Banho do recém-nascido: construção e validação de conteúdo de instrumento

RESUMO

Objetivo:

Construir e validar o conteúdo de um instrumento de boas práticas no banho do recémnascido.

Métodos:

Estudo metodológico, desenvolvido no período de dezembro de 2018 a janeiro de 2019, em uma Unidade de Alojamento Conjunto Neonatal de um hospital de ensino, em três etapas: levantamento bibliográfico, construção do instrumento e validação de conteúdo por nove juízes. Empregou-se o índice de validade de conteúdo acima de 80% e análise geral com dez requisitos.

Resultados:

O instrumento foi organizado em três domínios: cuidados antes do banho, durante o banho e após o banho, com total de 20 itens. Foram realizadas duas rodadas de validação para adequações das sugestões; a segunda apresentou percentual de concordância entre os juízes igual ou superior a 0,82.

Conclusão:

O instrumento “Boas práticas no banho do recém-nascido” foi considerado representativo e válido quanto ao conteúdo.

Descritores:
Banhos; Higiene da Pele; Recém-Nascido; Cuidados de Enfermagem; Estudos de Validação

ABSTRACT

Objective:

To build and validate the content of a good practice tool in the newborn bath.

Method:

Methodological study, developed from December 2018 to January 2019, in a Joint Neonatal Housing Unit of a teaching hospital, in three stages: bibliographic survey, construction of the instrument and content validation by nine judges. The content validity index was used above 80% and general analysis with ten requirements.

Results:

The instrument was organized in three domains: before bathing, during bathing and after bathing, with a total of 20 items. Two rounds of validation were carried out to adjust the suggestions; the second presented a percentage of agreement between the judges, equal to or above 0.82.

Conclusion:

The instrument “Good practices in the newborn’s bath” was considered representative and valid in terms of content.

Descriptors:
Baths; Skin Care; Infant, Newborn; Nursing Care; Validation Studies

RESUMEN

Objetivo:

Construir y validar el contenido de un instrumento de buenas prácticas en el baño del recién nacido.

Método:

Estudio metodológico, desarrollado en el período de diciembre de 2018 a enero de 2019, en una Unidad de Alojamiento Conjunto Neonatal de un hospital de enseñanza, en tres etapas: levantamiento bibliográfico, construcción del instrumento y validez de contenido por nueve jueces. Se empleó el índice de validez de contenido arriba de 80% y análisis general con diez requisitos.

Resultados:

El instrumento ha sido organizado en tres dominios: cuidados antes del baño, durante el baño y después del baño, con el total de 20 ítems. Han sido realizadas dos rodadas de validez para adecuaciones de las sugestiones; la segunda presentó porcentual de concordancia entre los jueces igual o superior a 0,82.

Conclusión:

El instrumento “Buenas prácticas en el baño del recién nacido” ha sido considerado representativo y válido cuanto al contenido.

Descriptores:
Baños; Higiene de la Piel; Recién Nacido; Cuidados de Enfermería; Estudios de Validez

INTRODUÇÃO

O banho do recém-nascido (RN) é uma prática permeada de expectativas, desafios e significados, no qual a puérpera, além de atender às necessidades de higiene do filho, promove conforto, fortalece o vínculo e a interação entre o binômio mãe-RN⁽¹⁾. A higiene corporal é considerada um cuidado desafiador, identificada como geradora de dúvidas, devido à influência das concepções culturais e socioeconômicas das famílias e dos profissionais de enfermagem, os quais realizam as orientações e o cuidado^(1-2).

A enfermagem tem lançado mão de atividades de educação em saúde à puérpera a fim de realizá-las de forma mais adequada e sem risco ao bebê. A permanência do binômio no Alojamento Conjunto Neonatal (ACN) caracteriza-se como um momento importante para orientar os principais cuidados de higiene corporal e do banho dispensados ao RN. Direcionamentos relacionados à troca de fraldas, higiene do coto umbilical, cuidados quanto ao desequilíbrio térmico no momento do banho, apoio e incentivo à amamentação são temáticas que devem ser abordadas pela equipe de enfermagem durante a assistência prestada às puérperas no ACN⁽³⁾.

A orientação do primeiro banho deve ser individual; e o procedimento, demonstrado passo a passo à puérpera, minimizando o estresse causado ao RN, promovendo maior segurança e vínculo ao binômio. Os banhos subsequentes são realizados pela puérpera sob supervisão da equipe de enfermagem a fim de esclarecer dúvidas e salientar informações relevantes^(1).

O treinamento materno, por meio da demonstração da prática de cuidados padronizados minimizam o estresse causado ao RN, sem que haja ocorrência de hipotermia, aumento do consumo de oxigênio, distress respiratório e alteração dos sinais vitais. Além disso, promove o vínculo familiar e torna a puérpera mais segura para realizá-los em casa^(4-5).

Na literatura sobre a temática, foram identificadas dúvidas e dificuldades em relação ao banho do RN^(1-2,5-6). Há relatos de pais que não conseguiram realizar, no período de internação, os cuidados de higiene (como o banho), pois estes eram desenvolvidos pela equipe de enfermagem^(4,7). Estudo realizado em Portugal descreve que a falta da prática ou orientações superficiais no ambiente hospitalar influenciam negativamente o cuidado no domicílio⁽⁷⁾. Observar sem praticar não é eficiente; avaliar a puérpera quanto à execução correta dos cuidados permite verificar o nível de compreensão da orientação fornecida, ou seja, se aquele cuidado foi ou não interpretado adequadamente⁽⁷⁾.

A compreensão desses aspectos e a formulação de rotinas e protocolos baseados em evidências científicas são imprescindíveis para direcionar a execução de tal procedimento, estabelecendo meios para a organização da prática do banho, tornando-a segura para o RN em seu processo de adaptação à vida extrauterina^(7-8).

A finalidade deste estudo é a construção e a validação de um instrumento que contribua e estimule a adesão às práticas seguras relacionadas ao banho do RN, visando à melhoria na qualidade da assistência, desenvolvimento da autonomia materna no cuidado com seu filho e reflexões que instrumentalizam as puérperas durante o processo de maternagem. O uso de listas de checagem na prática da enfermagem contribui para uma melhor comunicação, menor ocorrência de erros por esquecimento e permite a identificação de fragilidades e potencialidades⁽⁹⁾, tanto dos profissionais quanto das mães, auxiliando no planejamento de orientações voltadas à necessidade daquele serviço.

Diante do exposto, este estudo buscou responder à pergunta de pesquisa: Quais as variáveis relacionadas à higiene corporal do RN podem constituir um instrumento de boas práticas para que enfermeiros orientem as puérperas?

OBJETIVO

Construir e validar o conteúdo de um instrumento de boas práticas no banho do recém-nascido.

MÉTODOS

Aspectos éticos

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, mediante submissão à Plataforma Brasil; e seguiu as recomendações da Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde do Brasil.

Desenho, local do estudo e período

Estudo metodológico cujo foco esteve na construção e validação do conteúdo de um instrumento de boas práticas no banho do RN, tendo sido norteado pelo referencial de estudos de melhoria da qualidade-SQUIRE da rede EQUATOR e desenvolvido na unidade ACN de um hospital de ensino do estado de Minas Gerais, referência no atendimento de alta complexidade e a gestantes de alto risco. A unidade estudada possui 14 leitos de internação, divididos em seis enfermarias individuais e em quatro com dois leitos, com média mensal de 150 partos.

Validar o conteúdo de um instrumento significa avaliar em que grau ele mede aquilo a que se propõe medir. A validação de conteúdo permite avaliar clareza, facilidade de leitura, compreensão e aferição dos itens pretendidos, comprovando o fenômeno de interesse e a dimensão de cada item dentro daquilo que se pretende investigar⁽¹⁰⁾. A teoria da elaboração de instrumentos de medida envolve a composição de três procedimentos: teóricos, empíricos (experimentais) e analíticos (estatísticos). O primeiro refere-se à criação do construto, incluindo elaboração dos itens e validade de conteúdo; o segundo consiste nas etapas e técnicas de aplicação do pré-teste ou análise semântica e teste-piloto; e o terceiro relaciona-se com as análises estatísticas empregadas na validação⁽¹¹⁾. Neste estudo, foi realizada a etapa teórica e analítica da validação de conteúdo.

Perante esses procedimentos, seguiram-se três etapas (Figura 1⁾) para elegibilidade dos parâmetros de construção e validação do instrumento:

Figura 1
Etapas da elaboração do instrumento, Uberaba, Minas Gerais, Brasil, 2020

O período de coleta de dados da validação de conteúdo ocorreu nos meses de dezembro de 2018 a janeiro de 2019.

População ou amostra, critérios de inclusão e exclusão

A seleção dos juízes foi por meio de uma busca na Plataforma Lattes do site do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), considerando os seguintes critérios: titulação de doutor, produção científica voltada para área materno-infantil e tempo de atuação dentro da temática em discussão de cinco anos ou mais. Os juízes que não enviaram o instrumento em 15 dias foram excluídos. Foram convidados a participar do estudo 15 juízes, dos quais nove aceitaram e retornaram a avaliação no período estipulado, cinco não retornaram a tempo, e uma recusou.

Protocolo do estudo

Na 1ª etapa, para construção do instrumento, foi realizado um levantamento bibliográfico nas seguintes bases de dados: National Library of Medicine, Biblioteca Virtual em Saúde, Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature, Scopus Info Site, Cochrane e Web of Science. No mês de agosto de 2018, o intuito foi o de identificar as informações existentes na literatura nacional e internacional, relacionadas ao banho do RN. Foram incluídos estudos publicados em português, inglês e espanhol, com recorte temporal de cinco anos (2015 a 2018); e foram excluídos artigos em outros idiomas, opinião de especialistas e carta ao editor. A seguinte pergunta norteou este levantamento: Quais são os cuidados essenciais para o banho do RN?

Os descritores empregados no Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) foram: RecémNascido, Banhos, Alojamento Conjunto, Conhecimento, Mães, Comportamento Materno e Relações MãeFilho. No Medical Subject Headings (MeSH), foram: Infant, Newborn*, Baths*, Rooming-in Care*, Knowledge, Mother*, Maternal Behavior*, Mother-Child Relations, com seus respectivos sinônimos. A estratégia de busca foi condicionada à combinação mínima dos descritores “Recém-Nascido” e “Banhos” em conjunto com outros descritores. Foram selecionados 28 artigos para leitura na íntegra e extração dos dados por meio de planilha no Excel®, contendo título, autor, ano, objetivo, desenho metodológico e desfecho.

Mediante este levantamento, procedeu-se à 2ª etapa - elaboração e construção do instrumento inicial para validação, composto por três partes:

Parte I (sete questões) - Identificação pessoal e profissional dos juízes: idade, sexo, instituição em que atua, formação profissional, titulação, setor onde trabalha e tempo de atuação na saúde materno-infantil.

Parte II (22 questões) - Questões sobre a prática do banho do RN divididas em três domínios: cuidados antes, durante e após o banho. Cada item foi avaliado com base na escala do tipo Likert, de modo que cada questão apresentou cinco possibilidades de resposta para as ponderações: discordo totalmente, discordo parcialmente, concordo, concordo parcialmente e concordo totalmente.

Parte III (dez questões) - A análise geral do instrumento seguiu dez requisitos: utilidade/pertinência, consistência, clareza, objetividade, simplicidade, exequibilidade, atualização, vocabulário, precisão, sequência instrucional dos tópicos; ao fim, a nota global⁽¹⁰⁾. Os itens dessa etapa foram avaliados em uma escala de 1 a 10.

Na 3ª etapa, utilizou-se o Google Forms para preenchimento do formulário em padrão Hyper Text Markup Language (HTML) após o envio de uma carta-convite por correio eletrônico, contendo os objetivos do estudo e o link do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido juntamente com o instrumento a ser avaliado. Dada a anuência em participar mediante seleção de um item específico, o juiz tinha acesso ao instrumento, mas, caso não aceitasse participar, o processo era encerrado. A validação foi realizada em duas rodadas pelos mesmos juízes. Ressalta-se que, ao final de cada item, havia um campo em branco para sugestões e alterações.

Análise dos resultados e estatística

Para análise estatística dos dados de validação, estes foram extraídos do Google Forms e armazenados em um banco de dados no formato Excel®, por dupla entrada para posterior validação, processamento e análise. Foi analisada a consistência entre os juízes com base no índice de validade de conteúdo (IVC), considerando uma concordância acima 80%^(10-11). As sugestões de adequações foram incorporadas ao instrumento.

RESULTADOS

Dos nove juízes selecionados, todos eram do sexo feminino, enfermeiras; nove (90%) eram docentes de universidades federais; e uma (10%) atuava em hospital de ensino; apresentaram tempo médio de atuação na área materno-infantil de nove anos.

A primeira versão do instrumento, elaborada com base nos resultados da revisão, continha 22 itens. Após análise da primeira rodada de avaliação pelos juízes, verificou-se concordância entre quase todos os itens, e poucas foram as modificações.

Na questão 5 (“Verificar a temperatura da água com um termômetro”), sugeriu-se exclui-la, uma vez que isso não é de uso rotineiro em ACN nem no domicílio das puérperas; no entanto, considerou-se a questão 4 (“Verificar a temperatura da água com a parte interna do braço”). Na questão 10 (“Realizar higiene da genitália da menina da parte anterior para a posterior, da área vaginal para retal”) e na questão 11 (“Realizar higiene da genitália do menino lavando a glande peniana e o corpo do pênis com água limpa”), substituíram-se os termos “genitália” por “parte íntima”, “da parte anterior para a posterior” por “de frente para trás”; e “glande peniana” por “ponta do pênis”. Por essas duas questões tratarem de ações da região íntima, sugeriu-se “Realizar higiene íntima da menina de frente para trás, da área vaginal para retal; e do menino, lavando a ponta e o corpo do pênis com água limpa”.

Na questão 15, “Secar o coto umbilical com a ponta da toalha fralda ou gaze”, recomendou-se “Secar o coto umbilical com a ponta da toalha fralda ou gaze ou hastes flexíveis de algodão e aplicar álcool 70% protegendo a pele ao redor”. Consideraram relevantes as hastes flexíveis de algodão, por serem de uso rotineiro pelas famílias e por profissionais de saúde. O álcool 70% faz parte das orientações de rotina da unidade e foi recomendado pelos juízes. Sugeriram as seguintes opções de respostas para o instrumento: cuidado adequado e cuidado inadequado.

Após essa avaliação, 20 itens foram elencados para compor o instrumento, o qual foi reencaminhado aos juízes, a fim de que reafirmassem as alterações. Não houve divergências, de modo que as questões se mantiveram e estão apresentadas na Tabela 1⁾.

Tabela 1
Descrição dos cuidados avaliados pelos nove juízes considerando o índice de validade de conteúdo, Uberaba, Minas Gerais, Brasil, 2020

Observação prática do banho		IVC
Antes do banho
1	Reunir os materiais necessários e os deixar preparados em um local seguro.	0,92
2	Fechar portas e janelas.	0,92
3	Higienizar as mãos.	0,92
4	Verificar a temperatura da água com a parte interna do braço.	0,90
Durante o banho
	Realizar a limpeza da face e couro cabeludo antes de colocar o bebê na água.	0,92
6	Limpar os olhos de dentro para fora, utilizando uma bola de algodão com água em cada olho.	0,86
7	Realizar a limpeza do couro cabeludo com água e sabão, sem esfregar.	0,92
8	Colocar o bebê lentamente na água morna e limpar o pescoço, membros superiores, tórax anterior, costas e membros inferiores sucessivamente.	0,92
9	Limpar o coto umbilical com água e sabão durante o banho.	0,88
10	Realizar higiene íntima da menina de frente para trás, da área vaginal para retal; e do menino, lavando a ponta e o corpo do pênis com água limpa.	0,82
Após o banho
11	Enrolar o bebê em uma toalha seca e levá-lo para o local seguro.	0,92
12	Secar a pele e suas dobras com movimentos compressivos e suaves, sem esfregar.	0,92
13	Realizar a limpeza das narinas com a ponta da toalha de banho ou bola de algodão.	0,90
14	Realizar a limpeza das orelhas externamente e posterior a elas com o dedo indicador envolvido na toalha de banho umedecida com água.	0,86
15	Secar o coto umbilical com a ponta da toalha fralda ou gaze ou hastes flexíveis de algodão e aplicar álcool 70% protegendo a pele ao redor.	0,92
16	Utilizar pomadas no períneo se houver sinais de lesão.	0,92
17	Fechar a fralda abaixo do coto umbilical.	0,92
18	Realizar higiene oral com o dedo indicador envolvido na toalha de banho limpa ou em uma gaze com água do filtro.	0,82
19	Conversar com o bebê/cantar.	0,90
20	Colocar o bebê para amamentar.	0,90
	IVC global	0,94

• Nota: IVC - índice de validade de conteúdo.

A Tabela 2⁾ apresenta os dez requisitos de avaliação geral do instrumento.

Tabela 2
Avaliação geral do instrumento pelos nove juízes, Uberaba, Minais Gerais, Brasil, 2020

Itens avaliados	Média
Utilidade/pertinência	9,4
Consistência	8,7
Clareza	8,5
Objetividade	8,7
Simplicidade	9,2
Exequibilidade	9,2
Vocabulário	9,2
Atualização	9,2
Precisão	8,7
Sequência instrucional dos tópicos	9,0
Avaliação Global	8,6

DISCUSSÃO

A construção de instrumentos em diversas áreas de investigação tem se tornado comum e exerce grande influência nas decisões sobre o cuidado, tratamento e/ou intervenções e na formulação de programas de saúde e de políticas institucionais^(12-13). No entanto, a escassez de instrumentos sobre a temática motivou a elaboração deste estudo.

A preocupação dos juízes em contemplar as principais etapas do banho de forma objetiva e com linguagem acessível resultou em um instrumento com 20 itens, divididos em três domínios: cuidados antes do banho, durante o banho e após o banho.

O modelo de Pasquali utilizado no processo de construção e validação tem sido empregado em diversos estudos no campo da enfermagem, permite delimitar os itens do instrumento com clareza, uniformidade e confiabilidade^(13-16).

Na etapa de validação do conteúdo, recomenda-se de 6 a 20 juízes e um mínimo de 3 para cada grupo de profissionais selecionados; o uso de números ímpares evita empate das opiniões^(11,13). Logo, o quantitativo empregado neste estudo foi suficiente. Quanto às opções de resposta, a escala Likert permite avaliar diferentes graus de concordância, sendo amplamente utilizada para medir opiniões, crenças ou atitudes⁽¹⁷⁾.

A avaliação por meio dos dez requisitos de Pasquali contribui para a confiabilidade e fidedignidade do instrumento, sendo recomendado número acima de oito⁽¹¹⁾. Para confiabilidade entre os juízes, utilizou-se o IVC, que tem sido um dos critérios mais utilizados de decisão sobre a pertinência dos itens, considerando como aceitáveis valores acima de 80%^(16-18).

No que diz respeito à composição dos itens, o domínio “antes do banho” traz cuidados de segurança e temperatura da água. A prática de reunir os materiais necessários e deixá-los preparados em um local adequado e próximo ao executor são medidas importantes para a segurança do procedimento e do RN, evitando situações que predispõem a ocorrência de acidentes^(4,19). Ressaltase a importância da higiene das mãos para redução de infecções⁽²⁰⁾.

O local do banho deve permanecer climatizado com portas e janelas fechadas para evitar correntes de ar que promovam variações de temperatura no ambiente e favoreçam a perda calor pelo RN, comprometendo sua estabilidade térmica⁽¹⁹⁾. A verificação da temperatura da água pode ser realizada com a parte interna do braço, área de maior sensibilidade térmica, ou com um termômetro, quando disponível⁽²¹⁾. A inclusão do uso do termômetro neste estudo foi descartada pelos juízes, uma vez que não é de uso rotineiro nas maternidades nem no domicílio pelas puérperas.

Os itens de cuidados durante o banho incluíram as ações que devem ser realizadas no decorrer do procedimento. Recomenda-se a limpeza da face com água limpa e sem sabão, antes da imersão do RN na água^(22-23). A higiene ocular deve ser efetuada do canto interno para o externo a fim de evitar contaminação, podendo ser realizada com bolas de algodão umedecidas com água limpa⁽²³⁾. O couro cabeludo pode ser higienizado com o bebê envolto em toalha fralda ou ao final do banho para reduzir o impacto da hipotermia; deve ser lavado com água, sabão neutro e movimentos suaves, sem esfregar⁽²²⁾.

O contato do RN com a água deve ocorrer de forma lenta e gradual para reduzir o impacto do estresse causado pelo frio⁽²³⁾. A limpeza da região genital deve iniciar na direção anteroposterior para prevenir a disseminação de microrganismos^(19,23).

Os itens de cuidados após o banho incluíram secar o RN utilizando toalha fralda limpa e seca, com movimentos compressivos suaves, para evitar a umidade excessiva e fricção com a pele, favorecendo a integridade celular e a manutenção da função de proteção^(24-25). A toalha deve estar próxima ao local do banho e ser de fácil acesso, de maneira que o bebê não fique exposto às variações de temperatura⁽²⁶⁾.

Quanto às narinas e orelhas, deve-se evitar o uso de hastes flexíveis de algodão pelo risco de lesões. No que se refere à higiene oral do RN, a avaliação dos juízes indicaram o uso de água filtrada e gaze umedecida para diminuição do risco de infecções, como a candidíase oral⁽²⁰⁾.

Em relação ao coto umbilical, mantê-lo apenas limpo e seco têm se mostrado eficaz, visto que o uso de substâncias alcoólicas podem provocar possíveis danos a pele, entretanto esta ainda é uma prática comum^(27-29). Neste estudo, a aplicação do álcool 70% foi considerada importante pelos juízes e é utilizada na unidade investigada. Em países e regiões de baixa renda, seu uso ou da clorexidina alcoólica 0,5% tem papel importante na redução da carga microbiana e onfalites^(20,30).

A fralda deve ser fechada abaixo do coto umbilical para permitir o contato com oxigênio, favorecendo a angiogênese e estimulando o processo de cicatrização⁽³¹⁾. O uso de pomadas e emolientes no períneo íntegro para prevenção de dermatites é uma prática comum, embora não haja estudos que comprovem sua eficácia quando utilizados rotineiramente, considerando que os aditivos da composição podem gerar irritação e toxicidade quando em contato com a pele do RN^(32-33).

Conversar com o RN e cantar para ele enquanto lhe oferece os cuidados favorece o reconhecimento da mãe como cuidadora, contribuindo para o desenvolvimento biopsicoafetivo seguro e saudável, permitindo a ela maior tranquilidade e autoconfiança na execução do procedimento⁽³⁴⁾. Colocar o RN para amamentar logo após o banho estimula o contato pele a pele, o fortalecimento do vínculo, a manutenção da estabilidade do sistema cardiorrespiratório e a redução do estresse causado pelo frio em decorrência do desequilíbrio entre a produção e perda de calor pelo RN⁽³⁵⁾.

O período de internação no ACN costuma ser de 24 a 48 horas, tempo oportuno para realização dessas orientações, entretanto deve-se considerar que a nova tarefa para os pais pode ser de difícil assimilação devido à fragilidade e choro do bebê, que os deixam inseguros e ansiosos. Nesse sentido, sugere-se a incorporação de estratégias educativas também durante o pré-natal, quando há tempo hábil para eles sanarem as dúvidas e realizarem treinamentos simulados⁽²⁾.

Dessa maneira, após todas as etapas de validação cumpridas, os itens do instrumento foram considerados válidos quanto ao conteúdo, por contemplaram os escores preconizados pelo referencial adotado nesta pesquisa⁽¹¹⁾.

Limitações do estudo

Como limitação, neste estudo, não foi realizada a fase empírica da teoria de elaboração de instrumentos de medidas e análise fatorial do instrumento, que serão realizadas em momento oportuno.

Contribuições para a área da enfermagem, saúde ou política pública

A construção e validação de conteúdo do instrumento “Boas práticas no banho do RN” têm como contribuição a oferta de uma tecnologia complementar à avaliação da prática do banho e dos cuidados de higiene prestados ao RN durante sua permanência no ACN, favorecendo o processo de educação em saúde realizado com as mães durante o puerpério imediato. Ademais, contribuirá para a melhoria da qualidade da assistência de enfermagem prestada ao binômio.

CONCLUSÃO

O estudo possibilitou a construção e validação de conteúdo do instrumento “Boas práticas no banho do RN”, que abordou as etapas necessárias de seu preparo e execução. A concordância entre os juízes atingiu os valores considerados adequados; por meio da análise geral, foi possível avaliar a utilidade/pertinência, consistência, clareza, objetividade, simplicidade, exequibilidade, atualização, vocabulário, precisão e sequência instrucional dos tópicos, possibilitando que o material produzido seja ponto de partida para outras etapas de análise.

• FOMENTO
  Esta pesquisa recebeu financiamento por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais - Fapemig, nº 11770-2018.

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  04 Jun 2021
• Data do Fascículo
  2021

Histórico

• Recebido
  04 Jul 2020
• Aceito
  30 Set 2020