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Práticas Integrativas e Complementares no Sistema Único de Saúde: avanços e desafios

O artigo de Melo et al.11 Melo GAA, Rodrigues AB, Firmeza MA, Grangeiro ASM, Oliveira PP, Caetano JA. Musical intervention on anxiety and vital parameters of chronic renal patients: a randomized clinical trial. Rev. Latino-Am.Enfermagem.2018;26:e2978 [cited Apr 20, 2018]; Available from: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v26/pt_0104-1169-rlae-26-e2978.pdf. doi: 10.1590/1518-8345.2123.2978
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publicado no volume 26 desta revista mostrou que a musicoterapia, uma das Práticas Integrativas e Complementares (PIC) recentemente inserida no Sistema Único de Saúde (SUS)22 Ministério da Saúde (BR). Portaria n. 849, de 27 de março 2017. Inclui a Arteterapia, Ayurveda, Biodança, Dança Circular, Meditação, Musicoterapia, Naturopatia, Osteopatia, Quiropraxia, Reflexoterapia, Reiki, Shantala, Terapia Comunitária Integrativa e Yoga à Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares. Diário Oficial da União, Brasília, DF (2017 Mar. 28);Sec. 1:68.Available from:http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/documentos/prt_849_27_3_2017.pdf
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, foi significativa na redução da ansiedade de pacientes crônicos. No tocante ao cuidado de enfermagem com musicoterapia, o número de pesquisas é limitado, entretanto o uso da musicoterapia pela enfermagem, bem como de outras PIC, têm sido incentivados nacional e internacionalmente11 Melo GAA, Rodrigues AB, Firmeza MA, Grangeiro ASM, Oliveira PP, Caetano JA. Musical intervention on anxiety and vital parameters of chronic renal patients: a randomized clinical trial. Rev. Latino-Am.Enfermagem.2018;26:e2978 [cited Apr 20, 2018]; Available from: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v26/pt_0104-1169-rlae-26-e2978.pdf. doi: 10.1590/1518-8345.2123.2978
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,33 Cantekin I, Tan M. The influence of music therapy onperceived stressors and anxiety levels of hemodialysis patients. Ren Fail. 2013;35(1):105-9. [citedApr 23, 2018]. Available from:https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23151089. doi: 10.3109/0886022X.2012.736294
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.

Apesar da recomendação local e global da oferta das PIC, nos sistemas nacionais de saúde44 Organización Mundial de la Salud. Estrategia de la OMS sobre medicina tradicional 2014-2023. Ginebra: OMS; 2013. Available from: http://apps.who.int/medicinedocs/documents/s21201es/s21201es.pdf
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, o tema ainda é bastante controverso, com defensores e detratores. No Brasil, desde 1985, documentos, resoluções e eventos marcaram o processo de regulamentação dessas práticas e em 2006; após intenso trabalho de diferentes agentes individuais e institucionais, foi publicada a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC)55 Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS: atitude de ampliação de acesso. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2015 [cited Mar 17, 2018]. (Série B. Textos Básicos de Saúde). Available from:http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_praticas_integrativas_complementares_2ed.pdf
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. Antes da sua publicação foi realizado um diagnóstico situacional sobre as PIC ofertadas no SUS nos municípios brasileiros, para identificação das Práticas mais comuns e de maior viabilidade de implantação. Dessa maneira, em 2006, tornaram-se parte do SUS: Racionalidade Médica Homeopática, Racionalidade Médica Tradicional Chinesa/Acupuntura, Racionalidade Médica Antroposófica, Fitoterapia/plantas medicinais e Termalismo.

Ao longo desses 12 anos o processo de institucionalização da PNPIC foi dificultado pela falta de coordenação nacional oficial da Política no âmbito do Ministério da Saúde e pela inexistência de dotação orçamentária para a sua implantação e implementação. No dia 12 de março passado o Ministro da Saúde criou a coordenação nacional da PNPIC no âmbito da Diretoria de Atenção Básica, da Secretaria de Assistência à Saúde. Trata-se de uma realização histórica, porém com pouco para ser comemorado, dado o fato de que até o momento a coordenação nacional não foi regulamentada e se observam muitas lacunas de informação sobre, por exemplo, o processo de inclusão de 14 Práticas em março de 201722 Ministério da Saúde (BR). Portaria n. 849, de 27 de março 2017. Inclui a Arteterapia, Ayurveda, Biodança, Dança Circular, Meditação, Musicoterapia, Naturopatia, Osteopatia, Quiropraxia, Reflexoterapia, Reiki, Shantala, Terapia Comunitária Integrativa e Yoga à Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares. Diário Oficial da União, Brasília, DF (2017 Mar. 28);Sec. 1:68.Available from:http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/documentos/prt_849_27_3_2017.pdf
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)e a inclusão de outras 10 Práticas em março de 2018.

Sabe-se que dados do Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ) são citados para justificar a implantação dessas 24 práticas, porém não há nova diretriz na atual edição da PNPIC55 Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS: atitude de ampliação de acesso. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2015 [cited Mar 17, 2018]. (Série B. Textos Básicos de Saúde). Available from:http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_praticas_integrativas_complementares_2ed.pdf
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que detalhe os critérios preconizados naEstrategia de la OMS sobre medicina tradicional 2014-202344 Organización Mundial de la Salud. Estrategia de la OMS sobre medicina tradicional 2014-2023. Ginebra: OMS; 2013. Available from: http://apps.who.int/medicinedocs/documents/s21201es/s21201es.pdf
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. Os desafios da implementação das PIC nos sistemas de saúde não são exclusividade brasileira; além disso, uma pesquisa realizada em 39 países europeus mostrou que 70% deles não possui regulamentação específica sobre as PIC66 Wiesener S, Salamonsen A, Fønnebø V. Which risk understandings can be derived from the current disharmonized regulation of complementary and alternative medicine in Europe? BMC Complement Altern Med. 2018;18(1):11. [cited Mar 19, 2018]. Available from:https://bmccomplementalternmed.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12906-017-2073-9. doi: 10.1186/s12906-017-2073-9
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O compromisso com a pluralidade terapêutica no SUS e sua oferta segura, eficaz e de qualidade leva-nos a questionar a forma e o conteúdo da inserção das novas práticas no SUS. O suposto avanço recente da PNPIC parece mais uma ameaça às PIC e nesse contexto revestido de desafios observa-se a necessidade política e científica de discutir a implementação em curso e a relevância das PIC como modelo de cuidado integrativo no SUS.

References

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2018

Histórico

  • Recebido
    25 Abr 2018
  • Aceito
    28 Maio 2018
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