A pandemia por COVID-19: uma oportunidade para visibilizar a enfermagem em nível internacional

Quando se pensa na internacionalização da enfermagem, nos transportamos imediatamente a essa visibilidade dada pela investigação através de publicações científicas, apresentações em congressos, mobilização docente e estudantil ao oferecer a oportunidade perfeita para expor nosso trabalho. Nisso estava pensando, há alguns dias, ao aceitar a honra de escrever este editorial; porém, no dia de hoje, o mundo mudou de formas inimagináveis, e a certeza, o completo, o terminado, a suposta perfeição e principalmente a ideia equivocada de domínio e controle que a maioria dos seres humanos anseia se vê interrompida por uma pandemia mundial, ocasionada por um Coronavírus: o COVID 191, que colocou sobre a mesa a ideia de que provavelmente estamos nos autoeliminando.

Também deu a grande oportunidade, às enfermeiras e aos enfermeiros do mundo, de nos tornar visíveis, mostrando nossas capacidades em conhecimento, pesquisa, criatividade e, como diz o biólogo Humberto Maturana, demonstrar a capacidade que temos de fazer nossa própria autopoiesis, fazendo referência a essa possibilidade de nos auto-organizarmos, de autoconstruir e nos adaptar em relação ao que hoje nos apresenta nosso nicho ecológico comum: A Terra2.

Isso leva a compreender e interpretar uma nova cosmovisão do cuidado ao constatar a complexidade dos problemas globalizados da vida em que a incerteza e o caos emergem3 para refletir e criar novas perguntas que levem a novas formas de educar, de pesquisar e de desenvolver práticas inovadoras.

Começaremos pela educação em enfermagem afetada pela pandemia que a conduz a um ponto decisivo que Fritjof Capra4 chama de “o ponto crucial”, ao possibilitar esse giro acelerado ao conceito de presencialidade e flexibilidade, campo da educação virtual, implementando estratégias educativas que nunca imaginamos com a finalidade de continuar avançando no desenvolvimento de nossos currículos com uma meta clara, cumprir as competências de aprendizagem que requerem nossos enfermeiros em formação para enfrentar os desafios que hoje propõe um vírus mundial, o qual não somente ataca a saúde através da lesão das vias respiratórias altas e baixas, mas também ameaça com afetar as dinâmicas socioeconômicas, familiares e provavelmente a saúde mental de toda a população.

Talvez seja esse o pretexto perfeito para consolidar competências educativas em enfermagem que contribuam para ressignificar seres integrados com o universo, que compartilhem as diferentes teorias ou conceitos do mesmo, respeitando cada uma delas e aplicando para si o que estiver em benefício do bem comum, partindo da construção do sentido próprio e coletivo fundamental para saber onde se habita, onde se está e onde se pretende chegar, ou seja, definir os fins e inícios da construção de um caminho para repensar a educação e analisar a realidade a partir de novas categorias de interpretação, pois não podemos solucionar problemas atuais com a educação de ontem5^-6.

A partir da pesquisa, devemos analisar um novo cenário mundial para dar resposta, no contexto da saúde pública, a um espaço inédito que requer novas respostas e novas perguntas de pesquisa para uma nova forma de ser, de pensar, de valorizar, de agir que necessariamente conduzam, como diz Boff, a “novos valores, novos sonhos e novos comportamentos assumidos por um número cada vez maior de pessoas e comunidades”. Bem-vinda a aflição trazida pelo Covid 19; recordando Estanislao Zuleta7 em seu “Elogio à dificuldade”, neste momento conjuntural da história da humanidade, exaltemos a Doroteam Orem8, Nola Pender8, entre muitas outras teóricas que buscam a promoção e a prevenção com foco de autocuidado. Sejamos verdadeiros profissionais multiplicadores de nossa disciplina com a promoção de comportamentos que melhorem a capacidade de nos cuidarmos, de cuidar os outros e de cuidar nosso planeta9.

É o momento de ver o futuro de frente e nos propormos pesquisas para dar soluções aos problemas atuais com estudos que abordem o ser humano desde sua natureza biológica e cultural, desmoronando estruturas antigas, dando lugar ao trabalho transdisciplinar, em rede, buscando a complementariedade, o diálogo e a colaboração. Já é hora de exibir nossas melhores ferramentas, como o processo de enfermagem10, a capacidade de gestão do cuidado11 ou, em breves palavras: Enfermagem é agora.

Tudo isso permitirá o destaque primordialmente em aspectos disciplinares nas áreas de saúde pública e de cuidados intensivos, com um compromisso ético para dar recomendações educacionais, baseadas em fundamentos científicos, com as melhores evidências, derivadas das agências internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), e dos científicos mais capacitados para conseguir conter e mitigar a epidemia por COVID-1912^-14.

Obrigada, COVID-19, por permitir nos assombrarmos, nos reinventarmos e ser conscientes de que somos parte e todo de uma equipe de saúde com as necessidades de líderes protagonistas da transformação das políticas públicas de forma urgente.

REFERENCES

• 1. Organización Mundial para la Salud (CH) [Internet]. Ginebra: OMS; c2020 [citado 2020 mayo 15]. Alocución de apertura del Director General de la OMS en la rueda de prensa sobre la COVID-19 celebrada el 11 de marzo de 2020; [about 1 screen]. Disponible en: https://www.who.int/es/dg/speeches/detail/who-director-general-s-opening-remarks-at-the-media-briefing-on-covid-19---11-march-2020
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• 2. Maturana H. Transformacion en la convivencia. Santiago de Chile: Editorial Dolmen; 1999.
• 3. Briggs J, Peat D. Las siete leyes del caos. Barcelona: Editorial Grijalbo; 1999.
• 4. Capra F. El punto crucial. Barcelona: Editorial Integral; 1999.
• 5. Morin E. Los siete saberes necesarios para la educación del futuro. Paris: UNESCO; 1999.
• 6. Morin E. La mente bien ordenada: repensar la reforma, reformar el pensamiento. Barcelona: Editorial Seix Barral; 2000.
• 7. Zuleta E. Elogio de la dificultad y otros ensayos. Barcelona: Ariel [s.d.] [citado 2020 mayo 15]. Disponible en: https://www.planetadelibros.com.co/libros_contenido_extra/31/30482_1_Elogio_zuleta.pdf
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• 8. Tomey AM, Alligood MR. Modelos y teorías en enfermería. 6. ed. Barcelona: Elsevier; 1997.
• 9. Boff L. El cuidado esencial: ética de lo humano, compasión por la tierra. Madrid: Editorial Trotta; 2002.
• 10. Gutiérrez OA, Torres CA, Loboa NJ. Factores relacionados con la aplicación del proceso de enfermería en instituciones hospitalarias de Colombia. Rev Cuid. 2018;9(1):2007-16. doi: https://doi.org/10.15649/cuidarte.v9i1.480
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• 11. Campos PIA, Gutiérrez HC, Matzumura JPK. Rotación y desempeño laboral de los profesionales de enfermería en un instituto especializado. Rev Cuid. 2019;10(2):e626. doi: https://doi.org/10.15649/cuidarte.v10i2.626
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• 12. Manual para la prevención y tratamiento de COVID-19. Austin: University of Texas; 2020 [citado 2020 mayo 15]. Disponible en: https://nursing.utexas.edu/sites/default/files/manual_para_la_prevencio%CC%81n_y_tratamiento_de_covid19.pdf
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• 13. Toledo J. Prevención y control de infecciones y nuevo coronavirus (COVID-19): precauciones estándares y uso de equipos de protección personal. Washington, DC: OPAS; 2020 [citado 2020 mayo 10]. Disponible en: https://www.paho.org/es/documentos/presentacion-prevencion-control-infecciones-nuevo-coronavirus-covid-19-precauciones
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• 14. van Doremalen N, Bushmaker T, Morris DH, Holbrook MG, Gamble A, Williamson BN, et al. Aerosol and surface stability of SARS-CoV-2 as compared with SARS-CoV-1 [Letter]. New Engl J Med. 2020;382(16):1564-7. doi: https://doi.org/10.1056/NEJMc2004973
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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  28 Ago 2020
• Data do Fascículo
  2020