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Celso Furtado

Celso Furtado

Com a morte de Celso Furtado (1920-2004), desaparece o terceiro e último patrono da Revista de Economia Política, que, desde seu lançamento em 1981, o teve nesta qualidade, ao lado de Caio Prado Jr. e Ignácio Rangel. Ao estabelecer estes três patronos, o Conselho de Direção da Revista de Economia Política queria acentuar o caráter histórico e crítico da sua orientação editorial. Queria também homenagear um grande historiador econômico e dois notáveis economistas, que iluminaram a compreensão da realidade brasileira.

Celso Furtado escreveu obras fundamentais, como Formação Econômica do Brasil (1959) e Desenvolvimento e Subdesenvolvimento (1961), que o inscreveram entre os grandes economistas mundiais que nos anos 1940 e 50 criaram a nova teoria do desenvolvimento. Teve uma participação decisiva, juntamente com Raul Prebisch, na formulação da teoria estruturalista latino-americana. Elaborou uma teoria original do subdesenvolvimento, distinguindo-o do mero atraso. Contribuiu para estabelecer as bases do planejamento econômico indicativo que se realizou no Brasil com grande êxito entre os anos 1950 e 70. Colaborou com o grupo do Iseb no estabelecimento das bases teóricas de uma política nacional-desenvolvimentista para o Brasil e a América Latina. Fundou a Sudene, elaborando então um plano inovador para corrigir as diferenças regionais no Brasil. Ministro do Planejamento em um momento de absoluta crise política, em 1963, produziu um plano austero de estabilização, o Plano Trienal, que não foi implementado. Exilado, continuou no exterior seu trabalho teórico e sua análise crítica da economia brasileira. Dialética do Desenvolvimento (1964), Subdesenvolvimento e Estagnação da América Latina (1966) e O Mito do Desenvolvimento (1974) são três livros fundamentais dessa fase.

De volta ao Brasil, depois de uma passagem pelo governo Sarney, no qual já não lhe atribuíram funções na área econômica, foi aos poucos se transformando na consciência crítica das novas administrações econômicas que, a partir de 1990, impuseram ao Brasil o credo neoliberal. Foi um período em que Furtado foi quase esquecido. Foi também o momento que aproveitou para escrever uma notável série de livros auto-biográficos, a partir de A Fantasia Organizada (1985). Para muitos era um economista do passado, um nacionalista no tempo da globalização e do globalismo, um desenvolvimentista nos tempos dos mercados livres e da ortodoxia convencional...

Entretanto, mais recentemente, diante do fracasso da ideologia globalista em restabelecer o equilíbrio macroeconômico no país e retomar o desenvolvimento, os brasileiros voltaram a lembrar de Furtado, e começaram as homenagens e o reconhecimento. Isto, porém, não o impediu de continuar a produzir, e analisar o Brasil e o mundo. Seu último livro, Em Busca de Novo Modelo (2002), obrigou-nos a refletir de forma crítica sobre os problemas do Brasil, a partir de um dos seus temas centrais: a tendência das elites brasileira de copiar os padrões de consumo do centro. Ora, esta busca ansiosa de reprodução de padrões de consumo vai determinar as duas tendências centrais das economias periféricas: (1) a propensão ao endividamento externo e (2) a propensão à concentração social da renda.

Neste número, publicamos, na seção de documentos, alguns dos principais artigos publicados quando da morte deste notável brasileiro, que tanto honrou o pensamento econômico nacional.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Set 2005
  • Data do Fascículo
    Abr 2005
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