Autoeficácia alimentar em crianças e adolescentes com sobrepeso ou obesidade: revisão integrativa de instrumentos

RESUMO

Objetivo:

Descrever as características dos instrumentos para avaliação da autoeficácia alimentar no sobrepeso e na obesidade em crianças e adolescentes.

Métodos:

Revisão integrativa da literatura, realizada em maio de 2020, em seis bases de dados (PubMed; Web of Science; Scopus; CINAHL, ADOLEC e PsycINFO) com a seguinte estratégia de busca: self-efficacy and (Overweight OR Obesity) and (Child* OR Adolescent).

Resultados:

Incluíram-se 35 artigos e 21 instrumentos aplicados às crianças de 6 a 9 anos (n=2), em adolescentes de 10 a 19 anos (n=9) e em crianças e adolescentes de 7 a 18 anos (n=10). Os instrumentos têm de 4 a 30 itens e variaram de duas a cinco dimensões, sendo as mais frequentes “alimentação saudável” e “atividade física”.

Conclusão:

Existem diferentes instrumentos confiáveis destinados à avaliação da autoeficácia alimentar do público adolescente e infantil, o que sinaliza a importância desse construto para prevenção e controle da obesidade e sobrepeso.

Descritores:
Autoeficácia; Tecnologia; Obesidade Pediátrica; Sobrepeso; Pesquisa Metodológica em Enfermagem

ABSTRACT

Objective:

To describe the characteristics of instruments to assess eating self-efficacy in overweight and obesity in children and adolescents.

Methods:

Integrative literature review, conducted in May 2020, in six databases (PubMed; Web of Science; Scopus; CINAHL, ADOLEC, and PsycINFO) with the following search strategy: Self-efficacy and (Overweight OR Obesity) and (Child* OR Adolescent).

Results:

The inclusion of thirty-five articles and twenty-one instruments was applied to children 6 to 9 years old (n=2), adolescents 10 to 19 years old (n=9), and children and adolescents 7 to 18 years old (n=10). The instruments have 4 to 30 items and vary from two to five dimensions, the most frequent being “healthy eating” and “physical activity.”

Conclusion:

There are different reliable instruments designed to assess eating self-efficacy in adolescents and children, indicating the importance of this construct for preventing and controlling obesity and overweight.

Descriptors:
Self-Efficacy; Technology; Pediatric Obesity; Overweight; Nursing Methodology Research

RESUMEN

Objetivo:

Describir características de instrumentos para evaluación de la autoeficacia alimentaria en el sobrepeso y obesidad en niños y adolescentes.

Métodos:

Revisión integradora de la literatura, realizada en mayo de 2020, en seis bases de datos (PubMed; Web of Science; Scopus; CINAHL, ADOLEC y PsycINFO) con la siguiente estrategia de búsqueda: self-efficacy and (Overweight OR Obesity) and (Child* OR Adolescent).

Resultados:

Incluidos 35 artículos y 21 instrumentos aplicados en niños de 6 a 9 años (n=2), en adolescentes de 10 a 19 años (n=9) y en niños y adolescentes de 7 a 18 años (n=10). Los instrumentos tienen de 4 a 30 ítems y variaron de dos a cinco dimensiones, siendo las más frecuentes “alimentación saludable” y “actividad física”.

Conclusión:

Hay diferentes instrumentos confiables para evaluación de la autoeficacia alimentaria del público adolescente e infantil, que señala la importancia de ese folleto para prevención y control de obesidad y sobrepeso.

Descriptores:
Autoeficacia; Tecnología; Obesidad Pediátrica; Sobrepeso; Investigación Metodológica en Enfermería

INTRODUÇÃO

A obesidade é um problema em ascensão na população global, configurando-se como um dos principais fatores para geração de múltiplas doenças e outros problemas de saúde. Entre estes, destaca-se hipertensão, hiperlipidemia e diabetes, as quais influenciam o aumento da incapacidade e do risco de morte prematura, afetando a qualidade de vida e gerando aumento nos gastos pessoais e públicos para controle e prevenção(¹); e mais atualmente elas têm se mostrado como importante fator de risco para complicações da COVID-19(²).

O problema não é diferente no público pediátrico, já que a Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou em mais de 340 milhões de crianças e adolescentes com sobrepeso ou obesidade. Isso representa um desafio para saúde na população em crescimento e mudanças decorrentes da transição típica das fases da vida, que podem ser decisivas para a saúde na idade adulta, principalmente nos países em desenvolvimento(³).

Considerando que a obesidade é um problema multidimensional por envolver fatores genéticos, endócrinos, ambientais, sociais, psicológicos e psiquiátricos e que a mudança de comportamento é fundamental para a redução do problema, um construto importante a ser avaliado é a autoeficácia. Ela foi definida por Albert Bandura como a crença ou confiança que uma pessoa tem na sua própria capacidade para completar determinada tarefa ou resolver um problema(⁴). A autoeficácia tem sido identificada como preditora de sucesso em tratamentos relacionados ao comportamento alimentar que melhoram a qualidade da dieta e permitem ao profissional de saúde conhecer o comportamento, podendo ser base para elaboração de estratégias na tarefa de prevenção e controle de peso(⁵).

Por outro lado, a baixa autoeficácia em lidar com a obesidade pode trazer prejuízos na autoestima, nos padrões sociocomportamentais, bem como no desempenho acadêmico. Estudo com adolescentes do sexo feminino verificou associação de baixa autoeficácia em lidar com a obesidade a autopercepções negativas sobre o desempenho acadêmico. No estudo, as participantes relataram que se sentiriam mais confiantes em participar das aulas se fossem mais magras(⁶). Nesse sentido, ilustra-se como a autoeficácia pode representar oportunidade para identificação de comportamentos que ajudem ou limitem a possibilidade de mudança na intenção de comportamento em saúde quanto ao controle da doença, considerando influências pessoais, sociais e ambientais que interferem na ação das pessoas(⁵).

A autoeficácia é um fator mensurável e modificável do comportamento humano. Desse modo, identificar instrumentos que mensurem o construto “autoeficácia de crianças e adolescentes”, tanto para prevenção quanto para controle de sobrepeso e de obesidade, torna-se pertinente. Devem-se conhecer instrumentos confiáveis que possam fornecer informações de qualidade para profissionais de saúde e pesquisadores que lidam com esse público periodicamente.

OBJETIVO

Descrever as características dos instrumentos disponíveis na literatura para avaliação da autoeficácia alimentar na prevenção e no controle do sobrepeso ou da obesidade em crianças e adolescentes.

MÉTODOS

Aspectos éticos

Este estudo foi realizado apoiando-se em estudos secundários disponíveis em bases de dados, o que dispensa a submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa.

Desenho do estudo

Realizou-se uma revisão integrativa da literatura, a qual corresponde a um método de síntese de conhecimento e incorporação da aplicabilidade de resultados de estudos na prática(⁷). Esta revisão analisou artigos que utilizaram instrumentos para avaliar a autoe-ficácia alimentar na prevenção do sobrepeso e da obesidade em crianças e adolescentes, seguindo estas etapas: identificação do tema e elaboração da pergunta norteadora; busca na literatura, com critérios de inclusão e exclusão; definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados; coleta de dados; avaliação com análise crítica dos estudos incluídos na revisão; discussão dos resultados; e apresentação da revisão integrativa(⁷). Para guiar a condução deste estudo, seguiram-se as diretrizes do Preferred Reporting Items for Systematic reviews and Meta-Analyses (PRISMA)(⁸).

Protocolo do estudo

A questão norteadora foi elaborada com uso da estratégia PICO, sendo: P (população) – crianças e adolescentes com sobrepeso ou obesidade; I (intervenção) – instrumentos que avaliaram a autoeficácia; C (comparação) – sem comparação; O (outcomes ou resultados) – construção da autoeficácia na prevenção do sobrepeso e da obesidade. Logo, a pergunta que conduziu a pesquisa foi: “Quais são os instrumentos disponíveis para avaliar a autoeficácia na prevenção do sobrepeso e da obesidade em crianças e/ou adolescentes?” Considerou-se a faixa etária de 0 a 19 anos, conforme classificação da Organização Mundial da Saúde: criança é a pessoa que tem até 9 anos; e adolescente é aquele que se encontra no limite cronológico entre 10 e 19 anos(⁹).

A busca ocorreu no mês de maio de 2020, nas seguintes bases de dados: Scopus; Cumulative Index to Nursing an Allied Health Literature (CINAHL); National Library of Medicine and National Institutes of Health (PubMed/Medline); Web of Science; American Psychological Associaton (PsycINFO); e ADOLEC. Utilizaram-se os termos presentes nos Descritores de Ciências da Saúde (DeCS) com a respectiva equivalência no Medical Subjects Headings (MeSH). Com o auxílio dos operadores booleanos AND e OR, a estratégia de busca foi “self-efficacy AND Overweight OR Obesity AND Child* OR Adolescent”, a qual foi inserida invariavelmente em cada uma das bases de dados.

Incluíram-se estudos primários, com abordagens quantitativas, observacionais e experimentais, sem restrição de idioma, sem delimitação de período de publicação e que utilizaram instrumentos de autoeficácia na avaliação de crianças e adolescentes, na prevenção do sobrepeso ou da obesidade. Excluíram-se estudos secundários, guias de prática clínica e capítulos de livros, monografias, dissertações, teses, editoriais, reflexões teóricas e resumos publicados em anais de eventos.

Análise dos dados

Após a realização da estratégia de busca, procedeu-se à leitura de títulos e resumos aplicando os critérios de seleção. Excluíram-se artigos duplicados entre as bases ou aqueles que não contemplavam o objetivo da revisão. Os artigos elegíveis foram lidos na íntegra por dois revisores de forma independente. Um terceiro revisor foi consultado em caso de dúvidas e desacordos, para então se obter um consenso.

O foco da extração dos dados foi o instrumento psicométrico de autoeficácia alimentar utilizado em cada estudo revisado. Para viabilizar a extração dos dados, empregou-se um instrumento adaptado(¹⁰) contendo 12 itens, quais sejam: autores; ano de publicação; país onde o estudo foi realizado; objetivo do estudo; estado nutricional dos participantes do estudo; faixa etária do público investigado; idioma do instrumento; características psicométricas do instrumento; forma de aplicação (autoaplicável ou por entrevista); número de itens; dimensões do instrumento; e exemplos de itens. Ressalta-se que, para obter todas essas informações, algumas vezes foi necessário consultar também o artigo de desenvolvimento do instrumento, sendo, este, facilmente localizado por meio das referências dos estudos revisados.

Para melhor análise e compreensão do texto, optou-se por dividir os instrumentos em três categorias de acordo com a faixa etária destinada: 1. Criança; 2. Adolescente; e 3. Crianças e Adolescentes. A discussão dos resultados também foi orientada por essa categorização, somada à contribuição da literatura acerca de aspectos pertinentes advindos dos demais achados deste estudo.

Figura 1
Fluxograma do processo de identificação, seleção e inclusão dos estudos, elaborado segundo a recomendação PRISMA, Brasil, 2020

RESULTADOS

Nos 35 artigos incluídos nesta revisão, encontraram-se 21 instrumentos diferentes para avaliação de sobrepeso e obesidade, os quais foram publicados entre 2001 e 2019, sendo verificado aumento nas publicações relacionadas à autoeficácia alimentar em crianças e adolescentes, nos últimos cinco anos (n = 18). Os instrumentos foram utilizados em pesquisas realizadas nos Estados Unidos da América – EUA (n = 19), Coreia (n = 5), Irã (n = 3), Canadá (n = 2), México (n = 2), Reino Unido (n = 2), Austrália (n = 1) e África do Sul (n = 1), nos quais foram conduzidos diferentes estudos de intervenção (n = 20) e estudos observacionais (n = 15).

Devido à quantidade de evidências científicas disponíveis, os 21 instrumentos foram categorizados conforme se pode visualizar no Quadro 1. A extração dos dados classificou o estado nutricional dos participantes, nos quais os instrumentos foram aplicados, em: N – Normal; SP – Sobrepeso; e O – Obesidade. A maioria dos instrumentos foram aplicados tanto na população masculina quanto na feminina (n = 17).

Quadro 1
Instrumentos de avaliação de autoeficácia alimentar, de acordo com a faixa etária em que foram aplicados, Brasil, 2020

Categoria 1 – Avaliação da autoeficácia alimentar em crianças
Instrumentos	Itens/ Dimensões/ Método de Pontuação/Exemplo	Autores/Países	Idades	Sexos	Estado nutricional	Alfa de Cronbach
Food Self-Efficacy	Itens: 8. Dimensões: não descritas	Story et al., 2001(11) EUA	8	M e F	N/SP/O	0,64
Knowledge, Self-Efficacy and Behavior Questionnaire	Itens: 12. Dimensões: não descritas	De Villiers et al., 2016(12) África do Sul	7,6 ± 0,6*	M e F	N/SP/O	0,75*
Categoria 2 – Avaliação da autoeficácia alimentar em adolescentes
Efficacy for healthy food	Itens: 4 Dimensões: não descritas	Muturi et al., 2018(13) EUA	11 a 15	M e F	Não descrito	0,74
Efficacy for healthy eating	Itens: 4 Dimensões: não descritas	Muturi et al., 2018(13) EUA	11 a 15	M e F	Não descrito	0,60
†Self-efficacy to eat healthy	Itens: 7 Dimensões: não descritas	Bruening et al., 2010(14) EUA	14 a 20	M e F	Não descrito	0,84
Nutricional Self-Efficacy	Itens: 7 Dimensões: não descritas	Bagherniya et al., 2015(15) Irã	12 a 15	F	SP/O	> 0,70
‡After School Student Questionnaire	Itens: 12 Dimensões: 2 (oito itens para autoeficácia na escolha de alimentação saudável e quatro para atividade física)	Whittemore et al., 2013(16) EUA	14 a 17	M e F	N/SP/O	0,70, alimentar; 0,82, atividade física
‡Self-efficacy in eating or physical activity	Itens: 10 Dimensões: 2 (seis itens para autoeficácia alimentar e quatro para atividade física)	Ha et al., 2016(17) EUA	10,7	M e F	N/O	0,80
Perceived self-efficacy in dietary life	Itens: 16 Dimensões: não descritas	Park, 2011(18) Coreia	-	F	N/SP	0,843
Dietary self-efficacy	Itens: 18 Dimensões: 4 (cinco itens sobre hábitos alimentares; quatro acerca da seleção de alimentos; seis sobre influências que favorecem comer mais; e três a respeito das emoções negativas que levam a comer mais)	Chae et al., 2018(19) Coreia	16 a 19	M e F	N/SP/O	0,87
		Chae et al., 2010(20) Coreia	16	M e F	N/SP/O	0,86
The Weight Efficacy Life-style Questionnaire (WEL) – Aplicação em crianças	Itens: 20 Dimensões: 5 (emoções negativas, disponibilidade, pressão social, desconforto físico e atividades positivas)	Ievers-Landis et al., 2016(21) EUA	13 a 18	M e F	O	0,70 a 0,90
Categoria 3 – Avaliação da autoeficácia alimentar crianças e adolescentes
‡Self-efficacy for healthy eating	Itens: 9 Dimensões: 2 (cinco itens para alimentação saudável e quatro itens de atividade física)	Maximova et al., 2015(22) Canadá	9 a 13	M e F	N/SP/O	0,69, alimentar; 0,84, atividade física
Self-efficacy for healthy dietary behaviors	Itens: 7 Dimensões: não descritas	Rosemond et al., 2015(23) EUA	9 a 12	M e F	Não descrito	0,82*
‡Self-Efficacy for Health Eating and Physical Activity (SE-HEPA)	Itens: 16 Dimensões: 2 (oito itens para autoeficácia na escolha de alimentação saudável e oito itens para atividade física)	Schroeder et al., 2019(24) EUA	9 a 12	M	O	> 0,70
The dietary self-efficacy	Itens: 10 Dimensões: não descritas Opções de resposta: 5 (de “1 – Tenho certeza que não posso” até “5 – Tenho certeza que posso”) Exemplo de item: não descritas (os participantes foram convidados a avaliar até que ponto confiavam que podiam limitar alimentos gordurosos)	Maynard et al., 2017(25) Reino Unido	7 a 13	M e F	N/SP/O	Não descrito
		Maynard et al., 2009(26) Reino Unido	10 a 12	M e F	N/SP/O	Não descrito
Dietary self-efficacy	Itens: 11 Dimensões: não descritas	O’Dea, Wilson, 2006(27) Austrália	6 a 18	M e F	N/SP/O	0,87 a 0,90
Autoeficacia alimentaria saludable	Itens: 13 Dimensões: Não descrito	Morales-Ruán et al., 2014(28) México	10 a 13	M e F	SP/O	0,478
Child Dietary Self-Efficacy Scale (CDSS)	Itens:15 Dimensões: não descritas Opções de resposta: 3 (“Não tenho certeza” até “Tenho certeza”; Pontuação total de -15 a +15) Exemplo de item: Quão seguro você está...? - para escolher alimentos saudáveis, com baixo teor de gordura e baixa caloria?	Miri et al, 2019(29) Irã	13 a 18	M e F	SP	0,82 a 0,87*
		Walpole et al., 2013(30) Canadá	10 a 18	M e F	O	0,85 (0,84)
		Goldschmidt et al., 2014(31) EUA	7 a 12	M e F	SP	0,83
		Mockus et al., 2011(32) EUA	7 a 12	M e F	SP	0,82 a 0,87*
		Chen, Kwan, 2016(33) EUA	7 a 12	M	SP/O	0,82 a 0,87*
		Chen et al., 2015(34) EUA	7 a 12	Não descrito	SP/O	0,82 a 0,87
		Chen et al., 2009(35) EUA	8 a 10	M e F	N/SP/O	0,82 a 0,87
		Chen et al., 2011(36) EUA	12 a 15	M e F	N/SP	0,82 a 0,87
		Chen et al., 2017(37) EUA	13 a 18	M e F	SP	0,82 a 0,87*
		Kim et al., 2016(38) Coreia	7 a 12	M e F	SP/O	0,84 (0,82 a 0,84)
The Weight Efficacy Lifestyle Questionnaire (WEL) – Aplicação em crianças e adolescentes	Itens: 20 Dimensões: 5 (emoções negativas, disponibilidade, pressão social, desconforto físico e atividades positivas)	Glasofer et al., 2013(39) EUA	12 a 17	M e F	N/SP/O	0,83 a 0,94*
		Doaei et al., 2019(40) Irã	12 a 16	M	N/SP/O	0,83 a 0,94*
		Miri et al., 2017(41) Irã	12 a 18	M e F	N/SP/O	0,83 a 0,94*
		Quinlan et al., 2009(42) EUA	9 a 18	M e F	SP/O	0,94
		Walpole et al., 2013(30) Canadá	10 a 18	M e F	O	0,83 (0,70 a 0,90)
		Lloyd-Richardson et al., 2012(43) EUA	13 a 16	M e F	O	0,90
Self-Efficacy for Diet	Itens: 19 Dimensões: não descritas	Sherrill-Mittleman et al., 2009(44) EUA	8 a 10	F	N/SP/O	0,82 (0,86)
		Stockton et al., 2009(45) EUA	8 a 10	F	N/SP/O	0,82 (0,86)
Inventario de Autoeficacia para actividad física, alimentación saludable y controle de peso	Itens: 30 Dimensões: 4 (autoeficácia para aumentar a atividade física; para diminuir o consumo de alimentos com baixa contribuição nutricional; para escolha de alimentos saudáveis e controle de peso; e eliminação da alimentação emocional)	Gómez-Peresmitré et al., 2019(46) México	8 a 10	M e F	Não descrito	0,90

• Estado nutricional: N – Normal; SP – Sobrepeso; e O – Obesidade. Sexo: M – Masculino; e F – Feminino. *Dados extraídos de outros estudos referidos pelo autor. † Instrumento mantido na revisão porque inclui adolescentes entre 14 e 19 anos. ‡Instrumentos bidimensionais que podem ser avaliados de forma independente.

Ao analisar as características gerais dos 21 instrumentos identificados, verificou-se que o número de itens variou de 4 a 30 questões; 19 instrumentos se apresentaram com padrão de resposta do tipo Likert (variando de 3 a 10 opções de resposta); 1 utilizava escala dicotômica; e 1 instrumento não apresentou informações sobre esses dados.

Dos 21 instrumentos identificados, 9 possuem diferentes dimensões (de duas a cinco), e os demais não trouxeram essas informações nos artigos. Entre as dimensões mais estudadas nos instrumentos, estiveram “escolha alimentar saudável” (seis instrumentos) e “atividade física” (cinco instrumentos). Em menor grau, também apareceram as dimensões: “emoções negativas”, “disponibilidade”, “pressão social”, “desconforto físico”, “atividades positivas”, “hábitos alimentares”, “ambiente circundante que leva ao excesso de alimentação”, “emoções negativas que levam ao excesso de alimentação”, “diminuem o consumo de alimentos com baixa contribuição nutricional” e “eliminação da alimentação emocional”.

Ao verificar o coeficiente de confiabilidade, segundo o alfa de Cronbach dos instrumentos avaliados, este variou de 0,47 a 0,94, sendo que 17 instrumentos reportaram valor superior a 0,7, enquanto 3 tiveram valor menor que 0,7 e apenas 1 não mencionou resultados sobre confiabilidade.

DISCUSSÃO

Esta revisão identificou número expressivo de instrumentos confiáveis para verificar a autoeficácia na prevenção e controle do sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes. Assim, percebeu-se interesse em integrar esse construto em estudos que buscam melhorar o estado nutricional desde os estágios iniciais da vida, já que o uso dessas ferramentas aumentou nos últimos cinco anos. O predomínio de estudos desenvolvidos nos Estados Unidos demonstra a preocupação dos pesquisadores com a obesidade. Nesse país, 42,4% das pessoas são obesas, das quais 13,7 milhões são crianças e adolescentes(⁴⁷). Isso reflete nos custos de saúde e previdência: por exemplo, no Brasil, o gasto chegou a 1,39 bilhão de reais em 2018(¹).

A categorização dos achados constatou maior número de instrumentos que podem ser utilizados tanto em crianças a partir dos 6 anos quanto em adolescentes (dez instrumentos) (²², ²³, ²⁴, ²⁵, ²⁶, ²⁷, ²⁸, ²⁹, ³⁰, ³¹, ³², ³³, ³⁴, ³⁵, ³⁶, ³⁷, ³⁸, ³⁹, ⁴⁰, ⁴¹, ⁴², ⁴³, ⁴⁴, ⁴⁵, ⁴⁶). No entanto, o uso desses instrumentos é mais frequente em crianças a partir dos 8 anos(¹¹,¹⁵,⁴⁴, ⁴⁵, ⁴⁶).

Embora os instrumentos não diferenciem os itens por faixas etárias, percebeu-se que aqueles exclusivamente aplicados em crianças se mostraram ligeiramente mais curtos em suas opções de resposta(¹¹, ¹²), em comparação com os aplicados apenas em adolescentes(¹³, ¹⁴, ¹⁵, ¹⁶, ¹⁷, ¹⁸, ¹⁹, ²⁰, ²¹). Isso revela que as ferramentas usadas em crianças devem considerar fatores cognitivos do desenvolvimento, de modo a permitir a compreensão dos itens e a resposta coerente, evitando vieses de interpretação ou resposta. Obter instrumentos com poucos itens é tendência em adaptações de instrumentos nos últimos anos, o que denota a busca por facilitar a aplicação(⁴⁸).

Os instrumentos de autoeficácia possuem o objetivo de mensurar a crença autorreferente sobre o quanto um indivíduo se sente capaz de realizar com sucesso determinadas tarefas, independentemente do sexo. Assim sendo, verificou-se que os artigos revisados sugerem o uso em crianças e adolescentes de ambos os sexos, atendendo às recomendações de especialistas que utilizam instrumentos de autoeficácia(⁴⁹). No entanto, pode ser interessante, baseando-se na prática investigativa, analisar dados resultantes dos instrumentos de autoeficácia por sexo, uma vez que alguns autores mostram diferenças entre esses grupos(⁴⁹, ⁵⁰).

Considerando o estado nutricional dos participantes dos estudos revisados, verificou-se que os instrumentos foram aplicados a crianças e/ou adolescentes com sobrepeso e obesidade(¹⁵,²¹,²⁴,²⁸,³⁰), bem como em participantes com o peso adequado(¹¹, ¹²,¹⁶, ¹⁷, ¹⁸,²⁰,²²,²⁵,³⁶). Em ambas as situações, identificar os níveis de autoeficácia é importante, pois esta é preditora tanto da perda de peso quanto do início de desempenho e de comportamentos de controle e manutenção de peso; e, quando reafirmada, ela potencializa o comportamento saudável(⁵¹).

Nesse sentido, a promoção da saúde emerge como perspectiva promissora para estudos no âmbito da alimentação e nutrição, tendo em vista que a Política Nacional de Promoção da Saúde prevê que a alimentação saudável, atrelada à prática de atividade física, constitui fundamento das ações de promoção da saúde, além de ser medida estratégica no enfrentamento das deficiências nutricionais(⁵²). Ao reconhecer esse aspecto, verificou-se que as dimensões mais utilizadas nos instrumentos se referiam à escolha de alimentos saudáveis e atividade física(¹⁶, ¹⁷,¹⁹,²²,²⁴,⁴⁶), possivelmente porque esses elementos são interligados na manutenção do peso e massa corporal adequados.

Todavia, alguns dos instrumentos analisados neste estudo são multidimensionais, o que possibilita vislumbrar uma perspectiva mais ampla do comportamento da autoeficácia no que diz respeito à alimentação. Nestes, observaram-se dimensões que incluíam questões referentes à disponibilidade alimentar, pressão social, desconforto físico, hábitos alimentares, emoções negativas, diminuição do consumo de alimentos de baixa contribuição nutricional e eliminação da alimentação emocional(²¹,³⁹, ⁴⁰, ⁴¹, ⁴², ⁴³).

Essa multidimensionalidade apresentada nos instrumentos corresponde aos mecanismos para o desenvolvimento da autoe-ficácia (1. Experiência própria; 2. Experiência vicária; 3. Estados emocionais; e 4. Persuasão verbal). Sobretudo no terceiro mecanismo, as pessoas julgam suas capacidades em função de seus estados emocionais, fazendo leituras de sua tensão, ansiedade e depressão como sinais de dificuldades de enfrentamento pessoal(⁵³). Analisar esses aspectos pode contribuir para estabelecer avaliações mais precisas do comportamento obesogênico, oferecendo aos profissionais de saúde maior oportunidade de: implementar estratégias que contribuam para manutenção ou diminuição do peso, por meio de uma avaliação individual da autoeficácia; e/ou estabelecer estratégias de grupo, baseadas nas dimensões mais deficientes encontradas na população(⁵⁴).

Outro aspecto identificado foi a aplicação dos instrumentos analisados, principalmente em estudos de interven-ção(¹²,¹⁶,²³, ²⁴,²⁶, ²⁷, ²⁸, ²⁹, ³⁰,³³, ³⁴, ³⁵, ³⁶, ³⁷, ³⁸,⁴⁴,⁴⁶). Tais desenhos primam pela utilização de instrumentos de mensuração confiáveis, com vistas a diminuir vieses de mensuração e facilitar a replicação da intervenção em outros contextos. Usualmente, as propriedades de medida mais avaliadas em um instrumento são a validade e a confiabilidade. Neste estudo, conseguiu-se averiguar a confiabilidade dos instrumentos incluídos. Esta diz respeito ao grau em que um instrumento permite reprodução e consistência de resultados, quando aplicado em ocasiões diferentes(⁵⁴). Em face disso, a confiabilidade demonstrada pelos diferentes instrumentos desta revisão sugere que eles podem ser utilizados em outros contextos.

Nesse sentido, os achados deste estudo podem auxiliar pesquisadores e profissionais de saúde, especialmente enfermeiros, na avaliação da autoeficácia pediátrica para prevenção e controle do sobrepeso e da obesidade. A utilização desses instrumentos pode ajudar na identificação de comportamentos não promotores de saúde que influenciam a autoeficácia — sobretudo aqueles instrumentos que a avaliam de forma multidimensional. Compreender o quanto as pressões sociais impactam a vida da criança e principalmente do adolescente tem sido cada vez mais necessário, visto que esse público tem uma necessidade biológica e social de identificar-se com um grupo e ser aceito por ele. Quando em descontentamento com a própria imagem, por causa do sobrepeso ou da obesidade, o desempenho cognitivo tende a ser reduzido(⁵⁵). Por isso, tornam-se urgentes estratégias que visem intervir na autoeficácia desse público não somente visando diminuir o sobrepeso e a obesidade, mas também lidar com os conflitos emocionais e sociais advindos desse problema de saúde. Ademais, deve-se pensar em mais estratégias para abordar esse assunto com os pais e cuidadores.

Dentre os 21 instrumentos estudados, nenhum está adaptado e validado para ser utilizado no Brasil, o que evidencia a incipiência de estudos sobre a temática. Ao mesmo tempo, abre-se um painel de oportunidades de novas pesquisas para pesquisadores com interesse nesse nicho. Adaptar instrumentos para outras culturas é necessário para averiguar a utilidade a outras populações, considerando as características socioculturais e ampliando o escopo de grupos específicos; além disso, tal adaptação mostra-se econômica e cientificamente mais viável em tempos de recursos escassos no financiamento à ciência.

Limitações do estudo

Destaca-se que esta pesquisa se limitou a descrever os instrumentos, encontrados na literatura, usados para avaliar a autoefi-cácia em crianças e adolescentes, na prevenção e no controle do sobrepeso e da obesidade. Portanto, não foi avaliada a qualidade metodológica dos artigos incluídos nem dos instrumentos de mensuração.

Contribuições para a área da saúde

Nesta revisão, foram elencados e analisados os instrumentos utilizados na prática clínica e em pesquisas que avaliam a autoeficácia no público pediátrico. Logo fornece subsídios para a expansão do uso dos instrumentos, bem como pode instigar estudos de tradução e adaptação cultural e clínicos.

CONCLUSÃO

Este estudo verificou a existência expressiva de instrumentos que avaliam a autoeficácia alimentar, principalmente a partir dos 8 anos de idade; e são, sobretudo, de países de língua inglesa. O número de ferramentas validadas para serem aplicadas em adolescentes é maior do que em crianças. Existem instrumentos unidimensionais, bidimensionais e multidimensionais, que avaliam, basicamente, o consumo de alimentos saudáveis e a prática de exercícios físicos. Contudo, há aqueles que adentram em dimensões emocionais e comportamentais, as quais possibilitam avaliação mais ampla dos fatores interferentes na autoeficácia alimentar desse público. Os instrumentos, em geral, são válidos e confiáveis, o que motiva a adaptação para outras línguas e contextos, incluindo o brasileiro.

REFERENCES

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Editado por

EDITOR CHEFE: Dulce Barbosa

EDITOR ASSOCIADO: Carina Dessotte

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  26 Set 2022
• Data do Fascículo
  2022

Histórico

• Recebido
  08 Set 2021
• Aceito
  11 Maio 2022