A enfermagem brasileira em tempos de pandemia e o bicentenário de Florence Nightingale

RESUMO

Objetivo:

Refletir sobre a atuação da enfermagem brasileira durante a pandemia de COVID-19, tendo como marco histórico o bicentenário de nascimento de Florence Nightingale, precursora da enfermagem moderna, comemorado em 2020.

Método:

Estudo teórico-reflexivo, fundamentado na teoria ambientalista de Florence Nightingale, por meio de revisão de literatura realizada em noticiários virtuais, internacionais e nacionais, de diferentes fontes. Além disso, dos autores foram acrescidas as experiências relacionadas à pandemia.

Resultados:

Possibilitou identificar as fragilidades experimentadas pelos profissionais de enfermagem quanto ao contágio pela COVID-19, da rotina de exposição aos riscos, da ausência de proteção adequada em muitos cenários, das elevadas taxas de adoecimento e também de óbitos ocorridos nessa profissão.

Considerações finais:

A Teoria Ambientalista de Florence Nightingale descreve a importância da adequação do ambiente laboral. Assim como, enfatiza o valor da profissional para a enfermagem contemporânea e também para a ressignificação dessa categoria profissional durante a pandemia da COVID-19.

Descritores:
Infecções por Coronavírus; Prevenção de Doenças; Profissionais de Enfermagem; Teoria de Enfermagem; Serviços de Saúde

ABSTRACT

Objective:

To reflect on the role of Brazilian nursing during the COVID-19 pandemic, considering as a historical landmark the bicentenary of the birth of Florence Nightingale, a precursor of modern nursing, celebrated in 2020.

Method:

Theoretical-reflective study, based on Florence Nightingale’s environmental theory through a literature review, carried out in international and national virtual news from different sources and added to the authors’ experiences related to the pandemic.

Results:

It was possible to identify the weaknesses experienced by nurse practitioners as to contagion by COVID-19, the routine of exposure to risks, the lack of adequate protection in many scenarios, the high rates of illness, and also deaths that occurred in this profession.

Final considerations:

Florence Nightingale’s Environmental Theory describes the importance of the adequacy of the work environment. It also emphasizes the value of this professional for contemporary nursing and the redefinition of this professional category during the COVID-19 pandemic.

Descriptors:
Coronavirus Infections; Disease Prevention; Nurse Practitioners; Nursing Theory; Health Services

RESUMEN

Objetivo:

Reflejar sobre la actuación de la enfermería brasileña durante la pandemia de COVID-19, teniendo como marco histórico el bicentenario del nacimiento de Florence Nightingale, precursora de la enfermería moderna, conmemorado en 2020.

Método:

Estudio teórico-reflexivo, fundamentado en la teoría ambientalista de Florence Nightingale por medio de una revisión de la literatura, realizada en noticieros virtuales nacionales e internacionales de diferentes fuentes y sumado a las experiencias de los autores relacionadas a la pandemia.

Resultados:

Posibilitó identificar las fragilidades experimentadas por los profesionales de la enfermería en cuanto al contagio por COVID-19, de la rutina de exposición a los riesgos, de la ausencia de protección adecuada en muchos escenarios, de las elevadas tasas de contagio y también de muertes ocurridas en esa profesión.

Consideraciones finales:

La Teoría Ambientalista de Florence Nightingale describe la importancia de la adecuación del ambiente laboral. Se enfatiza también el valor de esta profesional para la enfermería contemporánea y para la resignificación de esa categoría profesional durante la pandemia de COVID-19.

Descriptores:
Infecciones por Coronavirus; Prevención de Enfermedades; Enfermeras Practicantes; Teoría de Enfermería; Servicios de Salud

INTRODUÇÃO

Em 11 de março de 2020 a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a pandemia do novo coronavírus e da COVID-19, uma vez que os casos já haviam se disseminado para diversos países de diferentes continentes. No início de 2021, decorridos nove meses dessa deflagração, o Brasil já havia superado 200 mil mortes em decorrência da COVID-19 e de suas complicações. A disseminação do novo coronavírus, causador da doença COVID-19, se alastrou pelo mundo(¹). É fato que os profissionais da enfermagem sentiram o aumento da demanda assistencial nas instituições de saúde, tendo em vista que são considerados trabalhadores da linha de frente no enfrentamento da pandemia, tendo contato direto com casos suspeitos e confirmados da doença.

O trabalho desempenhado pelas equipes de enfermagem já é considerado desgastante, devido às condições em que exercem suas atividades e aos riscos ocupacionais a que estão expostos(²). Frente a essa pandemia, o desgaste físico e mental, assim como a insegurança e o medo de contrair a doença podem comprometer ainda mais a saúde desses profissionais.

Os profissionais da enfermagem são altamente susceptíveis ao contágio. Em muitos países, inclusive no Brasil, muitos desses trabalhadores foram afastados de suas atividades laborais por terem contraído a doença e muitos vieram a óbito em decorrência da COVID-19. No ano de 2020, o Conselho Federal de Enfermagem e o Conselho Internacional de Enfermeiros afirmaram que o Brasil foi considerado o país com o maior número de óbitos no mundo, isso entre os profissionais de enfermagem que estavam trabalhando na linha de frente contra a COVID-19. O Brasil superou o número de mortes de profissionais de enfermagem em comparação aos Estados Unidos e o Reino Unido(³).

As equipes de enfermagem que atuaram na linha de frente, ou seja, no atendimento à pacientes com casos de COVID-19, apresentaram sintomas de esgotamento físico, esgotamento mental, dificuldades na tomada de decisão e ansiedade pela angústia de perder pacientes e colegas de trabalhos. Além disso, sentiram medo pelo risco de contaminação e da probabilidade de transmitir o vírus para seus familiares.

Diante do exposto, percebe-se a importância da utilização da Teoria Ambientalista de Florence Nightingale na atualidade. Teoria esta que foca em cinco pilares fundamentais para auxiliar na proteção contra as doenças, que são: ar puro, saneamento, limpeza, água pura e luz(⁴). Tais pilares são extremamente importantes diante das doenças infectocontagiosas, como é o caso da COVID-19, que podem ser evitadas por meio de medidas simples, por exemplo, a partir da observação e manutenção desses pilares.

A ligação histórica e sanitária da teoria de Florence foi apresentada durante a guerra da Criméia, considerando os cuidados de higiene pessoal e ambiental no período que se estendeu de 1853 a 1856. Florence conseguiu reduzir a mortalidade de soldados em 72%, o que a destacou na história como administradora e sanitarista(⁴-⁵). Desde seu legado, como precursora da enfermagem, os conhecimentos voltados para a rotina dos cuidados, para o ambiente e para a lavagem das mãos tornaram-se eficientes e fundamentados na ciência.

A enfermeira Florence Nightingale foi também estatística, política, reformadora social e escritora britânica. A Teoria Ambientalista de Florence Nightingale fornece subsídios para que os trabalhadores da saúde exerçam suas atividades de forma mais segura. É importante ressaltar que a enfermeira considerava relevante a manutenção de um ambiente saudável, ou seja, atuava preventivamente diante dos riscos ocupacionais, fatos que são relevante durante uma pandemia(⁵). Embora já tenham se passado 167 anos do início da utilização da Teoria Ambientalista, tal teoria ainda se faz presente e necessária em momento de pandemia, sendo notória a importância da utilização dos seus ensinamentos, visto a grande probabilidade de contágio entre os profissionais de saúde, fato que pode mudar repentinamente seu status de cuidadores para pacientes.

Diante ao exposto, percebe-se a relevância da atuação da equipe de enfermagem durante uma pandemia, que no caso da atual, é causada por vírus. Assim, justifica-se a escolha deste tema, para a elaboração deste ensaio teórico-reflexivo, uma vez que as medidas preventivas são primordiais para evitar o adoecimento entre os profissionais da enfermagem e dos demais trabalhadores da saúde, bem como colaborar com o controle da disseminação da virose em questão. Aliada a isso, a Teoria Ambientalista de Florence Nightingale proporciona resgates históricos de sua contribuição para a enfermagem contemporânea, em especial no ano de 2020, quando se comemorou o bicentenário do seu nascimento.

OBJETIVO

Refletir sobre a atuação da enfermagem brasileira durante a pandemia da COVID-19, tendo como marco histórico o bicentenário de nascimento de Florence Nightingale, precursora da enfermagem moderna, no ano de 2020.

MÉTODOS

Trata-se de um ensaio teórico-reflexivo, apoiado nas Teorias de Enfermagem em questão, que podem auxiliar na compreensão das atividades de enfermagem e sua complexidade(⁶). Sendo assim, o enfoque teórico utilizado neste estudo foi a Teoria Ambientalista de Florence Nightingale, que visou organizar o processo de cuidado, garantindo a saúde dos profissionais da saúde e principalmente os de enfermagem.

Este ensaio teórico-reflexivo foi desenvolvido de março de 2020 a janeiro de 2021. Além disso, contou com procedimentos sistemáticos de busca de estudos e de reflexões, atendendo ao cenário de pandemia ainda em trânsito, ou seja, informações sobre essa temática ainda estão em produção e veiculação. Sobretudo ao considerar o início da imunização em países como Estados Unidos, Reino Unido e Israel, em dezembro de 2020, bem como a expectativa do início da vacinação no Brasil, no primeiro semestre de 2021.

Foram realizadas buscas em artigos virtuais, internacionais e nacionais, de fontes fidedignas consideradas notícias primárias e oriundas de sites oficiais como: Organização Mundial da Saúde, Ministério da Saúde e Conselho Federal de Enfermagem (COFEN). Ainda foram agregadas experiências dos autores com relação à pandemia e à Teoria Ambientalista de Florence Nightingale.

Também foram realizadas buscas por artigos científicos nas bases de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), US National Library of Medicine (PubMed), Scopus, Wef of Science e Google Acadêmico. Para realizar essas buscas foram utilizados descritores controlados e identificados nos Descritores em Ciência da Saúde (DECs),Medical SubjectHeadings(MESH) e CINAHL Headings: “teoria de enfermagem” (nursing theory), “profissionais de enfermagem” (“nurse practitioners”), “serviços de saúde” (“health services”) e “coronavírus” (“coronavirus”); além das palavras-chave: “COVID-19” (“2019-ncov”).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Florence Nightingale descreveu sua teoria em quatro conceitos: pessoa, enfermagem, ambiente e saúde, todos foram focados na função assistencial e na prática de procedimentos simples como a lavagem das mãos e a organização do ambiente laboral. As teorias de enfermagem representam a junção de considerações e de proposições que esclarecem fenômenos de interesse para a enfermagem de forma sólida. Pois, esses profissionais precisam desenvolver suas atividades em ambiente físico organizado, ter cargas horárias de trabalho que sejam justas e adequadas e o número de profissionais deve ser contingenciado corretamente, de forma a evitar a pressão diante de suas atribuições(⁷), já que apresenta diretrizes que visam a organização do processo de cuidado, garantindo a saúde dos profissionais.

Durante a pandemia, por meio de informações vinculadas pelo Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) e também por Conselhos Regionais de Enfermagem (CORENs)(⁸), foi possível identificar a necessidade de orientação e planejamento de ações que podem contribuir para a redução de danos físicos e psicológicos entre os profissionais de enfermagem, como a prevenção da doença COVID-19 e de outras doenças psicossomáticas relacionadas à saúde mental, em função de sintomas psicopatológicos como estresse, síndrome de burnout, depressão e ansiedade relacionados, por exemplo, ao medo de contaminar os familiares e ao medo da morte.

As medidas preconizadas por Florence representam o impulso inicial para a formação de uma profissão científica pautada em cuidados seguros. Os métodos de profilaxia para inúmeros patógenos e doenças representam muito da prática da enfermagem histórica e na contemporaneidade. Florence cooperou com estudos fundamentados em evidências, com construção de indicadores que consentiram analisar fatores de risco/proteção diante de epidemias/pandemias e que contribuíram para os cuidados primários em saúde. A coordenação de um saber aliado à prática foi e tem sido fundamental para a reestruturação do cuidar, isso ocorre desde a época de Florence até a atual condição de pandemia da COVID-19. Para discutir esses elementos foram elaboradas duas categorias analíticas produzidas a partir da literatura revisada, que estão apresentadas e problematizadas a seguir.

Fragilidades dos profissionais de enfermagem no enfrentamento à pandemia da COVID-19 pautada na Teoria Ambientalista de Florence Nightingale

No enfrentamento da pandemia de COVID-19 foi possível identificar muitas fragilidades relacionadas aos profissionais de saúde, especialmente os da enfermagem. De acordo com estudo epidemiológico realizado em 2020(⁹), na China, Itália e Estados Unidos houve grande contaminação desses trabalhadores em decorrência de informações relevantes terem sido relatadas tardiamente, por exemplo, a possibilidade de contaminação pela doença através da urina, fezes ou saliva, sendo que estes fluidos, até então, foram manuseados pelos profissionais da enfermagem sem a proteção adequada. Logo, se constatou alto índice de profissionais de enfermagem chineses infectados e acometidos pela COVID-19, observando que muitos deles foram a óbito(⁹). Enfatiza-se que mesmo com a disseminação de informações relacionadas às formas de transmissibilidade do vírus, muitos profissionais da saúde ainda se contaminaram no Brasil e que alguns vieram a óbito(⁸).

Ao se basear na Teoria Ambientalista de Florence, percebe-se que não basta ter o conhecimento teórico a respeito do real problema, mas também é importante preocupação com o ambiente, o desenvolvimento de técnicas adequadas(⁷) e a disponibilidade de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e de Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC) que podem trazer resultados positivos(³). Na medida em que a teoria de Florence é focada nas condições de trabalho - levando em consideração o ambiente experimentado durante a assistência aos indivíduos(⁵) - possui relevância para os diversos campos da prática atual, mediante uma doença infectocontagiosa, como a COVID-19. Torna-se importante o conhecimento teórico e sua utilidade no contexto atual para, assim, auxiliar os profissionais de saúde a lidarem com a pandemia em tela.

Desde os casos primários da COVID-19 instituiu-se um protocolo de manejo clínico para médicos e profissionais de enfermagem. Entre outros, o protocolo delibera que os médicos e os profissionais da enfermagem que cuidarem dos clientes infectados devem se dedicar somente a isso e evitar circulação por outras extensões da instituição que estejam atuando(⁹). No entanto, profissionais da enfermagem consideram que a situação da pandemia, ainda que haja protocolos com orientações precisas de como proceder, é bastante caótica, diante do fato de que a cada instante surgem novas informações sobre a COVID-19(⁹-¹⁰).

A enfermagem vivenciou momentos de incertezas e dúvidas, como: se haveria leitos para todos os pacientes que necessitavam de internação; se haveria insumos adequados e suficientes, como EPI; se o número de profissionais seria suficiente para atender às demandas em ambulatórios, Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e nos hospitais. Essas preocupações, iniciadas no Brasil no primeiro semestre de 2020, foram atualizadas no segundo semestre em função da segunda onda de infecção, em curso também no primeiro semestre de 2021. Houve grande preocupação por parte de autoridades do COFEN com relação aos profissionais da enfermagem estarem na linha de frente no combate à pandemia. O COFEN orientou que todas as unidades estaduais fiscalizassem as áreas de saúde regionais para averiguar as situações de trabalho desses profissionais, bem como o fornecimento de EPI, de insumos, de quantitativo e a capacitação das equipes(⁸).

Ao considerar as experiências e descobertas de outros países de como lidar com a pandemia, seria importante que houvesse planejamentos diferenciados em relação ao manejo da pandemia no contexto brasileiro(⁹). É o profissional de enfermagem que fica ao lado do paciente a maior parte do tempo, prestando os cuidados necessários e administrando todo fluxo de atendimento, expondo-se, portanto, aos diferentes níveis de contágio. No tocante aos pressupostos da Teoria Ambientalista de Florence, ressalta-se que o ambiente laboral descuidado gera contaminação e, consequentemente, adoecimento dos profissionais(⁷).

Diante do contexto da pandemia, muitos profissionais da enfermagem se infectaram no mundo(⁹). No Brasil não foi diferente, juntamente ao trabalho veio a pressão psicológica mediante as fragilidades no enfrentamento desta pandemia, fato que fez das mãos que cuidam, pacientes infectados. Dos profissionais de enfermagem infectados, alguns adoeceram e se afastaram do trabalho, ficando isolados em seus domicílios, outros foram internados em enfermarias e Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e outros vieram a óbito(⁸-¹⁰). Nesse intuito, a teoria da precursora da Enfermagem mostra semelhanças em momentos vivenciados durante sua carreira profissional, tendo em vista que em decorrência do avanço da guerra da Criméia, Nightingale adoece, tendo seu primeiro episódio de febre(⁷).

Ressalta-se que os noticiários informaram que os profissionais de enfermagem foram infectados no trabalho, possivelmente pela falta de EPI, e tiveram que se afastar justamente em momento crítico, quando deveriam tratar das vítimas da COVID-19(⁸-¹⁰). Sobre essa perspectiva, a enfermagem deve se embasar no cuidado com a higiene ambiental, visando impedir, ou ao menos minimizar, a transmissão da doença. Ressalta-se que os achados de Florence são muito relevantes e, no momento de uma pandemia, podem agregar ao desenvolvimento tecnológico e técnico-científico no avanço do desenvolvimento das atividades dos profissionais de saúde e, especialmente, os da enfermagem(⁵-⁷).

O controle ambiental é o conceito principal nos escritos de Nightingale. As condições e influências externas comprometem a vida e o desenvolvimento dos organismos, além de serem capazes de preceder, eliminar ou colaborar para a saúde(⁷). Durante a pandemia no Brasil, profissionais da saúde sofrem com a escassez, principalmente de máscaras, e com a desorganização dos ambientes laborais, sendo que os mais prejudicados são os profissionais da enfermagem, por estarem na linha de frente em relação ao acolhimento e cuidados de enfermagem. Em consequência disso, não demorou para aparecer os primeiros profissionais de enfermagem infectados e doentes(⁸). Relacionado a tais pressupostos, os princípios das ações que deveriam ser implementados ao realizar as técnicas de enfermagem de forma adequada junto aos pacientes foram comprometidos, haja vista que as instituições de saúde estavam despreparadas para o enfrentamento da pandemia(⁸-⁹).

Florence tinha como objetivo priorizar o provimento de um ambiente motivador, no qual as enfermeiras pudessem contribuir para o desenvolvimento da saúde de seus pacientes. A enfermeira esperava que isso perpetrasse um diferencial na recuperação dos doentes, e são esses preceitos que amparam a Teoria Ambientalista. Florence passou a seguir e dar importância a componentes que determinavam fatores relacionados à questão ambiental, que necessitam estar inter-relacionados, são eles: físicos, sociais e psicológicos, sendo que os mesmos não devem ser partes distintas e separadas(⁴). A Teoria Ambientalista de Florence promoveu e introduziu na enfermagem uma visão de intervenção direcionada ao doente, além de ampliar os desempenhos para o meio ambiente, instituindo os serviços com a organização e limpeza dos setores, tendo a influência dos ambientes de tratamento aos doentes por meio de observação e supervisão, que exigiam a organização e hierarquia(⁵-⁷).

Durante a pandemia em curso, mesmo sem se infectar com a doença, os profissionais de enfermagem tiveram que se afastar de seus familiares como medida protetiva(⁸). Porém, mediante a contaminação e a doença, aumentaram a angústia e o sofrimento, pois passaram a fazer seu tratamento em domicilio ou sob internamento hospitalar, em ambos os casos mantendo o isolamento(⁸-⁹). Os depoimentos desses profissionais e seus familiares nas redes sociais despertam a atenção, isso ocorre por revelarem que esses profissionais, em muitos momentos, viram-se imersos nas sensações de impotência e de inutilidade no combate à pandemia. Os casos de profissionais da enfermagem que evoluíram a óbito acabaram por comover outros colegas de trabalho, deixando-os sensíveis, receosos e inseguros para prestarem assistência a outros pacientes com a doença(⁸-⁹). Por conseguinte, identificaram-se outros problemas de ordem psicológica. Um exemplo foi o de uma profissional de enfermagem, de 34 anos, que atuava na linha de frente em combate à COVID-19 na UTI de um hospital na Lombardia (Itália) e que se suicidou. Segundo familiares, ela vivia sob estresse muito forte, por medo de ter infectado outras pessoas, vindo a tirar sua própria vida(¹⁰).

Portanto, destaca-se a importância de se relatar situações comuns vivenciadas pela enfermagem no combate à doença, pois na vontade de oferecer melhores cuidados aos pacientes, e também cuidar da saúde própria, estes profissionais estão solicitando ações emergenciais às autoridades e aos respectivos conselhos para prestar uma assistência de enfermagem qualificada, sem correr risco de também se tornarem pacientes infectados(⁸). Em meados de 1855, após a guerra da Criméia, Florence Nightingale passou por situação semelhante quando veio a adoecer, pressupõe-se que isso ocorreu devido à precarização das condições laborais, falta de recursos físicos, falta de recursos humanos e excesso de trabalho(⁷).

Com base nos fundamentos da Teoria Ambientalista, destaca-se a importância dos profissionais e das Instituições estarem preparadas para o enfrentamento de surtos, epidemias e pandemias, visando melhores condições laborais e segurança aos trabalhadores da saúde, bem como menos afastamentos e, consequentemente, maior rapidez no controle da situação causada por tais eventos. No início de 2021 mostra-se o avanço do combate ao vírus no mundo com a descoberta de vacinas.

Contribuições para área da Enfermagem

Compreende-se que durante uma pandemia, como a da COVID-19, é essencial a atuação da equipe de enfermagem, pois são profissionais que atuam na chamada linha de frente do enfrentamento a esses tipos de enfermidades. Resgatar a Teoria Ambientalista de Florence Nightingale durante a pandemia nos leva a refletir sobre a essência do cuidado para os pacientes, porém, sem se esquecer dos cuidados com a própria saúde no ambiente de trabalho.

Pressupõe-se que esta reflexão possa subsidiar a compreensão dos desafios e das possibilidades de práticas de cuidados adequados, que podem ser desenvolvidas pela equipe de enfermagem durante uma pandemia, sem que os profissionais de enfermagem venham a ter consequências de contaminação e agravos da doença. É importante que o legado de Florence possa ser revisitado, sobretudo quando se comemora o bicentenário do seu nascimento, o que levou a enfermagem a celebrar em 2020 o ano mundial dessa profissão. Essa celebração nos leva a pensar sobre como a teoria de Florence pode ser recuperada e atualizada, bem como no modo em que os conhecimentos de enfermagem foram amadurecendo e se desenvolvendo em função das necessidades de saúde e de cuidado deflagradas ao longo do tempo.

O cenário atual da pandemia, trazendo diversos desafios à atuação da enfermagem, deve ser propositivo no sentido de valorização da Enfermagem, de maior visibilidade e de melhor compreensão sobre a ciência do cuidado, inicialmente difundida por Florence. Dialogar com tais aspectos deve promover maior respeito a essa categoria, bem como uma representação social das enfermeiras e dos enfermeiros, sustentada em elementos humanizadores e científicos que envolvem o cuidar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este ensaio teórico-reflexivo resgatou os ensinamentos da precursora da Enfermagem Florence Nightingale, fazendo um paralelo entre a pandemia da COVID-19 e a Teoria Ambientalista. Tais ensinamentos evidenciaram a importância da prevenção, proteção e promoção da saúde dos profissionais de enfermagem, assim como dos demais profissionais da saúde, frente aos fatores de risco a que estão expostos constantemente.

Há de se considerar que os pressupostos de Florence são um marco para a área da saúde e, mesmo após vários anos, se mostram atuais e relevantes, não somente no que diz respeito à manutenção da higiene dos ambientes, controle dos microrganismos e garantia de segurança no tratamento dos doentes, mas também pela aplicabilidade na prática assistência da enfermagem, bem como na da equipe de saúde.

O artigo em tela auxilia na produção de conhecimentos a respeito dessa temática e na compreensão da teoria exposta, estimulando sua aplicação prática nos ambientes laborais. Além de permitir a reflexão sobre os riscos ocupacionais e as fragilidades experimentadas pelos profissionais de enfermagem durante a pandemia, evidenciando a necessidade de ações intervencionistas, que visem à manutenção da saúde física e mental destes trabalhadores.

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Editado por

EDITOR CHEFE: Dulce Barbosa

EDITOR ASSOCIADO: Maria Itayra Padilha

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  25 Out 2021
• Data do Fascículo
  2022

Histórico

• Recebido
  27 Maio 2020
• Aceito
  18 Abr 2021