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Fatores de risco pessoais e interpessoais no consumo de drogas ilícitas em adolescentes e jovens marginais de bandos juvenis

Resumos

Grupos reconhecidos com maior risco para o consumo de drogas, são os de populações marginais, e, dentro destas, podemos localizar os adolescentes que pertencem a bandos juvenis. O objetivo do presente estudo foi analisar o efeito dos fatores de risco pessoais e interpessoais sobre o consumo de drogas em 175 adolescentes e jovens marginais de bandos juvenis do México. Os resultados mostraram um efeito significativo dos fatores pessoais com uma variação estimada de 26,1%, sendo que os fatores que mostraram um índice maior foram: sexo, idade e problemas de saúde mental. Os fatores interpessoais: relação com amigos portadores de condutas mal adaptadas e relação e inapropriada com os pais, mostraram efeito com uma variação estimada de 15%. Estes resultados possibilitaram a reflexão e em um futuro desenhar programas adequados direcionados à prevenção neste grupo de jovens.

saúde de adolescente; drogas ilícitas; grupos de risco


Marginal populations are groups which are known to present higher risks of drug consumption. It is possible to identify adolescents and young people from juvenile gangs that constitute this group. The purpose of this study was to analyze the effect of personal and interpersonal risk factors of drug consumption in 175 marginal adolescents and young people who belong to juvenile gangs in Mexico. Results showed a significant effect of personal factors on drug use, with an estimated variation of 26.1%. The factors that presented the highest rates were: gender, age and mental problems. The interpersonal factors (relationships with friends who have maladaptive behaviors and inappropriate relationships with parents) showed an effect with an estimated variation of 15%. These results will allow for reflection and, in the future, the elaboration of adequate preventive programs aimed at this group of young people.

adolescent health; street groups; risk groups


Grupos reconocidos con mayor riesgo para consumir drogas, son los marginales, dentro de estos podemos localizar a los adolescentes y jóvenes de bandas juveniles. El objetivo del estudio fue analizar el efecto de los factores de riesgo personales e interpersonales sobre el consumo de drogas, en 175 adolescentes y jóvenes margínales de bandas juveniles de México. Los resultados mostraron efecto significativo de los factores personales sobre el consumo de drogas, con una varianza explicada del 26.1%, los factores que mostraron una mayor contribución fueron; el sexo, edad y problemas de salud mental. Los factores interpersonales (relación con amigos con conductas mal adaptadas y relación inapropiada con padres) mostraron un efecto sobre el consumo de drogas, con una varianza explicada del 15%. Estos resultados posibilitarán la reflexión y en un futuro diseñar programas adecuados dirigidos a la prevención en este grupo de jóvenes.

salud del adolescente; drogas ilícitas; grupos vulnerables


ARTIGO ORIGINAL

Fatores de risco pessoais e interpessoais no consumo de drogas ilícitas em adolescentes e jovens marginais de bandos juvenis*

Francisco Rafael Guzmán FacundoI; Luiz Jorge PedrãoII

IProfessor da Faculdade de Enfermagem da Universidade Autônoma de Nova Leon, México, e-mail: pako2001@hotmail.com

IIProfessor Doutor da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, Brasil, e-mail: lujope@eerp.usp.br

RESUMO

Grupos reconhecidos com maior risco para o consumo de drogas, são os de populações marginais, e, dentro destas, podemos localizar os adolescentes que pertencem a bandos juvenis. O objetivo do presente estudo foi analisar o efeito dos fatores de risco pessoais e interpessoais sobre o consumo de drogas em 175 adolescentes e jovens marginais de bandos juvenis do México. Os resultados mostraram um efeito significativo dos fatores pessoais com uma variação estimada de 26,1%, sendo que os fatores que mostraram um índice maior foram: sexo, idade e problemas de saúde mental. Os fatores interpessoais: relação com amigos portadores de condutas mal adaptadas e relação e inapropriada com os pais, mostraram efeito com uma variação estimada de 15%. Estes resultados possibilitaram a reflexão e em um futuro desenhar programas adequados direcionados à prevenção neste grupo de jovens.

Descritores: saúde de adolescente; drogas ilícitas; grupos de risco

INTRODUÇÃO

O abuso no consumo de drogas constitui um problema social e de saúde pública na maioria dos países pelas múltiplas conseqüências negativas que este consumo provoca sobre o desenvolvimento emocional e físico das pessoas(1). Relatórios das Nações Unidas mostram que, nos últimos anos, houve incremento no uso de drogas em todo mundo, cerca de 200 milhões de pessoas (5% da população mundial de 15 a 64 anos de idade) consumiram drogas, pelo menos, no último ano(1). No México, o consumo de drogas em adolescentes e jovens se manifesta de maneira preocupante, 3,16% (215.634) dos adolescentes de 12 a 17 anos mencionaram consumir alguma vez, a droga de preferência foi a maconha, seguida por inalantes e cocaína(2).

Para alguns jovens e adolescentes, experimentar o consumo de drogas é um ritual necessário para atravessar a fase de personalização. De fato, poder-se-ia dizer que a maior parte desses jovens são experimentadores, no entanto, para aqueles jovens e adolescentes que apresentam personalidades complexas, pode constituir a única alternativa para enfrentar problemas pessoais, assim mesmo podem ser os mais sensíveis à dependência de drogas. Grupos que se reconhecem como de maior risco para o consumo de drogas, são populações marginais ou populações ocultas(3). Dentro de populações marginais, podemos localizar adolescentes e jovens que pertencem a bandos juvenis; se reconhecem como bandos juvenis os membros de um mesmo bairro que desenvolvem relações de companheirismo e que têm como principais objetivos: divertir-se e prevalecer sobre bandos rivais de outros bairros, tudo isso marcado com violência(4).

Esses tipos de adolescentes e jovens, com freqüência são omitidos das enquetes epidemiológicas nacionais sobre consumo de drogas. Existem artigos de alguns jornais nacionais e locais, sobre o incremento do número de adolescentes e jovens que se integram a bandos juvenis na Cidade de Monterrey, N.L., México. Por outro lado, nos últimos anos, se observa crescimento no nível de violência e problemas sociais relacionados com o uso de drogas nesses grupos marginais.

Os bandos juvenis são compostos por 7 a 35 membros, com idades que vão desde 10 até 29 anos, são basicamente do sexo masculino, a maioria provém dos setores empobrecidos e o consumo de drogas reporta-se como uma das principais atividades nesses grupos(5-7). Porém, é necessário aprofundar a explicação dos fatores que levam esses adolescentes e jovens a consumir drogas.

Considera-se fatores de risco para o uso de drogas todas aquelas condições que expõem os sujeitos ou os fazem mais vulneráveis a cair no consumo de drogas(8). De acordo à literatura nacional mexicana e internacional, identificaram-se fatores de risco pessoais, e os foram: ser varão(9-10); a idade, observando que quanto maior a idade maior é o probabilidade de consumir algum tipo de droga(5,11-12); o baixo nível educacional(13); ter trabalho remunerado(5,14); e ter sintomas de problemas mentais(13,15).

Entre os fatores de risco interpessoais que a literatura destaca estão: o ter amigos usuários ou amigos sob condutas desajustadas. Os estudos reportam que quem têm amigos usuários de drogas têm maior probabilidade de consumo do que os que não têm amigos usuários(10,15-16). As relações inapropriadas com os pais, tais como falta de comunicação e a falta de supervisão deles, são fatores de risco reportados pela literatura em adolescentes e jovens(15). Acrescenta-se ainda o fato de ter pais usuários de drogas(10).

No México, estuda-se o fenômeno das drogas principalmente em adolescentes e jovens escolarizados, apesar dos avanços não mostrarem, no momento, soluções integralmente eficientes para enfrentar o problema, e, na revisão de literatura, encontrou-se poucos estudos que abordassem a problemática das drogas em grupos de adolescentes e jovens de bandos juvenis, se convertendo assim num ponto de grande relevância para o profissional de enfermagem na prevenção das dependências de drogas. Pelo exposto, analisou-se o efeito dos fatores de risco pessoais e interpessoais sobre o consumo de drogas em adolescentes e jovens marginais de bandos juvenis, alinhado com as hipóteses de que a interação de fatores de risco pessoais tem efeito no consumo de drogas em adolescentes e jovens de bandos juvenis e de que os fatores de risco interpessoais mostram efeito positivo sobre o consumo de drogas em adolescentes e jovens de bandos juvenis.

MÉTODOS

O tipo de estudo foi descritivo, explicativo, em virtude de que se trata de mostrar o efeito explicativo dos fatores de risco pessoais e interpessoais sobre o consumo de drogas. Os participantes do estudo foram adolescentes e jovens marginais, de ambos os sexos, de 16 a 29 anos, que pertenciam a bandos juvenis da área metropolitana da cidade de Monterrey. Para a estimação da amostra se utilizou o programa N Query Advisor 4, e foi estimada para uma regressão linear múltipla com sete variáveis, com potência de 0,90, nível de significância de 0,05, para variância explicada de 20%(5), o total da amostra foi de 175 sujeitos.

Foram utilizados dois instrumentos para a coleta dos dados e um formulário para os dados pessoais. O primeiro instrumento, denominado POSIT (The Problem Oriented Screening Instrument for Teenagers) validado no México(17) e neste estudo mostrou uma confiabilidade alta (α=,82). Para o presente estudo, unicamente, se considerou 45 itens que correspondem a: sintomas de problemas de saúde mental, relações inapropriadas com pais ou tutores, relações com amigos sob condutas desajustadas e baixo nível educacional. A pontuação mínima dos itens selecionados é de zero e a máxima é de 45, para o tratamento estatístico a escala total e as subescalas se converteram em índices com pontuação que vai de 0 a 100, o que indica que quanto maior a pontuação maior é o fator de risco. O segundo instrumento que se utilizou foi o Histórico de Consumo de Drogas (HDC), que questiona sobre o uso de drogas alguma vez na vida, no último ano, no último mês anterior à pesquisa, bem como o número de dias de consumo nos últimos trinta dias.

O projeto foi revisado e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia da Universidade de Guanajuato e pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade de Enfermagem da Universidade Autônoma de Nuevo Leon. Os sujeitos foram visitados nas horas que se reuniam, geralmente à noite, depois das 20 horas, em seu lugar de reunião. Para a aproximação com os sujeitos do estudo, realizaram-se visitas aos bairros urbanos marginais, onde se observavam os bandos juvenis. A detecção de grupos de jovens se realizou por referências de informantes chaves tais como vizinhos. Uma vez identificado o bairro, retificou-se o diagnóstico de presença de bandos juvenis através de percursos matutinos e noturnos com o fim de observar grupos de jovens e suas pinturas (marcas nos muros que identificavam seu espaço) em muros nas principais praças de cada bairro, como indicadores de presença de bandos juvenis. Já contatados os jovens, foi solicitado a eles o consentimento informado daqueles que desejassem participar do estudo.

Para a coleta das informações, organizou-se uma equipe de trabalho constituída por profissionais de enfermagem que receberam capacitação e treinamento no manejo da metodologia e dos instrumentos, bem como na resolução de problemas práticos no campo de trabalho. Cada um dos pesquisadores se apresentou aos sujeitos que aceitaram sua participação, procuraram isolá-los do resto do grupo para buscar maior privacidade, e lhe explicaram os propósitos do estudo, bem como a importância de sua participação no mesmo, dando ênfase na absoluta garantia de proteção à sua identidade e sigilo com relação aos dados que proporcionaram. A entrevista se estruturou de tal maneira que foi aplicada em um período de 15 a 20 minutos, realizou-se cara a cara, o pesquisador leu cada uma das perguntas e entregou ao participante uma enquete para que seguisse com a leitura de cada uma das perguntas e facilitasse dar suas respostas.

Para a análise dos dados utilizou-se o programa de computação estatístico SPSS, versão 12, utilizou-se a estatística descritiva, através de freqüências e proporções, estimação pontual e medidas de tendência central. Para a comprovação das duas hipóteses, aplicaram-se Modelos de Regressão Logística, cujos resultados foram passados para a forma de gráfico.

RESULTADOS

De acordo com alguns dados pessoais dos participantes do estudo, observou-se que a maioria era de sexo masculino (93,7%), 82,8% mencionou ser solteiro, 57,7%a viviam com ambos os pais e 61,7% referiram não praticar nenhuma religião. De acordo com a ocupação a maioria referiu ser operário (30,8%), seguido de trabalhadores da construção (pedreiros [21,1%]), estudantes (12,6%) e trabalhadores não qualificados (5,7%), tais como: lavadores de carros, vendedores ambulantes e palhaços de rua. Uma quarta parte mencionou não ter nenhuma ocupação (24,6%). 61,7% mencionaram ter trabalho remunerado.

De acordo com a idade dos participantes do estudo, a média foi de 18,11 anos, com variacão de 16 a 29 anos (DP=3,32). A média de anos de escolaridade foi de 8,29 anos (DP=1,81), com valor menor de dois e máximo de 12 anos. Em relação ao rendimento econômico mensal dos jovens que têm um trabalho remunerado, a média foi de $3.900, com variacão de $ 600 a $7.200 (DP=1368,8).

Em relação ao consumo de drogas ilícitas, destaca-se que mais da metade dos adolescentes e jovens, que pertencem a bandos consumiram alguma droga ilícita alguma vez na vida (58,9%[IC 95%; 51%-66%]). Não entanto, 32% deles consumiram só uma droga, 38% consumiram duas drogas e 30% consumiam de três a mais drogas alguma vez na vida. Na Tabela 1, observa-se o consumo de drogas ilícitas. Destaca-se que a droga de maior consumo é a maconha, seguida de inalantes e cocaína.

Na Tabela 2, são mostrados os resultados para conhecer o efeito de fatores de risco pessoais sobre o consumo de alguma droga ilícita. Os resultados mostraram que o modelo foi significativo (χ2=52,92; p<0,001) com variância explicada de 26,1%. Ao se observar a contribuição de cada variável no modelo, verifica-se que a idade, sexo e os problemas de saúde mental se mantiveram com efeito significativo.

Na Figura 1, é mostrado o efeito da idade sobre o consumo de alguma droga ilícita (β=0,319; p<0,001), observa-se que quanto maior a idade, maior é a probabilidade para o consumo de drogas, assim mesmo, observa-se que quanto maior o índice de problemas de saúde mental, maior é a probabilidade de consumo de drogas ilícitas (β= .023, p=.207), essa probabilidade se incrementa nos homens (β =-2,18; p<0,020). Com esses resultados contempla-se a primeira hipótese.


A seguir, são mostrados os resultados para ratificar a segunda hipótese. Na Tabela 3, mostra-se resultados para conhecer o efeito de fatores de risco interpessoais sobre o consumo de alguma droga ilícita. Os resultados mostraram que o modelo foi significativo (χ2=28,14; p<0,001) com variância explicada de 14,9%.

Figura 2, é mostrado o efeito do índice das relações com os amigos sob condutas desajustadas sobre o consumo de alguma droga ilícita (β=0,026; p<0,001). Observa-se que quanto maior é o índice de relação com amigos sob condutas desajustadas, maior é o valor da probabilidade para o consumo de drogas ilícitas. Assim mesmo, verifica-se que, quanto maior o índice da relação inapropriada com os pais, maior é a probabilidade de consumo de drogas ilícitas (β=0,028; p<0,003). Com esses resultados, contempla-se a segunda hipótese.


DISCUSSÃO

O presente estudo permitiu analisar o efeito previsivo de alguns fatores de risco pessoais e interpessoais sobre o consumo de drogas em adolescentes e jovens que pertencem a bandos juvenis.

Cerca de 60% da população do estudo consumiu drogas ilícitas, e dentre eles, 32% consumiu três ou mais drogas alguma vez na vida. Nota-se que a droga de maior consumo foi a maconha, seguida dos inalantes e da cocaína. Essas cifras são superiores ao relatado em estudo anterior(5), o que mostra que o consumo de drogas nessa população pode estar em crescimento. As cifras de consumo são superiores ao observado na população geral(2) e em populações de adolescentes e jovens que não pertencem a bandos, como escolares(12) e universitários(11). Um estudo realizado nos Estados Unidos com jovens integrantes e não integrantes de bandos aponta que os jovens, que são membros de bandos juvenis, têm um consumo maior de drogas(6), indiscutivelmente se reflete que os adolescentes e jovens, que pertencem a bandos, têm maior risco para o consumo de drogas do que os jovens e adolescentes que não pertencem a bandos.

Com base nos resultados encontrados no presente estudo, se permitiu sustentar a primeira hipótese. Os fatores de risco pessoais mostraram efeito sobre o consumo de drogas, e os fatores que mais contribuíram neste modelo foram: o sexo, a idade e problemas de saúde mental. Os homens mostraram uma maior probabilidade para o consumo de drogas do que as mulheres, esses resultados são consistentes com o referido na literatura em população similar(5-6), na Enquête Nacional de Adições 2002(2) e estudos em adolescentes e jovens que não se integram a bandos(10). Estes achados se explicam pelos papéis culturais que qualquer mulher mexicana tem. A mulher é bem mais consciente de sua própria saúde, porque desde pequena tem uma função, que é a maternidade, o que a leva a ser bem mais responsável e cuidadosa de si mesma que os homens, unindo-se ainda ao fato de que culturalmente estas condutas são mais permitidas nos homens que nas mulheres.

A medida que aumenta a idade, maior é a probabilidade de consumo de drogas, esses resultados são semelhantes aos de outros estudos nacionais mexicanos(5) e internacionais (9,14), é provável que, quando adquirem mais idade os adolescentes e jovens que pertencem a bandos, incrementem suas interações com outras redes sociais, e se exponham ao oferecimento dessas substâncias, por outro lado, o fator econômico para a aquisição de drogas tem papel importante, pois a maioria dos jovens maiores de idade conta com trabalho remunerado, o que possibilita a aquisição dessas substâncias.

Resultado alarmante foi consumo de drogas em menores de idade, o que põe em evidência que na prática, as leis têm implementações deficientes nesses bairros marginais. Por outro lado, é sabido que a maioria dos consumidores de substâncias iniciam antes dos 20 anos(2) e o início temporão prevê maior consumo e dependência(13). Em conseqüência, para o profissional de enfermagem e de saúde, o controle do uso de drogas deve ter como objetivo prevenir o início do consumo.

Outro fator pessoal que mostrou ser altamente significativo para o consumo de drogas foi o fator problemas de saúde mental, observou-se e que quanto maior são os problemas de saúde mental, maior é a probabilidade do consumo de drogas. Esses dados assemelham-se aos de outros estudos nacionais mexicanos(5,13) e internacionais(15). A relação entre o consumo de drogas com sintomas depressivos ou de ansiedade pode ser indicador de comorbidade entre ambas as condicões. Ademais, é possível que essa relação tenha a ver com o consumo de drogas como forma de enfrentar os problemas emocionais que experimentam os adolescentes e jovens que pertencem a bandos juvenis como resultados de suas interações.

De acordo com a segunda hipótese: os fatores de risco interpessoais (relação com amigos sob condutas desajustadas e relação inapropriada com pais) mostraram efeito positivo sobre o consumo de drogas. Mostrou-se que quanto maior é a relação com amigos sob condutas desajustadas, maior é a probabilidade para o consumo. Esses resultados estão de acordo com os referidos em estudos anteriores(10,15), o que reflete que a relação e interação com amigos consumidores, nesse grupo têm influência maior, já que dentro da dinâmica interna desses grupos se incorpora o uso de drogas como principal atividade, no entanto, parece que não é o grupo que atrai os adolescentes, mas que existe um elemento de decisão pessoal de sentir-se incorporado ao grupo e assim experimentar drogas.

Mostrou-se que, quanto maior o índice de relação inapropriada com os pais maior é a probabilidade de consumo. Esses resultados são consistentes com os citados na literatura, onde se observou maior consumo de drogas nos adolescentes que têm pais consumidores(9-10). Assim mesmo, observa-se que o fato de se ter falta de comunicação ou relações inapropriadas com pais se relaciona com o consumo de drogas(12,15).

O consumo de drogas é uma das atividades realizadas nesses grupos de adolescentes e jovens, e funciona como facilitador das relações sociais entre eles, o que explica que o grupo de amigos do bando é o principal indicador para o consumo de drogas ilícitas, e, essa probabilidade, aumenta quando a relação com os pais não é adequada. Isso é possível que aconteça, já que, para os adolescentes e jovens que integram os bandos, a relação com os pais perde importância, eles destacam o valor vital que tem para eles a organização do bando sobre sua família, de tal maneira que é maior a influência positiva ou negativa dos amigos sobre sua conduta.

CONCLUSÕES

Os fatores de risco pessoais mostraram efeito sobre o consumo de drogas e os que tiveram maior contribuição ao modelo foram: o sexo, a idade e os problemas de saúde mental. Os fatores de risco interpessoais como, a relações com amigos portadores de condutas desajustadas e relação inapropriada com pais mostraram efeito positivo sobre o consumo de drogas.

A Enfermagem, como ciência do cuidado humanizado, está construindo uma bagagem conceitual e tecnológica apropriada à temática das drogas. Os resultados deste estudo contribuem para o conhecimento da Enfermagem, bem como de disciplinas afins, buscando melhor entendimento do consumo de drogas na população de adolescentes e jovens marginais que pertencem a bandos juvenis, bem como vem somar-se à escassa literatura que existe nessas populações. Portanto, a geração e confirmação do conhecimento sobre os fatores de risco do consumo de drogas em adolescentes e jovens possibilitarão uma reflexão, e, num futuro próximo, contribuir para a elaboração de programas adequados dirigidos à prevenção de consumo de drogas. Uma amostra importante de adolescentes e jovens de bandos juvenis que nunca consumiram drogas é também importante explorar, no futuro, os fatores protetores destes jovens.

Para situar os alcances e as limitações do presente estudo, é importante assinalar que, ao se tratar de um estudo descritivo, correlacional, seus resultados só permitiram identificar os fatores de risco pessoais e interpessoais relacionados com o uso de drogas, cuja confirmação como fatores de risco propriamente ditos exigiria a realização de estudos longitudinais e prospectivos.

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    Paper extracted from Doctoral Dissertation
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      30 Jul 2008
    • Data do Fascículo
      Jun 2008

    Histórico

    • Aceito
      21 Fev 2008
    • Recebido
      25 Jul 2007
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