Desenvolvimento da pesquisa sobre diagnósticos de enfermagem nos programas de pós-graduação brasileiros

RESUMO

Objetivo:

Caracterizar o desenvolvimento das pesquisas sobre diagnósticos de enfermagem nos programas de pós-graduação em enfermagem brasileiros e verificar a aplicação dos resultados desses estudos de acordo com a percepção dos orientadores.

Métodos:

Pesquisa documental nos bancos eletrônicos de dissertações e teses de universidades brasileiras com programas de pós-graduação em enfermagem e survey exploratório sobre a aplicação prática dos resultados.

Resultados:

Foram analisadas 216 dissertações e teses. A maioria tratava-se de estudos descritivos, sendo a taxonomia diagnóstica mais utilizada a NANDA International. Identificou-se pouca utilização prática do conhecimento produzido pelas dissertações e teses sobre a temática em questão.

Conclusão:

Embora tenha revelado aumento considerável nas pesquisas sobre diagnósticos de enfermagem, a fase de survey revelou pouca aplicação prática dos resultados obtidos, o que sugere a realização de novos estudos no intuito de identificar as barreiras para que ocorra a transposição da teoria para a prática.

Descritores:
Diagnósticos de Enfermagem; Educação em Enfermagem; Pesquisa em Enfermagem; Terminologia Padronizada em Enfermagem; Educação de Pós-Graduação em Enfermagem

ABSTRACT

Objective:

to characterize the development of research on nursing diagnoses in nursing graduate programs and verify the application of the results of these studies according to the perception of academic advisors.

Methods:

documental research on dissertations and theses available from the databases of Brazilian universities with graduate programs in nursing, and exploratory survey on the practical application of their results.

Results:

216 dissertations and theses were analyzed. Most of them were descriptive studies, and the most widely used diagnostic taxonomy was NANDA International. Little practical use of the knowledge produced by the dissertations and theses was identified.

Conclusion:

Although there has been a considerable increase in research on nursing diagnoses, the survey stage revealed scarce practical application of their results, prompting the need for further studies in order to identify the barriers in the way of transposing theory to practice.

Descriptors:
Nursing Diagnosis; Nursing Education; Nursing Research; Standardized Nursing Terminology; Graduate Nursing Education

RESUMEN

Objetivo:

caracterizar el desarrollo de las investigaciones sobre diagnósticos de enfermería en los programas de postgrado en enfermería brasileños y verificar la aplicación de los resultados de esos estudios de acuerdo con la percepción de los orientadores.

Métodos:

investigación documental en los bancos electrónicos de disertaciones y tesis de universidades brasileñas con programas de postgrado en enfermería y survey exploratorio sobre la aplicación práctica de los resultados.

Resultados:

se analizaron 216 disertaciones y tesis. La mayoría se trataba de estudios descriptivos y la taxonomía diagnóstica más utilizada fue NANDA International. Se identificó poca utilización práctica del conocimiento producido por las disertaciones y tesis sobre la temática en cuestión.

Conclusión:

Aunque se ha revelado un aumento considerable en las investigaciones sobre diagnósticos de enfermería, la fase de survey reveló poca aplicación práctica de los resultados obtenidos, lo que sugiere la realización de nuevos estudios con el fin de identificar las barreras para que ocurra la transposición de la teoría para la práctica.

Descriptores:
Diagnóstico de Enfermería; Educación en Enfermería; Investigación en Enfermería; Terminología Normalizada de Enfermería; Educación de Post Grado em Enfermería

INTRODUÇÃO

Com a crescente informatização da documentação de prontuários, é inevitável e indispensável a utilização de uma linguagem única, que padronize a documentação de enfermagem e possibilite comparações e avaliação da efetividade de determinadas intervenções na resolução de problemas de saúde dos indivíduos, além de facilitar as pesquisas sobre prevalência de determinados diagnósticos de enfermagem (DEs) em populações específicas⁽¹⁾.

Ao longo dos anos, pesquisas envolvendo a análise das linguagens diagnósticas, buscando sua validação científica, têm tido uma representatividade crescente nos trabalhos de pós-graduação em Enfermagem, utilizando-se variados desenhos de estudo. O aumento crescente dos Programas de Pós-graduação em Enfermagem (PPGE) desde sua criação na década de 1970 tem sido acompanhado, especialmente nos últimos 20 anos, de crescimento exponencial da produção científica da área, incluindo-se sobre DEs. Além de um quantitativo maior, observa-se ao longo do tempo relevante incremento na qualidade das pesquisas desenvolvidas⁽²⁾.

Estudo preliminar, não publicado, realizado para apresentação oral no 12º Simpósio Nacional de Diagnósticos de Enfermagem, analisou a produção sobre DEs nos PPGE brasileiros no período de 2011-2015 e investigou, junto aos pesquisadores que estudam essa temática, a tradução desse conhecimento gerado para a prática cotidiana⁽³⁾. Nesse estudo, foi possível verificar a utilização de variados métodos para estudar essa temática, o uso de teorias de enfermagem, como as de Orem e Wanda Horta, bem como a transposição do conhecimento desenvolvido sobre a temática para a prática profissional do enfermeiro em diversos âmbitos de atuação.

Dada a importância do uso das linguagens padronizadas em enfermagem, buscou-se ampliar a pesquisa supracitada para outros PPGE não incluídos no estudo preliminar, ampliando também o período de busca, com o objetivo de espelhar com mais clareza a produção científica na área, além de identificar como esse conhecimento vem sendo evidenciado na prática.

Silva et al.⁽⁴⁾ conduziram estudo semelhante e identificaram quantidade expressiva de pesquisas provenientes de PPGE sobre DEs. Nessa pesquisa, pôde-se observar que as dissertações e teses (D/T) desenvolvidas sobre o assunto estudavam especialmente a identificação do perfil diagnóstico ou validação de conteúdo, tendo sido observado também que a classificação diagnóstica mais utilizada foi a NANDA-I.

Em ambos os estudos citados, não foram analisadas as populações estudas pelos pesquisadores, nem os locais onde os resultados dessas pesquisas tiveram maior aplicação prática, ainda que Silva et al.⁽⁴⁾ tenham categorizado as D/T localizadas em grandes áreas temáticas (saúde da mulher, saúde do adulto e idoso etc.), o que deixa uma lacuna de conhecimento sobre essa característica em particular dos estudos.

OBJETIVO

Caracterizar as pesquisas com linguagens diagnósticas de enfermagem padronizadas nos PPGE brasileiros e verificar a aplicação dos resultados desses estudos de acordo com a percepção dos orientadores.

MÉTODOS

Aspectos éticos

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo.

Desenho, local do estudo e período

Trata-se de uma pesquisa do tipo descritivo-exploratório, realizada na Universidade Federal de São Paulo, Escola Paulista de Enfermagem, de 2016 a 2017, composta por duas fases: Fase 1, com pesquisa documental; e Fase 2, survey exploratório.

População e amostra do estudo, critérios de inclusão e exclusão

Na primeira fase do estudo, a população constituiu-se das D/T defendidas nos PPGE brasileiros. Incluíram-se na amostra as D/T sobre DEs defendidas de 2006 a 2016 que analisavam DEs isoladamente ou em conjunto com intervenções e resultados.

Na segunda fase do estudo, a população constituiu-se dos pesquisadores orientadores dos PPGE brasileiros. Incluíram-se aqueles que orientaram as D/T sobre DEs defendidas de 2006 a 2016. Excluíram-se aqueles que não responderam a um questionário a ser enviado em até dez dias.

Protocolo do estudo

• Primeira fase: Pesquisa documental

Solicitou-se diretamente à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) a relação de cursos de Mestrado (acadêmico ou profissional) e Doutorado das instituições de ensino superior (IES) brasileiras. A seguir, procederam-se três etapas:

• 1ª etapa: Busca nos repositórios eletrônicos de D/T das IES. Tentou-se acesso aos bancos digitais de D/T de 61 IES de setembro de 2016 a fevereiro de 2017. Desse total, três IES não possuíam banco eletrônico de D/T ou o banco encontrava-se com acesso indisponível no período de buscas. Assim, acessaram-se 58 bancos eletrônicos e buscaram-se estudos defendidos no período de janeiro de 2006 a dezembro de 2016, com título e/ou palavras-chave contendo os termos “diagnóstico de enfermagem” ou “diagnósticos de enfermagem”;

• 2ª etapa: Solicitação de estudos indisponíveis. A pesquisadora principal enviou e-mail aos autores das D/T explicando os objetivos do estudo e solicitando que enviassem, por via eletrônica, os estudos com acesso indisponível. Aguardaram-se três semanas e enviou-se um lembrete àqueles que não responderam ao primeiro e-mail, aguardando-se, em seguida, mais uma semana;

• 3ª etapa: Pesquisa no Currículo Lattes dos orientadores. Acessaram-se os Currículos Lattes dos orientadores dos estudos evidenciados nas buscas, de modo a verificar a existência de outras D/T realizadas no mesmo período de busca e que eventualmente não constassem nos bancos digitais. Essa busca teve o objetivo de incluir o máximo de trabalhos na análise e reduzir possíveis limitações devido à provável desatualização dos bancos eletrônicos. As D/T identificadas via currículo Lattes que não foram localizadas na busca nos bancos digitais foram, posteriormente, solicitadas diretamente aos seus autores por via eletrônica.

Após a localização das D/T, procedeu-se à leitura na íntegra de todas elas para identificação dos seguintes dados: IES em que foi realizado o estudo, metodologia, DE estudados, linguagens padronizadas utilizadas, domínios aos quais os DEs pertenciam (no caso de DEs da NANDA-I), população foco do estudo (situação clínica e faixa etária), teorias de enfermagem abordadas, referenciais teóricos e metodológicos (quando citados), além das linhas de pesquisa seguidas por tais estudos (conforme descrito pelos próprios autores).

Nos casos em que as D/T realizaram análise/estudo de mais de um DE, até cinco foram listados na íntegra. Quando esse número era ultrapassado, como em casos de elaboração de perfis diagnósticos, foi atribuída a expressão “múltiplos diagnósticos”, de modo a facilitar a aglutinação dos DE citados.

Quando o estudo não discutia ou analisava nenhum diagnóstico específico, por exemplo, construção de instrumentos para facilitar a identificação de DE e raciocínio clínico ^(5-6) ou desenvolvimento de software para facilitar ensino-aprendizagem do processo diagnóstico⁽⁷⁾, o diagnóstico foi classificado como “ignorado” para fins de análise.

Em nossa análise, foi considerado como referencial teórico uma teoria específica ou modelos teóricos (da enfermagem ou não) que tenham sido utilizados para subsidiar a discussão, realização e/ou análise dos dados.

• Segunda fase: Survey exploratório

Após a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética, foi enviado um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e um questionário, por via eletrônica, aos pesquisadores identificados como orientadores das D/T localizadas na primeira fase do estudo.

O questionário foi composto de questões relacionadas à identificação do pesquisador, sua participação em grupos de pesquisa e à sua percepção quanto à utilização do conhecimento gerado por seu grupo de pesquisa e seus egressos no ensino, pesquisa, assistência e política em enfermagem.

Aos orientadores, solicitou-se que respondessem a seguinte questão: “Considerando a produção de conhecimento que foi gerado no seu grupo de estudos e pesquisa sobre os Diagnósticos de Enfermagem nos últimos 10 anos, assinale na Escala de Likert como ele tem sido utilizado por você e pelos seus egressos”. As respostas sobre a aplicação prática do conhecimento sobre DEs foram exibidas em escala de Likert de quatro pontos (0: não sei informar; 1- Muito pouco utilizado; 2: Pouco utilizado; 3: Frequentemente utilizado; 4: muito utilizado). O aceite de participação na pesquisa foi considerado após a devolução do instrumento e do TCLE adequadamente preenchidos.

Aguardaram-se três semanas e enviou-se um lembrete àqueles que não responderam ao primeiro e-mail, aguardando-se, em seguida, mais uma semana.

Análise dos resultados e estatística

Os dados foram dispostos em planilhas do MS Office Excel^® versão 2013. A análise das D/T foi feita por meio de estatística descritiva (N e %). Para a análise das respostas dos pesquisadores, foram utilizadas as frequências absolutas (n) e relativas (%) e a média ponderada para cada item do questionário, obtidas pelo somatório dos pesos assinalados para cada resposta e divididas pelo número total de respostas. Para esse cálculo, consideraram-se os seguintes pesos: 0=0, 1=0,25, 2=0,5, 3=0,75, 4=1. A partir dos valores obtidos, os itens que apresentaram média ponderada maior ou igual a 0,75 foram considerados “proeminentes”, enquanto aqueles com valores inferiores a 0,75 foram rotulados como “pouco proeminentes”.

RESULTADOS

Na primeira fase do estudo, somente 30 bancos digitais continham D/T que se adequavam aos critérios definidos de busca. Foram localizadas 224 D/T, porém, foi possível ter acesso a somente 216 (96%) estudos na íntegra: 163 (75%) dissertações de mestrado (153 de Mestrado acadêmico e 10 de Mestrado profissional) e 53 (25%) teses de doutorado.

Os estudos cujo acesso na íntegra não foi possível (n=8) tratavam-se de dissertações de mestrado, sendo três de 2016 e uma defendida em cada um dos seguintes anos: 2008, 2015, 2013, 2012 e 2006. Em dois casos não foi possível localizar o e-mail dos autores, em um caso o e-mail do autor era inexistente e nos demais casos os autores não responderam às solicitações.

Com relação ao período de realização dos trabalhos, em 2006 foram localizados somente seis estudos e em 2016 foram identificados 26, o que reflete um aumento superior a 400% nesse período. A quantidade máxima de estudos localizados foi em 2014, ano em que o quantitativo produzido foi de 31 estudos, ou seja, 517% a mais que no ano de 2006 (Figura 1).

Figura 1
Total de dissertações e teses sobre Diagnósticos de Enfermagem nos Programas de Pós-Graduação em Enfermagem brasileiros no período de 2006-2016

Foi identificada grande variedade com relação aos métodos adotados para desenvolvimento dos estudos, tendo sido predominante o uso de pesquisas do tipo descritivas (n=79; 36%), seguidas de pesquisas metodológicas (n=57; 26%) e pesquisas do tipo descritivo/exploratórias (n=32; 15%). Estudos do tipo ensaio clínico randomizado representaram somente 1% (n=3) das pesquisas analisadas.

A linguagem padronizada mais utilizada pelas D/T analisadas foi a da NANDA-I (n=183, 85%), seguida pela CIPE (n=26, 12%). No entanto, sete (3%) D/T não evidenciaram a linguagem padronizada empregada, sendo, nesses casos, classificadas como “sem descrição”. Setenta e três diferentes DE da NANDA-I foram investigados pelos estudos. O Domínio mais frequentemente estudado foi Segurança/Proteção. Quarenta e oito estudos investigaram múltiplos diagnósticos. Em 16 D/T, o DE foi classificado como ignorado, pois os autores não citaram o estudo ou análise de nenhum DE específico, como, por exemplo, trabalhos sobre raciocínio diagnóstico ou desenvolvimentos de softwares.

A Tabela 1 apresenta a distribuição dos DEs da NANDA-I de acordo com os Domínios da Classificação.

Tabela 1
Domínios da NANDA-I presentes nas dissertações e teses sobre diagnósticos de enfermagem no período de 2006-2016

Domínios da NANDA-I	Citações (n)	%
Domínio 1. Promoção da saúde	13	6,6
Domínio 2. Nutrição	12	6,1
Domínio 3. Eliminação e troca	9	4,6
Domínio 4. Atividade/repouso	26	13,2
Domínio 5. Percepção/cognição	7	3,6
Domínio 6. Autopercepção	1	0,5
Domínio 7. Papéis e relacionamentos	2	1,0
Domínio 8. Sexualidade	1	0,5
Domínio 9. Enfrentamento/Tolerância ao estresse	3	1,5
Domínio 10. Princípios da vida	2	1,0
Domínio 11. Segurança/ Proteção	43	21,8
Domínio 12. Conforto	10	5,1
Domínio 13. Crescimento/ desenvolvimento	4	2,0
Ignorado	16	8,1
Múltiplos Domínios	48	24,4

Com relação àqueles estudos que utilizaram a CIPE^®, notou-se o predomínio da criação de catálogos ou subconjuntos terminológicos (n=11; 40,7%), seguida por estudos que realizaram a elaboração de perfis diagnósticos de populações específicas (n=9; 33,3%). Os DE Ansiedade e Medo tiveram uma citação cada um, e em quatro D/T os autores não estudaram nenhum DE específico.

Com relação às características das populações estudadas, a maioria das pesquisas foi realizada com foco na população adulta (n=129; 60%) e, de forma geral, com indivíduos portadores de afecções clínicas (n=101; 47%). A população infantil foi estudada em 32 trabalhos (15%), enquanto a população idosa esteve presente como foco de 9% (n=19) das pesquisas. Em 27 (12%) estudos, a população foco não foi especificada pelo autor.

Para a realização das pesquisas, em 17% (n=33) dos trabalhos analisados, os autores citaram a utilização de referenciais teóricos da enfermagem e também de outras áreas, sendo que em alguns casos mais de um referencial foi citado (Tabela 2). Nas D/T que se valiam de teorias de enfermagem, a maioria recorreu à teoria na elaboração de instrumentos de coleta e na análise dos dados. Contudo, em alguns casos, observou-se que, embora determinada teoria houvesse sido citada como norte da pesquisa, ela foi pouco utilizada para a discussão dos resultados obtidos.

Tabela 2
Referenciais teóricos citados pelos autores das dissertações e teses sobre Diagnósticos de Enfermagem no período de 2006-2016 (N=33)

Referenciais teóricos	Citações(n)
Teoria das Necessidades Humanas Básicas (Horta, 1979)	6
Modelo de Adaptação (Roy, 2001)	4
Aprendizagem baseada em problemas	2
Bioecologia do desenvolvimento Humano (Bronfenbrenner ,1996)	2
Teoria das representações sociais (Moscovici, 1978)	2
Teoria do autocuidado (Orem, 1991)	2
Modelo de raciocínio clínico (Risner, 1986)	2
Concepção de holismo (Fritjof Capra,1983)	1
Diagrama V (Moreira, 2007)	1
Histórias de vida em formação	1
Interacionismo Simbólico (Blumer, 1969)	1
Modelo Calgary de avaliação da família (Wright, 2002)	1
Modelo Teórico do Pensamento Crítico (Bittencourt, 2011)	1
Necessidades especiais da infância (Brazelton; Greespan, 2002)	1
Padrões Fundamentais do Conhecimento em Enfermagem (Carper, 1978)	1
Pensamento complexo (Edgar Morin, 2007)	1
Prática baseada em evidências	1
Processo de aprendizagem do indivíduo (McLennan; Anderson; Pain, 1996)	1
Psicometria (Pasquali, 1998)	1
Teoria da aprendizagem	1
Teoria de tornar-se humano (Parse, 1981)	1
Teoria do alcance de metas (King, 1981)	1
Teoria do conforto (Kolcaba, 2003)	1
Teoria dos conjuntos Fuzzy (Zadeh, 1965)	1

Termos como “marco teórico”, “referencial teórico” e “marco referencial” foram empregados como sinônimos por muitos autores. Frequentemente, o referencial teórico tratava de um apanhado sobre as pesquisas existentes sobre o tema, ou seja, a revisão da literatura sobre o assunto. Em outros estudos, esse capítulo consistia em explicação e detalhamento de determinada teoria que havia sido utilizada para embasar sua coleta de dados ou discussão dos resultados.

Dos 92 orientadores de D/T contatados na Fase 2 deste estudo, 30 (33%) responderam ao questionário. Os pesquisadores eram pertencentes a 17 diferentes IES e 12 deles (40%) eram pesquisadores do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), além de outras agências de pesquisa. Somente 25 pesquisadores responderam a questão sobre a taxonomia diagnóstica utilizada em suas pesquisas, sendo que 76% deles (n=19) referiram utilizar a NANDA-I, 20% (n=5) referiram utilizar a NANDA-I e CIPE^®, enquanto 4% (n=1) afirmaram utilizar somente a CIPE^®.

As médias ponderadas das respostas dos orientadores, quanto à aplicação dos resultados de seus estudos, em sua vida profissional ou de seus egressos dos PPGE, encontram-se na Figura 2.

Figura 2
Média ponderada das respostas dos pesquisadores sobre a utilização do conhecimento gerado sobre diagnósticos de enfermagem por seu grupo de pesquisa de 2006 a 2016

Somente no período do 3º ao 4º ano da graduação os pesquisadores referiram maior utilização do conhecimento produzido sobre DEs, porém, a média ponderada das respostas permaneceu como pouco proeminente (0,74). Uma vez que as medias ponderadas foram menores do que 0,75 para todos os cenários, a aplicação dos resultados pelo pesquisador e seus egressos foi considerada pouco proeminente.

DISCUSSÃO

Este estudo caracterizou o desenvolvimento das pesquisas com linguagens diagnósticas de enfermagem padronizadas nos PPGE no Brasil e verificou a aplicação dos seus resultados.

Verificou-se que a produção sobre DEs cresceu consideravelmente na última década. Para Benedet et al.⁽⁸⁾, o crescimento expressivo da produção científica sobre DEs após a década de 1990 deu-se principalmente após a publicação em português do livro “Diagnóstico de Enfermagem: uma abordagem conceitual e prática”. Os mesmos autores, ao analisarem a produção da Revista Brasileira de Enfermagem, identificaram que, no início de 2003, a quantidade de artigos publicados sobre DE era significativamente inferior à quantidade publicada em 2010.

Corroborando esses dados, um estudo identificou que, nas primeiras décadas de surgimento do termo “Diagnósticos de Enfermagem”, as pesquisas nos PPGE sobre esse tema eram escassas ou nulas, enquanto nas décadas de 1990 e 2000 a produção acadêmica sobre a temática passou a ter um papel relevante nas pesquisas⁽⁴⁾.

Com relação às metodologias utilizadas para o desenvolvimento das D/T, ainda predominam métodos observacionais, do tipo descritivo e descritivo/exploratório, em detrimento de estudos com maior nível de evidência científica, como ensaios clínicos, sejam eles randomizados ou não.

Embora a pesquisa científica bem executada, independentemente do método adotado, produza importantes resultados para a área a que se destina, os ensaios clínicos produzem conhecimento científico que poderá levar a novas tecnologias para a saúde e contribuir para a Prática Baseada em Evidências, bem como para aumentar o nível de evidência dos DE que compõem a classificação NANDA-I e os catálogos da CIPE. Contudo, na enfermagem, a pesquisa clínica ainda é uma área nova, sendo os ensaios clínicos randomizados uma minoria, especialmente porque estudos desse tipo demandam tempo e acarretam custo mais elevado, quando comparados a estudos observacionais, o que pode ser um fator determinante para sua pouca utilização⁽⁹⁾.

As pesquisas metodológicas também tiveram boa representatividade das D/T, envolvendo, em sua maioria, pesquisas com fins de validação de DEs, características definidoras, intervenções ou estudos de análise de conceito. Esse tipo de pesquisa implica a investigação de métodos para coletar e organizar dados e realizar pesquisas rigorosas que abordam desenvolvimento, validação e avaliação de ferramentas e métodos de pesquisa, e vem sendo muito utilizado na enfermagem em virtude da crescente demanda para avaliações de resultados sólidos e confiáveis⁽¹⁰⁾.

Os estudos de validação de DEs, sejam de diagnósticos já existentes ou propostas diagnósticas, embora sejam complexos, trazem grande contribuição à área, pois ao se questionar se um DE é válido deseja-se saber se esse diagnóstico foi identificado adequadamente de forma a excluir outros DE que compartilhem das mesmas características, além de saber se os dados obtidos estão representados com exatidão, ou seja, objetiva-se saber se o diagnóstico representa de fato os comportamentos e as características apresentadas pelos pacientes⁽¹¹⁾.

A proposta de novos DE é uma atividade complexa, que exige conhecimentos da prática clínica. Para Carpenito-Moyet⁽¹²⁾, esse processo é difícil, pois “enfermeiros tentam diagnosticar respostas humanas”, e sendo “os seres humanos, seres únicos e complexos e em mudança permanente, (...) as tentativas de classificação dessas respostas são trabalhosas”.

Neste estudo, identificou-se que a linguagem padronizada para a classificação de DEs foi principalmente a NANDA-I, seguida da CIPE^®. Esse resultado confirma os achados de demais autores^(4-9). A CIPE^®, tal qual a NANDA-I, é uma classificação criada na década de 1980 e que passou por várias revisões e adequações, tendo aumentado sua representatividade nas pesquisas com linguagens padronizadas para DE ao longo dos anos.

Tanto nos estudos cuja classificação utilizada foi a NANDA-I, quanto naqueles em que foi utilizada a CIPE^®, a maioria consistia na elaboração de perfis diagnósticos de populações específicas, no caso da NANDA-I, ou da criação de catálogos/subconjuntos terminológicos, no caso da CIPE^®. Acredita-se que esses dados revelam o interesse dos enfermeiros pesquisadores em conhecer as respostas humanas de populações específicas, de modo a proporcionar uma assistência mais adequada.

Estudos deste tipo favorecem a elaboração de instrumentos de coleta de dados⁽¹⁰⁾, fundamentam a criação de protocolos de atendimento à clientela⁽¹³⁾ e a identificação das ações de enfermagem prioritárias, além de fornecerem dados para o adequado planejamento da assistência, ao proporcionarem subsídios para a implantação do PE nas instituições⁽¹⁴⁾. É sabido que, embora a legislação exija que o PE seja realizado em todas os ambientes onde haja atuação do profissional de enfermagem, na prática, são inúmeras as dificuldades encontradas para sua devida implementação e execução, sendo a fase diagnóstica aquela em que os enfermeiros encontram maiores dificuldades⁽¹⁵⁾.

O domínio mais presente nas pesquisas com DEs da NANDA-I foi o domínio 11, que envolve diagnósticos relacionados à segurança e à proteção do indivíduo, família ou comunidade, enquanto domínios que envolvem autopercepção e sexualidade estiveram presentes em apenas um estudo cada um, evidenciando a necessidade de que sejam realizadas mais pesquisas nos PPGE com DEs desses domínios para que possam ser refinados e refletir a realidade.

Ao analisar as populações estudadas, é notório o predomínio da população adulta, embora uma quantidade expressiva de pesquisas com foco na população pediátrica como um todo (neonatos, lactentes e crianças) tenha ocorrido. Essa população tem suas particularidades e necessidades específicas, sendo muito importante que haja interesse em melhorar a assistência a essa clientela em especial.

As D/T analisadas que estudaram DEs na população pediátrica possuíam objetivos diversos, que incluíam a elaboração de protocolos para o atendimento de crianças com patologias específicas⁽¹⁶⁾, análise do desenvolvimento infantil⁽¹⁷⁾, entre outros. Acredita-se que pesquisas desse tipo, aliadas a diversas outras medidas, contribuem para a prevenção de agravos e melhoria na qualidade da assistência à população pediátrica. Vários têm sido os avanços na assistência à saúde dessa população específica, despontando como prova disso que, na última década, o Brasil tenha alcançado a meta estipulada pela Organização das Nações Unidas para a redução da mortalidade infantil⁽¹⁸⁾.

A população idosa teve pouca expressividade nas pesquisas, o que é contraditório, já que a proporção de idosos na população brasileira está em torno de 13% e com tendências a aumentar⁽¹⁹⁾. A maioria das D/T, ao estudar DEs na população adulta, geralmente inclui idosos entre os indivíduos estudados, não sendo eles, porém, o foco do estudo. Somente em alguns casos, como foi identificado em 95 das D/T, o estudo dos DEs era voltado especificamente a essa população. Acredita-se que estudos que busquem conhecer os DEs presentes na população idosa de forma geral, bem como a validação de DEs nessa população específica, sejam imprescindíveis para subsidiar o cuidado com fundamentação do ponto de vista da disciplina da Enfermagem.

Com relação aos dados obtidos na segunda fase do estudo, verificou-se, de acordo com a percepção dos orientadores dos PPGE, que pouco tem sido aplicado na prática os resultados obtidos com as pesquisas realizadas pelos pesquisadores. Os resultados com relação à utilização prática desse conhecimento pelos egressos dos PPGE evidenciam um uso ainda menor de tal conhecimento. Todavia, há que se ressaltar que, nesse quesito, as médias podem não refletir totalmente a realidade, pois trata do conhecimento do orientador com relação às atividades de seus egressos, que pode (ou não) ser diferente do que efetivamente acontece.

O curso de pós-graduação tende a inspirar o aluno/egresso a mobilizar o conhecimento científico para sua prática diária e modificar sua forma de ver o mundo à sua volta, estimulando-o a transformar a realidade por meio da pesquisa⁽²⁰⁾. O processo de translação é aquele em que o conhecimento é criado, difundido e adotado na prática clínica, sendo sua efetividade na enfermagem dada por meio de estratégias que buscam a aproximação entre pesquisadores (enfermeiros pesquisadores) e usuários (enfermeiros da prática)^(21-22). Isso ocorre por meio da identificação dos problemas relevantes para a pesquisa, desenvolvimento de modelos para aplicação da translação do conhecimento, além de parcerias entre pesquisadores e usuários⁽²³⁾.

Todo esse processo não é simples, já que compreende principalmente a interação entre os pesquisadores e os consumidores do conhecimento. É sabido que isso envolve a transposição de várias as barreiras, sejam elas organizacionais ou individuais, sendo talvez este o fator determinante para facilitar ou complicar tal disseminação do conhecimento, pois envolve a mudança do comportamento humano.

A aproximação da academia com a prática é indispensável e os esforços para que isso ocorra devem ser constantes, pois somente assim as pesquisas realizadas nos PPGE poderão efetivamente levar a mudanças na prática profissional bem como nas políticas de saúde. Na tentativa de buscar realizar essa aproximação, surgiram no Brasil, no final dos anos 1990, os mestrados profissionais, cujo principal diferencial dos mestrados acadêmicos é o resultado pretendido, ou seja, espera-se que as pesquisas realizadas possam ser inseridas na prática profissional do indivíduo que está no programa, resultando em desenvolvimento econômico e social⁽²³⁾.

Tais programas, que vêm crescendo em quantidade e qualidade ao longo dos anos, podem colaborar para diminuir a lacuna entre a pesquisa e a prática⁽²⁾. Em nosso estudo, identificamos dez dissertações de Mestrado Profissional, uma quantidade pequena frente às 216 analisadas. No entanto, devido à criação recente desses programas, quando comparado aos programas de mestrado acadêmico, acredita-se que a quantidade de pesquisas sobre a temática estudada tenha grandes possibilidades de crescer ao longo dos próximos anos com resultados que impactem positivamente a prática profissional.

Além dos Mestrados Profissionais, um tipo de pesquisa que nos últimos anos vem tornando-se mais popular na área é a pesquisa translacional⁽²⁴⁾. Esse método tende a atuar como uma ponte entre os resultados das pesquisas e pode fornecer novas informações sobre a efetividade das intervenções de enfermagem, impactando diretamente o cuidado. Considera-se que pesquisas desse tipo, bem como os cursos de Mestrado Profissional, podem atuar como facilitadores para preencher as lacunas sobre a produção científica e a prática.

Ainda no que concerne à aproximação da pesquisa com a prática, acredita-se que o incentivo por parte tanto dos orientadores quanto dos próprios PPGE deva ser constante. Embora nossos resultados não tenham evidenciado aplicação prática significativa do conhecimento sobre DEs por parte dos egressos dos PPGE, acreditamos que de alguma forma esse conhecimento tenha sido capaz de transformar a prática dos pesquisadores, orientando-os e estimulando-os a prestar uma assistência mais segura e com mais qualidade.

Limitações do Estudo

Os resultados devem ser analisados à luz de suas limitações, quais sejam: a busca por D/T apenas em meio digital, a indisponibilidade de algumas D/T defendidas no período de interesse e o uso da percepção dos orientadores como medida de utilização dos resultados por eles mesmos e por seus egressos. Ademais, quase 70% dos orientadores dos PPGE convidados não participaram do estudo.

Contribuições para a área da enfermagem

Em virtude da identificação da pouca aplicação prática dos resultados das pesquisas, acredita-se que novos estudos sejam necessários para identificar as barreiras quanto à transposição da teoria para a prática. Nesse sentido, acredita-se que os programas de Mestrado Profissional e as pesquisas do tipo translacional sejam uma oportunidade para transpor tais obstáculos.

CONCLUSÃO

Ocorreu aumento considerável das pesquisas sobre DEs nos PPGE brasileiros de 2006 a 2016 e observou-se uma grande quantidade de pesquisas sobre DEs da NANDA-I do Domínio Segurança/Proteção. A população mais estudada foi a população adulta e poucos autores declararam o uso de referenciais teóricos da Enfermagem para a elaboração de suas pesquisas. De acordo com a percepção dos orientadores dos PPGE, a aplicação prática dos estudos desenvolvidos é pouco proeminente, tanto por eles quanto por seus egressos, tendo maior expressividade no ensino da graduação.

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  19 Ago 2019
• Data do Fascículo
  Jul-Aug 2019

Histórico

• Recebido
  24 Abr 2018
• Aceito
  18 Ago 2018