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Relationships and interactions in healthy process to be an adolescent

Relaciones e interacciones en adolecer saludable

Relacionamentos e interações no adolescer saudável

Abstracts

The purpose of this study is to explore how teenagers view the relationships and interactions in the process of healthily becoming an adolescent. This qualitative exploratory research was conducted with ten teenagers in a state college in a town in southern Rio Grande do Sul, Brazil, from August to October, 2007. We used semi-structured interviews to collect the data. Later, we decided to use a thematic analysis, in which two themes emerged: (1) the process of building relationships and interactions in adolescence and (2) the risk in social life. As a result, we realized the importance of interpersonal relationships formed in adolescence, which deserve the nurse’s attention. Nurses can help in the guiding of this population in basic health units, hospitals or schools, to a healthy adolescence. Thus, teenagers may enjoy the relationships built in this process in order to grow and to enter into adulthood.

Adolescent's health; Interpersonal relations; Social perception


Este estudio tuvo como objetivo conocer las relaciones e interacciones en el proceso de adolecer saludable. Este fue un estudio de tipo cualitativo exploratorio, realizado con diez adolescentes en uno colegió estadual del ciudad en el sur de Rio Grande do Sul, Brasil, durante los meses de agosto a octubre de 2007. Para recopilar los datos, utilizamos entrevistas semi-estructuradas. Posteriormente, se decidió por el análisis temático, en la que surgieron dos temas: el proceso de construcción de las relaciones e interacciones en la adolescencia y el riesgo en la vida social. Por lo tanto, se percibió la importancia de las relaciones interpersonales forman durante la adolescencia, digna de atención del enfermero, que puede ayudar en la orientación de esta población en unidades básicas de salud, hospitales o en las escuelas, a la adolescencia saludable. Y así, los jóvenes pueden disfrutar de los vínculos construidos para crecer y para entrar en la edad adulta.

Salud del adolescente; Relaciones interpersonales; Percepción social


Este estudo teve como objetivo conhecer a percepção de adolescentes acerca dos relacionamentos e interações no processo de adolescer saudável. Tratou-se de uma pesquisa qualitativa do tipo exploratória, realizada com dez adolescentes em um colégio estadual de uma cidade no sul do Rio Grande do Sul, durante os meses de agosto a outubro de 2007. Para a coleta dos dados, foram utilizadas entrevistas semi-estruturadas. Posteriormente, optou-se pela análise temática, na qual emergiram dois temas: o processo de construção dos relacionamentos e interações no adolescer e riscos presentes no convívio social. Frente a isso, percebeu-se a importância das relações interpessoais formadas na adolescência merecendo atenção do enfermeiro, que pode colaborar na orientação dessa população seja, nas Unidades Básicas de Saúde, hospitais ou no ambiente escolar, a adolescerem de maneira saudável. Assim, os adolescentes poderão aproveitar os vínculos construídos para crescerem e firmarem-se na fase adulta.

Saúde do adolescente; Relações interpessoais; Percepção social


ARTIGO ORIGINAL

Relacionamentos e interações no adolescer saudávela a Artigo extraído da dissertação de Mestrado apresentada em 2008 ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande (FURG).

Relaciones e interacciones en adolecer saludable

Relationships and interactions in healthy process to be an adolescent

Adelita Campos AraújoI; Valeria Lerch LunardiII; Rosemary Silva da SilveiraIII; Maira Buss ThofehrnIV; Adrize Rutz PortoV

IMestre em Enfermagem pela FURG, Rio Grande, Rio Grande do Sul, Brasil

IIDoutora em Enfermagem, Professora da Faculdade de Enfermagem da FURG, Rio Grande, Rio Grande do Sul, Brasil

IIIDoutora em Enfermagem, Professora da Faculdade de Enfermagem da FURG, Rio Grande, Rio Grande do Sul, Brasil

IVDoutora em Enfermagem, Professora da Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil

VMestranda em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia da UFPel, Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil

Endereço da autora Endereço da autora: Adelita Campos Araújo Rua Rafael Pinto Bandeira, 944, Areal 96080-150, Pelotas, RS E-mail: adelitacam@hotmail.com

RESUMO

Este estudo teve como objetivo conhecer a percepção de adolescentes acerca dos relacionamentos e interações no processo de adolescer saudável. Tratou-se de uma pesquisa qualitativa do tipo exploratória, realizada com dez adolescentes em um colégio estadual de uma cidade no sul do Rio Grande do Sul, durante os meses de agosto a outubro de 2007. Para a coleta dos dados, foram utilizadas entrevistas semi-estruturadas. Posteriormente, optou-se pela análise temática, na qual emergiram dois temas: o processo de construção dos relacionamentos e interações no adolescer e riscos presentes no convívio social. Frente a isso, percebeu-se a importância das relações interpessoais formadas na adolescência merecendo atenção do enfermeiro, que pode colaborar na orientação dessa população seja, nas Unidades Básicas de Saúde, hospitais ou no ambiente escolar, a adolescerem de maneira saudável. Assim, os adolescentes poderão aproveitar os vínculos construídos para crescerem e firmarem-se na fase adulta.

Descritores: Saúde do adolescente. Relações interpessoais. Percepção social.

RESUMEN

Este estudio tuvo como objetivo conocer las relaciones e interacciones en el proceso de adolecer saludable. Este fue un estudio de tipo cualitativo exploratorio, realizado con diez adolescentes en uno colegió estadual del ciudad en el sur de Rio Grande do Sul, Brasil, durante los meses de agosto a octubre de 2007. Para recopilar los datos, utilizamos entrevistas semi-estructuradas. Posteriormente, se decidió por el análisis temático, en la que surgieron dos temas: el proceso de construcción de las relaciones e interacciones en la adolescencia y el riesgo en la vida social. Por lo tanto, se percibió la importancia de las relaciones interpersonales forman durante la adolescencia, digna de atención del enfermero, que puede ayudar en la orientación de esta población en unidades básicas de salud, hospitales o en las escuelas, a la adolescencia saludable. Y así, los jóvenes pueden disfrutar de los vínculos construidos para crecer y para entrar en la edad adulta.

Descriptores: Salud del adolescente. Relaciones interpersonales. Percepción social.

ABSTRACT

The purpose of this study is to explore how teenagers view the relationships and interactions in the process of healthily becoming an adolescent. This qualitative exploratory research was conducted with ten teenagers in a state college in a town in southern Rio Grande do Sul, Brazil, from August to October, 2007. We used semi-structured interviews to collect the data. Later, we decided to use a thematic analysis, in which two themes emerged: (1) the process of building relationships and interactions in adolescence and (2) the risk in social life. As a result, we realized the importance of interpersonal relationships formed in adolescence, which deserve the nurse’s attention. Nurses can help in the guiding of this population in basic health units, hospitals or schools, to a healthy adolescence. Thus, teenagers may enjoy the relationships built in this process in order to grow and to enter into adulthood.

Descriptors: Adolescent's health. Interpersonal relations. Social perception.

INTRODUÇÃO

O processo de adolescer é complexo por envolver diferentes contextos de convívio social como em ambientes escolares, familiares, entre outros, nos quais os adolescentes se relacionam e interagem. Deste modo, para desenvolver um processo de adolescer saudável é necessário conhecer as situações adversas que se apresentam ao adolescente na vida social, para assim, oferecer apoio a estes no enfrentamento de dificuldades, tais como: altas taxas de doença sexualmente veiculadas, índices significativos de violência e abuso de substâncias psicoativas, suicídio ou danos intencionais, complicações na gravidez, entre outros(1).

Frente à realidade social que o adolescente se depara, é preciso planejar políticas e programas de saúde pública desenvolvendo ações integradas, que propiciem ao enfermeiro refletir acerca do seu fazer diante da assistência específica a esse grupo etário. Para assegurar tal propósito, salienta-se a importância e necessidade de estudos que compreendam os relacionamentos e interações dos adolescentes no meio social para, desta forma, subsidiar o conhecimento dos profissionais de saúde a efetivamente assistir e elaborar ações voltadas ao bem-estar e desevolvimento de um processo de adolescer saudável desta população. Nesse sentido, é preciso buscar preencher lacunas deixadas muitas vezes em experiências importantes na família e escola. Logo, a questão que norteou o estudo foi: Qual é a percepção dos adolescentes acerca dos relacionamentos e interações no processo de adolescer saudável?

Assim, este estudo objetivou conhecer a percepção de adolescentes acerca dos relacionamentos e interações no processo de adolescer saudável.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo exploratório com abordagem qualitativa, desenvolvido com adolescentes entre 12 e 18 anos de um colégio estadual localizado no Sul do Rio Grande do Sul. Os sujeitos do estudo foram 10 alunos que demonstraram disponibilidade em participar da proposta e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, juntamente com seu responsável legal. Como instrumento de pesquisa, fez-se uso de entrevistas semi-estruturadas realizadas junto aos adolescentes, tendo o número de sujeito determinados pela saturação dos dados(2).

As questões que nortearam a entrevista foram: O que é adolescência pra ti? Como está sendo vivenciar esse período? O que é saúde pra ti? O que é ser um adolescente saudável? E não ser um adolescente saudável? Achas que o adolescente tem algum tipo de dificuldade nesse período da vida? Quais? Na tua opinião que aspecto(s) positivo(s) tem o período da adolescência? E qual aspecto(s) negativo(s)? O que tu fazes quando te sentes sem saúde? Que profissionais costuma recorrer quando estás doente?

Os entrevistados foram identificados por nomes fictícios escolhidos pelas autoras lhes garantindo anonimato. A coleta dos dados aconteceu entre os meses de agosto a outubro de 2007.

Os procedimentos de análise e interpretação dos dados realizaram-se sob forma de análise temática(3). Os dados foram gravados, transcritos, ordenados, classificados e analisados. Da apreciação realizada emergiram os temas: o processo de construção dos relacionamentos e interações no adolescer e riscos presentes no convívio social. O desenvolvimento do estudo obedeceu aos preceitos éticos segundo a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde(4) e o projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa na Área da Saúde (CEPAS) da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) sob o parecer nº 30/2007.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dados, que surgiram nas entrevistas realizadas com os adolescentes, foram discutidos nos seguintes temas: o processo de construção dos relacionamentos e interações no adolescer e riscos presentes no convívio social.

O processo de construção dos relacionamentos e interações no adolescer

Para um adolescer saudável, é imprescindível manter relações interpessoais favoráveis. Já que vivemos num estado de interdependência, precisamos dos outros para confirmar nossa existência(5). No entanto, viver um adolescer saudável, pode variar de uma circunstância para outra, tanto em relação às condições sociais, como às individuais.

Neste sentido, interagir com os amigos e familiares pode favorecer a busca de um adolescer saudável. Para tanto, os adolescentes enfocam a importância da proximidade dos seus pais nas relações que estabelecem com os amigos, como se verifica na fala a seguir:

[...] jogar futsal [...] fazer lanche [...] com os pais da minha amiga, ia pra camping [...], ia tomar banho de piscina [...] ir pra pizzaria, ir ao cinema [...] eu sou amiga de todas, os pais das minhas amigas também são dos meus pais (Princesa).

Percebemos, através do relato mencionado, que "a oportunidade para estabelecer relações íntimas é certamente à razão porque as amizades têm tanta importância e ocupam tempo na vida dos adolescentes"(6). Quando a turma de adolescentes vai para a casa de algum amigo, é um sinal positivo para o adolescente que mora na casa e para a sua família. Demonstra uma boa aceitação tanto dos residentes como dos amigos que vão até lá, podendo significar a possibilidade de proteção contra a violência que tanto faz parte da nossa vida, imperando nas ruas de médias e grandes cidades. Essa família não perde seu adolescente e ganha seus amigos, que necessitam da proximidade de um adulto auxiliando-o, sem estabelecer modelos ou condutas(7). Isso pode ajudar os pais no sentido de visualizarem melhor a vida de seus filhos adolescentes, podendo avaliar mais proximamente questões relacionadas a drogas, bebidas alcoólicas, sexualidade dentre outros.

Neste processo de construção de relacionamentos em que questões relacionadas ao exercício da sexualidade estão tão presentes, os adolescentes vêem-se diante de algumas escolhas importantes a fazer: Quem eleger para conversar sobre sexualidade e dividir seus assuntos pessoais? Ficar ou não ficar com alguém? Em que momento experenciar a primeira relação sexual? Percebemos que os adolescentes se dispõem a conversar com familiares, amigos, namorado, mas podem apresentar certo desconforto em falar com sua mãe sobre tais assuntos:

Com quem eu mais converso é com as gurias. A mãe até queria que eu fosse mais aberta. Eu só não me sinto bem falando com ela, não por medo que eu não falo, porque ela quer que eu fale sobre tudo, mas eu não gosto (Bela).

Esse é um aspecto a ser analisado, pois a família juntamente com a escola, e especialmente, a primeira, são instituições importantes na constituição dos adolescentes e podem não estar abordando de um modo adequado, temas de extrema relevância para a sua construção pessoal. Sem este acolhimento, eles buscam auxílio junto a seus pares, pois "na adolescência, os indivíduos desenvolvem-se psicologicamente, compartilhando pensamentos e sentimentos com as pessoas com quem têm algo em comum"(6).

Quando o adolescente não se sente seguro para conversar com seus pais ou responsáveis sobre determinados assuntos, pode ocorrer o conhecido namoro às escondidas. Daí a importância da aproximação dos pais com seus filhos, mostrando-se disponíveis para diálogos e, principalmente, não se apresentando de um modo defensivo, ou seja, muitos adolescentes referem, até, medo de se aproximar dos pais e de conversar determinados temas, pois temem sua reação frente ao assunto exposto.

Diante a esse novo contexto no qual o adolescente encontra-se envolvido, geralmente a reação dos pais é que vai determinar o comportamento que o adolescente vai adotar(7). Muitos pais de adolescentes foram educados em um ambiente de repressão para com as manifestações sexuais. Seus pais preferiam não tocar no tema e, na escola, professores de biologia se restringiam a apresentar apenas a função reprodutiva dos órgãos sexuais, sem discutir suas funções na vivência sexual de um indivíduo.

Esta relação pode prejudicar o desenvolvimento do adolescente, que se vê sozinho, sem saber em quem se amparar em momentos conflitantes e decisivos, próprios da fase que está vivenciando. É preciso que os pais estejam atentos às novidades no meio adolescente, atualizando-se, procurando estar próximo das relações dos seus filhos e acompanhá-los nas suas atividades com amigos ou conhecer a família destes, lendo revistas que abordem assuntos discutidos entre os adolescentes, acessando a internet como meio de comunicação, pois os adolescentes costumam relacionar-se bastante através deste. Essas atitudes podem ajudar na conquista da confiança dos filhos em relação aos pais, o que facilitará o estabelecimento de um diálogo que realmente colabore com o seu desenvolvimento.

Ainda que seja indispensável pontuar questões sexuais em casa, hoje, muitos pais parecem buscar maneiras de como fazer isso. A repressão impossibilita a discussão aberta sobre sexualidade, já que sua abordagem depende da maneira como cada um enfrenta a sua própria sexualidade. Logo, como responsáveis pelo desenvolvimento de cidadãos, as escolas, as famílias e a sociedade necessitam assegurar a orientação, discussão e informação acerca de vários temas, inclusive da sexualidade(8).

A comunicação entre os membros da família se torna peça fundamental para potencializar e auxiliar o estabelecimento de relações mais satisfatórias e saudáveis(9). É preciso acompanhar de perto o desenvolvimento do adolescente, somente intervindo quando percebemos que algo não está indo bem, da mesma maneira que fazemos com a saúde orgânica. A tarefa dos pais é estar com eles e não, contra eles, falar com eles e não deles. Não devemos adotar condutas rígidas, mas acompanhá-los, lado a lado, nem muito atrás, pois podemos não conseguir acompanhá-los, nem muito à frente, porque podemos não ser um bom guia.

Devemos ter em mente a possibilidade dos pais serem considerados desnecessários, em algumas ocasiões. Os filhos não se constituem em propriedade dos pais. Os pais precisam deixar seus filhos, errarem, correrem, sofrerem e caírem, pois esses são aprendizados indispensáveis para os filhos saberem realizar escolhas na vida(10). Para que se tornem seguros e independentes, é necessário que os adolescentes busquem se aventurar. Isso não significa o desligamento emocional com seus pais, mas que os adolescentes já estão sendo mais independentes deles, isto é, possuem maior autonomia nas suas escolhas acerca da vida.

Em compensação, ter uma mãe liberal foi outro aspecto destacado como relevante neste estudo. Foi apontada não apenas aquela mãe que proporciona liberdade e diálogo, como também a maneira que o adolescente encara essa situação de liberdade:

Minha mãe não é presa, é liberal [...] ah, às vezes eu fico com vergonha, mas depois passa, porque quem é que vai saber? Tem que ser a minha mãe pra saber. [...] Porque, se tu vai fazer sem orientação nenhuma, o que vai acontecer? Tu vai ficar grávida, ou não vai saber de nada, muitas aí que estão, nem sabem, porque geralmente não têm o apoio da mãe ou outras pessoas falam que não vai dar nada; tem que ter sempre o apoio de alguém (Fada).

Ao referir-se à "mãe liberal", veicula a idéia de uma mãe que respeita a liberdade de sua filha, o que pode ser entendido como a possibilidade de expressar suas dúvidas, escolhas, mesmo em situações em que se sente constrangida, já que sua mãe seria a pessoa mais adequada para compreendê-la e, até mesmo, para criticá-la, se for o caso. As mães comumente desejam cuidar bem de seu filho, porém este cuidado não deveria comprometer o seu desenvolvimento(10). Sabemos da importância da liberdade e do diálogo, mas é preciso que o adolescente exerça essa liberdade com responsabilidade, ciente de seus limites, compreendendo que a expressão da sexualidade, vai além do ato sexual, pois faz parte do desenvolvimento humano e envolve temas como: relações sociais, maturação física e pretensões em relação ao futuro(11).

Existem condutas que podem ajudar os pais na orientação de seus filhos: abordar questões de sexualidade desde a infância; perguntar o que pensam e sabem sobre o assunto, questionar o que os deixa apreensivo; conhecer seus amigos, suas respectivas famílias; manter-se informado sobre a sua vida escolar; interessar-se pelos seus passatempos preferidos, em saber como está sucedendo sua vida; e, principalmente, aproveitar o tempo para conviver e dialogar com o adolescente(12).

Outra característica presente é o modo como os adolescentes se dispõem, pois andam sempre em grupos, o que evidencia um estilo próprio de relacionar-se, de interagir com seus pares:

A maneira que a gente pensava, pára com as brincadeirinhas, de criancice [...] todo mundo brincava junto [...] tudo muda na hora do recreio, cada um tem o seu bolinho [...] Então, tu passa de uma série tem que começar a agir de um modo diferente, a roupa muda, tudo tu queres igual o dos outros [...] eu não sou de vestir igual aos outros (Meiga).

Os interesses em comum compõem fatores relevantes na formação dos vínculos de amizades, e de influências mútuas(7). Além disso, os adolescentes possuem o poder de passar informações úteis para outros adolescentes pertencentes ao seu grupo de contatos. A intensa tendência grupal que é vivida na adolescência, direcionada para a promoção à saúde deveria ser mais valorizada, já que os adolescentes preferem informações oriundas de outros do seu grupo, pois acreditam mais nas relações estabelecidas entre si, dividindo assim seus problemas e suas oportunidades(13), o que poderia ajudar a diminuir diversos riscos sociais a que estão expostos, como os desencadeados por uso de drogas, de bebidas alcoólicas e consumo de cigarros, pela transmissão e troca de bons hábitos de vida, ajudando a reduzir agravos à saúde desta população.

Riscos presentes no convívio social

A adolescência é um período no qual o adolescente sente necessidade de se firmar frente à sociedade, podendo ser induzido a alguns comportamentos pelos seus pares, como ao uso de drogas. Alguns entrevistados não crêem na possibilidade da indução de amigos para o uso de drogas; outros já acreditam nessa possibilidade:

Muita gente fala "ah porque foi o meu amigo que me botou nas drogas", isso daí não existe, isso daí vai da tua cabeça. Eu tive convivência com drogado, eu saía com as pessoas que se drogavam, e me ofereciam e eu nunca fumei uma maconha, nunca cheirei [...] Então por isso que eu acho a pessoa que cai nas drogas é por si mesma, não tem que botar a culpa em ninguém [...] é difícil tu assumir [...] pra mim é um caminho errado (Belo).

Se tu não fumas droga, vem sempre um amigo lá, "ai faz, é legal, porque vai te sentir melhor" [...] vai dizer "ah tu és careta porque tu não queres, porque tu és fraco" [...] mas eu acho que é muita influenciação dos amigos, que dizem ser amigos teu, acho que amigo alerta "não faz porque é ruim" (Meiga).

As falas expressam a influência sofrida pelos adolescentes por seus pares nessa fase da vida. Por outro lado, alguns adolescentes mesmo convivendo com pessoas usuárias de drogas, conseguem manter sua amizade optando por não usar tais substâncias, demonstrando assim sua autodeterminação e maturidade. Os adolescentes podem ser mesmo influenciados por seus pares em diversas situações(14), como: no uso das mesmas vestimentas e aparelhos eletrônicos, nos estilos musicais.

Tais atitudes os fazem parecer iguais, o que pode contribuir para o entendimento de que com o uso das drogas não seja diferente. Um dos mais poderosos fatores predisponentes ao uso de substâncias é a influência do grupo de iguais. Um adolescente cujos melhores amigos usam o fumo, o álcool e outras drogas será mais facilmente levado a experimentar do que aquele cujos amigos evitam as drogas e não estão de acordo com seu uso(15). Parece que os adolescentes estabelecem "uma forma honesta e consistente, um conjunto implícito de normas segundo as quais avaliam os colegas, no sentido de os considerarem ou não membros do seu grupo"(6). Buscamos, também, junto aos sujeitos do estudo, conhecer possíveis eventos que podem tornar o período da adolescência não saudável, constituindo-se numa ameaça para os adolescentes em geral:

É uma fase muito difícil, é meio complicada, mas com um conselho dos pais vai seguindo, tem gente que segue no caminho errado, outros no certo. É que tem muitos pais que não explicam problema de drogas, sobre doenças e a pessoa acaba caindo, seguindo o caminho errado às vezes [...] falta de orientação (Belo).

Logo, "entender o universo dessa faixa etária é o meio mais seguro de permitir uma passagem segura e saudável pela adolescência no desenvolvimento da complexidade do ser humano"(7). Atualmente o hábito de usar drogas está cada vez mais precoce, atingindo adolescentes na faixa etária dos 13 anos, podendo acontecer antes mesmo de alcançar tal idade, como costumam veicular os meios de comunicação. Várias são as causas que podem levar o adolescente ao consumo de drogas: de forma genérica, podemos citar aspectos como a sociedade, a cultura, a família e os amigos e colegas e aspectos individuais como a procura incessante pela satisfação. As pessoas, no intuito de buscar o prazer, ou para diminuir seu sofrimento físico e psíquico, fazem uso de substâncias que lhes proporcionam um estado artificial de bem-estar, e o fato de os adolescentes experimentarem um corpo e uma mente em modificações, pode ocasionar uma menor ou maior aflição psíquica, compondo os adolescentes como um grupo de risco para com o uso de drogas. Pode ainda ser fator de incentivo, ao uso de drogas, a necessidade de ser independente dos pais e de se aproximar ou desenvolver vínculos com amigos; esses aspectos podem servir como um disfarce para reduzir possíveis dificuldades na resolução desses conflitos(16).

Assim, o não envolvimento com as drogas, bebidas e fumo também representa, na ótica do adolescente, algo fundamental para um adolescer saudável:

Quando tu fumas e bebes demais [...] isso eu vejo no meu vô, ele foi pro hospital, ele fuma desde pequeno, 13 anos, a minha vó também [...] Pra que fumar? Come bala, eu acho que tu podes substituir o cigarro por outra coisa [...] (Meiga)

Saúde tem que [...] se cuidar o máximo possível [...] não bebendo e fumando porque estraga bastante os pulmões, leva até a morte (Amiga).

Nos relatos acima, vê-se que os adolescentes são sabedores dos danos provocados pelas drogas em questão, têm inclusive, exemplos no próprio ambiente familiar. Mesmo assim, vê-se a necessidade de abordar junto aos adolescentes os malefícios do tabaco e da bebida alcoólica, como uma medida preventiva e educativa, tornando-os multiplicadores de atitudes saudáveis. Nesse contexto, ressaltamos que "o álcool, além de ser de longe a substância psicoativa que causa maior impacto negativo na saúde pública em todo o planeta, quase sempre está associado ao uso de tabaco e outras substâncias psicoativas ilícitas"(17).

Enfatizamos ainda que o uso de drogas possa refletir, em muitos momentos, uma solicitação de ajuda por parte do adolescente, que porventura esteja vivenciando alguma circunstância social ou sofrimento psicológico. Algumas situações relacionadas ao consumo de álcool e à violência familiar vieram à tona nas falas dos adolescentes, especialmente, frente ao descontentamento em ver um membro de sua família alcoolizado, como se observa nas falas a seguir:

[...] minha mãe justamente se separou dele pelo problema de alcoolismo. [...] Um dia eu, meus irmãos sentamos com minha mãe e conversamos "mãe não dá mais", [...] é só briga [...] ele deu um soco na minha mãe, ela deu nele com pau da janela, uma vez deixou ele em coma no hospital. [...] Outra vez, ela chamou a polícia, levaram ele preso; as crianças ficaram chorando. [...] Ah me senti triste, porque eu não gosto de vê-los sofrendo. [...] E isso não é exemplo que se dê (Amigo).

O uso abusivo do álcool no ambiente familiar vem se tornando algo mais comum na vida do adolescente. Tal fato pode não apenas estimular o consumo por parte dos adolescentes, como pode prejudicar o seu adolescer saudável e ainda se constituir numa forma de violência contra a sua própria vida e de outros. Consolida-se por ações que visam prejudicar, abater e reprimir, envolvendo, quase sempre, questões de poder e atingem, de maneira mais agressiva, crianças, adolescentes e mulheres. Acontece um ciclo em que a violência gera violência, ou seja, essa realidade faz com que o jovem construa uma noção de violência, tendo por base o que acontece no seu cotidiano, de sua consciência e posição na sociedade, bem como das relações familiares e escolares.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através desse estudo foi possível compreender de que forma às interações e relacionamentos interpessoais se fazem presente na vida social do adolescente, sendo importante para o alcance de um adolescer saudável.

Existe aproximação por parte dos pais nas relações interpessoais que os adolescentes constituem com os amigos, familiares, namorado, mas em alguns momentos demonstram certa dificuldade em falar com a mãe, especificamente, sobre determinado assunto, como sexualidade. Verificou-se ainda que alguns adolescentes quando não dispõem de algum familiar para dividir suas dúvidas e anseios, acabam por procurar amigos.

Destaca-se, o modo dos adolescentes agirem diante da vida social, pois quase sempre andam agrupados confirmando e caracterizando o estilo próprio de relacionar-se e interagir com seus semelhantes, repercutindo na necessidade do adolescente de se firmar diante da sociedade, podendo ser influenciado pelo seu grupo de convívio social a condutas de vícios e hábitos, como o uso de drogas.

Por isso, a importância de estimular a elaboração de projetos junto a adolescentes, objetivando desmistificar tais pensamentos e condutas, para que estes não iniciem um processo de doença estimulado no próprio ambiente social e muitas vezes familiar voltado para o uso de substâncias psicoativas, evitando que tais hábitos sejam continuados na vida adulta.

Assim, torna-se relevante o desenvolvimento de estudos que compreendam o processo de adolescer, pois com maior conhecimento sobre essa fase da vida e seus riscos, é possível minimizar agravos a saúde do adolescente, através de medidas político-educativas. Sendo assim, a família, os profissionais de educação e de saúde podem colaborar de forma efetiva na orientação dos usuários, seja nas Unidades Básicas de Saúde, Instituições Hospitalares, bem como a atuação do Enfermeiro no ambiente escolar, no sentido de promover a saúde do adolescente, com a participação deste no processo educativo, no qual poderá expor dúvidas, anseios e compartilhar experiências.

Logo, o profissional de enfermagem pode auxiliar o adolescente em seu processo de adolescer saudável, propiciando meios para manutenção dos vínculos construídos nos relacionamentos afetivos, de modo a encaminhá-lo para a fase adulta com o mínimo de suporte emocional, o que poderá subsidiá-lo nas escolhas saudáveis para si.

Recebido em: 04/10/2009

Aprovado em: 15/02/2010

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  • Endereço da autora:
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    Artigo extraído da dissertação de Mestrado apresentada em 2008 ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande (FURG).
  • Publication Dates

    • Publication in this collection
      19 Oct 2010
    • Date of issue
      Mar 2010

    History

    • Received
      04 Oct 2009
    • Accepted
      15 Feb 2010
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