Acessibilidade / Reportar erro

Sintomas depressivos em gestantes assistidas na rede de Atenção Primária à Saúde aumentam o risco de prematuridade e baixo peso ao nascer?

Resumos

Objetivo:

investigar a associação entre sintomas depressivos na gestação, baixo peso ao nascer e prematuridade entre gestantes de baixo risco obstétrico, atendidas em serviços públicos de Atenção Primária à Saúde.

Método:

coorte prospectiva com 193 gestantes, mediante aplicação da Escala de Depressão Pós-natal de Edimburgo, entrevista telefônica e consulta aos prontuários dos serviços de saúde. As associações de interesse foram obtidas por regressão múltipla de Cox.

Resultados:

as participantes tinham idade mediana de 24,9 anos e escolaridade mediana de 11 anos; 82,4% viviam com companheiro e a idade gestacional mediana no parto foi 39 semanas. Auferiram escore ≥13 na Escala de Edimburgo 25,4% delas. Na análise ajustada, sintomas depressivos não se associaram ao baixo peso ao nascer (RR=2,06; IC95%=0,56-7,61) e à prematuridade (RR=0,86; IC95%=0,24-3,09). Secundariamente, identificouse que trabalho de parto prematuro aumentou o risco de baixo peso ao nascer (RR=4,81; IC95%=1,01-23,0) e de prematuridade (RR=7,70; IC95%=2,50-23,7). Além disso, cada semana a mais na idade gestacional diminuiu o risco de baixo peso ao nascer (RR=0,76; IC95%=0,61-0,95).

Conclusão:

a presença de sintomas depressivos entre gestantes de baixo risco obstétrico não se associou ao risco de baixo peso ao nascer e prematuridade.

Descritores:
Depressão; Gestação; Baixo Peso ao Nascer; Recém-Nascido Prematuro; Pré-Natal; Enfermagem de Atenção Primária


Objective:

to investigate associations between depressive symptoms during pregnancy, low birth weight, and prematurity among women with low-risk pregnancies assisted in public Primary Health Care services.

Method:

prospective cohort with 193 pregnant women, using the Edinburgh Postnatal Depression Scale, telephone interviews, and medical records available in the health services. Associations of interest were obtained using the Cox regression model.

Results:

the participants were aged 24.9 years old (median) and had 11 years of schooling (median); 82.4% lived with their partners, and gestational age at the birth was 39 weeks (median). Twenty-five percent of the participants scored ≥13 on the Edinburgh scale. Depressive symptoms did not appear associated with low birth weight (RR=2.06; CI95%=0.56-7.61) or prematurity (RR=0.86; CI95%=0.24-3.09) in the adjusted analysis. However, premature labor increased the risk of low birth weight (RR=4.81; CI95%=1.01-23.0) and prematurity (RR=7.70; CI95%=2.50-23.7). Additionally, each week added to gestational age decreased the risk of low birth weight (RR=0.76; CI95%=0.61-0.95).

Conclusion:

the presence of depressive symptoms among women with low-risk pregnancies was not associated with low birth weight or prematurity.

Descriptors:
Depression; Pregnancy; Low Birth Weight Infant; Premature Infant; Prenatal Care; Primary Care Nursing


Objetivo:

investigar la asociación entre síntomas depresivos en la gestación con bajo peso al nacer y prematuridad entre embarazadas, de bajo riesgo obstétrico, atendidas en servicios públicos de Atención Primaria a la Salud.

Método:

cohorte prospectiva en 193 embarazadas, utilizando la Escala de Depresión Posparto de Edimburgo, por medio de entrevista telefónica y consulta en las fichas médicas de los servicios de salud. Las asociaciones de interés fueron obtenidas con la regresión múltiple de Cox.

Resultados:

las participantes tuvieron edad mediana de 24,9 años y escolaridad mediana de 11 años; 82,4% vivían con compañero y la edad gestacional mediana en el parto fue 39 semanas. 25,4% de las mujeres obtuvieron un puntaje ≥13, en la Escala de Edimburgo. En el análisis ajustado, los síntomas depresivos no se asociaron al bajo peso al nacer (RR=2,06; IC95%=0,56-7,61) y a la prematuridad (RR=0,86; IC95%=0,24-3,09). Secundariamente, se identificó que el trabajo de parto prematuro aumentó el riesgo de bajo peso al nacer (RR=4,81; IC95%=1,01-23,0) y de prematuridad (RR=7,70; IC95%=2,50-23,7). Además de eso, se encontró que cada semana a más en la edad gestacional disminuye el riesgo de bajo peso al nacer (RR=0,76; IC95%=0,61-0,95).

Conclusión:

la presencia de síntomas depresivos entre embarazadas de bajo riesgo obstétrico no se asoció al riesgo de bajo peso al nacer y a la prematuridad.

Descriptores:
Depresión; Embarazo; Recién Nacido de Bajo Peso; Recien Nacido Prematuro; Atención Prenatal; Enfermería de Atención Primaria


Introdução

A depressão constitui problema de saúde pública devido a sua gravidade, recorrência e impacto negativo sobre a saúde(11 Duko B, Ayano G, Bedaso A. Depression among pregnant women and associated factors in Hawassa city, Ethiopia: an institution-based cross-sectional study. Reprod Health. 2019;16(1):1-6. doi: https://doi.org/10.1186/s12978-019-0685-x
https://doi.org/10.1186/s12978-019-0685-...
). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), globalmente, mais de 264 milhões de pessoas de todas as idades sofrem de depressão, o que a coloca entre as principais causas de incapacidade em todo o mundo, e como um dos grandes contribuintes para a carga global de doenças, especialmente entre as mulheres(22 GBD 2017 Disease and Injury Incidence and Prevalence Collaborators. Global, regional, and national incidence, prevalence, and years lived with disability for 354 diseases and injuries for 195 countries and territories, 1990-2017: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2017. Lancet. 2018;392(10159):1789-858. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(18)32279-7
http://doi.org/10.1016/S0140-6736(18)322...
). Trata-se de distúrbio mental caracterizado por humor deprimido, problemas relativos ao sono, falta de interesse nas atividades diárias, dificuldade de concentração, sentimento de culpa, falta ou excesso de apetite e, eventualmente, pensamentos e desejo de morte(11 Duko B, Ayano G, Bedaso A. Depression among pregnant women and associated factors in Hawassa city, Ethiopia: an institution-based cross-sectional study. Reprod Health. 2019;16(1):1-6. doi: https://doi.org/10.1186/s12978-019-0685-x
https://doi.org/10.1186/s12978-019-0685-...
,33 Thompson O, Ajayi I. Prevalence of antenatal depression and associated risk factors among pregnant women attending antenatal clinics in Abeokuta North local government area, Nigeria. Depress Res Treat. 2016;2016:1-15. doi: http://dx.doi.org/10.1155/2016/4518979
http://dx.doi.org/10.1155/2016/4518979...
-44 Lima MOP, Tsunechiro MA, Bonadio IC, Murata M. Depressive symptoms in pregnancy and associated factors: longitudinal study. Acta Paul Enferm. 2017;30(1):39-46. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1982-0194201700007
http://dx.doi.org/10.1590/1982-019420170...
).

Na gravidez, a depressão também tem elevada prevalência, visto que afeta aproximadamente uma em cada cinco mulheres em todo o mundo(11 Duko B, Ayano G, Bedaso A. Depression among pregnant women and associated factors in Hawassa city, Ethiopia: an institution-based cross-sectional study. Reprod Health. 2019;16(1):1-6. doi: https://doi.org/10.1186/s12978-019-0685-x
https://doi.org/10.1186/s12978-019-0685-...
). A explicação está no fato de as inúmeras transformações físicas, hormonais, emocionais e psicossociais que ocorrem na gravidez, apesar de constituírem processos fisiológicos, repercutirem diretamente na saúde mental da mulher(44 Lima MOP, Tsunechiro MA, Bonadio IC, Murata M. Depressive symptoms in pregnancy and associated factors: longitudinal study. Acta Paul Enferm. 2017;30(1):39-46. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1982-0194201700007
http://dx.doi.org/10.1590/1982-019420170...
-55 Napoli A, Lamis DA, Berardelli I, Canzonetta V, Sarubbi S, Rogante E, et al. Anxiety, prenatal attachment, and depressive symptoms in women with diabetes in pregnancy. Int J Environ Res Public Health. 2020;17(2):425. doi: http://doi.org/10.3390/ijerph17020425
http://doi.org/10.3390/ijerph17020425...
).

As repercussões da depressão durante a gestação, em curto e longo prazo, têm sido investigadas, com destaque para os prejuízos à saúde do concepto, dentre eles o baixo peso ao nascer e a prematuridade. Apesar da plausibilidade biológica dessa associação, os estudos que a investigaram apresentam resultados conflitantes(66 Accortt EE, Cheadle ACD, Dunkel CS. Prenatal depression and adverse birth outcomes: an updated systematic review. Matern Child Health J. 2015;19(6):1306-37. doi: http://doi.org/10.1007/s10995-014-1637-2
http://doi.org/10.1007/s10995-014-1637-2...

7 Mochache K, Mathai M, Gachuno O, Stoep AV, Kumar M. Depression during pregnancy and preterm delivery: a prospective cohort study among women attending antenatal clinic at Pumwani Maternity Hospital. Ann Gen Psychiatry. 2018;17:31. doi: https://doi.org/10.1186/s12991-018-0202-6
https://doi.org/10.1186/s12991-018-0202-...

8 Van Ngo T, Gammeltoft T, Nguyen HTT, Meyrowitsch DW, Rasch V. Antenatal depressive symptoms and adverse birth outcomes in Hanoi, Vietnam. PLoS One. 2018;13(11):e0206650. doi: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0206650
https://doi.org/10.1371/journal.pone.020...
-99 Martínez-Paredes JF, Jácome-Pérez N. Depression in pregnancy. Rev Colomb Psiquiatr. 2019;48(1):58-65. doi: https://doi.org/10.1016/j.rcpeng.2017.07.002
https://doi.org/10.1016/j.rcpeng.2017.07...
).

Revisão sistemática encontrou associação entre depressão pré-natal e nascimento prematuro em menos de 1/4 dos 50 estudos incluídos na pesquisa, e aproximadamente metade (53%) dos 15 estudos focados no baixo peso constatou associação à depressão prénatal(66 Accortt EE, Cheadle ACD, Dunkel CS. Prenatal depression and adverse birth outcomes: an updated systematic review. Matern Child Health J. 2015;19(6):1306-37. doi: http://doi.org/10.1007/s10995-014-1637-2
http://doi.org/10.1007/s10995-014-1637-2...
). Recente revisão de literatura incluiu sete estudos em que houve aumento no risco de prematuridade em mulheres com depressão, e outros cinco em que esse risco não foi identificado(99 Martínez-Paredes JF, Jácome-Pérez N. Depression in pregnancy. Rev Colomb Psiquiatr. 2019;48(1):58-65. doi: https://doi.org/10.1016/j.rcpeng.2017.07.002
https://doi.org/10.1016/j.rcpeng.2017.07...
).

Coorte prospectiva realizada no Quênia, em 2018, não incluída nas revisões referidas, encontrou associação entre depressão e parto prematuro: mulheres deprimidas durante a gravidez tiveram risco aproximadamente quatro vezes maior de ter bebês prematuros, quando comparadas àquelas que não estavam deprimidas(77 Mochache K, Mathai M, Gachuno O, Stoep AV, Kumar M. Depression during pregnancy and preterm delivery: a prospective cohort study among women attending antenatal clinic at Pumwani Maternity Hospital. Ann Gen Psychiatry. 2018;17:31. doi: https://doi.org/10.1186/s12991-018-0202-6
https://doi.org/10.1186/s12991-018-0202-...
). No citado estudo, adotou-se como ponto de corte da Escala de Depressão Pós-natal de Edimburgo (EPDS), escore igual ou superior a 10 pontos. No mesmo ano, coorte vietnamita, com a mesma escala e ponto de corte, encontrou risco três vezes maior de prematuridade e duas vezes maior de baixo peso ao nascer entre mulheres deprimidas(88 Van Ngo T, Gammeltoft T, Nguyen HTT, Meyrowitsch DW, Rasch V. Antenatal depressive symptoms and adverse birth outcomes in Hanoi, Vietnam. PLoS One. 2018;13(11):e0206650. doi: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0206650
https://doi.org/10.1371/journal.pone.020...
).

No Brasil, a relação entre depressão gestacional, baixo peso e prematuridade ainda é pouco estudada. Estudo de coorte desenvolvido com gestantes atendidas em serviços de baixo risco, realizado em São Paulo, capital, não encontrou associação entre transtorno depressivo e baixo peso ao nascer e prematuridade(1010 Costa DO, Souza FIS, Pedroso GC, Strufaldi MWL. Mental disorders in pregnancy and newborn conditions: longitudinal study with pregnant women attended in primary care. Cienc Saude Coletiva. 2018;23(3):691-700. doi: http://doi.org/10.1590/1413-81232018233.27772015
http://doi.org/10.1590/1413-81232018233....
). Em município da região sul do país, outro estudo de coorte, realizado com mulheres acompanhadas no pré-natal e parto exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), concluiu que mães com episódios de depressão gestacional apresentavam quase quatro vezes mais chances de seu filho ter baixo peso ao nascer(1111 Menezes LO, Pinheiro RT, Quevedo LA, Oliveira SS, Silva RA, Pinheiro KAT, et al. The impact of low birth weight related to gestational depression on Federal funding of public health: a study in Pelotas, Rio Grande do Sul State, Brazil. Cad Saúde Pública. 2012;28(10):1939-48. doi: https://doi.org/10.1590/S0102-311X2012001000012
https://doi.org/10.1590/S0102-311X201200...
).

Pelo exposto, não há consenso na literatura, internacional e brasileira, sobre a relação entre depressão gestacional, baixo peso e prematuridade, justificando a realização do presente estudo. Temse por objetivo principal investigar a associação entre sintomas depressivos na gestação, baixo peso ao nascer e prematuridade entre gestantes de baixo risco obstétrico, atendidas em serviços de Atenção Primária à Saúde; e, como objetivos secundários, identificar fatores associados a esses dois desfechos.

Método

Delineamento do estudo

Trata-se de um estudo de coorte prospectiva, desenvolvido na região Centro-Sul do estado de São Paulo(1212 Camargo LMA, Silva RPM, Meneguetti DUO. Research methodology topics: Cohort studies or prospective and retrospective cohort studies. J Hum Growth Dev. 2019;29(3):433-6. doi: https://dx.doi.org/10.7322/jhgd.v29.9543
https://dx.doi.org/10.7322/jhgd.v29.9543...
).

Local do estudo

Foi realizado em Botucatu, São Paulo, localidade com população estimada de 146.497 habitantes, em 2019(1313 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades Botucatu [Internet]. Brasília: IBGE; 2019 [Acesso 10 jul 2020]. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sp/botucatu/panorama
https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sp/bo...
); possui Índice Paulista de Responsabilidade Social, dimensões Riqueza e Longevidade, abaixo, e dimensão Escolaridade acima das do estado de São Paulo, de acordo com Informações sobre os municípios paulistas, da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados(1414 Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados. Banco de dados de informações dos municípios paulistas [Internet]. São Paulo: SEADE; 2018 [Acesso 10 jul 2020]. Disponível em: https://perfil.seade.gov.br/#
https://perfil.seade.gov.br/#...
). Quanto ao trabalho, destaca-se a área de serviços, responsável por 45,3% dos empregos formais do município.

Botucatu dispõe de Unidades de Atenção Primária à Saúde, que constituem porta de entrada preferencial do sistema de saúde, sendo 2 Centros de Saúde Escola, que atuam no modelo Unidade Básica de Saúde (UBS), 6 UBS e 12 Unidades de Saúde da Família (USF), com 15 Equipes. As UBS são referência em pediatria, ginecologia e obstetrícia e clínica geral, para a sua área de abrangência, e atendem 63,0% da população. As USF possuem equipe constituída por médico, enfermeiro, dentista, técnico de enfermagem, auxiliar de consultório dentário e agente comunitário de saúde; localizam-se em áreas periféricas e atendem, aproximadamente, a 37,0% da população do município(1515 Botucatu. Secretaria Municipal de Saúde. Plano Municipal de Saúde: período 2018-2021. Botucatu: Secretaria Municipal de Saúde; 2017 [Acesso 10 jul 2020]. 123 p. Disponível em: http://saude.botucatu.sp.gov.br/documentos/plano_mun_saude_2018-2021.pdf
http://saude.botucatu.sp.gov.br/document...
).

Participantes do estudo

As gestantes participantes foram recrutadas em todas as Unidades de Atenção Primária à Saúde do município, entre os meses de maio e dezembro de 2018. Estabeleceram-se os seguintes critérios de inclusão: gestante de qualquer idade gestacional, com idade igual ou superior a 18 anos, e alfabetizada. Excluíram-se as gestações múltiplas pelo seu efeito conhecido sobre o risco de baixo peso e prematuridade.

Para o estudo definiu-se uma amostragem por conveniência, constituída pelas 193 gestantes que completaram o acompanhamento até o parto, e para as quais todos os dados de interesse relativos a esta investigação estavam disponíveis.

Instrumentos utilizados para a coleta dos dados

Em relação à coleta de dados sobre sintomas depressivos na gestação, utilizou-se a EPDS, escala originalmente construída para o estudo da depressão pós-parto(55 Napoli A, Lamis DA, Berardelli I, Canzonetta V, Sarubbi S, Rogante E, et al. Anxiety, prenatal attachment, and depressive symptoms in women with diabetes in pregnancy. Int J Environ Res Public Health. 2020;17(2):425. doi: http://doi.org/10.3390/ijerph17020425
http://doi.org/10.3390/ijerph17020425...
), com tradução em vários idiomas e validação em diversos países, inclusive no Brasil(1616 Santos IS, Matijasevich A, Tavares BF, Barros AJD, Botelho IP, Lapolli C, et al. Validation of the Edinburgh Postnatal Depression Scale (EPDS) in a sample of mothers from the 2004 Pelotas Birth Cohort Study. Cad Saude Publica. 2007;23(11):2577-88. doi: https://doi.org/10.1590/S0102-311X2007001100005
https://doi.org/10.1590/S0102-311X200700...
), sendo indicada e validada para uso na gestação. Revisão sistemática sobre os instrumentos para avaliar a depressão em gestantes, com vistas a detectar aquele mais adequado à aplicação em serviços de pré-natal, apontou a EPDS como escala de maior acurácia (área abaixo da curva ROC = 0,965, sensibilidade = 0,80 e especificidade = 0,81)(1717 Chorwe-Sungani G, Chipps J. A systematic review of screening instruments for depression for use in antenatal services in low resource settings. BMC Psychiatry. 2017;17:112. doi: http://doi.org/10.1186/s12888-017-1273-7
http://doi.org/10.1186/s12888-017-1273-7...
). As vantagens de utilizá-la são a simplicidade e a facilidade de aplicação e interpretação, podendo ser autopreenchida e aplicada por qualquer profissional(44 Lima MOP, Tsunechiro MA, Bonadio IC, Murata M. Depressive symptoms in pregnancy and associated factors: longitudinal study. Acta Paul Enferm. 2017;30(1):39-46. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1982-0194201700007
http://dx.doi.org/10.1590/1982-019420170...
,1616 Santos IS, Matijasevich A, Tavares BF, Barros AJD, Botelho IP, Lapolli C, et al. Validation of the Edinburgh Postnatal Depression Scale (EPDS) in a sample of mothers from the 2004 Pelotas Birth Cohort Study. Cad Saude Publica. 2007;23(11):2577-88. doi: https://doi.org/10.1590/S0102-311X2007001100005
https://doi.org/10.1590/S0102-311X200700...
).

A EPDS é constituída de questionário composto de dez tópicos com quatro opções de resposta cada, pontuadas de zero a três, de acordo com a ausência, presença e intensidade dos sintomas(1818 Araújo WS, Romero WG, Zandonade E, Amorim MHC. Effects of relaxation on depression levels in women with high-risk pregnancies: a randomised clinical trial. Rev. Latino-Am. Enferm. 2016;24:e2806. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1518-8345.1249.2806
http://dx.doi.org/10.1590/1518-8345.1249...

19 Dlamini LP, Mahanya S, Dlamini SD, Shongwe MC. Prevalence and factors associated with postpartum depression at a primary healthcare facility in Eswatini. S Afr J Psychiatr. 2019;25(0):1404. doi: https://doi.org/10.4102/sajpsychiatry.v25i0.1404
https://doi.org/10.4102/sajpsychiatry.v2...
-2020 Usuda K, Nishi D, Okazaki E, Makino M, Sano Y. Optimal cut-off score of the Edinburgh Postnatal Depression Scale for major depressive episode during pregnancy in Japan. Psychiatry Clin Neurosci. 2017;71:836-42. doi: http://doi.org/10.1111/pcn.12562
http://doi.org/10.1111/pcn.12562...
), abordando a presença de humor depressivo ou disfórico, culpa, distúrbios do sono, perda do prazer, redução do desempenho e ideação de morte e suicídio(44 Lima MOP, Tsunechiro MA, Bonadio IC, Murata M. Depressive symptoms in pregnancy and associated factors: longitudinal study. Acta Paul Enferm. 2017;30(1):39-46. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1982-0194201700007
http://dx.doi.org/10.1590/1982-019420170...
-55 Napoli A, Lamis DA, Berardelli I, Canzonetta V, Sarubbi S, Rogante E, et al. Anxiety, prenatal attachment, and depressive symptoms in women with diabetes in pregnancy. Int J Environ Res Public Health. 2020;17(2):425. doi: http://doi.org/10.3390/ijerph17020425
http://doi.org/10.3390/ijerph17020425...
). O escore final varia de 0 a 30 pontos, da melhor à pior situação, respectivamente(44 Lima MOP, Tsunechiro MA, Bonadio IC, Murata M. Depressive symptoms in pregnancy and associated factors: longitudinal study. Acta Paul Enferm. 2017;30(1):39-46. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1982-0194201700007
http://dx.doi.org/10.1590/1982-019420170...
), tendo sido adotado como ponto de corte para sinalização de risco de depressão o escore de 13 pontos ou mais, conforme utilizado em outros estudos(2121 Coll CVN, Silveira MF, Bassanib DG, Netsi E, Wehrmeister FC, Barros FC, et al. Antenatal depressive symptoms among pregnant women: Evidence from a Southern Brazilian population-based cohort study Pelotas. J Affect Disord. 2017;209:140-6. doi: http://doi.org/10.1016/j.jad.2016.11.031
http://doi.org/10.1016/j.jad.2016.11.031...
-2222 Khanlari S, Barnett BAM, Ogbo FA, Eastwood J. Reexamination of perinatal mental health policy frameworks for women signalling distress on the Edinburgh Postnatal Depression Scale (EPDS) completed during their antenatal booking-in consultation: a call for population health intervention. BMC Pregnancy Childbirth. 2019;19:221. doi: https://doi.org/10.1186/s12884-019-2378-4
https://doi.org/10.1186/s12884-019-2378-...
).

Foram utilizados outros três formulários, construídos especificamente para o presente estudo: o primeiro, apenas com dados de identificação da participante; o segundo continha dados socioeconômicos, relativos ao planejamento e à aceitação da gravidez, disponibilidade de apoio social e sobre o estilo de vida das gestantes; e o terceiro, relativo à busca de dados da gestação, parto e nascimento nos prontuários das maternidades públicas de Botucatu.

Variáveis do estudo

A variável de exposição foi o escore positivo para sintomas depressivos.

Foram estudados dois desfechos: o baixo peso ao nascer e a prematuridade, e entre as covariáveis incluíram-se fatores sociodemográficos maternos e intercorrências na gestação atual. Síntese das variáveis consta na Figura 1.

Figura 1
Variáveis sob estudo, natureza e fonte de dados. Botucatu, SP, Brasil, 2018-2019

Coleta de dados

Durante o período de recrutamento das gestantes, nos dias de atendimento pré-natal, todas que compareceram à Unidade de Saúde para consulta agendada foram convidadas a participar da pesquisa. O recrutamento foi realizado por técnicos de enfermagem, enfermeiros e/ou médicos das unidades de Atenção Primária à Saúde. Para tal, receberam treinamento da coordenação do estudo, sendo informados sobre seus objetivos e o passo a passo para operacionalização da coleta de dados. Um manual foi elaborado e entregue a cada unidade de saúde, e a Unidade de Pesquisa em Saúde Coletiva (UPESC), da Faculdade de Medicina de Botucatu, permaneceu na retaguarda para dirimir eventuais dúvidas.

Realizou-se a coleta de dados em três etapas. Na etapa 1, após os esclarecimentos sobre o estudo, aquelas que aceitaram participar receberam um formulário contendo a EPDS e alguns dados de identificação. A participante era, então, conduzida a local privativo para autoaplicação do formulário. Finalizado o preenchimento, a gestante o inseria em um envelope, que, após fechado, era entregue à responsável.

A etapa 2 foi realizada em até 15 dias após a inserção da gestante na coorte, a partir de entrevista telefônica, para obtenção de dados sociodemográficos, e a etapa 3 ocorreu com a busca de dados nos prontuários das mães e recém-nascidos, nas maternidades públicas, sobre intercorrências na gestação, peso e idade gestacional ao nascer, respectivamente. Essas duas últimas etapas foram realizadas por estudantes do curso de graduação e residentes em enfermagem e nutrição, treinados, com apoio da equipe da Unidade de Pesquisa em Saúde Coletiva. Houve, também, reuniões periódicas entre as entrevistadoras e a equipe de supervisão, para suporte à coleta de dados.

Para evitar perdas de seguimento, adotaram-se estratégias como registro de números adicionais de telefone, do companheiro ou parentes indicados pela gestante; agendamento da entrevista telefônica em dia e horário da conveniência da gestante, indagado previamente no momento da aplicação presencial da EPDS; e a realização de pelo menos seis tentativas de contato antes de ser considerada uma perda.

Análise dos dados

A associação entre sintomas depressivos na gestação e os desfechos baixo peso ao nascer e prematuridade foi investigada, inicialmente, sendo identificadas as covariáveis que apresentaram p <0,20 quando associadas individualmente com os desfechos. Uma vez identificadas, foram, então, inseridas em modelos múltiplos de regressão de Cox, a fim de ajuste. Nas análises múltiplas, estabeleceu-se p crítico <0,05 visando aceitação da associação entre escore positivo de sintomas depressivos e os desfechos baixo peso ao nascer e prematuridade. Nas análises brutas e ajustadas foi calculado o Hazard Ratio (HR) e seu respectivo intervalo de confiança em 95%, sendo a adequação dos modelos avaliada verificando-se a distribuição dos resíduos. Análises foram realizadas com o software Statistical Package for the Social Science (SPSS), versão 21.

Aspectos éticos

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina de Botucatu, sob o Parecer n.o 2.641.633. As participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e, quando identificados sintomas depressivos, ou seja, o escore obtido foi igual ou superior a 13, as gestantes foram encaminhadas para avaliação médica, nas unidades de saúde onde realizavam o pré-natal.

Resultados

Entre as participantes, 49 (25,4%) apresentaram escore positivo para sintomas depressivos. Quanto aos neonatos, ocorreram 17 casos de parto prematuro (8,8%) e 12 casos de baixo peso ao nascer (6,2%). O peso mediano ao nascer foi 3.220 g.

Variáveis relacionadas às características sociodemográficas maternas e relativas à gestação atual constam da Tabela 1. As gestantes tinham idade mediana de 24,9 anos e escolaridade mediana de 11 anos; 82,4% viviam com companheiro; a frequência de intercorrências na gestação variou de 33,7%, em situação de hospitalização, e 5,2%, no caso de sangramento e trabalho de parto prematuro; e a idade gestacional mediana no parto foi 39 semanas.

Tabela 1
Características sociodemográficas maternas e relativas à gestação atual das participantes do estudo. Botucatu, SP, Brasil, 2018-2019

O escore de depressão não apresentou associação com baixo peso ao nascer na análise bruta (p= 0,530), como apresentado na Tabela 2. As covariáveis idade, sangramento na gestação, trabalho de parto prematuro, primiparidade, hospitalização na gravidez e idade gestacional no parto apresentaram associação com baixo peso ao nascer em nível de p<0,20, sendo inseridas na análise múltipla, com a variável de interesse, escore de depressão. O modelo ajustado confirmou a ausência de associação entre escore positivo para depressão e baixo peso ao nascer (p= 0,563). Também mostrou que, de maneira independente, as variáveis trabalho de parto prematuro (p= 0,049) e idade gestacional no parto (p= 0,017) associaram-se ao baixo peso ao nascer, sendo que o trabalho de parto prematuro aumentou em quase cinco vezes (HR= 4,81, IC95%= 1,01-23,0) o risco de ocorrência de baixo peso ao nascer; por outro lado, cada semana a mais na idade gestacional no parto diminuiu em 24% (HR= 0,76, IC95%= 0,61-0,95) o risco desse desfecho.

Tabela 2
Análise de regressão de Cox bruta e ajustada entre escore positivo para depressão na gestação, covariáveis e baixo peso ao nascer. Botucatu, SP, Brasil, 2018-2019

A Tabela 3 apresenta as análises relativas à prematuridade. O escore de depressão não se associou à prematuridade na análise bruta (p= 0,47). As covariáveis escolaridade e trabalho de parto prematuro (p ≤ 0,20) foram selecionadas como potenciais fatores de confundimento e inseridas no modelo ajustado, assim como a variável de interesse, escore de depressão. O modelo múltiplo confirmou a ausência de associação entre prematuridade e escore de positivo para sintomas depressivos (p= 0,826), e mostrou que o trabalho de parto prematuro (p<0,001) aumentou quase oito vezes (HR= 7,70, IC95%=2,50-23,7) o risco de prematuridade, independentemente da escolaridade e da presença de sintomas depressivos.

Tabela 3
Análise de regressão de Cox bruta e ajustada entre escore positivo para depressão na gestação, covariáveis e prematuridade. Botucatu, SP, Brasil, 2018-2019

Discussão

Este estudo não identificou associação entre a presença de sintomas depressivos no período gestacional e baixo peso ao nascer e prematuridade, ao contrário do esperado. Por outro lado, a frequência de gestantes com escore positivo para depressão foi alta e semelhante à reportada por estudo brasileiro conduzido em outra localidade, que também adotou a EPDS e o escore 13 como ponto de corte(44 Lima MOP, Tsunechiro MA, Bonadio IC, Murata M. Depressive symptoms in pregnancy and associated factors: longitudinal study. Acta Paul Enferm. 2017;30(1):39-46. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1982-0194201700007
http://dx.doi.org/10.1590/1982-019420170...
): 27,2%, 21,7% e 25,4%, entre gestantes com 20, 28 e 36 semanas de gravidez, respectivamente, o que corrobora a validade dos resultados produzidos.

Contudo, vale considerar que o estudo utilizou amostra de conveniência, constituída por usuárias do serviço público de atenção primária à saúde; portanto, não representativa da população inteira da localidade. Essa limitação não permite que seus resultados sejam generalizados, e apoia a realização de novos estudos com amostras probabilísticas e de maior tamanho sobre a temática. Por outro lado, ao incluir apenas gestantes assistidas na rede pública, minimizou-se o possível efeito da alta taxa de cesárea eletiva, presente nos serviços privados, sobre o risco de baixo peso ao nascer e prematuridade. Dessa forma, apesar da menor representatividade populacional, houve aumento na validade interna, pela exclusão de possível fator de confusão, a cesariana eletiva. Outro ponto que apoia a validade dos resultados é o fato de que o trimestre gestacional, no momento da aplicação da EPDS, não se associou com o escore resultante e os dois desfechos estudados. Por essa razão, entende-se que o fato de as gestantes não terem sido todas avaliadas na mesma fase da gestação não exerceu efeito nos resultados.

Em âmbito internacional, as taxas de depressão em gestantes têm variado entre países e dentro de um país. Utilizando a mesma escala e ponto de corte do presente estudo, pesquisa realizada na China encontrou 28,5%(2323 Zeng Y, Cui Y, Li J. Prevalence and predictors of antenatal depressive symptoms among Chinese women in their third trimester: a cross-sectional survey. BMC Psychiatry. 2015;15:66. doi: https://doi.org/10.1186/s12888-015-0452-7
https://doi.org/10.1186/s12888-015-0452-...
); na Tanzânia, 33,8%(2424 Rwakarema M, Premji SS, Nyanza EC, Riziki P, Palacios-Derflingher L. Antenatal depression is associated with pregnancy-related anxiety, partner relations, and wealth in women in Northern Tanzania: a cross-sectional study. BMC Womens Health. 2015;15:68. doi: http://doi.org/10.1186/s12905-015-0225-y
http://doi.org/10.1186/s12905-015-0225-y...
); e na Austrália, 7,0%(2525 Eastwood J, Ogbo FA, Hendry A, Noble J, Page A, Early Years Research Group (EYRG). The impact of antenatal depression on perinatal outcomes in Australian women. PLoS One. 2017;12(1):e0169907. doi: http://doi.org/10.1371/journal.pone.0169907
http://doi.org/10.1371/journal.pone.0169...
). Na Etiópia, as prevalências encontradas em diferentes localidades foram 11,8%(2626 Bisetegn TA, Mihretie G, Muche T. Prevalence and predictors of depression among pregnant women in Debretabor Town, Northwest Ethiopia. PLoS One. 2016;11(9):e0161108. doi: http://doi.org/10.1371/journal.pone.0161108
http://doi.org/10.1371/journal.pone.0161...
), 21,5%(11 Duko B, Ayano G, Bedaso A. Depression among pregnant women and associated factors in Hawassa city, Ethiopia: an institution-based cross-sectional study. Reprod Health. 2019;16(1):1-6. doi: https://doi.org/10.1186/s12978-019-0685-x
https://doi.org/10.1186/s12978-019-0685-...
) e 24,9%(2727 Biratu A, Haile D. Prevalence of antenatal depression and associated factors among pregnant women in Addis Ababa, Ethiopia: a cross-sectional study. Reprod Health. 2015;12:99. doi: http://doi.org/10.1186/s12978-015-0092-x
http://doi.org/10.1186/s12978-015-0092-x...
) e, assim, apenas o valor mais elevado alcançado em estudos etíopes foi semelhante ao do presente estudo. A ocorrência de sintomas depressivos obtida por meio da aplicação da EPDS em gestantes da Nigéria foi similar à auferida no presente estudo, porém com ponto de corte de 12, o que reduz a comparabilidade com o resultado obtido em Botucatu(33 Thompson O, Ajayi I. Prevalence of antenatal depression and associated risk factors among pregnant women attending antenatal clinics in Abeokuta North local government area, Nigeria. Depress Res Treat. 2016;2016:1-15. doi: http://dx.doi.org/10.1155/2016/4518979
http://dx.doi.org/10.1155/2016/4518979...
).

Destaca-se que o principal resultado do presente estudo foi a ausência de associação entre a presença de sintomas depressivos no período gestacional e o baixo peso ao nascer e a prematuridade. Desta forma, a hipótese de que a presença de sintomas depressivos na gestação aumentaria o risco desses desfechos neonatais negativos não se confirmou. Esse resultado se alinha com alguns estudos anteriores(66 Accortt EE, Cheadle ACD, Dunkel CS. Prenatal depression and adverse birth outcomes: an updated systematic review. Matern Child Health J. 2015;19(6):1306-37. doi: http://doi.org/10.1007/s10995-014-1637-2
http://doi.org/10.1007/s10995-014-1637-2...

7 Mochache K, Mathai M, Gachuno O, Stoep AV, Kumar M. Depression during pregnancy and preterm delivery: a prospective cohort study among women attending antenatal clinic at Pumwani Maternity Hospital. Ann Gen Psychiatry. 2018;17:31. doi: https://doi.org/10.1186/s12991-018-0202-6
https://doi.org/10.1186/s12991-018-0202-...
-88 Van Ngo T, Gammeltoft T, Nguyen HTT, Meyrowitsch DW, Rasch V. Antenatal depressive symptoms and adverse birth outcomes in Hanoi, Vietnam. PLoS One. 2018;13(11):e0206650. doi: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0206650
https://doi.org/10.1371/journal.pone.020...
), mas discorda de outro(1010 Costa DO, Souza FIS, Pedroso GC, Strufaldi MWL. Mental disorders in pregnancy and newborn conditions: longitudinal study with pregnant women attended in primary care. Cienc Saude Coletiva. 2018;23(3):691-700. doi: http://doi.org/10.1590/1413-81232018233.27772015
http://doi.org/10.1590/1413-81232018233....
), de modo que a questão permanece inconclusiva, especialmente no Brasil.

Embora muito plausível, a associação entre depressão na gestação e baixo peso ao nascer e prematuridade não foi evidenciada já na análise bruta e outros aspectos devem ser considerados para explicar esse fato. É possível que a influência da depressão varie conforme o contexto de vida das gestantes. Em ambiente de pobreza extrema, gestantes com depressão tendem à anorexia, alto nível de estresse e, assim, há pouca disposição para empreender os esforços necessários à obtenção de alimentos e cuidados de saúde. Tal fato que pode resultar em baixo ganho de peso gestacional, deficiências de nutrientes fundamentais ao crescimento do concepto e, por consequência, no baixo peso ao nascer e prematuridade(2828 Zhao R, Xu L, Wu ML, Huang SH, Cao XJ. Maternal pre-pregnancy body mass index, gestational weight gain influence birth weight. Women Birth. 2018;31(1):e20-e25. doi: http://doi.org/10.1016/j.wombi.2017.06.003
http://doi.org/10.1016/j.wombi.2017.06.0...
). Em contextos com menos pobreza, nos quais alimentos de alto valor energético estão acessíveis na atualidade até para a população de baixa renda, como é o caso do Brasil e outros países da América Latina(2929 Global Panel on Agriculture and Food Systems for Nutrition. Food systems and diets: facing the challenges of the 21st century [Internet]. London: GLOPAN; 2016 [cited 2020 Jul 10]. Available from: http://glopan.org/sites/default/files/ForesightReport.pdf
http://glopan.org/sites/default/files/Fo...
-3030 Louzada MLDC, Ricardo CZ, Steele EM, Levy RB, Cannon G, Monteiro CA. The share of ultra-processed foods determines the overall nutritional quality of diets in Brazil. Public Health Nutr. 2018;21(1):94-102. doi: http://doi.org/10.1017/S1368980017001434
http://doi.org/10.1017/S1368980017001434...
) e também do município onde o presente estudo foi realizado(3131 Gomes CB, Malta MB, Louzada MLC, Benício MHD, Barros AJD, Carvalhaes MABL. Ultra-processed food consumption by pregnant women: the effect of an educational intervention with health professionals. Matern Child Health J. 2019;23(5):692-703. doi: http://dx.doi.org/10.1007/s10995-018-2690-z
http://dx.doi.org/10.1007/s10995-018-269...
), a depressão gestacional pode não influenciar negativamente o peso ao nascer do bebê ou a chance de prematuridade. Dessa forma, outros estudos em contextos variados, brasileiros e internacionais, devem ser conduzidos para ampliar a compreensão sobre o papel da depressão no baixo peso ao nascer e no nascimento prematuro, e confirmar ou descartar a hipótese de efeito modificador do contexto.

Embora não tenha sido encontrado impacto da depressão no peso de nascimento e na ocorrência de prematuridade, a elevada ocorrência de gestantes com sintomas depressivos é relevante devido à possível repercussão desse agravo sobre outros desfechos da infância à adolescência. Estudo com gestantes deprimidas apontam menor envolvimento nos cuidados pré-natais, e maior suscetibilidade à alimentação de má qualidade(3232 Avalos LA, Caan B, Nance N, Zhu Y, Li D-K, Quesenberry C. Prenatal depression and diet quality during pregnancy. J Acad Nutr Diet. 2020;120(6):972-84. doi: http://doi.org/10.1016/j.jand.2019.12.011
http://doi.org/10.1016/j.jand.2019.12.01...
), ao tabagismo e ao uso de álcool(33 Thompson O, Ajayi I. Prevalence of antenatal depression and associated risk factors among pregnant women attending antenatal clinics in Abeokuta North local government area, Nigeria. Depress Res Treat. 2016;2016:1-15. doi: http://dx.doi.org/10.1155/2016/4518979
http://dx.doi.org/10.1155/2016/4518979...
,3333 Dadi AF, Miller ER, Mwanri L. Antenatal depression and its association with adverse birth outcomes in low and middle income countries: a systematic review and metaanalysis. PLoS One. 2020;15(1):e0227323. doi: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0227323
https://doi.org/10.1371/journal.pone.022...
-3434 Goodwin RD, Zhu J, Heisler Z, Metz TD, Wyka K, Wu M, et al. Cannabis use during pregnancy in the United States: the role of depression. Drug Alcohol Depend. 2020;210:107881. doi: https://doi.org/10.1016/j.drugalcdep.2020.107881
https://doi.org/10.1016/j.drugalcdep.202...
). Revisão de literatura sobre as repercussões da depressão materna, que incluiu publicações relacionadas a países de baixa e média renda, aponta maior risco: de distúrbios psicológicos em bebês, crianças e adolescentes; de déficit de crescimento e desenvolvimento infantil pós-natal; de desmame precoce; e de enfermidades na infância, como diarreia e outras doenças infecciosas(3535 Gelaye B, Rondon MB, Araya R, Williams MA. Epidemiology of maternal depression, risk factors, and child outcomes in low-income and middle-income countries. Lancet Psychiatry. 2016;3(10):973-82. doi: 10.1016/S2215-0366(16)30284-X
https://doi.org/10.1016/S2215-0366(16)30...
).

Vale também apontar que, secundariamente, identificou-se, neste estudo, que o trabalho de parto prematuro aumentou em aproximadamente cinco e oito vezes, respectivamente, o risco de baixo peso ao nascer e prematuridade. Por outro lado, cada semana a mais na idade gestacional no parto diminuiu em 24% o risco de baixo peso ao nascer. Tais relações são bastante conhecidas e sua identificação apoia, de certa forma, a validade dos resultados obtidos.

O trabalho de parto prematuro constitui complicação gestacional e importante determinante de morbimortalidade neonatal, pela possibilidade de evolução para parto prematuro, tendo consequências em longo prazo, incluindo distúrbios neurológicos, cognitivos, respiratórios, cardiovasculares e psicossociais(3636 Pinto F, Fernandes E, Virella D, Abrantes A, Teresa Neto M. Born preterm: a public health issue. Port J Public Health. 2019;37(1):38-49. doi: http://doi.org/10.1159/000497249
http://doi.org/10.1159/000497249...
). A associação entre trabalho de parto prematuro e baixo peso ao nascer também tem sido consistentemente reportada em outros estudos, realizados a partir de variados desenhos, com diferentes populações de gestantes e em diferentes países(3737 Hailu LD, Kebede DL. Determinants of low birth weight among deliveries at a referral hospital in Northern Ethiopia. BioMed Res Int. 2018;2018(2):8169615. doi: https://doi.org/10.1155/2018/8169615
https://doi.org/10.1155/2018/8169615...

38 Momeni M, Danaei M, Kermani AJN, Bakhshandeh M, Foroodnia S, Mahmoudabadi Z, et al. Prevalence and risk factors of low birth weight in the southeast of Iran. Int J Prev Med. 2017;8:12. doi: http://doi.org/10.4103/ijpvm.IJPVM_112_16
http://doi.org/10.4103/ijpvm.IJPVM_112_1...

39 Belfort GP, Santos MMAS, Pessoa LS, Dias JR, Heidelmann SP, Saunders C. Determinants of low birth weight in the children of adolescent mothers: a hierarchical analysis. Cienc Saude Coletiva. 2018;23(8):2609-20. doi: http://doi.org/10.1590/1413-81232018238.13972016
http://doi.org/10.1590/1413-81232018238....

40 Tshotetsi L, Dzikiti L, Hajison P, Feresu S. Maternal factors contributing to low birth weight deliveries in Tshwane District, South Africa. PLoS One. 2019;14(3):e0213058. doi: https://doi.org/10.1371/ journal.pone.0213058
https://doi.org/10.1371/...

41 Talie A, Taddele M, Alemayehu M. Magnitude of low birth weight and associated factors among newborns delivered in Dangla Primary Hospital, Amhara Regional State, Northwest Ethiopia. J Pregnancy. 2017;2019:3587239. doi: https://doi.org/10.1155/2019/3587239
https://doi.org/10.1155/2019/3587239...
-4242 Taha Z, Hassan AA, Wikkeling-Scott L, Papandreou D. Factors associated with preterm birth and low birth weight in Abu Dhabi, the United Arab Emirates. Int J Environ Res Public Health. 2020;17(4):1382. doi: http://doi.org/10.3390/ijerph17041382
http://doi.org/10.3390/ijerph17041382...
).

A elevada proporção de sintomas depressivos em gestantes de baixo risco, identificada no presente estudo, indica que devem ser incorporadas, nos serviços de saúde, ações com vistas à identificação, ao manejo e acompanhamento adequados da depressão pré-natal. Considerando a importante atuação dos enfermeiros da Atenção Primária à Saúde no acompanhamento prénatal, espera-se que esses profissionais possam liderar ações voltadas à incorporação do rastreio rotineiro para depressão entre gestantes.

Conclusão

A proporção de gestantes com sintomas depressivos foi elevada, uma vez que pouco mais de 1/4 apresentou escore igual ou superior a 13 na EPDS. Porém, não houve associação entre os sintomas depressivos apresentados no período gestacional e o baixo peso ao nascer e a prematuridade. Por outro lado, o trabalho de parto prematuro foi confirmado como fator de risco, independentemente, relacionado tanto ao baixo peso ao nascer quanto à prematuridade, e o aumento na idade gestacional confirmou-se como fator de proteção ao baixo peso ao nascer.

References

  • 1
    Duko B, Ayano G, Bedaso A. Depression among pregnant women and associated factors in Hawassa city, Ethiopia: an institution-based cross-sectional study. Reprod Health. 2019;16(1):1-6. doi: https://doi.org/10.1186/s12978-019-0685-x
    » https://doi.org/10.1186/s12978-019-0685-x
  • 2
    GBD 2017 Disease and Injury Incidence and Prevalence Collaborators. Global, regional, and national incidence, prevalence, and years lived with disability for 354 diseases and injuries for 195 countries and territories, 1990-2017: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2017. Lancet. 2018;392(10159):1789-858. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(18)32279-7
    » http://doi.org/10.1016/S0140-6736(18)32279-7
  • 3
    Thompson O, Ajayi I. Prevalence of antenatal depression and associated risk factors among pregnant women attending antenatal clinics in Abeokuta North local government area, Nigeria. Depress Res Treat. 2016;2016:1-15. doi: http://dx.doi.org/10.1155/2016/4518979
    » http://dx.doi.org/10.1155/2016/4518979
  • 4
    Lima MOP, Tsunechiro MA, Bonadio IC, Murata M. Depressive symptoms in pregnancy and associated factors: longitudinal study. Acta Paul Enferm. 2017;30(1):39-46. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1982-0194201700007
    » http://dx.doi.org/10.1590/1982-0194201700007
  • 5
    Napoli A, Lamis DA, Berardelli I, Canzonetta V, Sarubbi S, Rogante E, et al. Anxiety, prenatal attachment, and depressive symptoms in women with diabetes in pregnancy. Int J Environ Res Public Health. 2020;17(2):425. doi: http://doi.org/10.3390/ijerph17020425
    » http://doi.org/10.3390/ijerph17020425
  • 6
    Accortt EE, Cheadle ACD, Dunkel CS. Prenatal depression and adverse birth outcomes: an updated systematic review. Matern Child Health J. 2015;19(6):1306-37. doi: http://doi.org/10.1007/s10995-014-1637-2
    » http://doi.org/10.1007/s10995-014-1637-2
  • 7
    Mochache K, Mathai M, Gachuno O, Stoep AV, Kumar M. Depression during pregnancy and preterm delivery: a prospective cohort study among women attending antenatal clinic at Pumwani Maternity Hospital. Ann Gen Psychiatry. 2018;17:31. doi: https://doi.org/10.1186/s12991-018-0202-6
    » https://doi.org/10.1186/s12991-018-0202-6
  • 8
    Van Ngo T, Gammeltoft T, Nguyen HTT, Meyrowitsch DW, Rasch V. Antenatal depressive symptoms and adverse birth outcomes in Hanoi, Vietnam. PLoS One. 2018;13(11):e0206650. doi: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0206650
    » https://doi.org/10.1371/journal.pone.0206650
  • 9
    Martínez-Paredes JF, Jácome-Pérez N. Depression in pregnancy. Rev Colomb Psiquiatr. 2019;48(1):58-65. doi: https://doi.org/10.1016/j.rcpeng.2017.07.002
    » https://doi.org/10.1016/j.rcpeng.2017.07.002
  • 10
    Costa DO, Souza FIS, Pedroso GC, Strufaldi MWL. Mental disorders in pregnancy and newborn conditions: longitudinal study with pregnant women attended in primary care. Cienc Saude Coletiva. 2018;23(3):691-700. doi: http://doi.org/10.1590/1413-81232018233.27772015
    » http://doi.org/10.1590/1413-81232018233.27772015
  • 11
    Menezes LO, Pinheiro RT, Quevedo LA, Oliveira SS, Silva RA, Pinheiro KAT, et al. The impact of low birth weight related to gestational depression on Federal funding of public health: a study in Pelotas, Rio Grande do Sul State, Brazil. Cad Saúde Pública. 2012;28(10):1939-48. doi: https://doi.org/10.1590/S0102-311X2012001000012
    » https://doi.org/10.1590/S0102-311X2012001000012
  • 12
    Camargo LMA, Silva RPM, Meneguetti DUO. Research methodology topics: Cohort studies or prospective and retrospective cohort studies. J Hum Growth Dev. 2019;29(3):433-6. doi: https://dx.doi.org/10.7322/jhgd.v29.9543
    » https://dx.doi.org/10.7322/jhgd.v29.9543
  • 13
    Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades Botucatu [Internet]. Brasília: IBGE; 2019 [Acesso 10 jul 2020]. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sp/botucatu/panorama
    » https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sp/botucatu/panorama
  • 14
    Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados. Banco de dados de informações dos municípios paulistas [Internet]. São Paulo: SEADE; 2018 [Acesso 10 jul 2020]. Disponível em: https://perfil.seade.gov.br/#
    » https://perfil.seade.gov.br/#
  • 15
    Botucatu. Secretaria Municipal de Saúde. Plano Municipal de Saúde: período 2018-2021. Botucatu: Secretaria Municipal de Saúde; 2017 [Acesso 10 jul 2020]. 123 p. Disponível em: http://saude.botucatu.sp.gov.br/documentos/plano_mun_saude_2018-2021.pdf
    » http://saude.botucatu.sp.gov.br/documentos/plano_mun_saude_2018-2021.pdf
  • 16
    Santos IS, Matijasevich A, Tavares BF, Barros AJD, Botelho IP, Lapolli C, et al. Validation of the Edinburgh Postnatal Depression Scale (EPDS) in a sample of mothers from the 2004 Pelotas Birth Cohort Study. Cad Saude Publica. 2007;23(11):2577-88. doi: https://doi.org/10.1590/S0102-311X2007001100005
    » https://doi.org/10.1590/S0102-311X2007001100005
  • 17
    Chorwe-Sungani G, Chipps J. A systematic review of screening instruments for depression for use in antenatal services in low resource settings. BMC Psychiatry. 2017;17:112. doi: http://doi.org/10.1186/s12888-017-1273-7
    » http://doi.org/10.1186/s12888-017-1273-7
  • 18
    Araújo WS, Romero WG, Zandonade E, Amorim MHC. Effects of relaxation on depression levels in women with high-risk pregnancies: a randomised clinical trial. Rev. Latino-Am. Enferm. 2016;24:e2806. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1518-8345.1249.2806
    » http://dx.doi.org/10.1590/1518-8345.1249.2806
  • 19
    Dlamini LP, Mahanya S, Dlamini SD, Shongwe MC. Prevalence and factors associated with postpartum depression at a primary healthcare facility in Eswatini. S Afr J Psychiatr. 2019;25(0):1404. doi: https://doi.org/10.4102/sajpsychiatry.v25i0.1404
    » https://doi.org/10.4102/sajpsychiatry.v25i0.1404
  • 20
    Usuda K, Nishi D, Okazaki E, Makino M, Sano Y. Optimal cut-off score of the Edinburgh Postnatal Depression Scale for major depressive episode during pregnancy in Japan. Psychiatry Clin Neurosci. 2017;71:836-42. doi: http://doi.org/10.1111/pcn.12562
    » http://doi.org/10.1111/pcn.12562
  • 21
    Coll CVN, Silveira MF, Bassanib DG, Netsi E, Wehrmeister FC, Barros FC, et al. Antenatal depressive symptoms among pregnant women: Evidence from a Southern Brazilian population-based cohort study Pelotas. J Affect Disord. 2017;209:140-6. doi: http://doi.org/10.1016/j.jad.2016.11.031
    » http://doi.org/10.1016/j.jad.2016.11.031
  • 22
    Khanlari S, Barnett BAM, Ogbo FA, Eastwood J. Reexamination of perinatal mental health policy frameworks for women signalling distress on the Edinburgh Postnatal Depression Scale (EPDS) completed during their antenatal booking-in consultation: a call for population health intervention. BMC Pregnancy Childbirth. 2019;19:221. doi: https://doi.org/10.1186/s12884-019-2378-4
    » https://doi.org/10.1186/s12884-019-2378-4
  • 23
    Zeng Y, Cui Y, Li J. Prevalence and predictors of antenatal depressive symptoms among Chinese women in their third trimester: a cross-sectional survey. BMC Psychiatry. 2015;15:66. doi: https://doi.org/10.1186/s12888-015-0452-7
    » https://doi.org/10.1186/s12888-015-0452-7
  • 24
    Rwakarema M, Premji SS, Nyanza EC, Riziki P, Palacios-Derflingher L. Antenatal depression is associated with pregnancy-related anxiety, partner relations, and wealth in women in Northern Tanzania: a cross-sectional study. BMC Womens Health. 2015;15:68. doi: http://doi.org/10.1186/s12905-015-0225-y
    » http://doi.org/10.1186/s12905-015-0225-y
  • 25
    Eastwood J, Ogbo FA, Hendry A, Noble J, Page A, Early Years Research Group (EYRG). The impact of antenatal depression on perinatal outcomes in Australian women. PLoS One. 2017;12(1):e0169907. doi: http://doi.org/10.1371/journal.pone.0169907
    » http://doi.org/10.1371/journal.pone.0169907
  • 26
    Bisetegn TA, Mihretie G, Muche T. Prevalence and predictors of depression among pregnant women in Debretabor Town, Northwest Ethiopia. PLoS One. 2016;11(9):e0161108. doi: http://doi.org/10.1371/journal.pone.0161108
    » http://doi.org/10.1371/journal.pone.0161108
  • 27
    Biratu A, Haile D. Prevalence of antenatal depression and associated factors among pregnant women in Addis Ababa, Ethiopia: a cross-sectional study. Reprod Health. 2015;12:99. doi: http://doi.org/10.1186/s12978-015-0092-x
    » http://doi.org/10.1186/s12978-015-0092-x
  • 28
    Zhao R, Xu L, Wu ML, Huang SH, Cao XJ. Maternal pre-pregnancy body mass index, gestational weight gain influence birth weight. Women Birth. 2018;31(1):e20-e25. doi: http://doi.org/10.1016/j.wombi.2017.06.003
    » http://doi.org/10.1016/j.wombi.2017.06.003
  • 29
    Global Panel on Agriculture and Food Systems for Nutrition. Food systems and diets: facing the challenges of the 21st century [Internet]. London: GLOPAN; 2016 [cited 2020 Jul 10]. Available from: http://glopan.org/sites/default/files/ForesightReport.pdf
    » http://glopan.org/sites/default/files/ForesightReport.pdf
  • 30
    Louzada MLDC, Ricardo CZ, Steele EM, Levy RB, Cannon G, Monteiro CA. The share of ultra-processed foods determines the overall nutritional quality of diets in Brazil. Public Health Nutr. 2018;21(1):94-102. doi: http://doi.org/10.1017/S1368980017001434
    » http://doi.org/10.1017/S1368980017001434
  • 31
    Gomes CB, Malta MB, Louzada MLC, Benício MHD, Barros AJD, Carvalhaes MABL. Ultra-processed food consumption by pregnant women: the effect of an educational intervention with health professionals. Matern Child Health J. 2019;23(5):692-703. doi: http://dx.doi.org/10.1007/s10995-018-2690-z
    » http://dx.doi.org/10.1007/s10995-018-2690-z
  • 32
    Avalos LA, Caan B, Nance N, Zhu Y, Li D-K, Quesenberry C. Prenatal depression and diet quality during pregnancy. J Acad Nutr Diet. 2020;120(6):972-84. doi: http://doi.org/10.1016/j.jand.2019.12.011
    » http://doi.org/10.1016/j.jand.2019.12.011
  • 33
    Dadi AF, Miller ER, Mwanri L. Antenatal depression and its association with adverse birth outcomes in low and middle income countries: a systematic review and metaanalysis. PLoS One. 2020;15(1):e0227323. doi: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0227323
    » https://doi.org/10.1371/journal.pone.0227323
  • 34
    Goodwin RD, Zhu J, Heisler Z, Metz TD, Wyka K, Wu M, et al. Cannabis use during pregnancy in the United States: the role of depression. Drug Alcohol Depend. 2020;210:107881. doi: https://doi.org/10.1016/j.drugalcdep.2020.107881
    » https://doi.org/10.1016/j.drugalcdep.2020.107881
  • 35
    Gelaye B, Rondon MB, Araya R, Williams MA. Epidemiology of maternal depression, risk factors, and child outcomes in low-income and middle-income countries. Lancet Psychiatry. 2016;3(10):973-82. doi: 10.1016/S2215-0366(16)30284-X
    » https://doi.org/10.1016/S2215-0366(16)30284-X
  • 36
    Pinto F, Fernandes E, Virella D, Abrantes A, Teresa Neto M. Born preterm: a public health issue. Port J Public Health. 2019;37(1):38-49. doi: http://doi.org/10.1159/000497249
    » http://doi.org/10.1159/000497249
  • 37
    Hailu LD, Kebede DL. Determinants of low birth weight among deliveries at a referral hospital in Northern Ethiopia. BioMed Res Int. 2018;2018(2):8169615. doi: https://doi.org/10.1155/2018/8169615
    » https://doi.org/10.1155/2018/8169615
  • 38
    Momeni M, Danaei M, Kermani AJN, Bakhshandeh M, Foroodnia S, Mahmoudabadi Z, et al. Prevalence and risk factors of low birth weight in the southeast of Iran. Int J Prev Med. 2017;8:12. doi: http://doi.org/10.4103/ijpvm.IJPVM_112_16
    » http://doi.org/10.4103/ijpvm.IJPVM_112_16
  • 39
    Belfort GP, Santos MMAS, Pessoa LS, Dias JR, Heidelmann SP, Saunders C. Determinants of low birth weight in the children of adolescent mothers: a hierarchical analysis. Cienc Saude Coletiva. 2018;23(8):2609-20. doi: http://doi.org/10.1590/1413-81232018238.13972016
    » http://doi.org/10.1590/1413-81232018238.13972016
  • 40
    Tshotetsi L, Dzikiti L, Hajison P, Feresu S. Maternal factors contributing to low birth weight deliveries in Tshwane District, South Africa. PLoS One. 2019;14(3):e0213058. doi: https://doi.org/10.1371/ journal.pone.0213058
    » https://doi.org/10.1371/journal.pone.0213058
  • 41
    Talie A, Taddele M, Alemayehu M. Magnitude of low birth weight and associated factors among newborns delivered in Dangla Primary Hospital, Amhara Regional State, Northwest Ethiopia. J Pregnancy. 2017;2019:3587239. doi: https://doi.org/10.1155/2019/3587239
    » https://doi.org/10.1155/2019/3587239
  • 42
    Taha Z, Hassan AA, Wikkeling-Scott L, Papandreou D. Factors associated with preterm birth and low birth weight in Abu Dhabi, the United Arab Emirates. Int J Environ Res Public Health. 2020;17(4):1382. doi: http://doi.org/10.3390/ijerph17041382
    » http://doi.org/10.3390/ijerph17041382

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Set 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    23 Set 2020
  • Aceito
    17 Abr 2021
Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto / Universidade de São Paulo Av. Bandeirantes, 3900, 14040-902 Ribeirão Preto SP Brazil, Tel.: +55 (16) 3315-3451 / 3315-4407 - Ribeirão Preto - SP - Brazil
E-mail: rlae@eerp.usp.br