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Consulta coletiva de pré-natal: uma nova proposta para uma assistência integral

Resumos

Este estudo consiste na descrição da Consulta Coletiva de Pré-Natal como nova metodologia assistencial, a qual é realizada seguindo os padrões governamentais, porém, coletivamente. Utilizou-se técnicas de relaxamento e de sensibilização e dinâmicas de grupo, incluindo o exame coletivo das gestantes em um espaço acolhedor, esclarecedor e socializador de experiências e informações, em que a gestante é protagonista. Na Consulta Coletiva, o profissional registra todos os parâmetros e condutas obstétricos no cartão e prontuário perinatal e prioriza o princípio da integralidade e cidadania, buscando romper com o paradigma assistencial-biomédico, favorecendo assistência humanizada e integral à mulher.

cuidados integrais à saúde; enfermagem obstétrica; mulheres grávidas


This article describes the Collective Prenatal Consultation as a new healthcare methodology, which is performed according to government standards, but collectively. Relaxation and sensitization techniques are used, as well as group dynamics, including a collective exam of the pregnant women. The Collective Consultation is carried out in a welcoming environment, which provides clarification and socialization of experiences and information, centered on those women. The healthcare professional records every obstetric parameter and behavior in the patient's prenatal card and history file. Priority is given to the principle of integrality and citizenship, with the aim to break the biomedical care paradigm, thus favoring humanized and comprehensive care to the women.

comprehensive health care; obstetrical nursing; pregnant women


Consiste en la descripción de la Consulta Pre-Natal Colectiva como una nueva metodología asistencial, la cual es realizada siguiendo los estándares gubernamentales, no obstante de forma colectiva. Se utilizan técnicas de relajación, sensibilización y dinámicas de grupo, incluyendo el examen colectivo de las gestantes en un lugar acogedor, informativo y socializador de experiencias e informaciones, en el cual la gestante es protagonista. En la Consulta Colectiva el profesional registra todos los parámetros y conductas obstétricas en el carnet e historia peri-natal, priorizando los principios de atención integral y ciudadanía, buscando romper con el paradigma asistencial-biomédico y favoreciendo para una atención humanizada e integral de la mujer.

atención integral de salud; enfermería obstétrica; mujeres embarazadas


COMUNICAÇÕES BREVES / RELATOS DE CASOS

Consulta coletiva de pré-natal: uma nova proposta para uma assistência integral

Lucia Helena Garcia PennaI; Joana Iabrudi CarinhanhaII; Raquel Fonseca RodriguesIII

IDoutor em Saúde da Crinça e da Mulher, Professor Adjunto,.e-mail: luciapenna@terra.com.br

IIMestranda, Professor Assistente da Universidade Severino Sombra, Brasil, e-mail: iabrudi@yahoo.com. Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil

IIIEnfermeira do Instituto Fernandes Figueiras da Fundação Oswaldo Cruz, Brasil, e-mail: quel_fonseca@yahoo.com.br

RESUMO

Este estudo consiste na descrição da Consulta Coletiva de Pré-Natal como nova metodologia assistencial, a qual é realizada seguindo os padrões governamentais, porém, coletivamente. Utilizou-se técnicas de relaxamento e de sensibilização e dinâmicas de grupo, incluindo o exame coletivo das gestantes em um espaço acolhedor, esclarecedor e socializador de experiências e informações, em que a gestante é protagonista. Na Consulta Coletiva, o profissional registra todos os parâmetros e condutas obstétricos no cartão e prontuário perinatal e prioriza o princípio da integralidade e cidadania, buscando romper com o paradigma assistencial-biomédico, favorecendo assistência humanizada e integral à mulher.

Descritores: cuidados integrais à saúde; enfermagem obstétrica; mulheres grávidas

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O presente estudo consiste na descrição de inovação metodológica assistencial no trabalho com mulheres: a Consulta Coletiva no Pré-Natal.

Tradicionalmente, a maioria das consultas de pré-natal segue o modelo biomédico(1), entretanto, apesar da sua reconhecida contribuição, esse padrão carece de análises críticas quanto ao processo de transformação da realidade. Refletindo sobre a qualidade no Pré-Natal, o Ministério da Saúde aponta a ação educativa como a melhor forma de assistir a gestante e promover a saúde(2). Entretanto, depara-se com um serviço público de saúde abarrotado que obriga o profissional a reduzir o tempo disponível para desenvolver atividades educativas e que abordem a subjetividade das mulheres. Pesquisas convergem tanto na constatação das falhas na organização do atendimento quanto no pensamento de que se trata de situação “desumanizante”(3-5).

Nesse sentido, procurou-se, aqui, bases no pensamento de que o espaço coletivo é a mais rica oportunidade para se experimentar verdadeiramente a participação e a produção coletiva do conhecimento(6). Entende-se que, assim, é possível intervir com mais efetividade tanto nas questões individuais quanto no âmbito coletivo, considerando a saúde como processo histórico e social.

DESCREVENDO A CONSULTA COLETIVA

A proposta dessa nova metodologia é a realização de consulta de pré-natal baseada nos padrões de uma consulta individual(2), entretanto, possui como particularidade ser desenvolvida de forma coletiva e tem como objetivo principal auxiliar a mulher na construção de sua maternidade e no exercício de sua cidadania, rompendo com o paradigma assistencial biomédico.

No desenvolvimento da consulta coletiva, delineou-se algumas estratégias: a consulta ocorreu em uma sala especial com som ambiente, as atividades eram iniciadas com exercícios de relaxamento, realizavam-se dinâmicas com as mulheres acerca de suas representações sobre a gravidez e as modificações do organismo materno e a evolução do quadro do bebê, discutia-se os temas que emergiram, seja sobre as intercorrências desde a última consulta, as orientações para o parto, a questão dos acompanhantes, as relações conjugais ou qualquer outro assunto que elas desejassem esclarecer, conforme a necessidade e interesse do grupo e, finalmente, o exame coletivo das gestantes, onde elas mesmas se auto-examinavam e examinavam as outras mulheres. O exame restringiu-se, no coletivo, à palpação obstétrica, verificação da altura do fundo uterino e ausculta do batimento cardíaco fetal (BCF). Esse momento desperta grande euforia nas mulheres, pois dá a elas a apropriação sobre o seu corpo e o desenvolvimento de seu filho. Vale ressaltar que as mamas e genitália são examinadas na consulta individual. Essa consulta tem o mesmo valor de uma consulta individual, uma vez que é registrado no cartão e prontuário da gestante todos os parâmetros e condutas obstétricos (e quaisquer outros dados sobre a mulher), preconizados em uma assistência pré-natal.

Cabe salientar, ainda, que as Consultas Coletivas são realizadas após as mulheres terem sido assistidas, no mínimo, em uma Consulta Individual. Além disso, a prévia comunicação sobre a Consulta Coletiva lhes garante o direito de não desejar participar da mesma.

DISCUTINDO A CONSULTA COLETIVA

Nessa consulta, as mulheres têm a possibilidade de reforçar a auto-estima, desenvolver o autocuidado e conhecer melhor seu corpo e seus direitos trocar experiências, sentimentos, sentirem-se seguras, perceberem que os problemas são comuns e que não estão sozinhas(6-7).

Essa forma de pensar e agir a assistência à gestante reporta a um outro pensamento: “tudo o que se sabe aos poucos se adquire por viver muitas e diferentes situações de trocas entre pessoas, com o corpo, com a consciência, com o corpo-e-a-consciência. As pessoas convivem umas com as outras e o saber flui...”(8).

Entende-se que, com a Consulta Coletiva, será possível à mulher ter nova visão do seu papel social, da sua sexualidade como prazer e não só para a reprodução ou como objeto de consumo e sim como agente transformador da realidade. Concomitantemente, pretende contribuir para a humanização da assistência pré-natal, ao entendê-la como rico contexto de relacionamento interpessoal e não como simples procedimento técnico(4,9-10).

Caracteriza-se como inovação metodológica assistencial que pressupõe prática humanizada, calcada na valorização do saber da mulher, na socialização de conhecimentos (popular e científico) e experiências, na quebra da hierarquia social. É adotada, portanto, postura de igualdade para com o grupo, estimulando a igualdade e a solidariedade entre elas. Concomitantemente, há a preocupação de inculcar na mulher a posição de protagonista desse atendimento. Outro ponto a ser ressaltado, acerca da conduta do profissional de saúde, diz respeito à necessidade de se conhecer e se interessar pelo contexto e vivências de cada mulher, ajudando-a na construção de sua maternidade e sua saúde.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, é possível considerar que a Consulta Coletiva está intimamente ligada ao princípio da integralidade, o qual, segundo o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), significa prática que atenda todas as necessidades de saúde do indivíduo ou do grupo em questão, favorecendo a prevenção e promoção da saúde em âmbito coletivo. Portanto, a Consulta Coletiva, em conjunto com a consulta individual, contribui para a expansão da cobertura pré-natal, bem como para o atendimento integral da mulher. Com essa inovação metodológica, acredita-se estar contribuindo para se caminhar no sentido da ruptura do paradigma assistencial-biomédico e concretizar assistência humanizada que valorize verdadeira e efetivamente a mulher em sua integralidade.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

Recebido em: 29.4.2007

Aprovado em: 7.11.2007

  • 1. Penna LHG, Progianti JM, Correa LM. Enfermagem Obstétrica no Acompanhamento Pré-Natal. Rev Bras Enfermagem 1999 julho-setembro; 52(3):385-90.
  • 2
    Ministério da Saúde (BR). Assistência Pré-Natal - Manual Técnico. 3ª ed. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2000.
  • 3. Oba MDV, Tavares MSG, Aspectos positivos e negativos da assistência pré-natal no município de Ribeirão Preto-SP. Rev Latino-am Enfermagem 2000 abril; 8(2):11-7.
  • 4. Casate JC, Corrêa AK. Humanização do atendimento em saúde: conhecimento veiculado na literatura de enfermagem. Rev Latino-am Enfermagem 2005 janeiro-fevereiro; 13(1):105-11.
  • 5. Serruya SJ, Lago TG, Cecatti JG. O panorama da atenção pré-natal no Brasil e o Programa de Humanização do Pré-natal e Nascimento. Rev Bras Saude Mater Infant 2004 julho-setembro, 4(3):269-79.
  • 6. Assis M. Educação e Saúde e Qualidade de Vida: para além dos modelos, a busca da comunicação. Rio de Janeiro (RJ): UERJ/IMS; 1998.
  • 7. Vasconcelos EM. Educação Popular nos Serviços de Saúde. São Paulo (SP): HUCITEC; 1989.
  • 8. Brandão CR. O que é Educação. 9ª ed. São Paulo (SP): Brasiliense; 1983.
  • 9. Silva MG. A consulta de enfermagem no contexto da comunicação interpessoal - a percepção do cliente. Rev Latino-am Enfermagem 1998 janeiro; 6(1):27-31.
  • 10. Deslandes SF, Ayres JRCM. Humanização e cuidado em saúde. Ciênc Saúde Coletiva 2005 julho-setembro, 10(3):510.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    31 Mar 2008
  • Data do Fascículo
    Fev 2008

Histórico

  • Recebido
    29 Abr 2007
  • Aceito
    07 Nov 2007
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