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Cursos realizados pelo Canal Minas Saúde: percepções dos profissionais que atuam na atenção primária

Cursos realizados por el Canal Minas Salud: percepciones de los profesionales de la atención primaria

RESUMO

Objetivo

Analisar a percepção dos profissionais de saúde que atuam na atenção primária sobre a contribuição dos cursos realizados pelo Canal Minas Saúde no seu processo de trabalho.

Método

Estudo exploratório, descritivo, com abordagem qualitativa do qual participaram 38 profissionais que atuam na atenção primária de três municípios pertencentes ao Estado de Minas Gerais. A coleta de dados ocorreu em 2014, com entrevistas semiestruturadas, sendo os dados analisados por meio da análise de conteúdo temática.

Resultados

Da análise dos dados emergiram três categorias: interesse pela capacitação e sua contribuição para a prática profissional; fatores intervenientes para mudança da prática profissional; e propostas de melhoria.

Conclusão

A análise dos dados evidencia que os cursos ofertados pelo Canal Minas Saúde ainda são insuficientes para a modificação da prática profissional. Faz-se necessário incorporar os pressupostos da educação permanente para possibilitar a articulação dos saberes necessários à transformação da prática.

Educação continuada; Atenção primária à saúde; Políticas públicas; Enfermagem

RESUMEN

Objetivo

Analizar las percepciones de los profesionales de la salud que desempeñan sus tareas en la atención primaria sobre los cursos realizados por el Canal Minas Salud en cuanto a su contribución al proceso de trabajo.

Método

Investigación exploratoria, descriptiva, tipo cualitativa, en la cual participaron 38 profesionales de la atención primaria de salud de tres municipalidades del Estado de Minas Gerais. Los datos, recogidos en 2014 mediante entrevista semiestructurada, fueron analizaron según el análisis de contenido temático.

Resultados

Del análisis de los datos emergieron tres categorías temáticas: interés en la capacitación y su contribución a la práctica profesional; factores que intervienen en el cambio de la práctica profesional y propuestas de mejora.

Conclusión

El análisis de datos indica que los cursos ofrecidos por el Canal Minas Salud no son suficientes para modificar la práctica profesional. Habría que incorporar los principios de la educación continua en salud para permitir la articulación de los conceptos necesarios para la transformación de la práctica profesional.

Educación continua; Atención primaria de salud; Políticas públicas; Enfermería

ABSTRACT

Objective

To analyse how primary healthcare workers perceive the impact of the Health Channel Mines courses in their work process.

Method

This is a descriptive exploratory qualitative study conducted with 38 professionals working in primary health care units of three municipalities in the state of Minas Gerais, Brazil. Data were collected in 2014 by means of semi-structured interviews and subjected to thematic content analysis.

Results

Data analysis revealed the following three categories: interest in training and its contribution to professional practice; factors that alter professional practices; and proposals for improvement.

Conclusion

The study data demonstrated that the Mines Health Channel courses cannot single-handedly change professional practices. Continued and refresher education resources that enable the exchange and articulation of knowledge between the various specialities are needed to transform professional practices.

Education; continuing; Primary healthcare; Public policies; Nursing

INTRODUÇÃO

A Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS) foi instituída em 2004, por meio da Portaria nº 19811. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Departamento de Gestão da Educação em Saúde. Portaria GM/MS nº 198, de 13 de fevereiro de 2004. Institui a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde como estratégia do Sistema Único de Saúde para a formação e o desenvolvimento de trabalhadores para o setor e dá outras providências. Brasília (DF); 2004., sendo reformulada em 2007 pela Portaria nº 199622. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Departamento de Gestão da Educação em Saúde. Portaria GM/MS nº 1.996, de 20 de agosto de 2007. Dispõe sobre as diretrizes para a implementação da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde e dá outras providências. Brasília (DF); 2007., com o estabelecimento de novas diretrizes e estratégias para a sua implementação.

O conceito de Educação Permanente em Saúde (EPS) é definido na Política Nacional como aprendizagem no trabalho, em que o aprender e o ensinar são incorporados ao cotidiano das organizações e ao processo de trabalho. A EPS propõe que os processos de educação dos trabalhadores da saúde se façam a partir da problematização da própria prática22. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Departamento de Gestão da Educação em Saúde. Portaria GM/MS nº 1.996, de 20 de agosto de 2007. Dispõe sobre as diretrizes para a implementação da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde e dá outras providências. Brasília (DF); 2007..

A Secretaria de Estado de Saúde (SES/MG), com o intuito de desenvolver atividades de informação, comunicação e educação, em especial, a implantação do Programa de Educação Permanente a Distância (PEPD), implantou, em 2008, o Canal Minas Saúde33. Minas Gerais, Secretaria de Estado de Saúde (BR). Deliberação CIB-SUS/MG nº 453, de 27 de maio de 2008. Institui o Programa de Educação Permanente à Distância – PEPD para os profissionais do Sistema Único de Saúde. Belo Horizonte (MG); 2008..

O Canal Minas Saúde configura-se como rede multimídia, utilizando tecnologia televisiva associada às tecnologias de informática e rádio, e promove a implementação de estratégias educacionais para a capacitação dos profissionais e gestores do SUS, cobertura de eventos e solenidades administrativas, além de funcionar como um veículo de informação44. Marques AJS, Riani RR, Linhares GSSD. Canal Minas Saúde. In: Marques AJS, Mendes EV, Lima HO. O Choque de Gestão em Minas Gerais: resultados na saúde. Belo Horizonte: Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais; 2010..

Em relação às estratégias educacionais, principal foco do Canal Minas Saúde, os cursos são ofertados na modalidade de educação a distância (EAD), na plataforma Moodle, utilizando-se a integração de multimídia da televisão e da internet. A televisão é usada para a veiculação das videoaulas e a internet para a realização das atividades propostas no curso44. Marques AJS, Riani RR, Linhares GSSD. Canal Minas Saúde. In: Marques AJS, Mendes EV, Lima HO. O Choque de Gestão em Minas Gerais: resultados na saúde. Belo Horizonte: Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais; 2010.. Assim, gestão estadual e municipal acordou em fechar as unidades básicas de saúde às quintas-feiras, às 15 horas, para possibilitar aos profissionais o acompanhamento dos cursos veiculados pelo Canal Minas Saúde, o que foi denominado de ‘horário protegido’ para garantir a participação de toda a equipe e discussão do cotidiano de trabalho.

O Canal Minas Saúde surge como uma proposta para a oferta de cursos, que devem ser pautados na concepção de educação permanente, utilizando a EAD como modalidade para superar as dificuldades enfrentadas no cotidiano do sistema de saúde e as disparidades socioeconômicas, demográficas e epidemiológicas, entre os 853 municípios do Estado.

Sabe-se que para a EPS possibilitar a recomposição das práticas educativas da formação, da atenção, da gestão, de formação de políticas, de participação popular e de controle social no setor de saúde, a estruturação do conhecimento deve ser orientada a partir da realidade do próprio ambiente de trabalho55. Santos AR, Coutinho ML. Educação Permanente em Saúde: construções de enfermeiros da Estratégia Saúde da Família. Rev Baiana Saúde Pública. 2014;38(3):708-24..

Estudos revelam que a EAD pode ser utilizada como importante estratégia para a EPS no Sistema Único de Saúde (SUS), possibilitando explorar as potencialidades dos atores envolvidos, comunicação multidirecional, novas relações e interações, troca de experiências e compartilhamento de saberes, oportunizando aos profissionais mobilidade e flexibilidade no processo de qualificação, sem perder a qualidade do ensino66. Grossi MG, Kobayashi RMA. Construção de um ambiente virtual de aprendizagem para educação a distancia: uma estratégia educativa em serviço. Rev Esc Enferm USP. 2013;47(3):756-60.-77. Silva JN, Rodrigues VD, Silva AG, Soares WD, Antunes SF. Educação permanente em saúde através da educação a distância: uma breve introdução. Rev Saúde Pesquisa. 2013;6(3):503-9..

Considerando os dados do Canal Minas Saúde que apontam que desde 2008 foram concretizadas mais de duzentas ações educativas voltadas para o fortalecimento do SUS/MG, o aprimoramento técnico dos profissionais e a melhoria da gestão da saúde pública88. Escola de Saúde Pública de Minas Gerais (MG). Canal Minas Saúde: nos bastidores da educação em saúde. Belo Horizonte: ESP/MG, 2014 [citado 2016 jan 10]. Disponível em: http://universidademinassaude.com.br/wr/?p=199.
http://universidademinassaude.com.br/wr/...
, questiona-se: os cursos ofertados pelo Governo do Estado, pelo Canal Minas Saúde, adotam as premissas da educação permanente? Os profissionais que atuam na atenção primária percebem a repercussão dos cursos na organização de seu processo de trabalho e da equipe? Os conteúdos discutidos nos cursos têm aplicação no cotidiano do trabalho?

O presente artigo objetiva analisar a percepção dos profissionais de saúde, que atuam na atenção primária, sobre a contribuição dos cursos realizados pelo Canal Minas Saúde no seu processo de trabalho.

As discussões empreendidas partem do pressuposto de que os cursos do Canal Minas Saúde contribuem para a qualificação dos profissionais no que se refere ao conhecimento teórico-técnico, mas são insuficientes para contribuir na modificação da prática profissional no complexo contexto do trabalho em saúde, provocando um hiato entre o conhecimento científico e as ações de natureza prática, que constituem o ‘pensar’ e o ‘fazer’ profissional.

Diante dos diversos obstáculos, que permeiam o processo de implementação de educação permanente, sobretudo, a reprodução das práticas hegemônicas, acredita-se na relevância desta análise, inclusive na busca de favorecer e fortalecer processos que viabilizem a EPS.

Considerando que a enfermagem consiste na profissão com maior participação nos cursos ofertados e é reconhecida como componente ativo no processo de consolidação da atenção primária, espera-se com os conhecimentos produzidos, a partir desta investigação, estimular reflexões acerca das práticas de qualificação dos profissionais de saúde e de enfermagem, com reflexos na melhoria da atenção à saúde prestada à população e, consequentemente, para uma prática profissional consciente, responsável e de qualidade.

MÉTODO

Trata-se de estudo descritivo, exploratório, com abordagem qualitativa, realizado em três municípios mineiros com mais de 300.000 habitantes, localizados nas regiões ampliadas de saúde Norte (NOR), Sudeste (SUD) e Triângulo do Norte (TN), derivado de uma dissertação de mestrado em enfermagem99. Pereira LD. O sentido dos atos de ensinar e aprender: a experiência do Canal Minas Saúde [dissertação]. Belo Horizonte (MG): Escola de Enfermagem, Universidade Federal de Minas Gerais; 2015.. A escolha da abordagem considera o universo de significados, valores, atitudes que correspondem a um espaço mais profundo das relações1010. Minayo MCS, organizadora. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 21. ed., Petrópolis: Vozes; 2002..

Foram participantes da pesquisa 38 profissionais de saúde, que atuam na atenção primária, egressos de cursos realizados pelo Canal Minas Saúde, certificados no período de 2011 a 2013. Para definição dos mesmos, estabeleceu-se como critério de inclusão: ser profissional certificado em três ou mais cursos realizados pelo Canal Minas Saúde entre 2011 e 2013, cujo público-alvo envolvia profissionais que atuavam na atenção primária; bem como estarem estes profissionais registrados no Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde (CNES), vinculados a estabelecimento, cujo tipo seja posto de saúde, centro de saúde/unidade de saúde, unidade mista; ainda, que o profissional faça parte da categoria profissional classificada na Política Nacional de Atenção Básica como pertencente à equipe multiprofissional da Estratégia Saúde da Família (ESF); e que este profissional estivesse atuando em algum dos municípios-cenário.

O atendimento aos critérios de inclusão foi identificado, inicialmente, pela análise do banco de dados do Canal Minas Saúde e do CNES, no mês de maio de 2014, tendo sido identificados 65 potenciais participantes. Destes, foram excluídos os profissionais que no momento da entrevista não estavam atuando nos municípios (oito) ou em estabelecimentos vinculados à atenção primária (quatro) ou estavam afastados do serviço por motivo de férias (um) ou de licença médica (seis), além dos três que participaram do pré-teste. Ainda, cinco profissionais recusaram participar da pesquisa.

Os dados foram coletados no mês de junho, por meio de entrevista com roteiro semiestruturado, com duração aproximada de vinte minutos, por possibilitar obter dados objetivos e subjetivos contidos na fala dos atores sociais1010. Minayo MCS, organizadora. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 21. ed., Petrópolis: Vozes; 2002.. As questões geradoras foram: trajetória de formação profissional e no serviço de saúde, motivação para realização do curso, conteúdos e metodologias trabalhados, percepção sobre a contribuição dos cursos para o trabalho, fatores facilitadores e dificultadores para implantar as ações discutidas nos cursos no cotidiano, sugestões quanto à realização dos cursos e relato de situações concretas solucionadas, por meio de conteúdos e metodologias aprendidos nos cursos.

A análise dos dados das entrevistas foi feita conforme a técnica de análise de conteúdo temática proposta por Bardin1111. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 2011., sem apoio de programa de informática, seguindo três fases: Pré-análise: transcrição na íntegra das entrevistas, codificação e leitura flutuante; Exploração do material: leitura aprofundada e procedimentos de recorte, classificação e agregação das unidades de registro; Tratamento dos resultados, inferência e interpretação: recorte das unidades de registro agrupando-as de acordo com sua unidade de sentido.

Os princípios éticos, que nortearam esta pesquisa, estão contemplados na Resolução 466/20121212. Ministério da Saúde (BR). Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012. Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Diário Oficial da União [da] República Federativa do Brasil. 2013 jun 13;150(112 Seção 1):59-62., sendo que todos os participantes foram esclarecidos sobre a pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Esta pesquisa foi autorizada pela SES/MG, pelas Secretarias Municipais de Saúde (SMS) e aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (Parecer 30514814.3.0000.5149). Para a preservação da identidade dos participantes utilizou-se sigla referente às regiões ampliadas (NOR, SUD e TN) seguida de numeral, que representa a ordem em que foram realizadas as entrevistas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na caracterização dos participantes, verificou-se que 32 eram do sexo feminino e seis do sexo masculino, com média de idade de 39,13 anos, sendo quatro ACS, três cirurgiões-dentistas, 23 enfermeiros, sete médicos e uma técnica de enfermagem.

Em relação à formação, 55,26% dos participantes graduaram-se em instituição pública, com média de tempo de formado de 13,16 anos, entre dois e quarenta e três anos. Apenas uma agente comunitária de saúde ainda não finalizou a graduação, em curso.

O processo de análise das informações fez emergir as categorias: interesse pela capacitação e sua contribuição para a prática profissional; fatores intervenientes para mudança da prática profissional; e propostas de melhoria.

Interesse pela capacitação e sua contribuição para a prática profissional

A qualificação profissional é fator que move os participantes do estudo na busca de oportunidade de capacitação. Ao analisar os principais aspectos, que estimulam essa busca via cursos ofertados pelo Canal Minas Saúde, os participantes apontam cinco principais fatores: necessidade de qualificar-se após a graduação, contribuição para qualificação das ações no contexto de trabalho, possibilidade de manter-se atualizado, carência na oferta de práticas educacionais e melhora do currículo.

É possível apreender que há interesse dos participantes pela continuidade da aprendizagem após a graduação e na sua inserção profissional, inclusive como uma forma de aquisição de conhecimentos para o seu desempenho no cotidiano de trabalho.

Percebe-se que essa busca de conhecimento tem relação direta com a velocidade das mudanças tecnológicas, das necessidades de saúde e de suas repercussões no processo de trabalho. O conhecimento é dinâmico e a cada dia surgem novas informações que devem ser acompanhadas e consideradas no processo de trabalho dos profissionais da saúde1313. Paulino VCP, Bezerra ALQ, Branquinho NCSS, Paranaguá TTB. Ações de educação permanente no contexto da Estratégia Saúde da Família. Rev Enferm UERJ. 2012;20(3):312-6..

A globalização, além de produzir rápida obsolescência do conhecimento, traz novas informações para a prática profissional, exigindo dos profissionais, no seu âmbito de trabalho, a adoção de estratégias para educação permanente77. Silva JN, Rodrigues VD, Silva AG, Soares WD, Antunes SF. Educação permanente em saúde através da educação a distância: uma breve introdução. Rev Saúde Pesquisa. 2013;6(3):503-9..

Como um dos aspectos fundamentais no interesse pela capacitação via Canal Minas Saúde, destaca-se a modalidade de EAD, especialmente, pela flexibilidade para realização das atividades e possibilidade de conciliação dos estudos com o trabalho e vida social. A procura por cursos na modalidade a distância é estratégia para diminuir ou sanar as adversidades de custo e tempo exigidos, quando se trata de cursos totalmente presenciais77. Silva JN, Rodrigues VD, Silva AG, Soares WD, Antunes SF. Educação permanente em saúde através da educação a distância: uma breve introdução. Rev Saúde Pesquisa. 2013;6(3):503-9..

No dia a dia é aquela correria do trabalho, é, não tem muito tempo para estar deslocando, então esses cursos virtuais facilitam porque em qualquer momento que eu tiver um pouco desocupada, ou em casa mesmo, eu posso estar aprimorando os meus conhecimentos, no sábado e domingo, que eu tiver um tempo mais livre, eu posso estar fazendo. (NOR5)

É importante registrar que, apesar de toda a flexibilidade, característica da EAD, na análise dos discursos verifica-se que a EAD exige organização pessoal para conseguir cumprir com êxito as atividades propostas nos cursos e inserção tecnológica.

Ao serem perguntados sobre como tiveram conhecimento dos cursos realizados pelo Canal Minas Saúde, os profissionais mencionaram a busca por cursos navegando na internet, a indicação de outros profissionais e a divulgação pelas SMS.

Considerando que a criação do Canal Minas Saúde determinou a existência de ‘horário protegido’, chama atenção o fato dos profissionais afirmarem que o município teve maior envolvimento apenas na divulgação e estímulo para a realização do curso de Protocolo de Manchester, pela ocorrência da classificação de risco ser um indicador acompanhado pelo Estado e vinculado a repasse de recursos financeiros aos municípios.

A necessidade de uma ação mais sinérgica entre Estado e Municípios para que a realização dos cursos pelos profissionais esteja na agenda da gestão é reconhecida pelos próprios profissionais, que ainda apontam que o ‘horário protegido’ continua ativo apenas nos municípios da região ampliada Sudeste e Triângulo do Norte, contudo, utilizado para reuniões internas e outras práticas educativas realizadas pelos próprios municípios.

Eu busquei sozinha, mas se tivesse um meio, uma relação entre secretaria e estado para poder estar possibilitando, dar um chamamento às unidades de saúde a estarem participando seria excelente, porque aí atingiria um número maior. (NOR3)

Apreende-se que, em sua maioria, a participação no curso é um ato voluntário e individual do profissional, que tem interesse em se qualificar. Esse fato acaba se configurando como uma marcante contradição se considerar a natureza coletiva do trabalho em saúde e o previsto na PNEPS, que valoriza a construção colaborativa a partir do perfil epidemiológico da população e dos processos de organização do cuidado em saúde de cada região.

A qualificação individual não consegue, em geral, resolver problemas de modo solitário como na antiga divisão social do trabalho, tampouco auxiliar na interação da equipe e na autonomia do sujeito em seu cotidiano de trabalho1414. Cunha AZS, Rezende MS, Weigelt LD, Krug SBF, Feil, AI. Implicações da educação permanente no processo de trabalho em saúde. Rev Espaço Saúde. 2014;15(4):64-75.. Sabe-se que não basta ter os profissionais em um mesmo espaço de trabalho, o fundamental é garantir o compartilhamento de saberes, projetos, poderes e vontades nos coletivos de trabalhadores1515. Souza AIS, Oliveira LML, Castro MMC. O trabalho coletivo e as profissões de saúde. Rev Tempus Actas Saúde Coletiva. 2011;5(1):105-21..

Acredita-se que a participação significativa dos profissionais de enfermagem esteja relacionada à importância desta categoria nas ações desenvolvidas na atenção primária, que envolvem atividades variadas e dinâmicas, desde assistência, planejamento, organização, avaliação e educação para a saúde.

Destaca-se, ainda, que os participantes durante as entrevistas exemplificaram casos de incorporação dos conhecimentos adquiridos nos cursos na prática, ressaltando como principais ganhos: fazer profissional orientado no aporte teórico; melhora na atenção prestada ao usuário vinculada à abordagem e condução dos casos; processos de trabalho mais organizados, em especial, a respeito dos fluxos de referência e contra referência, definições de critérios e incorporação de novas ferramentas; e melhora no desenvolvimento das ações de capacitação interna da equipe e de educação em saúde.

O de Saúde Mental com certeza mudou muito na minha prática, muito, muito mesmo, principalmente em relação à escuta, a essa posição que a gente ocupa de redutor de danos dentro da saúde mental, como um todo, na rua, no serviço extramuros. (NOR6)

Contudo, infere-se que essa incorporação se dá de forma individual e fragmentada pelo trabalhador, na área temática trabalhada no curso, indicando que os cursos ofertados pelo Canal Minas Saúde, em geral, têm sido realizados de forma programática e verticalizada. Ademais, apesar de promover atualização de conhecimentos e induzir a busca de soluções para os problemas do cotidiano, a oferta dos cursos não se configura em uma rede de pensares e fazeres articulados com as necessidades e demandas dos trabalhadores em sua prática.

O trabalhador da saúde convive, frequentemente, com práticas educativas, como capacitações, reuniões e cursos, fragmentados e verticalizados, de caráter pontual e individualizado1414. Cunha AZS, Rezende MS, Weigelt LD, Krug SBF, Feil, AI. Implicações da educação permanente no processo de trabalho em saúde. Rev Espaço Saúde. 2014;15(4):64-75.. Com a instituição da PNEPS, a proposta é de que as práticas pedagógicas possibilitem ao trabalhador a oportunidade de aprender e discutir casos, ações e condutas de forma coerente com as necessidades dos serviços1414. Cunha AZS, Rezende MS, Weigelt LD, Krug SBF, Feil, AI. Implicações da educação permanente no processo de trabalho em saúde. Rev Espaço Saúde. 2014;15(4):64-75..

Nesse sentido, evidencia-se a necessidade do Canal Minas Saúde priorizar alternativas, que possibilitem a aprendizagem coletiva a partir das práticas e do trabalho, para se tornar uma ferramenta para implementação da EPS.

Fatores intervenientes para mudança da prática profissional

Para a incorporação dos conhecimentos adquiridos nos cursos realizados pelo Canal Minas Saúde no cotidiano, com foco na qualificação dos processos de trabalho, os participantes relatam que vivenciaram uma série de dificuldades e facilidades.

Destacam que para apropriação das ferramentas e conteúdos ofertados nos cursos foi de suma importância o envolvimento dos inscritos no curso e, também, dos outros colegas de trabalho. Contudo, é possível identificar nas falas que, em geral, os profissionais que frequentam os cursos não contam com a participação de outros membros da equipe na realização ou discussão dos cursos ofertados pelo Canal Minas Saúde.

Os dados mostram que os participantes, que frequentam diferentes cursos, acabam realizando iniciativas para estimular a participação dos colegas nas ofertas do Canal Minas Saúde, mas em alguns casos tal ação não aumenta a participação nas ações educativas.

Ofereci aos técnicos, aos agentes, mas até onde eu sei não, não sei de ninguém. Só mesmo quando foi obrigado a fazer o Protocolo de Manchester. (SUD11)

Esse interesse por maior envolvimento do colega de trabalho pode ser interpretado como uma necessidade do profissional de saúde, que foi qualificado, em compartilhar com os demais colegas de equipe as ações para aperfeiçoar o processo de trabalho.

Os participantes compreendem que a não participação da equipe nos cursos acaba dificultando a troca de conhecimento e a interação para aplicação e mudança dos modos de fazer no cotidiano da assistência, devido ao conhecimento diferenciado entre os trabalhadores. Isso produz uma sensação, muitas vezes, desconfortável entre os membros da equipe, nos casos em que as ações acabam sendo interpretadas como uma busca desnecessária por melhoria da prática. Além disso, acaba sobrecarregando os profissionais que foram capacitados, na medida em que somente eles detêm determinado saber.

Tal fato apresenta uma grande contradição: apesar do trabalho em equipe na atenção primária, a participação nos cursos do Canal Minas Saúde é individual. Sabe-se que o ato de aprender deve se dar em equipe, por meio de troca de informações, o que favorece a aplicação do aprendizado no cotidiano de trabalho1313. Paulino VCP, Bezerra ALQ, Branquinho NCSS, Paranaguá TTB. Ações de educação permanente no contexto da Estratégia Saúde da Família. Rev Enferm UERJ. 2012;20(3):312-6..

Para os participantes do estudo, quando ocorre participação nos cursos de todos os profissionais que fazem parte da equipe, a organização do processo de trabalho pode ser facilitada, devido ao alinhamento de conceitos entre estes.

Se tivesse essa oportunidade de todos estarem fazendo o curso ao mesmo tempo eu acho que a equipe estaria mais unida, mais segura para estar passando as informações para os usuários. (NOR7)

O trabalho em equipe é reconhecido por proporcionar aos trabalhadores visão global e coletiva do trabalho, reforçando a importância da cooperação e compartilhamento de tarefas para alcance de resultados1313. Paulino VCP, Bezerra ALQ, Branquinho NCSS, Paranaguá TTB. Ações de educação permanente no contexto da Estratégia Saúde da Família. Rev Enferm UERJ. 2012;20(3):312-6., e também por ser essencial para o processo de EPS, visto que busca a problematização coletiva do cotidiano como forma de transformar a realidade1616. Coelho GMP, Abib SCV, Lima KSB, Mendes RNC, Santos RAA, Barros AG. Educação permanente em saúde: experiência dos profissionais do serviço de atendimento móvel de urgência. Enferm. Foco. 2013;4(3/4):161-3..

É importante destacar que apesar dos cursos serem ofertados para todos os profissionais, que atuam na atenção primária, a participação majoritária é dos profissionais enfermeiros, o que dificulta que as ações desenvolvidas no cotidiano de trabalho sejam repensadas por toda a equipe conjuntamente. Uma vez que a EPS é voltada para o processo de trabalho, as práticas educativas devem envolver todos os atores que formam o grupo, e não apenas os enfermeiros, apesar de serem reconhecidos como agentes, que contribuem efetivamente para a consolidação deste nível de atenção.

Os participantes identificam que o suporte da gestão municipal também é um fator interveniente importante na incorporação prática dos conteúdos aprendidos nos cursos. A ausência de um gestor sensibilizado com a proposta pode gerar dificuldades para desenvolvimento de ações com resultados efetivos.

A inexistência de recursos sejam estes humanos, de estrutura física, de materiais permanentes e de consumo também foi citada, pelos participantes do estudo, como uma variável importante na apropriação e aplicação dos conteúdos e metodologias aprendidos.

Foi mencionada a necessidade de adequar o conteúdo do curso à realidade do serviço. Por serem ofertados para todos os municípios do Estado, os cursos acabam tendo formatação mais geral, não contemplando as especificidades de cada território.

Tem-se aí uma contradição ao se entender que os processos de EPS devem partir dos problemas identificados no cotidiano dos serviços, buscando soluções para a melhoria do trabalho1313. Paulino VCP, Bezerra ALQ, Branquinho NCSS, Paranaguá TTB. Ações de educação permanente no contexto da Estratégia Saúde da Família. Rev Enferm UERJ. 2012;20(3):312-6.. Reconhece-se a importância de ações educativas, que utilizam as ferramentas de EAD, para que estas estejam articuladas com estratégias de apoio mais locais e presenciais, oportunizando condições de reelaboração do conhecimento adquirido na prática.

Também se identifica nas falas que questões como a pouca valorização dos profissionais, a falta de plano de carreira, cargo e salário, a forma de organização da agenda de trabalho, a extensão territorial da área de abrangência e a valorização pela população das ações de cunho curativista e medicamentoso em detrimento da promoção à saúde acabam impactando na incorporação prática dos conteúdos aprendidos nos cursos.

Esses achados são similares a outros sobre os aspectos, que interferem no processo de implementação da EPS. Artigo que realiza metassíntese da literatura sobre os principais conceitos e práticas relacionadas à EPS apontam dificuldades relacionadas à infraestrutura material, de gestão e de recursos humanos, contribuindo para o desafio de se implementar ações crítico-reflexivas e participativas capazes de gerar mudanças no cotidiano1717. Miccas FL, Batista SHSS. Educação permanente em saúde: metassíntese. Rev Saúde Pública. 2014;48(1):170-85..

Outro autor sugere como fatores limitadores na construção de uma proposta de EPS: não participação de todos os profissionais da equipe, resistência de alguns profissionais em relação ao novo, falta de tempo e incentivos financeiros, excessivas demandas de tarefas e falta de incentivo dos gestores dos serviços para que o trabalhador se atualize1818. Silva LAA, Bonacina DM, Andrade A, Oliveira TC. Desafios na construção de um projeto de Educação Permanente em Saúde. Rev Enferm UFSM. 2012 set/dez; 2(3):496-506.. Tem-se ainda os vínculos empregatícios instáveis e a baixa remuneração salarial para determinadas categorias profissionais, favorecendo a sobrecarga de trabalho, a desmotivação, e mesmo a falta de tempo para se dedicar aos estudos e aos grupos de debates1616. Coelho GMP, Abib SCV, Lima KSB, Mendes RNC, Santos RAA, Barros AG. Educação permanente em saúde: experiência dos profissionais do serviço de atendimento móvel de urgência. Enferm. Foco. 2013;4(3/4):161-3..

Considerando as realidades vivenciadas mencionadas pelos participantes na realização dos cursos, reconhece-se que o Canal Minas Saúde não está se configurando como uma proposta de EPS, já que não induz uma prática capaz de mobilizar as equipes para a discussão do seu processo de trabalho. Assim, faz-se necessária a construção compartilhada de estratégias para melhorar a oferta e o incentivo de EPS para os profissionais no Estado.

Propostas de melhoria

As falas revelam propostas de melhoria na oferta dos cursos pelo Canal Minas Saúde para qualificação dos trabalhadores e da produção do cuidado, demonstrando interesse dos participantes pela continuidade da oferta de cursos pelo Canal Minas Saúde.

Algumas falas dos participantes referem à necessidade de aprofundamento e atualização de conteúdos ofertados, bem como a inserção de novos temas e metodologias.

Falo de conteúdo específico mesmo, por exemplo, é uma coisa que nenhum desses cursos aborda é a questão farmacológica e esse é um nó crítico muito grande, porque isso pode ser um déficit que já vem lá da graduação, e se eu não tiver uma oportunidade de ter acesso a protocolos, linhas guias, a questão da farmacologia, você esbarra na performance. (SUD5)

Destaca-se que a utilização de metodologias ativas, que desloque a aprendizagem para o cotidiano de trabalho, por meio de discussões problematizadoras, facilita a atualização técnico-científica, a construção do trabalho em equipe e a comunicação, imprescindíveis para melhorar a atuação na atenção primária e suprir as lacunas na implantação da PNEPS1717. Miccas FL, Batista SHSS. Educação permanente em saúde: metassíntese. Rev Saúde Pública. 2014;48(1):170-85..

Considerando que as bases que dão corpo aos processos educativos nascem do cotidiano do trabalho, da interação dos sujeitos no ato da produção da saúde55. Santos AR, Coutinho ML. Educação Permanente em Saúde: construções de enfermeiros da Estratégia Saúde da Família. Rev Baiana Saúde Pública. 2014;38(3):708-24., os participantes foram incentivados a mencionar as temáticas, que poderiam ser incluídas no portfólio de cursos do Canal Minas Saúde. Foram destacados os temas relacionados às principais condições de saúde e ciclos de vida, pela demanda que apresentam no cotidiano de trabalho.

Também emergiram dos discursos outros temas vinculados ao campo da atenção/ assistência: abordagem familiar, relação interpessoal, cuidado com feridas, tabagismo, vacinação, internação domiciliar e conceitos e metodologias de abordagem em grupos.

Alguns dos participantes manifestaram o interesse em participar da escolha das temáticas a serem trabalhadas pelo Canal Minas Saúde e da necessidade de sintonia entre as temáticas, que atravessam o processo de trabalho.

Eu queria sugerir assim que nós profissionais, a equipe, pudesse sugerir alguns cursos, alguns temas, que eles pudessem fazer direcionado os temas que a gente acha que seria interessante a gente estar fazendo. (SUD1)

Tais achados resgatam a necessidade de se garantir os preceitos da EPS, que visam assegurar a transformação das práticas profissionais e da organização do trabalho, tendo como eixo central as necessidades de saúde das populações, da gestão e do controle social55. Santos AR, Coutinho ML. Educação Permanente em Saúde: construções de enfermeiros da Estratégia Saúde da Família. Rev Baiana Saúde Pública. 2014;38(3):708-24..

Nesse sentido, nota-se a necessidade das práticas de EPS levarem em consideração a micropolítica do trabalho vivo, que inclui os interesses e necessidades dos trabalhadores e a realidade de produção de vida no território1919. Merhy EE, Feuerweker LCM, Ceccim RB. Educación permanente en salud: una estrategia para intervenir en la micropolítica del trabajo en salud. Salud Colectiva. 2006;2(2):147-60..

Outro aspecto importante se refere à necessidade de se valorizar o serviço como locus privilegiado do processo ensino-aprendizagem, permitindo o curso no local de trabalho, e para tanto, garantindo estrutura física e de informática nas unidades de saúde.

A gente poderia ter na unidade um tempo para a gente fazer esta atualização, acaba que a gente tem que fazer isso em casa, e sendo que eu acho que na verdade é para o serviço também. (SUD15)

O local de trabalho deve ser o ponto de partida para o processo educativo, proporcionando maior interação e participação dos profissionais, além da aprendizagem no espaço de atuação profissional1818. Silva LAA, Bonacina DM, Andrade A, Oliveira TC. Desafios na construção de um projeto de Educação Permanente em Saúde. Rev Enferm UFSM. 2012 set/dez; 2(3):496-506..

Outro ponto que pode ser destacado é o entendimento dos participantes sobre a necessidade de cursos específicos para as categorias profissionais. Apesar disso, a compreensão da importância dos cursos serem ofertados para a equipe reafirma o caráter coletivo do trabalho em saúde, destacando-se a especificidade dos campos profissionais.

O que eu queria do curso é um aprofundamento para área médica, que assim, eu sei que eles generalizam e eu acho muito legal generalizar para toda a equipe, mas uma coisa ou outra eu acho que eu queria me aprofundar mais no tema médico. Como o médico pode agir, como o médico pode atuar. (TN2)

Estudo sobre o desenvolvimento da educação permanente em um município de médio porte, do sul do Brasil, no cotidiano das unidades de saúde também apurou que a maioria dos trabalhadores quer trabalhar temas de área específica, o que pode estar associado a não compreensão de trabalho em equipe multiprofissional, que a ESF preconiza2020. Omura JB, Kuhnen M, Locks GA, Arruda, MP. Educação permanente na Estratégia Saúde da Família: desafio dos processos formativos em saúde. In: Anais do IV Colóquio Internacional de Educação; 2014 set 22-24; Joaçaba, Brasil..

Verifica-se, ainda, que parte dos profissionais se encontrava desmotivados, o que impacta na participação dos cursos e no contexto de trabalho, implicando a necessidade de se pensar em incentivos e estratégias para favorecer a participação nas atividades educativas.

Outra ação indicada foi em relação à necessidade de significativo envolvimento da gestão no acompanhamento dos participantes dos cursos, possibilitando-lhes contato com os demais trabalhadores do município, que foram certificados no mesmo curso, como uma estratégia para interação e possível incorporação de novas práticas nos serviços ou reorganização, adequação e transformação das práticas hegemônicas.

Acho que no nível de gestão municipal tinha que interagir as pessoas do próprio município. Eu acho que se a gestão acompanhasse mais de perto, tipo, fazer uma reunião com as pessoas que fizeram esse treinamento, um exemplo, as práticas integrativas e o que a gente podia pensar juntos, para o município. (SUD17)

De forma geral, as sugestões para melhorar o desenvolvimento dos cursos ofertados pelo Canal Minas Saúde vão ao encontro dos aspectos contidos em outro estudo, no qual as principais respostas giraram em torno da necessidade de colaboração, vontade de participação da equipe, melhora nas instalações e recursos da UBS e temas bem definidos2020. Omura JB, Kuhnen M, Locks GA, Arruda, MP. Educação permanente na Estratégia Saúde da Família: desafio dos processos formativos em saúde. In: Anais do IV Colóquio Internacional de Educação; 2014 set 22-24; Joaçaba, Brasil..

Nesse sentido, é premente a necessidade de que o processo ensino-aprendizado se dê por uma ação motivada no campo de uma política de educação permanente, que considere a micropolítica do trabalho vivo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados deste estudo evidenciaram que os profissionais, que atuam na atenção primária, compreendem os cursos ofertados pelo Canal Minas Saúde como meio para aquisição de conhecimento técnico-científico e para orientar a produção do cuidado, associando-o à possibilidade de crescimento pessoal e profissional.

Verificou-se que, em geral, o conhecimento adquirido impacta na produção do cuidado a partir da atuação individual dos profissionais, que realizaram os cursos do Canal Minas Saúde, induzindo, inclusive, uma reflexão sobre o processo de trabalho a partir das atividades propostas e das interações proporcionadas. Porém, os profissionais enfrentam dificuldades, que interferem na aplicação do que aprendem no cotidiano do trabalho.

Em relação às sugestões quanto à realização dos cursos, os profissionais propõem aspectos importantes, que devem ser considerados pela gestão estadual e municipal.

Notou-se que a percepção dos profissionais é que os cursos ofertados pelo Canal Minas Saúde contribuíram, de forma individual, para o aprimoramento teórico-técnico, mas ainda são insuficientes para a modificação da prática profissional, principal mote da PNEPS. Os cursos acabam por não conseguir transcender a unicidade das práticas tecnicistas e reproducionistas, tendo como base as capacitações parcelares e pontuais.

Assim, apesar do Canal Minas Saúde se apresentar como uma ferramenta para o desenvolvimento de cursos pautados na concepção da educação permanente, não vem adotando os pressupostos norteadores da PNEPS na construção das propostas educativas ofertadas. As propostas educativas pautadas na concepção de EPS devem ter como ponto de partida a contextualização da prática social e garantir a participação ativa das equipes de saúde, proporcionando a transformação da práxis por meio da capacidade crítica e criadora.

Percebe-se a necessidade de reformulação do Canal Minas Saúde para que seja incluído como ferramenta de educação permanente em Minas Gerais, o que pode ser feito por meio de adoção de metodologias participativas, reflexivas e problematizadoras.

Tendo-se os resultados, este estudo traz contribuições para a enfermagem, profissão com destaque na participação nos cursos ofertados, pois revela a importância das práticas educacionais e suas potenciais contribuições para transformação da práxis, mas faz-se necessário que essas propostas sejam contextualizadas na realidade do trabalho em saúde que se produz por meio das equipes multiprofissionais.

Entende-se que uma limitação do estudo diz respeito aos critérios de inclusão, que não englobaram outros profissionais de saúde que realizaram os cursos, os que evadiram ou aqueles de outros níveis de atenção. Sugere-se que sejam realizadas mais investigações acerca dessa temática, possibilitando conhecer as dinamicidades, que envolvem essa ferramenta que é adotada como estratégia da SES/MG para qualificação do trabalhador da saúde.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2016

Histórico

  • Recebido
    08 Jul 2015
  • Aceito
    20 Maio 2016
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