complexidade. Rev Esc Enferm USP. 2007;41(3):403-10.
  • 5
    Pires MRGM. Politicidade do cuidado como referência emancipatória para a enfermagem: conhecer para cuidar melhor, cuidar para confrontar, cuidar para emancipar. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2005; 13(5):729-36.
  • 6
    Moura A, Liberalino FN, Silva FV, Germano RM, Timóteo RPS. SENADEn: expressão política da Educação em Enfermagem. Rev Bras Enferm. 2006; 59(esp):442-53.
  • 7
    Silva KL, Sena RR, Grillo MJ, Horta NC, Prado PMC. Educação em enfermagem e os desafios para a promoção de saúde. Rev Bras Enferm. 2009; 62(1):86-91.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Aug 2014
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