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LIBERTOS AFRICANOS, COMÉRCIO ATLÂNTICO E CANDOMBLÉ: A HISTÓRIA DE UMA CARTA QUE NÃO CHEGOU AO DESTINO* * Agradeço a Silvia Lara, Edmar Ferreira, Equede Sinhá (Gerondice Azevedo Brandão) da Casa Branca e aos membros da linha de pesquisa Escravidão e Invenção da Liberdade do Programa de Pós-Graduação em História (PPGH) da UFBA pelos comentários a uma versão preliminar deste texto. Agradeço a Lisa Earl Castillo por indicar e compartilhar alguma das fontes utilizadas neste artigo; a Carlos da Silva Júnior por fornecer cópias digitais de documentos e a Elisée Soumonni, a Fondation pour le Patrimoine Afro-Brésilien au Bénin e a Lucy Duran por viabilizar a pesquisa de arquivo realizada em Londres (2016).

FREED AFRICANS, ATLANTIC COMMERCE AND AFRO-BRAZILIAN RELIGION: THE HISTORY OF A LETTER THAT NEVER REACHED ITS DESTINATION

Resumo

Este artigo apresenta uma análise pormenorizada de uma carta enviada da Bahia ao porto negreiro de Ajudá em 1839 pela africana Roza Maria da Conceição à também africana Francisca da Silva, a legendária Iyá Nassô, fundadora do candomblé da Casa Branca em Salvador. A trajetória dessas duas libertas e de seus maridos, no contexto da passagem da Colônia para o Império, permite identificar processos de cooperação intergeracional entre os libertos africanos e de ascensão econômica associada ao comércio atlântico e ao tráfico ilegal. Postula-se que a propriedade escrava era uma forma de investimento político na organização da “casa” ou da coletividade doméstica, por sua vez a base do “terreiro”, formas de associativismo através das quais esses casais adquiriam poder e reforçavam sua liderança na comunidade negra. Em última instância, a conexão entre Roza e Francisca permite vislumbrar como o sucesso comercial, o controle social e a autoridade religiosa se emaranhavam de forma indissociável.

Palavras-chave:
Libertos africanos; comércio atlântico; candomblé; escravidão; Bahia

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