Resumo
Neste artigo, refletimos sobre as disputas políticas pela memória da escravidão e a abolição desta no Brasil por meio da análise de publicações realizadas no site e nas redes sociais oficiais da Fundação Cultural Palmares (FCP) em maio de 2020. Nesses textos, a FCP, sob a presidência de Sérgio Camargo, busca valorizar o legado da Princesa Isabel como artífice da abolição e denunciar o caráter mitológico de Zumbi dos Palmares. A consolidação dos “lugares de memória” (NORA, 1993NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Projeto História, São Paulo, v. 10, p. 7-28, 1993.) não é consequência natural ou inexorável dos processos históricos, mas sim o resultado de embates e disputas sociais e simbólicas (LE GOFF, 1990LE GOFF, Jacques. Memória. Enciclopédia Einaudi Memória-História. Campinas: Editora Unicamp, 1990.). Assim, este artigo tem como objetivo investigar os elementos simbólicos e históricos mobilizados pela atual gestão da Fundação Cultural Palmares, no sentido de desqualificar e desmontar as políticas públicas de igualdade racial calcadas na reconstrução de símbolos, heróis e efemérides da negritude que surgiram a partir da redemocratização do país na década de 1980.
Palavras-chave
Relações raciais; memória; abolição; Fundação Cultural Palmares; Zumbi dos Palmares