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A CRISE FINANCEIRA BRASILEIRA NOS ANOS 1980: PRECEDENTE HISTÓRICO DE UMA ECONOMIA GOVERNADA PELOS INTERESSES FINANCEIROS

RESUMO

Mais do que representar falhas de coordenação ou de governo, a crise financeira brasileira nos anos 1980 representou a predominância de interesses financeiros nas políticas públicas. Este artigo mostra que esse domínio começou com as negociações da dívida externa, em 1982, que colocaram o interesse dos credores internacionais em primeiro lugar. Argumenta que o ajuste externo imposto - especialmente a desvalorização das taxas de câmbio, cortes nos investimentos públicos e o aumento das taxas de juros reais - gerou recessão e instabilidade financeira (com destaque para a inflação) que ameaçariam desvalorizar a riqueza privada. Portanto, tanto o ajustamento externo quanto a proteção à riqueza privada apenas tornaram-se possíveis devido aos crescentes deficit e dívidas públicas - inclusive por transferências de dívida do setor privado para o público. A perspectiva dominante, encontrada na literatura sobre o período, culpando os deficit e dívidas do governo pela instabilidade financeira da década de 1980 está errada. Economistas, mesmo heterodoxos, ainda acreditam que a crise financeira do Brasil nos anos 1980 resultou de deficit orçamentários e dívidas públicas. Este artigo mostra, contrariamente à visão dominante, que uma vez que o setor público teve que permitir o ajuste da riqueza privada às condições externas impostas pelos credores estrangeiros, os deficit públicos foram o único resultado possível nessas condições.

PALAVRAS-CHAVE:
negociações da dívida externa; instabilidade financeira; transferências internacionais; deficit público; dívida pública; interesses financeiros

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