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Autopercepção distorcida e insatisfação com a imagem corporal entre estudantes de enfermagem

RESUMO

Objetivo:

Avaliar autopercepção distorcida e insatisfação com a imagem corporal em estudantes de enfermagem.

Método:

Estudo transversal com estudantes de universidade pública. A autopercepção e a satisfação com a imagem corporal foram avaliadas com Escala de Silhuetas e Body Shape Questionnare (BSQ). Calculou-se Índice de Massa Corporal com peso e altura referidos. Análises foram processadas no Stata 15.0, com nível de significância de 5%.

Resultados:

Participaram 93 estudantes. Constatou-se um percentual de 87,1% de autopercepção distorcida, com maior proporção daqueles que superestimavam o tamanho corporal (68,8%). Estavam insatisfeitos com a imagem corporal 89,2% dos estudantes segundo a Escala de Silhuetas, e 55,9% segundo o BSQ. Insatisfação avaliada pelo BSQ associou-se com sexo biológico, estado nutricional, prática de regime alimentar e bullying.

Conclusão:

Os resultados sinalizam a necessidade de se abordar o tema na formação dos enfermeiros, tanto para ajudá-los na aceitação do próprio corpo, como também para que possam atuar de forma efetiva na prática profissional.

DESCRITORES:
Estudantes de Enfermagem; Imagem Corporal; Autoimagem; Educação em Enfermagem

ABSTRACT

Objective:

To evaluate distorted self-perception and dissatisfaction with body image among nursing students.

Method:

Cross-sectional study with students from a public university. Self-perception and satisfaction with body image were assessed using the Figure Rating Scale and the Body Shape Questionnare (BSQ). Body Mass Index was calculated with self-reported weight and height. Analysis was processed in Stata 15.0 with a significance level of 5%.

Results:

A total of 93 students participated in the study. Results showed 87.1% of distorted self-perception, with a greater proportion of students who overestimated their body size (68.8%); 89.2% of students were dissatisfied with their body image according to the Figure Rating Scale, and 55.9% according to the BSQ. Dissatisfaction assessed by the BSQ was associated with biological sex, nutritional status, diets and bullying.

Conclusion:

The results indicate the need to address the theme in the training of nurses, to help them accept their own bodies and to enable them to act effectively in their professional practice.

DESCRIPTORS:
Students, Nursing; Body Image; Self Concept; Education, Nursing

RESUMEN

Objetivo:

Evaluar la autopercepción distorsionada y la insatisfacción con su imagen corporal en estudiantes de enfermería.

Método:

Estudio transversal realizado entre estudiantes de una universidad pública. La autopercepción y la satisfacción con la imagen corporal se evaluaron con la Escala de Siluetas y el Body Shape Questionnare (BSQ). El índice de masa corporal se calculó con el peso y la altura declarados. Los análisis se procesaron en el Stata 15.0, con nivel de significación del 5%.

Resultados:

Participaron 93 estudiantes, de los cuales el 87,1% tenía una autopercepción distorsionada, con proporción más alta en aquellos que sobrestimaban el tamaño corporal (68,8%). El 89.2% de los estudiantes estaba insatisfecho con su imagen corporal según la Escala de Siluetas y el 55.9%, según la BSQ. La insatisfacción evaluada por el BSQ se asoció al sexo biológico, estado nutricional, dieta y bullying.

Conclusión:

Los resultados muestran la necesidad de abordar este tema en la formación de los enfermeros, para ayudarlos en la aceptación de su propio cuerpo, y que puedan actuar de forma efectiva en la práctica profesional.

DESCRIPTORES:
Estudiantes de Enfermería; Imagen Corporal; Autoimagen; Educación en Enfermería

INTRODUÇÃO

Em meio à crescente pandemia mundial de sobrepeso e obesidade, responsável por milhões de mortes em todo o mundo(11 Global Burden of Disease Collaborators ; Afshin A, Forouzanfar MH, Reitsma MB, Sur P, Esterp K, Lee A, et al. Health effects of overweight and obesity in 195 countries over 25 years. N Engl J Med. 2017;377(1):13-27. doi: httdx.doi.org/10.1056/NEJMoa1614362
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), intensifica-se o culto ao corpo e à aparência, com exigência de valores antropométricos cada vez menores. Assim, o corpo perfeito divulgado pela mídia, principalmente na televisão e internet, é almejado pela população, especialmente adolescentes e jovens(22 Radwan H , Hasan HA , Najm L , Zaurub S , Jami F , Javadi F , et al. Eating disorders and body image concerns as influenced by family and media among university students in Sharjah, UAE. Asia Pac J Clin Nutr. 2018;27(3):695-700. doi: httdx.doi.org/10.6133/apjcn.062017.10
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).

Imagem corporal é o conceito que cada pessoa tem sobre seu próprio corpo, ou seja, sobre características como tamanho, estrutura, forma e contorno, além dos sentimentos relativos a essas características. É composta por duas grandes dimensões: a perceptiva, que se refere à autopercepção quanto ao tamanho, formato e peso corporal; e a atitudinal, que envolve os componentes afetivo (sentimentos relacionados à própria aparência), cognitivo (pensamentos ou crenças sobre o corpo), comportamental (ações e condutas relativas ao corpo) e satisfação (apreciação que tem de si mesmo em relação ao corpo). Além de ser influenciada por aspectos intrínsecos, como sexo e idade, sofre influência de determinantes extrínsecos, como a percepção de familiares e amigos, valores culturais e mídia. Assim, a imagem corporal é determinada socialmente e sofre influências sociais que se mantêm por toda a vida, de forma que a imagem corporal não é fixa ou estática, podendo modificar-se a depender da experiência vivida(33 Cash TF, Smolak L. Body image: a handbook of science, practice, and prevention. New York: The Guilford Press; 2012.).

A avaliação da imagem corporal de estudantes universitários tem sido objeto de estudos nacionais e internacionais, pois alterações biológicas e instabilidade psicossocial, inerentes ao final da adolescência e início da juventude, se somam às exigências e demandas da vida universitária(44 Souza AC, Alvarenga MS. Insatisfação com a imagem corporal em estudantes universitários: uma revisão integrativa. J Bras Psiquiatr. 2016;65(3):286-99. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0047-2085000000134.
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-55 Silva WR, Dias JCR, Maroco J, Campos JADB. Fatores que contribuem para preocupação com a imagem corporal de estudantes universitárias. Rev Bras Epidemiol. 2015;18(4):785-97. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1980-5497201500040009
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). Tal contexto, aliado ao padrão de magreza e de boa forma divulgado pela mídia e redes sociais, torna esse grupo vulnerável à percepção distorcida e insatisfação com a imagem corporal(66 Eckler P, Kalyango Y, Paasch E. Facebook use and negative body image among U.S. college women. Women Health. 2017;57(2):249-67. doi: http://dx.doi.org/10.1080/03630242.2016.1159268.
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7 Florêncio RS, Moreira TMM, Silva MR, Almeida ÍL. Excesso ponderal em adultos jovens escolares: a vulnerabilidade da autopercepção corporal distorcida. Rev Bras Enferm. 2016;69(02):258-265. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167.2016690208i
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-88 Alipour B, Farhangi MA, Dehghan P, Alipour M. Body image perception and its association with body mass index and nutrient intakes among female college students aged 18-35 years from Tabriz, Iran. Eat Weight Disord. 2015;20(4):465-71. doi: http://dx.doi.org/10.1007/s40519-015-0184-1
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). Revisão de literatura apontou elevada amplitude de insatisfação com a imagem corporal em universitários de ambos os sexos, com variação de 5% a 87% nos estudos nacionais e internacionais, e associação com exposição à mídia e redes sociais, sexo feminino e baixa autoestima(44 Souza AC, Alvarenga MS. Insatisfação com a imagem corporal em estudantes universitários: uma revisão integrativa. J Bras Psiquiatr. 2016;65(3):286-99. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0047-2085000000134.
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).

A autopercepção distorcida e a insatisfação com a imagem corporal podem ter como consequência a adoção de comportamentos de risco à saúde, como dietas de restrição, jejuns prolongados e indução de vômitos, que indicam tendência para transtornos alimentares(22 Radwan H , Hasan HA , Najm L , Zaurub S , Jami F , Javadi F , et al. Eating disorders and body image concerns as influenced by family and media among university students in Sharjah, UAE. Asia Pac J Clin Nutr. 2018;27(3):695-700. doi: httdx.doi.org/10.6133/apjcn.062017.10
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,55 Silva WR, Dias JCR, Maroco J, Campos JADB. Fatores que contribuem para preocupação com a imagem corporal de estudantes universitárias. Rev Bras Epidemiol. 2015;18(4):785-97. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1980-5497201500040009
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,99 Kessler AL, Poll FA. Relação entre imagem corporal, atitudes para transtornos alimentares e estado nutricional em universitárias da área da saúde. J Bras Psiquiatr. 2018;67(2):118-25. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0047-2085000000194.
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10 MacNeill LP, Best LA. Perceived current and ideal body size in female undergraduates. Eat Behav. 2015;18:71-5. doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.eatbeh.2015.03.004
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-1111 Walker DC, White EK, Srinivasan VJ. A meta-analysis of the relationships between body checking, body image avoidance, body image dissatisfaction, mood, and disordered eating. Int J Eat Disord. 2018;51(8):745-70. doi: http://dx.doi.org/10.1002/eat.22867
http://dx.doi.org/10.1002/eat.22867...
).

Embora não tenha se observado diferença significativa na frequência de insatisfação corporal entre estudantes de diferentes cursos da área da saúde(1212 Oliveira PL, Ferreira MEC, Neves CM, Meireles JFF, Carvalho PHB. Insatisfação, checagem corporal e comportamentos de risco para transtornos alimentares em estudantes de cursos da saúde. J Bras Psiquiatr. 2017;66(4):216-20. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0047-2085000000174
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), considerou-se fundamental avaliar autopercepção distorcida e insatisfação com a imagem corporal de estudantes de enfermagem, futuros profissionais que terão como responsabilidade a promoção da saúde da população e que, portanto, estarão sujeitos a expectativas sociais e expostos a críticas sobre seu peso e sua forma física.

MÉTODO

Desenho de estudo

Trata-se de um estudo quantitativo, transversal.

População

Foi desenvolvido especificamente com estudantes de enfermagem de uma universidade pública da cidade de São Paulo. Nessa universidade pública, o curso de graduação é integral e tem duração de quatro anos, com 80 ingressantes anuais. Todos os estudantes do 1º ao 4º ano, que em 2018-2019 totalizavam 305, foram convidados, com a adesão de 93 discentes.

O critério de inclusão foi estar regularmente matriculado, enquanto o de exclusão foi estar grávida no momento da entrevista.

Coleta de dados

A coleta de dados foi realizada de novembro de 2018 a abril de 2019. O convite para participar do estudo foi enviado por e-mail, que continha o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e o link para acessar o formulário eletrônico autoaplicável elaborado no software REDCap-Research Eletronic Data Capture (https://redcap.hc.fm.usp.br). O preenchimento do formulário podia ser no celular, tablet ou computador, com transmissão direta das respostas para um banco de dados, o que eliminou erros de digitação comuns na elaboração desse banco de dados. O formulário incluiu informações sobre os seguintes aspectos: sexo biológico e identidade de gênero; idade; com quem reside; peso e altura referidos; prática de atividade física; prática de regime alimentar; conversa com pais/familiares sobre imagem corporal; busca informações sobre imagem corporal em redes sociais; se sim, quais meios de comunicação/redes sociais; influência de meios de comunicação/redes sociais na autopercepção e satisfação; se já foi vítima de bullying devido à imagem corporal. Ademais, o formulário incluiu 34 questões do Body Shape Questionnare (BSQ), traduzido e validado para o português(1313 Di Pietro M, Silveira DX. Internal validity, dimensionality and performance of the Body Shape Questionnaire in a group of Brazilian college students. Rev Bras Psiquiatr. 2009;31(1):21-4. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S1516-44462008005000017
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), que avalia satisfação com a imagem corporal com seis opções de respostas: 1) nunca, 2) raramente, 3) às vezes, 4) frequentemente, 5) muito frequentemente, 6) sempre.

Percepção e satisfação com a imagem corporal também foram avaliadas com a versão brasileira da Escala de Silhuetas(1414 Kakeshita IS, Silva AIP, Zanatta DP, Almeida SS. Construção e fidedignidade teste-reteste de escalas de silhuetas brasileiras para adultos e crianças. Psic Teor Pesq. 2009;25(2):263-70. doi: https://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722009000200015
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), aplicada face a face pelas pesquisadoras nos intervalos e períodos livres, nas próprias salas de aula. Essa escala avalia a autopercepção do estado nutricional atual e satisfação com a imagem corporal (tamanho corporal desejado), por meio de 15 silhuetas para cada sexo. Cada silhueta corresponde a um Índice de Massa Corporal (IMC), de 12,5 a 47,5kg/m2, com intervalo de 2,5kg/m2. As silhuetas são apresentadas em cartões individuais, plastificados e dispostos em ordem ascendente segundo o IMC. Os estudantes responderam duas questões: Qual cartão representa a silhueta que mais se aproxima de seu corpo neste momento? (relativa ao tamanho corporal atual); e Qual cartão representa a silhueta que você gostaria de ter? (relativa ao tamanho corporal desejado).

O estado nutricional foi avaliado por meio do IMC calculado com base nos dados de peso e altura referidos. Para classificar o estado nutricional de estudantes com 20 anos ou mais, utilizaram-se pontos de corte recomendados para adultos: baixo peso=IMC<18,5kg/m2; eutrofia=IMC≥18,5 e <25kg/m2; sobrepeso=IMC≥25 e <30kg/m2; obesidade=IMC≥30kg/m2((1515 Brasil. Ministério da Saúde; Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. Orientações para a coleta e análise de dados antropométricos em serviços de saúde: norma técnica do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional - SISVAN [Internet]. Brasília; 2011[citado 2020 jan. 9]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/orientacoes_coleta_analise_dados_antropometricos.pdf
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). Para estudantes menores de 20 anos, os dados de peso e altura foram inseridos no software Anthro Plus e o estado nutricional classificado em: magreza=Percentil<15; eutrofia=Percentil≥15 e ≤85; sobrepeso=Percentil>85 e ≤97; obesidade=Percentil>97(1616 Onis M, Onyango AW, Borghi E, Siyam A, Nishida C, Siekmann J. Development of a WHO growth reference for school-aged children and adolescents. Bull World Health Organiza. 2007;85(09):660-7. doi: http://dx.doi.org/10.2471/BLT.07.043497
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).

Para avaliar a acurácia da autopercepção da imagem corporal, comparou-se a figura escolhida (IMC escolhido) pelo estudante como aquela que mais representava sua silhueta naquele momento com a figura que de fato representava seu IMC atual calculado, sendo colocado no intervalo da Escala de Silhuetas. No caso de coincidência de silhuetas, o estudante foi classificado com autopercepção não distorcida. Se a figura escolhida como aquela que mais representava sua silhueta se referia a um IMC inferior ao da figura correspondente ao seu IMC atual calculado, considerou-se que o estudante subestimava seu tamanho corporal. Quando a figura escolhida se mostrava superior ao da figura que representava seu IMC atual calculado, considerou-se que o estudante superestimava seu tamanho corporal(1414 Kakeshita IS, Silva AIP, Zanatta DP, Almeida SS. Construção e fidedignidade teste-reteste de escalas de silhuetas brasileiras para adultos e crianças. Psic Teor Pesq. 2009;25(2):263-70. doi: https://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722009000200015
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).

Para avaliar a acurácia da satisfação com a imagem corporal, a silhueta selecionada como IMC desejado foi comparada à figura correspondente ao IMC escolhido. O estudante foi classificado como satisfeito se a silhueta desejada coincidiu com a de seu IMC escolhido. Se a silhueta desejada se mostrasse inferior, classificou-se o estudante como insatisfeito, com desejo de diminuir o tamanho corporal. Quando a silhueta desejada era superior, o estudante foi classificado como insatisfeito, com desejo de aumentar o tamanho corporal(1414 Kakeshita IS, Silva AIP, Zanatta DP, Almeida SS. Construção e fidedignidade teste-reteste de escalas de silhuetas brasileiras para adultos e crianças. Psic Teor Pesq. 2009;25(2):263-70. doi: https://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722009000200015
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).

Para avaliar a satisfação com a imagem corporal através do BSQ, computa-se o número correspondente à opção de resposta como ponto para a questão. Assim, classifica-se a satisfação com a imagem corporal como: satisfeito (0-80 pontos), preocupação leve (81-110 pontos), preocupação moderada (111-140 pontos), preocupação severa (141-204 pontos). No presente estudo, essa variável foi dicotomizada em satisfeito (0-110 pontos) e insatisfeito (≥111 pontos)(1313 Di Pietro M, Silveira DX. Internal validity, dimensionality and performance of the Body Shape Questionnaire in a group of Brazilian college students. Rev Bras Psiquiatr. 2009;31(1):21-4. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S1516-44462008005000017
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).

Análise e tratamento dos dados

As análises foram processadas no software Stata versão 15.0. Realizou-se análise descritiva, com apresentação de frequências (absolutas e relativas), médias e desvio padrão, seguida de análise univariada, com uso do teste de qui-quadrado e Exato de Fischer para verificar associação entre as variáveis dependentes (autopercepção e satisfação com a imagem corporal) e independentes. O nível de significância adotado foi de 5%.

Aspectos éticos

O projeto foi aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa, Protocolo nº 2.712.852, em 14 de julho de 2018. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido acompanhou o questionário eletrônico, que só podia ser acessado por aqueles que concordassem em participar do estudo, seguindo as recomendações da Resolução n. 466/12, do Conselho Nacional de Saúde.

RESULTADOS

Participaram 93 estudantes. Estes tinham em média 21,6 anos (dp 2,2), a maioria era do sexo feminino (89,3%), eutrófica (64,5%), residia com a família (80,6%), não praticava regime alimentar (78,5%), obtinha informações sobre imagem corporal no Instagram (71,0%) e referiu influência dos meios de comunicação na autopercepção e satisfação com a imagem corporal (91,4%). Metade dos estudantes mencionou ter sido vítima de bullying devido à imagem corporal (Tabela 1). Apenas um estudante relatou identidade de gênero diferente do sexo biológico (dado não apresentado em tabela).

Tabela 1
Caracterização dos estudantes de enfermagem – São Paulo, SP, Brasil, 2019.

Apresentam-se, na Tabela 2, autopercepção e satisfação com a imagem corporal avaliadas com a Escala de Silhuetas, sendo a última avaliada também com o BSQ. Constatou-se elevado percentual de autopercepção distorcida (87,1%), com maior proporção de estudantes que superestimavam o peso corporal. Observou-se também alto percentual de insatisfação com a imagem corporal, segundo a Escala de Silhuetas (89,2%), a maioria com desejo de diminuir o tamanho corporal. O percentual de insatisfação detectado com o BSQ foi menor (55,9%).

Tabela 2
Autopercepção distorcida e insatisfação com a imagem corporal segundo a Escala de Silhuetas e segundo o BSQ – São Paulo, SP, Brasil, 2019.

A Tabela 3, que apresenta análise entre autopercepção distorcida e insatisfação com a imagem corporal avaliadas com a Escala de Silhuetas, mostra que, mesmo entre estudantes que não tinham autopercepção distorcida, três quartos estavam insatisfeitos com a imagem corporal. Contudo, entre aqueles com autopercepção distorcida, a proporção de insatisfação era maior: 82,4% e 93,8% entre aqueles que subestimavam e superestimavam o tamanho corporal, respectivamente, destacando-se que a totalidade dos que subestimavam o tamanho corporal desejavam aumentar o peso e a grande maioria dos que superestimavam desejava diminuir o peso corporal (91,7%).

Tabela 3
Análise entre autopercepção distorcida e insatisfação com a imagem corporal avaliadas com a Escala de Silhuetas – São Paulo, SP, Brasil, 2019.

Análise da associação entre autopercepção distorcida e insatisfação com a imagem corporal e as variáveis independentes mostrou que apenas insatisfação avaliada com o BSQ associou-se com sexo biológico (p=0,004), estado nutricional (p=0,001), prática de regime alimentar (p=0,003) e bullying sofrido devido à imagem corporal (p=0,031) (Tabela 4).

Tabela 4
Associação entre autopercepção distorcida e insatisfação com a imagem corporal e variáveis independentes – São Paulo, SP, Brasil, 2019.

DISCUSSÃO

O presente estudo revelou elevado percentual de estudantes com autopercepção distorcida que superestimava o tamanho corporal e também elevado percentual de insatisfeitos com a imagem corporal que desejava diminuir o peso. No contexto estudado, esses resultados são preocupantes, pois se tratam de futuros enfermeiros, profissão que desempenha papel fundamental na promoção da saúde. Ao integrarem equipes multiprofissionais da atenção básica, serão responsáveis pela aferição de medidas antropométricas, avaliação e acompanhamento nutricional, promoção da alimentação saudável e incentivo à atividade física para prevenção da obesidade(1717 Brasil. Ministério da Saúde; Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica: obesidade [Internet]. Brasília; 2014 [citado 2020 jan. 13]. Disponível em: http://redehumanizasus.net/96386-caderno-de-atencao-basica-no-38-estrategias-para-o-cuidado-da-pessoa-com-doenca-cronica-obesidade/
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).

A insatisfação com a imagem corporal segundo o BSQ também se mostrou elevada, porém em menor proporção. A discrepância entre os percentuais de insatisfação com a imagem corporal obtidos com a Escala de Figuras de Silhuetas, comparados ao obtido com o BSQ, também foi observada em revisão de literatura sobre insatisfação com a imagem corporal em estudantes universitários(44 Souza AC, Alvarenga MS. Insatisfação com a imagem corporal em estudantes universitários: uma revisão integrativa. J Bras Psiquiatr. 2016;65(3):286-99. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0047-2085000000134.
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). Da mesma forma, estudo realizado com jovens de 18 a 25 anos de idade, praticantes de ginástica, constatou tal discrepância: o BSQ identificou 48,2% de insatisfação com a imagem corporal, enquanto a Escala de Silhuetas detectou 77,8%(1818 Moreira ML, Correâ AAM, Domingues SF. Satisfação da imagem corporal em jovens praticantes de ginastica em grupo. Rev Bras Nutr Esp [Internet]. 2018 [citado 2020 jan.09];12(71):400-5. Disponível em: http://www.rbone.com.br/index.php/rbone/article/view/717
http://www.rbone.com.br/index.php/rbone/...
). Essa diferença pode ser justificada pelos componentes avaliados pelos instrumentos, pois o BSQ avalia os quatro componentes da dimensão atitudinal da imagem corporal (afetiva, cognitiva, comportamental e satisfação), enquanto a Escala de Silhuetas avalia apenas o componente satisfação(33 Cash TF, Smolak L. Body image: a handbook of science, practice, and prevention. New York: The Guilford Press; 2012.).

Apesar do menor percentual de estudantes insatisfeitos com a imagem corporal segundo o BSQ, a proporção encontrada foi mais elevada que a verificada em outros estudos nacionais: em uma universidade federal do interior de Minas Gerais, 15% dos estudantes de diferentes cursos de graduação apresentavam algum grau de insatisfação com a imagem corporal(1919 Santos VS, Patto MV, Cornélio MPM, Carleto CT, Pedrosa LAK. Preocupação com a imagem corporal e a autoestima de universitários do interior de Minas Gerais. Rev Bras Educ Cult [Internet]. 2019 [citado 2020 jan.13];(19):95-105. Disponível em: http://periodicos.cesg.edu.br/index.php/educacaoecultura/issue/view/88
http://periodicos.cesg.edu.br/index.php/...
); em um centro universitário privado no Estado do Ceará, identificou-se percentual de 47% de insatisfação com a imagem corporal entre estudantes universitárias(2020 Bandeira YER, Mendes ALRF, Calvacante ACM, Arruda SPM. Avaliação da imagem corporal de estudantes do curso de Nutrição de um centro universitário particular de Fortaleza. J Bras Psiquiatr. 2016;65(2):168-73. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0047-2085000000119
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). As diferenças nos percentuais encontrados reiteram a elevada amplitude de insatisfação com a imagem corporal constatada nos estudos nacionais e internacionais(44 Souza AC, Alvarenga MS. Insatisfação com a imagem corporal em estudantes universitários: uma revisão integrativa. J Bras Psiquiatr. 2016;65(3):286-99. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0047-2085000000134.
http://dx.doi.org/10.1590/0047-208500000...
,66 Eckler P, Kalyango Y, Paasch E. Facebook use and negative body image among U.S. college women. Women Health. 2017;57(2):249-67. doi: http://dx.doi.org/10.1080/03630242.2016.1159268.
http://dx.doi.org/10.1080/03630242.2016....
,2121 El Ansari W, Dibba E, Labeeb S, Stock C. Body image concern and its correlates among male and female undergraduate students at Assuit University in Egypt. Glob J Health Sci. 2014;6(5):105-17. doi: 10.5539/gjhs.v6n5p105
https://doi.org/10.5539/gjhs.v6n5p105...
).

Há que se considerar que no presente estudo utilizou-se uma Escala de Silhuetas construída e validada para a população brasileira(1414 Kakeshita IS, Silva AIP, Zanatta DP, Almeida SS. Construção e fidedignidade teste-reteste de escalas de silhuetas brasileiras para adultos e crianças. Psic Teor Pesq. 2009;25(2):263-70. doi: https://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722009000200015
https://dx.doi.org/10.1590/S0102-3772200...
), opção que dificulta a comparação dos resultados obtidos com outros estudos que, por exemplo, utilizaram a escala de silhueta de Stunkard, não validada para nossa população(88 Alipour B, Farhangi MA, Dehghan P, Alipour M. Body image perception and its association with body mass index and nutrient intakes among female college students aged 18-35 years from Tabriz, Iran. Eat Weight Disord. 2015;20(4):465-71. doi: http://dx.doi.org/10.1007/s40519-015-0184-1
http://dx.doi.org/10.1007/s40519-015-018...
,2222 Mintem GC, Gigante DP, Horta BL. Change in body weight and body image in young adults: a longitudinal study. BMC Public Health. 2015;15:222. doi: http://dx.doi.org/10.1186/s12889-015-1579-7
http://dx.doi.org/10.1186/s12889-015-157...
-2323 Albeeybe J, Alomer A, Alahmari T, Asiri N, Alajaji R, Almassoud R, Al-Hazzaa HM. Body size misperception and overweight or obesity among saudi college-aged females. J Obes. 2018; 2018:5246915. doi: http://dx.doi.org/10.1155/2018/5246915
http://dx.doi.org/10.1155/2018/5246915...
).

A elevada prevalência de autopercepção distorcida e insatisfação, com desejo de diminuir o tamanho corporal, identificada no presente estudo poderia em parte ser justificada pelo fato da enfermagem ser uma profissão predominantemente feminina. Como aqui constatado, a associação entre insatisfação com a imagem corporal avaliada pelo BSQ e o sexo também foi observada no estudo que validou o teste BSQ em estudantes universitários(1414 Kakeshita IS, Silva AIP, Zanatta DP, Almeida SS. Construção e fidedignidade teste-reteste de escalas de silhuetas brasileiras para adultos e crianças. Psic Teor Pesq. 2009;25(2):263-70. doi: https://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722009000200015
https://dx.doi.org/10.1590/S0102-3772200...
).

Embora dois terços dos estudantes fossem eutróficos, a autopercepção distorcida e a insatisfação avaliadas pela Escala de Silhuetas afetavam quase a totalidade da amostra, com maior proporção daqueles que superestimavam o tamanho corporal e desejavam diminuir o peso. Apesar da amostra do estudo não ter permitido confirmar associação entre essas variáveis, os resultados sugerem que a autopercepção influencia a satisfação, pois a maior parte dos estudantes que superestimavam seu tamanho corporal estavam insatisfeitos e desejavam diminuir o tamanho corporal. No entanto, mesmo em uma amostra com 70% de estudantes eutróficos, constatou-se associação, pois entre os estudantes com autopercepção distorcida a proporção de insatisfeitos com a imagem corporal era significativamente maior(2424 Jaeger MB, Câmara SC. Media and life dissatisfaction as predictors of body dissatisfaction. Paidéia (Ribeirão Preto). 2015;25(61):183-90. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1982-43272561201506
http://dx.doi.org/10.1590/1982-432725612...
).

Comparados aos dados nacionais da última Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico-Vigitel 2018(2525 Brasil. Ministério da Saúde. Vigitel Brasil 2018: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico: estimativas sobre frequência e distribuição sociodemográfica de fatores de risco e proteção para doenças crônicas nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal em 2018 [Internet]. Brasília; 2019 [citado 2020 jan. 9]. Disponível em: https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2019/julho/25/vigitel-brasil-2018.pdf
https://portalarquivos2.saude.gov.br/ima...
), os estudantes de enfermagem avaliados apresentaram proporção similar de excesso de peso (IMC≥25,0kg/m2), porém maior de obesidade (IMC≥30,0kg/m2). Contudo, é a sensação de estar acima do peso que se destaca como importante determinante para que as mulheres se sintam insatisfeitas com seu tamanho corporal e aparência, pois isso ocorre entre as eutróficas e até mesmo entre aquelas com baixo peso(88 Alipour B, Farhangi MA, Dehghan P, Alipour M. Body image perception and its association with body mass index and nutrient intakes among female college students aged 18-35 years from Tabriz, Iran. Eat Weight Disord. 2015;20(4):465-71. doi: http://dx.doi.org/10.1007/s40519-015-0184-1
http://dx.doi.org/10.1007/s40519-015-018...
). Nesse âmbito, vale destacar que, embora seja um importante indicador de saúde, o estado nutricional representa uma característica física, ao passo que a imagem corporal incorpora aspectos sociais e culturais da sociedade, bem como as vivências pessoais e a personalidade do indivíduo(33 Cash TF, Smolak L. Body image: a handbook of science, practice, and prevention. New York: The Guilford Press; 2012.). Dessa forma, a avaliação da imagem corporal nas diferentes faixas etárias seria um importante aspecto a ser abordado nos cursos de graduação da área da saúde, inclusive de enfermagem, para que possa ser incorporado na prática profissional.

Em adultos jovens escolares do nordeste brasileiro, constatou-se menor chance de autopercepção de saúde positiva entre aqueles com sobrepeso/obesidade, sugerindo que os jovens reconhecem que estar acima do peso pode contribuir de forma negativa para sua saúde(2626 Moreira TMM, Santiago JCS, Alencar GP. Self-perceived health and clinical characteristics in young adult students from the Brazilian northeast. Rev Esc Enferm USP. 2014;48(5):793-802. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S0080-6234201400005000004
http://dx.doi.org/10.1590/S0080-62342014...
). A complexa construção da percepção corporal e satisfação com a imagem pressupõe a necessidade investigações que associem esses constructos com a autopercepção da saúde, de forma a contribuir para a efetividade das intervenções de promoção da saúde.

A associação entre a insatisfação com a imagem corporal identificada pelo BSQ e a prática de regimes alimentares também foi encontrada em outro estudo(55 Silva WR, Dias JCR, Maroco J, Campos JADB. Fatores que contribuem para preocupação com a imagem corporal de estudantes universitárias. Rev Bras Epidemiol. 2015;18(4):785-97. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1980-5497201500040009
http://dx.doi.org/10.1590/1980-549720150...
), explicada pelos autores como ação comum entre estudantes universitários para se manterem dentro do padrão de corpo perfeito, imposto socioculturalmente, que os levam a adotar medidas não saudáveis e até mesmo extremas para alcançar esse padrão ideal. Estudo nacional mostrou que mesmo adolescentes que se consideravam ‘gordos’ adotavam práticas extremas para perda de peso, tais como uso de laxante ou indução de vômito, uso de medicamento ou fórmula para perda de peso(2727 Claro RM, Santos MAS, Campos MO. Imagem corporal e atitudes extremas em relação ao peso em escolares brasileiros (PeNSE 2012). Rev Bras Epidemiol. 2014;17 Supl. 1:146-57. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1809-4503201400050012
http://dx.doi.org/10.1590/1809-450320140...
).

Apesar de não se ter encontrado associação entre influência de meios de comunicação/redes sociais com autopercepção distorcida ou insatisfação com a imagem corporal, a literatura aponta que os meios de comunicação e redes sociais são veículos responsáveis pela disseminação de informações, as quais impõem valores, normas e padrões estéticos, especialmente entre a população jovem e feminina, que é pressionada para perder peso, mudar a aparência e parecer mais atraente(2424 Jaeger MB, Câmara SC. Media and life dissatisfaction as predictors of body dissatisfaction. Paidéia (Ribeirão Preto). 2015;25(61):183-90. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1982-43272561201506
http://dx.doi.org/10.1590/1982-432725612...
,2828 Tiggemann M, Zaccardo M. 'Strong is the new skinny': A content analysis of #fitspiration images on Instagram. J Health Psychol. 2018;23(8):1003-11. doi: http://dx.doi.org/10.1177/1359105316639436
http://dx.doi.org/10.1177/13591053166394...
).

No que se refere à associação encontrada entre insatisfação com a imagem e ter sido vítima de bullying, poderia se supor que uma pessoa insatisfeita com a imagem corporal não apresenta o padrão ideal de beleza, o que a torna propensa a ser vítima de bullying, condição que contribui para torná-la mais insatisfeita com a imagem corporal. Estudo com 8.050 adolescentes do Health Behaviour in School-aged Children constatou que adolescentes insatisfeitos com o tamanho corporal, devido ao excesso de peso, eram mais propensos a se tornarem vítimas passivas ou reativas de bullying(2929 Holubcikova J, Kolarcik P, Madarasova Geckova A, Van Dijk JP, Reijneveld SA. Is subjective perception of negative body image among adolescents associated with bullying? Eur J Pediatr. 2015;174(8):1035-41. doi: 10.1007/s00431-015-2507-7
https://doi.org/10.1007/s00431-015-2507-...
).

Destaca-se que a população universitária de diversas áreas do conhecimento é comumente estudada pela facilidade de acesso e por se tratar de indivíduos com características similares, mas com experiências e vivências diversas(44 Souza AC, Alvarenga MS. Insatisfação com a imagem corporal em estudantes universitários: uma revisão integrativa. J Bras Psiquiatr. 2016;65(3):286-99. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0047-2085000000134.
http://dx.doi.org/10.1590/0047-208500000...
), o que poderia ser uma limitação do estudo. Entretanto, os resultados obtidos são relevantes, chamando atenção o elevado percentual de estudantes de enfermagem com autopercepção distorcida e insatisfação com a imagem corporal que sinaliza problemas no perfil de saúde. No Reino Unido, há evidências de que os enfermeiros nem sempre praticam o que pregam, de forma que o conhecimento adquirido sobre comportamentos saudáveis para a promoção da saúde da população não é absorvido pelo profissional para a sua própria vida(3030 Blake H, Malik S, Mo PKH, Pisano C. 'Do as I say, but not as I do': are next generation nurses role models for health? Perspect Public Health. 2011;131(5):231-9. doi: http://dx.doi.org/ 10.1177/1757913911402547
http://dx.doi.org/ 10.1177/1757913911402...
). Assim, além da abordagem dessa temática na formação dos enfermeiros, há necessidade de intervenção oportuna para se trabalhar a aceitação da própria aparência, independentemente da forma física, com vistas à incorporação de comportamentos de vida saudável entre os estudantes para que possam aplicar na prática profissional. Nesse âmbito, os enfermeiros devem atuar como facilitadores de discussões sobre a corporeidade e imagem corporal, com abordagens que favoreçam a autoestima e a busca pela saúde(77 Florêncio RS, Moreira TMM, Silva MR, Almeida ÍL. Excesso ponderal em adultos jovens escolares: a vulnerabilidade da autopercepção corporal distorcida. Rev Bras Enferm. 2016;69(02):258-265. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167.2016690208i
http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167.2016...
).

Apesar da amostra reduzida, a avaliação da autopercepção e satisfação com a imagem corporal, através do uso de dois instrumentos e a utilização de um formulário eletrônico autoaplicável que garantiu a privacidade dos estudantes para responderem questões íntimas sobre a imagem corporal, representa as fortalezas do presente estudo. Contudo, deve se considerar as limitações inerentes aos estudos transversais no que se refere ao estabelecimento de relações de causalidade entre autopercepção distorcida e insatisfação com o tamanho corporal.

CONCLUSÃO

A elevada prevalência de autopercepção distorcida e insatisfação com a imagem corporal é preocupante, especialmente entre futuros profissionais de enfermagem, responsáveis não só pela aferição de medidas antropométricas, como também pela vigilância alimentar e nutricional da população, durante todo o ciclo da vida, pois os enfermeiros atuam no pré-natal, puerpério, puericultura, saúde do adolescente, adultos e idosos. Assim, apesar da amostra reduzida, os resultados sinalizam para a necessidade de se abordar o tema na formação de enfermeiros, tanto para ajudá-los na aceitação do próprio corpo, como também para que possam atuar de forma efetiva na prática profissional.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Abr 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    09 Jan 2020
  • Aceito
    15 Maio 2020
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