Acessibilidade / Reportar erro

O perfil do professor cooperante no contexto da supervisão de estágio profissional: um estudo de revisão sistemática da literatura

The cooperating teacher profile in the context of teaching practice: a systematic review of the literature

Resumos

O presente estudo é uma revisão sistemática da literatura, cujo propósito foi cartografar a tipologia de estudos focados no professor cooperante. A pesquisa efectuou-se em bases de dados electrónicas (EBSCO e Digital Dissertations & Theses), retrospetivamente até ao ano de 2000. As palavras-chave utilizadas foram: "Cooperating Teacher", "Supervision", "Physical Education", "Preservice Teacher", "Teacher Trainers" e"University Supervisor". Foram incorporados 24 estudos, sendo que 22 são artigos peer review e 2 dissertações académicas. Na análise da informação utilizou-se a análise de conteúdo, com categorias estabelecidas a priori: foco do estudo, ano de publicação, local de publicação, instrumentos, objetivos e principais conclusões. Os resultados evidenciaram que o estabelecimento de relações interpessoais, a colaboração, a comunicação e o aconselhamento constante são características evidenciadas nos estudos, sendo que os papéis fundamentais atribuídos aos Professores Cooperantes foram o de mentor, confidente e moderador. A formação específica do Professor Cooperante para a função também foi focada.

Professor Cooperante; Supervisão; Revisão Sistemática


This study was a systematic review of the literature, whose purpose was to map the types of studies focused on cooperating teacher. The research was conducted in electronic databases (EBSCO, and Digital Dissertations & Theses) retrospectively by the year 2000. In the present study, 24 studies were incorporated of which 22 are peer review and 2 articles are academic dissertations. In data analysis it was used the content analysis and the categories were established a priori: study focus, year of publication, place of publication, tools, objectives and main conclusions. The results showed that the establishment of interpersonal relationships, collaboration, communication and ongoing counseling were some of the features highlighted in the studies, and the key roles assigned to the Cooperating Teachers were to be a mentor, a confidant and a moderator. Issues related to specific training needed to perform the function of cooperating teacher were also a subject-matter to approach.

Cooperating Teacher; Supervision; Systematic Literature Review


INTRODUÇÃO

O estágio pedagógico, em contexto real de prática profissional, constitui uma peça fundamental da estrutura formal de socialização inicial na profissão de professor. É neste contexto que os candidatos à profissão vão passando de uma participação periférica para uma participação mais interna, mais ativa e mais e autónoma, orientada por um Professor Cooperante (professor residente que acompanha o estágio na escola), que os auxilia a integrarem-se no seio da comunidade docente e na escola, através de um processo, que se quer gradual e refletido, de imersão na cultura profissional e de configuração e reconfiguração das suas identidades profissionais (BATISTA; PEREIRA; GRAÇA, 2012BATISTA, P. M. F.; PEREIRA, A. L. T. N.; GRAÇA, A. B. S. A. (Re) configuração da identidade profissional no espaço formativo do estágio profissional. In: NASCIMENTO, J. V.; FARIAS, G. F. (Org.). Construção da identidade profissional em educação física: da formação à intervenção. Florianopolis: UDESC, 2012. v. 2. p. 81-111.). Numa concepção de aprendizagem situada, sustentada na metáfora da participação numa comunidade de prática (LAVE; WENGER, 1991LAVE, J.; WENGER, E. Situated learning: legitimate peripheral participation. Cambridge: Cambridge University Press, 1991.), importa garantir aos estagiários as melhores condições para uma participação periférica legítima, que reclama por atividade realizadas, gradualmente, em autonomia crescente. É neste contexto que tem vindo a ser dada, cada vez mais, uma maior importância ao Professor Cooperante (PC) (ANDERSON, 2007ANDERSON, D. L. The role of cooperating teachers' power in student teaching. Education, Alabama, v. 128, n. 2, p. 307-323, 2007.; BELTON et al., 2010BELTON, S. J.; WOODS, C.; DUNNING, C.; MEEGAN, S. The evaluation of a Cooperating Physical Education Teachers Programme (COPET). European Physical Education Review, Chester, v. 16, n. 2, p. 141-154, 2010.; BUSBY; MUPINGA, 2007BUSBY, J. R.; MUPINGA, D. M. Requirements, benefits, and concerns of technology education cooperating teachers: an exploratory study among nine Midwest Universities. The entity from which ERIC acquires the content, including journal, organization, and conference names, or by means of online submission from the author. Journal of Technology Studies, Ohio, v. 33, n. 2, p. 79-86, 2007.; COEMAN; MITCHELL, 2000COEMAN, M. M.; MITCHELL, M. K. Assessing observation focus and conference targets of cooperating teachers. Journal of Teaching in Physical Education, Champaign, v. 20, n. 1, p. 40-54, 2000.; DAMAR; GÜRSOY, 2011DAMAR, E. A.; GÜRSOY, E. Cooperating teachers' awareness about their role during the teaching practice course: the Turkish context. Journal of New World Sciences Academy, Elazig, v. 6, n. 1, p. 54-65, 2011.; DUFFIELD, 2006DUFFIELD, S. K. Safety net or free fall: the impact of cooperating teacher. Teacher Development, Philadelphia, v. 10, n. 2, p. 167-178, 2006.; GERVAIS; PORTELANCE, 2009GERVAIS, C. L.; PORTELANCE, L. Analysis of the dynamics of the sharing knowledge between cooperating teacher and teacher-in-training: The partners' respective roles. US-China Education Review, Illinois, v. 6, n. 6, p. 71-80, 2009.; GLENN, 2006GLENN, W. J. Model versus mentor: defining the necessary qualities of the effective cooperating teacher. Teacher Education Quarterly, San Francisco, v. 33, n. 1, p. 85-95, 2006.; GOODNOUGH et al., 2009GOODNOUGH, K.; OSMOND, P.; DIBBON, D.; GLASSMAN, M.; STEVENS, K. Exploring a triad model of student teaching: pre-service teacher and cooperating teacher perception. Teaching and Teacher Education, Orlando, v. 25, n. 2, p. 285-296, 2009.; KAHAN, 2002KAHAN, D. Development and evaluation of a screening instrument for cooperating teachers. The Teacher Educator, Muncie, v. 38, n. 1, p. 63-77, 2002.; KILLIAN; WILKINS, 2009KILLIAN, J. E.; WILKINS, E. A. Characteristics of highly effective cooperating teachers: a study of their backgrounds and preparation. Action in Teacher Education, Lanham, v. 30, n. 4, p. 67-83, 2009.; KOÇ, 2011KOÇ, E. M. Development of mentor teacher role inventory. European Journal of Teacher Education, Philadelphia, v. 34, n. 2, p. 193-208, 2011.; LANDT, 2002LANDT, S. M. Cooperating teachers and professional development. Educational Resources Information Center, Lanham, v. 41, n. 1, p. 1-39, 2002.; LU, 2010LU, H. L. Building a rationale for cooperating teacher training: a phenomenological study. National Teacher Education Journal, Meridian, v. 3, n. 2, p. 23-41, 2010.; McCULLICK, 2001McCULLICK, B. A. Practitioners' perspectives on values, knowledge, and skills needed by PETE participants. Journal of Teaching in Physical Education, Champaign, v. 21, n. 1, p. 35-56, 2001.; MURPHY, 2010MURPHY, K. L. Perceptions of the student teaching triad: an inquiry into relationships and supervision. Asian Journal of Physical Education & Recreation, Kowloon, v. 16, n. 1, p. 53, 2010.; O'BRIAN; STONER; APPEL, 2007O'BRIAN, M.; STONER, J.; APPEL, K. The first field experience: perspectives of preservice and cooperating teachers. Teacher Education and Special Education, Lawrence, v. 30, n. 4, p. 264-275, 2007.; RAJUAN; BEIJAARD; VERLOOP, 2007RAJUAN, M. S. R. A.; BEIJAARD, D.; VERLOOP, N. The role of the cooperating teacher: bridging the gap between the expectations of cooperating teachers and student teachers. Mentoring & Tutoring, Texas, v. 15, n. 3, p. 223-242, 2007.; SAĞ, 2008SAĞ, R. The expectations of student teachers about cooperating teachers, supervisors and practice schools. Egitim Arastirmalari-Eurasian Journal of Educational Research, Ankara, v. 8, n. 32, p. 117-132, 2008.; SINCLAIR; DOWSON; THISTLETON-MARTIN, 2006SINCLAIR, C.; DOWSON, M.; THISTLETON-MARTIN, J. Motivations and profiles of cooperating teachers: Who volunteers and why? Teaching and Teacher Education, Stanford, v. 22, n. 3, p. 263-279, 2006.; SPENCER, 2007SPENCER, T. L. Cooperating teaching as a professional development activity. Journal of Personnel Evaluation in Education, New York, v. 20, n. 3-4, p. 211-226, 2007.; WESMER; WOODS, 2003WESMER, J.; WOODS, A. M. Mentoring: Professional development through reflection. The Teacher Educator, Muncie, v. 39, n.1, p. 64-76, 2003.). Com efeito, ao PC cabe as funções de monitorização e acompanhamento do estudante estagiário (EE).

Na verdade, o PC é referenciado como sendo uma peça fundamental neste processo de formação. A ele compete acercar-se das questões que moldam o processo supervisivo, estejam estas relacionadas com o planeamento didático, com a gestão do tempo ou com as relações interpessoais. Neste sentido, e parafraseando Alarcão (1996, p. 93)ALARCÃO, I. S. T. Formação reflexiva de professores: estratégias de supervisão. Porto: Porto Editora, 1996., o PC deve surgir como um treinador de um atleta, um "amigo", que possibilite as melhores condições de sucesso, como alguém que ajude e monitorize, de forma a desenvolver aptidões e capacidades no EE. Mais recentemente, Albuquerque, Graça e Januário (2005, p.15)ALBUQUERQUE, A. A. C.; GRAÇA, A. B. S.; JANUÁRIO, J. C. A supervisão pedagógica em educação física: a perspectiva do orientador de estágio. Lisboa: Livros Horizonte, 2005.consideraram o PC,

Um dos principais intervenientes no processo formativo, assumindo o acompanhamento da prática pedagógica, orientando-a e reflectindo-a, com a finalidade de proporcionar ao futuro professor uma prática docente de qualidade, num contexto real que permita desenvolver as competências e atitudes necessárias a um desempenho consciente, eficaz, responsável e competente.

No entanto, há que ter em conta que a orientação pedagógica é apenas uma das atividades do professor na sua atividade profissional, e com a diminuição do tempo disponível para a prática orientada e uma crescente exigência de profissionais cada vez mais eficientes e capazes, é urgente definir de forma mais precisa os seus papéis e características, aspeto ainda pouco consensual na literatura.

Por conseguinte, é relevante examinar o modo como estas questões, relativas ao PC, estão a ser estudadas. Neste sentido, a presente pesquisa tem como objetivo perscrutar a tipologia dos estudos centrados na figura do PC e nos papéis que lhe estão inerentes.

METODOLOGIA

Dado tratar-se de uma revisão sistemática da literatura, ou seja, um estudo descritivo, bibliográfico e documental, a operacionalização do estudo realizou-se de forma qualitativa. O primeiro passo efetuado foi a construção de uma ficha de pesquisa, tendo como referência Kofinas e Saur-Amaral (2008)KOFINAS, A.; SAUR-AMARAL, I. 25 years of knowledge creation processes in pharmaceutical contemporary trends. Comportamento Organizacional e Gestão, Lisboa, v. 14, n. 2, p. 257-280, 2008., cujo propósito foi sistematizar os critérios de pesquisa da revisão sistemática a efetuar, as palavras-chave (isoladas e em associação) e o âmbito da pesquisa, bem como, definir os critérios de inclusão e exclusão no decorrer da pesquisa. A pesquisa foi aplicada de forma independente por dois investigadores.

Os estudos foram recolhidos nas bases de dados electrónicas (EBSCO e Digital Dissertations & Theses). As palavras-chave utilizadas nas pesquisas foram: "Cooperating Teacher", "Supervision", "Physical Education", "Preservice Teacher", "Teacher Trainers" e "University Supervisor".

Inicialmente, todos os estudos que apresentavam nos resumos uma das palavras-chave foram selecionados para leitura. Contudo, das 130 produções científicas listadas, somente 24 atendiam aos critérios de inclusão: estudos empíricos sobre o perfil do PC, no que respeita aos seus papéis ou características, realizados internacionalmente e em Portugal, quer fossem dissertações académicas, quer fossem artigos peer review. Os critérios de exclusão foram os seguintes: artigos de revisão, artigos de opinião de especialistas e artigos de conferências. Os estudos científicos selecionados para esta revisão compreendem o período de 2000 a 2011.

As 24 produções científicas (Tabela 1) selecionadas compreendem na sua totalidade estudos internacionais, designadamente 22 artigos de revistas peer review e 2 dissertações académicas.

Tabela 1.
Sinopse dos estudos relativos à figura do Professor Cooperante: autores, ano, título, publicação, objectivos e principais conclusões.

Na análise da informação utilizaram-se procedimentos de análise de conteúdo, tendo as categorias sido estabelecidas a priori: i) foco do estudo; ii) ano de publicação; iii) local de publicação; iv) instrumentos; v) objetivos; e vi) principais conclusões (Tabela 1).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na apresentação da pesquisa, resultante dos artigos e dissertações, optou-se por se iniciar pela indicação dos anos de publicação dos estudos e os períodos de maior e menor desenvolvimento da temática, desde o início do século. De seguida, apresentaram-se os locais onde foram realizados os estudos, assim como os instrumentos mais utilizados pelos mesmos. Por fim, analisou-se os principais objectivos e conclusões que os estudos apontavam.

A maior parte dos estudos (18) foram realizados nos últimos 5 anos, o que revela uma crescente relevância das questões relacionadas com a supervisão pedagógica, principalmente na segunda parte da última década. Relativamente aos dois últimos anos, 2010 e 2011, verificaram-se 8 estudos acerca da temática, reforçando a ideia referida.

Como se pode verificar na Tabela 1, todos os estudos pesquisados são oriundos de diversos países, não se identificando nenhum realizado em Portugal.

No que concerne aos instrumentos de recolha de dados, verificou-se que o mais utilizado foi a entrevista, com mais de metade dos estudos (16) a recorrer a esse recurso, sendo que o questionário também foi bastante utilizado (9). Em menor quantidade foram utilizados outros instrumentos, nomeadamente a gravação de reuniões, a observação directa, os diários de bordo e as discussões em grupos focus.

No que diz respeito ao foco de estudo, verificou-se que enquanto alguns estudos se reportaram, direta ou indiretamente, às funções e papéis do PC, outros enunciaram inúmeras considerações acerca das características, capacidades, estilos e modelos do processo supervisivo. Para facilitar a compreensão dos estudos apresentados, consideraram-se apenas os resultados e conclusões que se referem ao tema desta revisão sistemática da literatura.

Importa ainda referir que, ao longo dos estudos foram identificadas várias perspetivas de PC's, de EE's e também de supervisores.

Como se pode constatar pela leitura da Tabela, os papéis e as características do PC têm sido objeto de estudo ao longo do tempo. No entanto, é notória uma preocupação crescente com a formação específica do PC. Até 2006, denota-se o interesse de apenas duas publicações sobre o assunto, mas a partir dessa data identificaram-se mais 6 estudos, o que indicia que as questões relacionadas com a aquisição de competências específicas para o exercício da função, tem vindo a ganhar relevância.

Coeman e Mitchell (2000)COEMAN, M. M.; MITCHELL, M. K. Assessing observation focus and conference targets of cooperating teachers. Journal of Teaching in Physical Education, Champaign, v. 20, n. 1, p. 40-54, 2000., autores do primeiro estudo apresentado, elaboraram uma estratégia para avaliar as capacidades do PC, enquanto orientador do processo supervisivo. Esta estratégia facilitou a identificação de semelhanças e diferenças entre vários PC's, possibilitando, por exemplo, discriminar dois grupos de PC's com diferentes formações. Neste estudo, verificou-se que os PC's com formação específica realizaram correções e recomendações de forma mais objetiva e fundamentada que os restantes, que não possuíam qualquer tipo de formação para a atividade. Outros autores, como Anderson (2007)ANDERSON, D. L. The role of cooperating teachers' power in student teaching. Education, Alabama, v. 128, n. 2, p. 307-323, 2007., Graves (2007)GRAVES, S. L. Influences on preservice teachers' beliefs about family involvement and cultural diversity: an exploration of mentoring relationships. 2007, 220f. Dissertation (Doctoral Degree in Philosophy)-Graduate Programs in Curriculum and Instruction, Pennsylvania State University, Pennsylvania, 2007., Kahan (2002)KAHAN, D. Development and evaluation of a screening instrument for cooperating teachers. The Teacher Educator, Muncie, v. 38, n. 1, p. 63-77, 2002., Killian e Wilkins (2009)KILLIAN, J. E.; WILKINS, E. A. Characteristics of highly effective cooperating teachers: a study of their backgrounds and preparation. Action in Teacher Education, Lanham, v. 30, n. 4, p. 67-83, 2009., Lu (2010)LU, H. L. Building a rationale for cooperating teacher training: a phenomenological study. National Teacher Education Journal, Meridian, v. 3, n. 2, p. 23-41, 2010. e Murphy (2010)MURPHY, K. L. Perceptions of the student teaching triad: an inquiry into relationships and supervision. Asian Journal of Physical Education & Recreation, Kowloon, v. 16, n. 1, p. 53, 2010. partilham este ideal de 'formação especializada na orientação pedagógica', acrescentando ainda que seria benéfico para os PC's uma formação ao nível da sua familiarização com os conteúdos, instrumentos e procedimentos mais utilizados na supervisão. De facto, como referem Killian e Wilkins (2009)KILLIAN, J. E.; WILKINS, E. A. Characteristics of highly effective cooperating teachers: a study of their backgrounds and preparation. Action in Teacher Education, Lanham, v. 30, n. 4, p. 67-83, 2009., a associação mais profunda para níveis altos de eficiência como PC, tem a ver com uma formação específica para ser orientador. Essa ideia fica bem patente nos resultados do estudo que ambos realizaram, em que os PC's com uma formação especializada em liderança educacional apresentaram melhores índices de eficiência. Também Lu (2010)LU, H. L. Building a rationale for cooperating teacher training: a phenomenological study. National Teacher Education Journal, Meridian, v. 3, n. 2, p. 23-41, 2010. partilha desta ideia, afirmando mesmo que os PC's deverão desenvolver um conhecimento acerca da monitorização, acrescentando ainda a necessidade da existência de uma plataforma para poder comunicar e um espaço para resolução de problemas.

Graves (2007)GRAVES, S. L. Influences on preservice teachers' beliefs about family involvement and cultural diversity: an exploration of mentoring relationships. 2007, 220f. Dissertation (Doctoral Degree in Philosophy)-Graduate Programs in Curriculum and Instruction, Pennsylvania State University, Pennsylvania, 2007. vai mais longe, ao referir que a formação específica deveria ser um requisito da atividade, de forma a melhor potenciar as capacidades dos EE's e dos PC's.

No estudo de Glenn (2006)GLENN, W. J. Model versus mentor: defining the necessary qualities of the effective cooperating teacher. Teacher Education Quarterly, San Francisco, v. 33, n. 1, p. 85-95, 2006. pesquisou-se as qualidades fundamentais que devem modelar os PC's, e o autor constatou que o fornecimento de um feedback construtivo, a partilha de conhecimentos e ideias, a permissividade e a capacidade de criar um ambiente de trabalho positivo, são os aspetos fundamentais evidenciados. Afirma, ainda, que os PC's não devem ficar relutantes em dar liberdade de iniciativa aos EE's mas que o excesso de permissividade não é de todo aconselhável, uma vez que os futuros professores ainda não estão preparados para assumir essa responsabilidade.

O estudo de Busby e Mupinga (2007)BUSBY, J. R.; MUPINGA, D. M. Requirements, benefits, and concerns of technology education cooperating teachers: an exploratory study among nine Midwest Universities. The entity from which ERIC acquires the content, including journal, organization, and conference names, or by means of online submission from the author. Journal of Technology Studies, Ohio, v. 33, n. 2, p. 79-86, 2007. apresentou os mesmos resultados que o autor anterior, acrescentando apenas que o PC deve assumir o papel de modelo para o EE. Já O'Brian, Stoner e Appel (2007)O'BRIAN, M.; STONER, J.; APPEL, K. The first field experience: perspectives of preservice and cooperating teachers. Teacher Education and Special Education, Lawrence, v. 30, n. 4, p. 264-275, 2007. salientam que os papéis de ambos os intervenientes - PC's e EE's - devem estar pormenorizadamente especificados, para que cada um se desenvolva, maximizando o seu crescimento.

Sağ (2008)SAĞ, R. The expectations of student teachers about cooperating teachers, supervisors and practice schools. Egitim Arastirmalari-Eurasian Journal of Educational Research, Ankara, v. 8, n. 32, p. 117-132, 2008. destacou ainda o papel fundamental de moderador que um PC deve desempenhar, pela sua importância para a estabilidade emocional do EE, permitindo-lhe desenvolver naturalmente as suas capacidades. Na mesma linha de pensamento, Duffield (2006)DUFFIELD, S. K. Safety net or free fall: the impact of cooperating teacher. Teacher Development, Philadelphia, v. 10, n. 2, p. 167-178, 2006., Gervais e Portelance (2009)GERVAIS, C. L.; PORTELANCE, L. Analysis of the dynamics of the sharing knowledge between cooperating teacher and teacher-in-training: The partners' respective roles. US-China Education Review, Illinois, v. 6, n. 6, p. 71-80, 2009. afirmam que os PC's mais hospitaleiros, que permitirem um relacionamento na base da confiança e partilha, proporcionam aos EE's as melhores e mais bem-sucedidas experiências, reforçando a ideia de um profissional moderador e apaziguador.

Mais recentemente, Koç (2011)KOÇ, E. M. Development of mentor teacher role inventory. European Journal of Teacher Education, Philadelphia, v. 34, n. 2, p. 193-208, 2011. realizou um estudo para desenvolver e investigar a validade e confiabilidade de um Inventário das Funções do PC (IFPC). Este autor chegou a resultados similares aos evidenciados na literatura, aumentando o grau de confiança e fiabilidade do questionário. A orientação na componente prática de ensino, a orientação no estabelecimento de relações com a comunidade educativa, o fornecimento de apoio moral e a emissão construtiva de feedback são algumas das funções evidenciadas por este estudo.

Outros autores abordam as questões envoltas ao perfil do PC, sob o ponto de vista da sua das suas motivações, conceções e perspetivas. Wesmer e Woods (2003)WESMER, J.; WOODS, A. M. Mentoring: Professional development through reflection. The Teacher Educator, Muncie, v. 39, n.1, p. 64-76, 2003. reflectem acerca da importância do estágio pedagógico e na consciencialização de benefícios de parte a parte, do EE e do PC. Os professores investigados neste estudo, após iniciarem a função de orientação, revelaram um ponto de vista muito mais reflexivo, na abordagem à prática pedagógica. Os inquiridos do estudo de Spencer (2007)SPENCER, T. L. Cooperating teaching as a professional development activity. Journal of Personnel Evaluation in Education, New York, v. 20, n. 3-4, p. 211-226, 2007. revelaram que o EP pode tornar-se numa janela de oportunidade, na medida em que este proporciona a aquisição de novos conhecimentos ao nível do conteúdo, uma compreensão mais pormenorizada de uma disciplina académica, assim como a possibilidade de aprender diferentes abordagens ao nível do ensino. Isto remete para um ideal de formação contínua, característica fundamental no perfil de competências de um PC eficiente e eficaz.

Os PC's parecem, ainda, ter uma conceção muito generalista relativamente às suas funções e papéis. Esta ideia consubstancia-se nos estudos de Damar e Gursoy (2011)DAMAR, E. A.; GÜRSOY, E. Cooperating teachers' awareness about their role during the teaching practice course: the Turkish context. Journal of New World Sciences Academy, Elazig, v. 6, n. 1, p. 54-65, 2011., que constatam que os PC's têm uma concepção muito limitada sobre as suas funções no EP. Segundo os autores, existe uma grande discordância entre o modo como os PC's idealizam a sua contribuição para o processo, com a que eles contribuem na realidade, assim como existe uma disparidade entre o que eles pensam ser a cooperação ideal para com os EE's e a que efetivamente parecem prestar.

CONCLUSÕES

Os dados indicam que a supervisão pedagógica tem vindo a ser alvo de inúmeros estudos, particularmente nos últimos cinco anos, dado que grande parte dos estudos retratados é datada a partir do ano de 2006. Dos instrumentos utilizados destaca-se a entrevista, pese embora o questionário, também tenha sido um instrumento bastante utilizado nas últimas investigações.

As evidências encontradas sugerem que a generalidade dos estudos se reportou aos papéis e características do PC. Note-se, no entanto, que apesar de haver consistência ao nível dos resultados, com muitos autores a referir o estabelecimento de relações de partilha, de colaboração, de interação e acompanhamento constante, e atribuírem ao PC o papel de mentor, moderador e confidente, outras problemáticas parecem levantar-se.

A formação especializada revelou-se uma questão de relevo para a ação dos PC's, ao longo desta década, na medida em que estes profissionais, mais capacitados, apresentaram melhores resultados ao nível da orientação. Um dos autores, Graves (2007)GRAVES, S. L. Influences on preservice teachers' beliefs about family involvement and cultural diversity: an exploration of mentoring relationships. 2007, 220f. Dissertation (Doctoral Degree in Philosophy)-Graduate Programs in Curriculum and Instruction, Pennsylvania State University, Pennsylvania, 2007., considerou que esta especialização deveria fazer parte do reportório de competências profissionais dos PC's, de forma a elevar a qualidade da formação dos EE's. Revela-se pertinente, portanto, aprofundar esta questão, uma vez que todo o processo supervisivo está sustentado num ideal de formação contínua.

É, sem dúvida alguma, importante haver continuidade no estudo desta área, uma vez que algumas questões também se têm levantado em torno das funções do PC. Na realidade, saliente-se o estudo de Damar e Gursoy (2011)DAMAR, E. A.; GÜRSOY, E. Cooperating teachers' awareness about their role during the teaching practice course: the Turkish context. Journal of New World Sciences Academy, Elazig, v. 6, n. 1, p. 54-65, 2011., no qual se constatou que os PC's revelaram dificuldade em definir concretamente as suas funções no contexto de estágio, assim como apresentaram alguma incerteza sobre os benefícios do seu trabalho enquanto PC. Koç (2011)KOÇ, E. M. Development of mentor teacher role inventory. European Journal of Teacher Education, Philadelphia, v. 34, n. 2, p. 193-208, 2011. vem, em parte, responder a este apelo ao desenvolver um inventário que carateriza, de forma discriminada, as funções do PC.

Em síntese, é visível que apesar de todo o investimento da pesquisa na área da supervisão, a caracterização do perfil do PC ainda carece de uma delimitação superior da sua configuração. Por conseguinte, é importante que se continue, cada vez mais, a desenvolver estudos que procurem especificar de forma concreta os seus papéis, funções e características, de modo a que esta atividade, que é de extrema importância no processo formativo do futuro profissional da docência, se reconfigure e reestruture.

REFERÊNCIAS

  • ALARCÃO, I. S. T. Formação reflexiva de professores: estratégias de supervisão. Porto: Porto Editora, 1996.
  • ALBUQUERQUE, A. A. C.; GRAÇA, A. B. S.; JANUÁRIO, J. C. A supervisão pedagógica em educação física: a perspectiva do orientador de estágio. Lisboa: Livros Horizonte, 2005.
  • ANDERSON, D. L. The role of cooperating teachers' power in student teaching. Education, Alabama, v. 128, n. 2, p. 307-323, 2007.
  • BATISTA, P. M. F.; PEREIRA, A. L. T. N.; GRAÇA, A. B. S. A. (Re) configuração da identidade profissional no espaço formativo do estágio profissional. In: NASCIMENTO, J. V.; FARIAS, G. F. (Org.). Construção da identidade profissional em educação física: da formação à intervenção. Florianopolis: UDESC, 2012. v. 2. p. 81-111.
  • BELTON, S. J.; WOODS, C.; DUNNING, C.; MEEGAN, S. The evaluation of a Cooperating Physical Education Teachers Programme (COPET). European Physical Education Review, Chester, v. 16, n. 2, p. 141-154, 2010.
  • BUSBY, J. R.; MUPINGA, D. M. Requirements, benefits, and concerns of technology education cooperating teachers: an exploratory study among nine Midwest Universities. The entity from which ERIC acquires the content, including journal, organization, and conference names, or by means of online submission from the author. Journal of Technology Studies, Ohio, v. 33, n. 2, p. 79-86, 2007.
  • COEMAN, M. M.; MITCHELL, M. K. Assessing observation focus and conference targets of cooperating teachers. Journal of Teaching in Physical Education, Champaign, v. 20, n. 1, p. 40-54, 2000.
  • DAMAR, E. A.; GÜRSOY, E. Cooperating teachers' awareness about their role during the teaching practice course: the Turkish context. Journal of New World Sciences Academy, Elazig, v. 6, n. 1, p. 54-65, 2011.
  • DUFFIELD, S. K. Safety net or free fall: the impact of cooperating teacher. Teacher Development, Philadelphia, v. 10, n. 2, p. 167-178, 2006.
  • GERVAIS, C. L.; PORTELANCE, L. Analysis of the dynamics of the sharing knowledge between cooperating teacher and teacher-in-training: The partners' respective roles. US-China Education Review, Illinois, v. 6, n. 6, p. 71-80, 2009.
  • GLENN, W. J. Model versus mentor: defining the necessary qualities of the effective cooperating teacher. Teacher Education Quarterly, San Francisco, v. 33, n. 1, p. 85-95, 2006.
  • GOODNOUGH, K.; OSMOND, P.; DIBBON, D.; GLASSMAN, M.; STEVENS, K. Exploring a triad model of student teaching: pre-service teacher and cooperating teacher perception. Teaching and Teacher Education, Orlando, v. 25, n. 2, p. 285-296, 2009.
  • GRAVES, S. L. Influences on preservice teachers' beliefs about family involvement and cultural diversity: an exploration of mentoring relationships. 2007, 220f. Dissertation (Doctoral Degree in Philosophy)-Graduate Programs in Curriculum and Instruction, Pennsylvania State University, Pennsylvania, 2007.
  • KAHAN, D. Development and evaluation of a screening instrument for cooperating teachers. The Teacher Educator, Muncie, v. 38, n. 1, p. 63-77, 2002.
  • KILLIAN, J. E.; WILKINS, E. A. Characteristics of highly effective cooperating teachers: a study of their backgrounds and preparation. Action in Teacher Education, Lanham, v. 30, n. 4, p. 67-83, 2009.
  • KOÇ, E. M. Development of mentor teacher role inventory. European Journal of Teacher Education, Philadelphia, v. 34, n. 2, p. 193-208, 2011.
  • KOFINAS, A.; SAUR-AMARAL, I. 25 years of knowledge creation processes in pharmaceutical contemporary trends. Comportamento Organizacional e Gestão, Lisboa, v. 14, n. 2, p. 257-280, 2008.
  • LANDT, S. M. Cooperating teachers and professional development. Educational Resources Information Center, Lanham, v. 41, n. 1, p. 1-39, 2002.
  • LAVE, J.; WENGER, E. Situated learning: legitimate peripheral participation. Cambridge: Cambridge University Press, 1991.
  • LU, H. L. Building a rationale for cooperating teacher training: a phenomenological study. National Teacher Education Journal, Meridian, v. 3, n. 2, p. 23-41, 2010.
  • McCULLICK, B. A. Practitioners' perspectives on values, knowledge, and skills needed by PETE participants. Journal of Teaching in Physical Education, Champaign, v. 21, n. 1, p. 35-56, 2001.
  • MURPHY, K. L. Perceptions of the student teaching triad: an inquiry into relationships and supervision. Asian Journal of Physical Education & Recreation, Kowloon, v. 16, n. 1, p. 53, 2010.
  • O'BRIAN, M.; STONER, J.; APPEL, K. The first field experience: perspectives of preservice and cooperating teachers. Teacher Education and Special Education, Lawrence, v. 30, n. 4, p. 264-275, 2007.
  • RAJUAN, M. S. R. A.; BEIJAARD, D.; VERLOOP, N. The role of the cooperating teacher: bridging the gap between the expectations of cooperating teachers and student teachers. Mentoring & Tutoring, Texas, v. 15, n. 3, p. 223-242, 2007.
  • SAĞ, R. The expectations of student teachers about cooperating teachers, supervisors and practice schools. Egitim Arastirmalari-Eurasian Journal of Educational Research, Ankara, v. 8, n. 32, p. 117-132, 2008.
  • SINCLAIR, C.; DOWSON, M.; THISTLETON-MARTIN, J. Motivations and profiles of cooperating teachers: Who volunteers and why? Teaching and Teacher Education, Stanford, v. 22, n. 3, p. 263-279, 2006.
  • SPENCER, T. L. Cooperating teaching as a professional development activity. Journal of Personnel Evaluation in Education, New York, v. 20, n. 3-4, p. 211-226, 2007.
  • TAYLOR, P. D. M. Perspectives of teacher education graduates about their cooperating teachers during preservice placements. 2004. 139f. Dissertation (Doctoral Degree in Education)-Department of educational leadership and policy analysis, East Tennessee State University, Johnson City, 2004.
  • WESMER, J.; WOODS, A. M. Mentoring: Professional development through reflection. The Teacher Educator, Muncie, v. 39, n.1, p. 64-76, 2003.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Apr-Jun 2014

Histórico

  • Recebido
    07 Dez 2012
  • Revisado
    08 Abr 2014
  • Aceito
    03 Maio 2014
Universidade Estadual de Maringá Avenida Colombo, 5790, 87020-900 Maringá - PR, Tel.: (55 44) 3011 4470 - Maringá - PR - Brazil
E-mail: revdef@uem.br