Resumos
Objetivo: Identificar e analisar a produção de conhecimento acerca das estratégias que as instituições de saúde têm implementado para humanizar a assistência à criança hospitalizada. Método: Trata-se de uma revisão sistemática realizada a partir da Biblioteca Virtual em Saúde - Enfermagem e do SciELO, utilizando os sete passos propostos pelo Cochrane Handbook. Resultados: Foram selecionados 15 artigos cujos resultados apontam o uso de estratégias que envolvem relações de troca entre o profissional de saúde, a criança hospitalizada e seus familiares, as quais podem ser mediadas por atividades lúdicas, pela música e pela leitura de contos infantis. Compreendem também o uso da própria arquitetura como forma de proporcionar bem-estar à criança e sua família, além de facilitar o desenvolvimento do processo de trabalho dos profissionais de saúde. Conclusão: É necessário investimentos em pesquisas e publicações acerca da temática, para que a Política Nacional de Humanização não deixe de existir e para que as estratégias apontadas neste estudo não se configurem em ações isoladas e desarticuladas de uma política de saúde.
Criança hospitalizada ; Humanização da assistência ; Ambiente de Instituições de Saúde ; Enfermagem pediátrica ; Revisão
Resumos
Objective: To identify and analyze the production of knowledge about the strategies that health care institutions have implemented to humanize care of hospitalized children. Method: This is a systematic review conducted in the Virtual Health Library - Nursing and SciELO, using the seven steps proposed by the Cochrane Handbook. Results: 15 studies were selected, and strategies that involved relationship exchanges were used between the health professional, the hospitalized child and their families, which may be mediated by leisure activities, music and by reading fairy tales. We also include the use of the architecture itself as a way of providing welfare to the child and his/her family, as well as facilitating the development of the work process of health professionals. Conclusion: Investments in research and publications about the topic are necessary, so that, the National Humanization Policy does not disappear and that the identified strategies in this study do not configure as isolated and disjointed actions of health policy.
Child, hospitalized ; Humanization of assistance ; Health Facility Environment ; Pediatric nursing ; Review
Objetivo: Identificar y analizar la producción de conocimiento sobre las estrategias que las instituciones de salud implementaron para humanizar la asistencia al niño hospitalizado. Método: Revisión sistemática a partir de la Biblioteca Virtual en Salud - Enfermagem y de SciELO, usando los sietes pasos propuestos por el Cochrane Handbook. Resultados: Fueron seleccionados 15 artículos cuyos resultados indican el uso de estrategias que envuelven relaciones de intercambio entre el profesional de salud, el niño hospitalizado y sus familiares, las cuales también pueden ser trabajadas por actividades lúdicas, por la música y por la lectura de cuentos infantiles. También, formó parte el uso de la propia arquitectura para proporcionar bienestar al niño y su familia, además de facilitar el desarrollo del proceso de trabajo de los profesionales de salud. Conclusión: Se destaca la necesidad de inversión en investigaciones y publicaciones sobre el tema para que la Política Nacional de humanización no deje de existir y para que las estrategias identificadas en este estudio no se configuren como acciones aisladas y desarticuladas de una política de salud.
Niño hospitalizado ; Humanización de la atención ; Ambiente de Instituciones de Salud ; Enfermería pediátrica ; Revisión
Introdução
Ambiência hospitalar refere-se ao tratamento dado ao espaço físico, social, profissional e de relações interpessoais, diretamente envolvida com a assistência à saúde, devendo, portanto, proporcionar atenção acolhedora, resolutiva e humana. Através da construção da ambiência é possível avançar qualitativamente no debate acerca da humanização, pois sua concepção pressupõe a valorização tanto das tecnologias médicas que compõem o serviço de saúde, dos componentes estéticos ou sensíveis apreendidos pelos órgãos do sentido (como por exemplo, a luminosidade, os ruídos e a temperatura do ambiente), quanto da interação entre usuários, trabalhadores e gestores(1).
Dessa forma, a consolidação da humanização exige compromisso com a ambiência e seus três eixos norteadores: construção de espaço que vise à confortabilidade, à produção de subjetividades, e que possa ser utilizado como ferramenta facilitadora do processo de trabalho. O primeiro eixo, a confortabilidade, abrange elementos que atuam como modificadores e qualificadores do espaço, tais como a cor, o cheiro, o som e a iluminação. A combinação e o equilíbrio entre tais elementos podem criar ambiências acolhedoras aos usuários e trabalhadores, contribuindo significativamente no processo de produção de saúde. O segundo eixo, a produção de subjetividades, envolve o encontro de sujeitos – usuários, trabalhadores e gestores –, os quais se utilizam do espaço para agir e refletir sobre o processo de trabalho e estabelecer ações a partir da integralidade e da inclusão. O terceiro e último eixo, o espaço usado como ferramenta facilitadora do processo de trabalho, vai além da arquitetura, buscando estabelecer o ambiente aspirado pelos usuários e profissionais de saúde(1).
Destaca-se que ao construir ambiências deve-se conhecer e respeitar as características e valores do local em que se está atuando para assim contribuir efetivamente na promoção do bem-estar e desfazer o mito de que o espaço hospitalar é frio e hostil. Se o espaço em questão for o de pediatria, a criança, além de lidar com o mal-estar provocado pela enfermidade, encontra-se afastada de seu ambiente familiar, de seus amigos e da escola. A realização de inúmeros procedimentos dolorosos e invasivos contribuem para que ela perca as referências sobre seu cotidiano, sua cultura e seus desejos, tornando a experiência de hospitalização traumatizante(2-4).
Um estudo realizado na unidade pediátrica do Hospital Clínico San Borja Arriarán (HCSBA)(4), no Chile, revelou que 50% das crianças estudadas apresentaram alteração emocional durante a hospitalização, sendo apontado por elas que os procedimentos de diagnóstico e tratamento, assim como a sua separação dos pais e de seus amigos foram os fatores ambientais que mais as afetaram. O estudo evidenciou ainda que as crianças internadas em um mau ambiente hospitalar apresentam probabilidade de serem afetadas emocionalmente(4).
Uma pesquisa realizada com acompanhantes de pacientes atendidos em um hospital pediátrico, buscando identificar as necessidades e questões para a adequação desse espaço, constatou que o carinho, os medicamentos, a organização e a reforma hospitalar são fatores essenciais à humanização(5). Segundo os acompanhantes, caso pudessem construir novamente o hospital, deveriam ser priorizadas a adequação do espaço e a melhoria das condições de conforto ambiental (ventilação, iluminação, cores, privacidade), além da a ampliação e maior qualidade do atendimento propriamente dito, como a organização, a informação e a infraestrutura. Essa pesquisa apontou, portanto, a importância do espaço voltado para as crianças como auxílio no processo de cura(5).
Mesmo com a existência de unidades pediátricas, específicas para internação de crianças, as experiências negativas advindas da hospitalização não são suavizadas, pois, geralmente, as atividades que se estabelecem nestes ambientes estão voltadas para atender às necessidades acarretadas pela patologia da criança, negligenciando, com frequência, as necessidades de brincar, aprender, explorar e comunicar-se com outra pessoa da mesma idade(4). Considerando que quando o espaço é projetado para a criança a hospitalização pode ser percebida positivamente(5), é imperativa a construção de ambiências acolhedoras, estruturadas para assistir a criança de forma integral, proporcionando o melhor enfrentamento da hospitalização.
Almejando tornar o ambiente de pediatria o menos traumatizante possível e subsidiar a prática dos profissionais de saúde na construção de ambiências acolhedoras, o presente estudo teve como objetivo identificar e analisar a produção de conhecimento sob a perspectiva da ambiência, ou seja, as estratégias que as instituições de saúde têm implementado para humanizar a assistência à criança hospitalizada na unidade pediátrica.
Método
Trata-se de uma revisão sistemática qualitativa, método utilizado para sintetizar o conhecimento das pesquisas e metodologias utilizadas nos estudos primários, sejam eles quantitativos ou qualitativos, por meio da análise descritiva(6). Constitui-se em um importante recurso para a melhoria do cuidado, uma vez que potencializa a atualização dos profissionais de saúde ao sintetizar o conhecimento acerca de um tema específico, de forma objetiva e reproduzível. Assim, ao apontar evidências acerca da práxis, estimula-se a utilização de resultados de pesquisas na prática assistencial(7).
Para a execução desta revisão sistemática utilizou-se os sete passos propostos pelo Cochrane Handbook(8): elaboração do protocolo – um guia para que os pesquisadores sigam as mesmas etapas para realizar a seleção dos artigos; formulação da pergunta que irá delinear a pesquisa; busca e seleção dos estudos; avaliação crítica dos estudos; coleta e síntese dos dados.
A revisão orientou-se a partir da seguinte pergunta: sob a perspectiva da ambiência, quais as estratégias que as instituições de saúde têm implementado para humanizar a assistência à criança hospitalizada na unidade pediátrica? Para elucidá-la e conferir credibilidade aos achados, efetivou-se dupla busca de artigos, por diferentes pesquisadores, em outubro de 2013, na Biblioteca Virtual em Saúde – Enfermagem (BVS Enfermagem), utilizando-se de todas as bases de dados nacionais e internacionais disponíveis, e na Scientific Eletronic Library Online (SciELO). A busca foi realizada por intermédio dos descritores Ambiente de Instituições de Saúde, Humanização da Assistência, Pediatria e Criança Hospitalizada, conforme a classificação dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e refinada utilizando-se o operador booleano AND, seguindo a estratégia apresentada no Quadro 1.
Para a seleção dos artigos, foram estabelecidos como critérios de inclusão: artigos originais; publicados em português, inglês ou espanhol; com resumo, permitindo verificar a consonância com os objetivos do estudo; publicados entre 2003 e 2012; com disponibilidade do texto na íntegra on-line e gratuitamente. O recorte histórico escolhido justifica-se pelo interesse em abranger os artigos publicados desde a criação até a atual implementação da Política Nacional de Humanização que tem na ambiência um de seus pilares.
A partir dos critérios de inclusão, a seleção dos artigos procedeu-se em três fases: 1) exclusão das publicações repetidas nas bases de dados; 2) leitura do título e resumo das publicações restantes, com exclusão daquelas que não atendiam aos objetivos desta revisão; 3) avaliação crítica dos artigos através da sua leitura na íntegra, seguida da elaboração de quadros sinópticos com os dados coletados.
Os dados são apresentados em duas etapas: 1) processo de seleção dos artigos; e 2) análise descritiva, contemplando os seguintes aspectos: revista e ano de publicação do artigo, descritores ou palavras-chave empregados, formação dos autores, metodologia (tipo de pesquisa, sujeitos/amostra, instrumento de coleta e análise dos dados) e estratégias apontadas para humanizar a assistência à criança hospitalizada.
Respeitando as questões éticas e os preceitos de autoria, os artigos consultados estão citados e referenciados ao longo deste estudo, conforme previsto na Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que trata dos Direitos Autorais(9).
Resultados
A seguir será apresentada a caracterização dos artigos consultados e as estratégias que as instituições de saúde têm implementado para humanizar a assistência à criança hospitalizada na unidade pediátrica a partir da ambiência.
Caracterização dos artigos consultados
Por meio de busca eletrônica foram localizadas 193 publicações: a maioria na BVS Enfermagem, 189 (97,9%); nas bases: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), 73 (37,8%); Base de Dados de Enfermagem (BDENF), 58 (30,1%); Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), 53 (27,5%); IBECS, 2 (1%); Coleciona SUS, 2 (1%); CENTRAL-Registro de ensaios clínicos controlados, 1 (0,5%); e as demais localizadas na Scientific Eletronic Library Online (SciELO), 4 (2,1%). Do total, 140 (72,5%) foram excluídos por não atenderem aos critérios de inclusão dessa pesquisa, sendo pré-selecionados 53 (27,5%) artigos.
Na primeira fase de seleção dos artigos, foram excluídas 10 publicações repetidas nas bases de dados, havendo uma redução de 53 para 43 artigos. A partir da leitura dos títulos e resumos, foram excluídas as publicações que não atendiam aos objetivos desta revisão, reduzindo-se a 15 artigos selecionados na segunda fase (Figura 1).
Na terceira fase, ao analisar os artigos científicos selecionados, constatou-se que 10 artigos foram divulgados em periódicos de enfermagem, sendo eles: Journal of Pediatric Oncology Nursing, Investigación y educación en enfermería, Revista Enfermagem UERJ, Online Brazilian Journal of Nursing, Escola Anna Nery Revista de Enfermagem, Revista Latino-Americana de Enfermagem, Texto & Contexto Enfermagem. Desses, sete tinham como país de origem o Brasil, dois a Colômbia e um os Estados Unidos da América.
Os demais artigos foram publicados em periódicos de saúde da criança, pediatria e de educação e saúde, sendo eles: Journal of Child Health Care, Einstein, Revista Dor, Interface - Comunicação, Saúde, Educação. Desses, três tinham como país de origem o Brasil, dois a Inglaterra.
Considerando a proporção de artigos publicados por ano, observou-se um crescimento no ano de 2009 (sete artigos), seguido por um declínio nas publicações relacionadas ao tema, o qual culminou na ausência de publicações no ano de 2012 (Figura 2). Com relação aos descritores utilizados para indexação dos artigos, aponta-se o emprego de 26 descritores, destacando-se Humanização da Assistência (sete artigos), Enfermagem Pediátrica (seis artigos), Criança Hospitalizada (quatro artigos) e Pediatria (quatro artigos).
Em média, os artigos apresentavam três autores, cuja maioria possuía como formação acadêmica a enfermagem (31); os demais a arquitetura (5), a psicologia (3), a medicina (3s), a estatística (1), a terapia ocupacional (1), as ciências sociais (1), o direito (1), e a filosofia (1). Somente um artigo não possuía enfermeiros entre os autores.
As amostras dos estudos apresentaram grande diversidade em número e características, variando de 2 a 129 sujeitos, com foco na criança hospitalizada, na equipe de saúde e/ou de enfermagem, e/ou acompanhantes e/ou mediadores de leitura. Os locais de desenvolvimento das pesquisas incluíram quatro países, com destaque para o Brasil com 11 estudos; seguido pelos Estados Unidos da América e Reino Unido, ambos com 2.
Os 15 artigos analisados foram resultados de pesquisas, sendo 10 com abordagem qualitativa, 1 quantitativa e 4 quanti-qualitativa. A coleta de dados constituiu-se de instrumentos como entrevistas, observações, grupo focal, escalas, questionários, análise documental, incluindo registros dos profissionais no prontuário do paciente, instrumentos padronizados (Child-Teen Self-report PedsQL™, Parent Proxy Report e Child-Teen Self-report), atendendo aos objetivos propostos nas investigações. Da mesma forma, a análise dos dados foi consoante às abordagens adotadas nos estudos, utilizando abstrações de temáticas, conteúdo ou teórica, além do emprego do Discurso do Sujeito Coletivo e softwares Statística e Excel.
Com relação às limitações do estudo, somente um artigo explicitou-as, demonstrando o comprometimento ético dos pesquisadores com os consumidores da pesquisa, possibilitando adequações e reformulações para futuras replicações do estudo em outros contextos. Por outro lado, a maioria fez referência à aprovação do estudo em Comitê de Ética em Pesquisa e o emprego do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Estratégias de humanização da assistência na Unidade de Pediatria a partir da ambiência
A necessidade de humanizar o ambiente hospitalar e melhorar a assistência à saúde suscitou esforços no sentido de amenizar o cotidiano da criança internada. Os artigos analisados apontaram estratégias que potencializam a relação de troca entre o profissional de saúde, a criança hospitalizada e seus familiares, bem como dos profissionais entre si. São elas: utilização de práticas lúdicas; música; leitura mediada de contos infantis; proposição de novas vias para a reconfiguração do trabalho da enfermagem e a articulação entre as equipes; atitudes que conferem caráter humanizado ao atendimento; construção do cuidado compartilhado com a família; avaliação da dor e racionalização do uso da medicação analgésica; utilização da arquitetura para proporcionar interação social e privacidade às crianças hospitalizadas e suas famílias; além da participação da criança na escolha do tema, da cor e de artes que compõem a unidade pediátrica. O Quadro 2 apresenta a descrição dos artigos analisados em relação ao título, referência, ano de publicação, país, delineamento, número de participantes, intervenções e desfechos/contribuição do estudo para humanização do ambiente pediátrico.
Discussão
Com base nos resultados, constatou-se que a busca por estratégias que humanizem o ambiente hospitalar para assistência à criança tem sido o foco não só nos periódicos de enfermagem, mas também nos periódicos específicos de saúde da criança, pediatria e de educação e saúde. Dos 15 artigos analisados, 5 foram publicados em periódicos internacionais e 6 eram indexados na Web of Knowledge e citados pelo Journal Citation Report(JCR)(6). Destaca-se que, do total, 10 artigos foram publicados nos periódicos de enfermagem e desses, somente 3 eram de revistas internacionais e duas revistas indexadas na Web of Knowledge e citados pelo JCR. Evidencia-se, assim, que há necessidade dos periódicos de enfermagem investirem em sistemas de edição que permitam divulgar os resultados de pesquisas com significativo impacto para que a Política Nacional de Humanização (PNH) conquiste visibilidade e consolidação no campo das ciências da saúde, em âmbito internacional.
Ao analisar o ano das publicações, observou-se que desde a criação da PNH, a temática obteve maior evidência em relação ao quantitativo de obras no ano de 2009, quando foi realizado o 2º Seminário Nacional de Humanização, cujo objetivo foi reunir e dar visibilidade às iniciativas bem-sucedidas na área e discutir a capacidade transformadora das práticas de saúde e de gestão. No entanto, posteriormente houve um declínio, culminando com a ausência de publicações no ano de 2012. Tal fato evidencia um retraimento ou mesmo desinteresse dos pesquisadores em investigar a humanização do ambiente hospitalar, visto que não ocorreram eventos de âmbito nacional que incentivasse a publicação de novos artigos.
Considerando os descritores utilizados para indexação dos artigos, destaca-se que o emprego dos mesmos superou a utilização de palavras-chave, característica que facilita a busca, e também apontam que os artigos consultados refletem especificamente a temática em estudo. Com relação à autoria, sete artigos incluíam coautores de diversas áreas profissionais, demonstrando consonância com os pressupostos de humanização da assistência, os quais envolvem necessariamente o trabalho conjunto de diferentes profissionais como forma de construir a ambiência enquanto espaço de reflexão. Desta maneira, contempla-se uma variedade de enfoques e opções de compreensão da realidade institucional e profissional, com vistas a saídas criativas para os desafios encontrados e, consequentemente, melhora da assistência à criança hospitalizada(1).
Através do delineamento dos estudos, predominantemente qualitativo, e sujeitos investigados, constata-se que o principal foco dos pesquisadores tem sido a percepção e a experiência da criança hospitalizada, da equipe de saúde e/ou de enfermagem, de acompanhantes e de mediadores de leitura. O fato da maioria dos artigos utilizarem abordagem qualitativa evidenciou que a temática de humanização do ambiente hospitalar, com enfoque na pediatria tem sido explorada e detalhada, tornando alguns de seus aspectos bem definidos, e possibilitando o emprego dessa abordagem pelos pesquisadores para avaliar relacionamentos de causa e efeito, ou a eficácia de alguma estratégia(22). Além de suscitar que outros pesquisadores combinem ambas as abordagens para abstrair diferentes facetas da realidade e agregar força ao argumento e à qualidade na produção de conhecimento.
As abordagens metodológicas empregadas nos artigos expõem a trajetória de construção do conhecimento acerca da ambiência. Inicialmente divulgando a PNH e explorando experiências, passando para um momento de monitoramento e avaliação das estratégias utilizadas para sua consolidação, culminando na necessidade de analisar o processo de implementação, seus resultados e impactos; mas atentando para não se proceder a simplificações ou análises reducionistas e descontextualizadas(1). Portanto, emerge a necessidade de produzir novos níveis de conhecimento acerca da humanização do ambiente hospitalar, através da utilização de métodos mistos ou múltiplos, que combine abordagens qualitativas e quantitativas, possibilitando novos insights e perspectivas de entendimento(23) que subsidiem uma melhor assistência à criança.
As estratégias apontadas nos artigos apresentam contribuições que transcendem o bem-estar da criança, englobando aspectos relacionais entre a equipe de saúde, a criança e a família. Com relação à utilização de práticas lúdicas no cuidado em pediatria, destaca-se que o brinquedo, a música e a leitura, além de distrair a criança, minimizam o estresse da hospitalização, proporcionando relaxamento e tranquilidade. Configuram-se, assim, intervenções terapêuticas que facilitam a interação entre criança e equipe, gerando um ambiente alegre, calmo e sereno, contribuindo para a qualidade da relação humana tão necessária à efetivação do cuidado de enfermagem(3,15-16,18,24).
Os artigos foram analisados considerando o cotidiano em pediatria, no qual o cuidado é construído através da interdependência que se estabelece na relação entre a equipe de saúde, a criança e a família e apontaram o quão imperativo se faz valorizar e canalizar forças para que essas relações culminem na produção de subjetividades protagonistas e responsáveis pelo cuidado(25). Nesse sentido, discute-se a proposição de novas vias para a reconfiguração do trabalho da enfermagem, de tal forma que proporcione a adoção de uma gestão participativa, que promova o diálogo e a integração com os usuários e as demais categorias profissionais que atuam no cuidado à criança(21,26).
Além disso, salientam a importância em dispor de recursos materiais (incluindo a própria arquitetura) e humanos para melhor assistir a criança hospitalizada, e também recomendam a participação ativa da criança na construção da ambiência através da inclusão de acessórios pessoais, como almofadas, quadros e tapetes, de forma a configurar o ambiente pediátrico em uma casa longe de casa(12-13).
No entanto, constata-se uma lacuna no que se refere às estratégias que visam melhorias no processo de trabalho e bem-estar dos profissionais de saúde como forma de humanizar o ambiente de pediatria: pouca motivação, falta de empenho e de iniciativa dos profissionais de saúde e escassez de recursos para a efetivação das estratégias(2). A ausência desses elementos parece refletir em entraves à ambiência.
Para que o compromisso firmado com a ambiência de fato se concretize, é imperativa a adoção de formas de cuidados mais humanizados, tanto para os usuários quanto para os profissionais de saúde. Nesse sentido, desenvolver padrões de cuidados mais humanizados aos profissionais refere-se à melhoria das condições de trabalho e de atendimento; relações institucionais mais humanizadas entre funcionários e chefias, entre os próprios colegas e pessoas com formações e responsabilidades diferentes(27).
Somente com a valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de saúde estimular-se-á a corresponsabilidade entre eles, o estabelecimento de vínculos solidários e a participação coletiva no processo de humanização da assistência. Sendo assim, é fundamental a sensibilização dos gestores dos serviços de saúde para o ideário proposto pela ambiência: construção de um espaço que propicie as relações interpessoais e proporcione atenção acolhedora, humana e resolutiva, considerando alguns elementos que funcionalmente atuam como catalisadores de novas experiências(1).
As estratégias encontradas oferecem subsídios para que os profissionais de saúde possam replicá-las, ampliando e aprimorando a sua realidade. No entanto, cabe ressaltar que ao criar essas ambiências deve-se conhecer e respeitar a singularidade das instituições em que está se atuando, para que seja possível comparar e avaliar se a utilização da estratégia resultará em benefícios(1).
Conclusão
O presente estudo constatou que desde a criação da Política Nacional de Humanização (PNH) as instituições de saúde têm implementado estratégias para construir ambiências acolhedoras e harmônicas que contribuam para melhorar a assistência à criança hospitalizada na unidade pediátrica. Tais estratégias envolvem relações de troca entre o profissional de saúde, a criança hospitalizada e seus familiares, as quais podem ser mediadas por atividades lúdicas, pela música e pela leitura de contos infantis. Também, compreendem o uso da própria arquitetura como forma de proporcionar bem-estar à criança e sua família, além de facilitar a desenvolvimento do processo de trabalho dos profissionais de saúde.
As estratégias encontradas por este estudo, ao contribuírem para melhorar a assistência à criança hospitalizada, evidenciam que a ambiência constitui-se em um pilar para a humanização da unidade pediátrica, atuando sensivelmente na reestruturação do processo de produção de saúde.
Considerando o declínio ocorrido nos últimos anos e a pouca expressão quantitativa das publicações acerca da temática de humanização do ambiente de pediatria, ressalta-se a necessidade de investimento em pesquisas e publicações para que não ocorra a invisibilidade da PNH e para que as estratégias apontadas neste estudo não configurem ações isoladas e desarticuladas de uma política de saúde.
Como lacuna a ser preenchida por estudos futuros aponta-se a investigação de estratégias que compreendam os profissionais que atuam em pediatria como foco para construção de ambiências prazerosas e consequente desconstrução de paradigmas que configuram este espaço como frio e hostil. Também faz-se necessário o reconhecimento do gestor como sujeito implicado no processo de produção de saúde, que precisa ser alvo de pesquisas que busquem melhorar a assistência à criança hospitalizada. Nesse sentido, é imperativo estar alerta ao processo de implementação da PNH, seus resultados e impactos, para, assim, reconhecer as novas necessidades que vão sendo criadas no ambiente de pediatria.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
Jun 2014
Histórico
-
Recebido
11 Out 2014 -
Aceito
20 Mar 2014








