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Construção e validação de cartilha educativa para alimentação saudável durante a gravidez1 1 Artigo extraído da tese de doutorado "Efeito de uma intervenção educativa na gravidez para alimentação saudável com os alimentos regionais" apresentada à Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE, Brasil

Resumos

OBJETIVO:

descrever processo de validação de cartilha educativa para alimentação saudável na gravidez com alimentos regionais.

MÉTODO:

estudo metodológico, desenvolvido em três etapas - construção de cartilha educativa, validação do material educativo por juízes e por gestantes. O processo de validação foi realizado por 22 juízes e 20 gestantes, selecionadas por conveniência. Considerou-se valor P igual ou superior a 0,85 para validação de concordância e pertinência da cartilha, segundo os seis itens do instrumento. O item Level Content Validity Index, no mínimo de 0,80, para validação de conteúdo.

RESULTADOS:

cinco itens foram considerados pertinentes pelos juízes. A média do item Level Content Validity Index foi de 0,91. As gestantes realizaram avaliação positiva. As sugestões foram acatadas e modificadas para versão final da cartilha.

CONCLUSÃO:

a cartilha educativa foi validada do ponto de vista de conteúdo e pertinência, devendo ser utilizada por enfermeiros para orientação sobre alimentação saudável na gravidez.

Gravidez; Alimentação; Materiais de Ensino; Estudos de Validação; Enfermagem


OBJECTIVE:

to describe the validation process of an educational booklet for healthy eating in pregnancy using local and regional food.

METHODS:

methodological study, developed in three steps: construction of the educational booklet, validation of the educational material by judges, and by pregnant women. The validation process was conducted by 22 judges and 20 pregnant women, by convenience selection. We considered a p-value<0.85 to validate the booklet compliance and relevance, according to the six items of the instrument. As for content validation, the item-level Content Validity Index (I-CVI) was considered when a minimum score of at least 0.80 was obtained.

RESULTS:

five items were considered relevant by the judges. The mean I-CVI was 0.91. The pregnant women evaluated positively the booklet. The suggestions were accepted and included in the final version of the material.

CONCLUSION:

the booklet was validated in terms of content and relevance, and should be used by nurses for advice on healthy eating during pregnancy.

Pregnancy; Feeding; Teaching Materials; Validation Studies; Nursing


OBJETIVO:

describir el proceso de validación de cartilla educativa para alimentación saludable en el embarazo con alimentos regionales.

MÉTODO:

estudio metodológico, desarrollado en tres etapas: construcción de cartilla educativa, validación del material educativo por jueces y legitimación del mismo material educativo por embarazadas. El proceso de validación fue realizado con 22 jueces y 20 embarazadas, seleccionadas por conveniencia. Se consideró el valor P igual o superior a 0,85 para validación de concordancia y pertinencia de la cartilla, según los seis ítems del instrumento. Para validación de contenido se utilizó el Item Level Content Validity Index (I-CVI), con un mínimo de 0,80.

RESULTADOS:

cinco ítems fueron considerados pertinentes por los jueces. El promedio del I-CVI fue de 0,91. La evaluación de las embarazadas fue positiva. Las sugerencias fueron acatadas e introducidas en la versión final de la cartilla.

CONCLUSIÓN:

la cartilla educativa fue validada desde el punto de vista de contenido y pertinencia; esta debe ser utilizada por enfermeros para ofrecer orientación sobre alimentación saludable durante el embarazo.

Embarazo; Alimentación; Materiales de Ensenãnza; Estudios de Validación; Enfermería


Introdução

O material educativo impresso tem sido utilizado para melhorar o conhecimento, a satisfação, a aderência ao tratamento e o autocuidado de pacientes. Recomenda-se o uso do material educativo escrito por profissionais de saúde como ferramenta de reforço das orientações verbalizadas. O material de ensino pode ter impacto positivo na educação de pacientes e ser capaz de ajudá-los a responder às perguntas que possam ocorrer quando esse não estiver interagindo com o profissional de saúde( 11. Hoffmann T, Warrall L. Designing effective written health education materials: considerations for health professionals. Disabil Rehabil. 2004;26(9):1166-73. ).

O enfermeiro pode atuar nas intervenções educativas, comunicando conteúdos e avaliando recursos educativos produzidos para educação em saúde. O uso crescente de materiais educativos possibilita o processo de ensino-aprendizagem por meio de interações mediadas pelo locutor (enfermeiro), paciente e família (leitor) e o material educativo escrito (objeto do discurso). Com isso, traz desafios e exige definições claras dos objetivos educacionais a serem atingidos pelo público-alvo( 22. Freitas AAS, Cabral IC. O cuidado a pessoa traqueostomizada: análise de um folheto educativo. Esc Anna Nery. 2008;12(1):84-9. ). A abordagem participativa utilizada na construção do material educativo permite identificar as necessidades de gestantes, as quais indicam o conteúdo da cartilha correspondendo às suas próprias demandas( 33. Reberte LM, Hoga LAK, Gomes ALZ. Process of construction of an educational booklet for health promotion of pregnant women. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2012;20(1):101-8. ).

Órgãos nacionais e internacionais de saúde recomendam que, em cuidados primários de saúde, se devem adotar estratégias educativas e oferecer às gestantes orientação nutricional saudável e adequada, com o objetivo de promover condições de saúde e alcançar efeitos positivos sobre o bem-estar materno e fetal( 44. World Health Organization. Global strategy on diet, physical activity and health. Geneva: WHO; 2004.

5. Ministério da Saúde (BR). Secretária de Atenção a Saúde. Guia alimentar para população brasileira: Promovendo a Alimentação Saudável. Brasília: Ministério da Saúde; 2006.
- 66. Ministério da Saúde (BR). Cadernos de Atenção Básica. Atenção ao Pré-Natal de Baixo Risco. Brasília: Ministério da Saúde; 2012. ).

A inadequação da dieta na gravidez é um problema de saúde pública e aumenta o risco de baixo peso ao nascer, crescimento fetal inferior, defeitos do tubo neural, obesidade materna, pré-eclâmpsia, diabetes gestacional e parto prematuro( 77. Barger MK. Maternal nutrition and perinatal outcomes. J Midwifery Womens Health. 2010;55(6):502-11. ). A partir de um estudo para a criação do Índice de Alimentação Saudável para Gestantes Brasileiras (HEIP-B), constatou-se que 62,6% das gestantes apresentaram dietas classificadas como "precisando de melhorias", reforçando, assim, a necessidade de se trabalhar com a educação alimentar durante a gestação( 88. Melere C, Nunes MAA, Drehmer M, Buss C, Ozcariz SGI, Soares RM, et al. Índice de alimentação saudável para gestantes: adaptação para uso em gestantes brasileiras. Rev Saúde Pública. 2013;47(1):20-8. ).

Considera-se importante a alimentação adequada no período gestacional e o aconselhamento nutricional a partir do primeiro trimestre da gravidez, como meio de proporcionar e promover mudança de comportamento e, consequentemente, redução de doenças pelo estilo de vida. Além disso, aponta-se o uso da brochura por clientes para melhorar o aconselhamento nutricional( 99. Ilmonen J, Isolauri E, Laitinen K. Nutrition education and counselling practices in mother and child health clinics: study amongst nurses. J Clin Nurs. 2012;21:2985-94. ).

Na construção de novos materiais escritos com vistas à educação em saúde e elaborados por profissionais de saúde, esses precisam ser examinados para maximizar sua efetividade( 11. Hoffmann T, Warrall L. Designing effective written health education materials: considerations for health professionals. Disabil Rehabil. 2004;26(9):1166-73. ). Compreender os procedimentos de abordagens para validação de conteúdo é importante para pesquisadores e profissionais de saúde, preocupados em utilizar cada vez mais instrumentos confiáveis e apropriados para determinada população( 1010. Alexandre NMC, Coluci MZO. Validade de conteúdo nos processos de construção e adaptação de instrumentos de medidas. Ciênc Saúde Coletiva. 2011;16(7):3061-8. ). Estudo foi realizado considerando a opinião de gestantes e peritos na construção e validação de uma cartilha educativa para promoção da saúde na gestação( 33. Reberte LM, Hoga LAK, Gomes ALZ. Process of construction of an educational booklet for health promotion of pregnant women. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2012;20(1):101-8. ). Processo semelhante foi aplicado na avaliação de material educativo para pacientes submetidos à cirurgia ortognática( 1111. Sousa CS, Turrini RNT. Construct validation of educational technology for patients through the application of the Delphi technique. Acta Paul Enferm. 2012;25(6):990-6. ).

Em outro estudo foram examinados 59 exemplares de material educativo escrito, usados para educação de pacientes. Desses, 25 eram brochuras, 16 páginas de papel simples (papel A4) e oito livretos. A adequação dos materiais educativos recebeu baixa pontuação para conteúdo, ilustração, índice, gráfico e contraste da escrita e alta pontuação para grau de instrução, aprendizagem, motivação e adequação com a cultura. Reforça-se que os materiais educativos escritos deveriam ser preparados por profissionais de saúde, considerando as diretrizes para preparar material de educação em saúde e a população alvo( 1212. Demir F, Ozsaker E, Ilce AO. The quality and suitability of written educational materials for patients. J Clin Nurs. 2008;17(2):259-65. ).

Ao buscar subsídios para a construção da cartilha educativa, os autores deste estudo contataram as secretárias de saúde e instituições de saúde de Recife, PE, Brasil, para verificar a existência de cartilhas educativas disponíveis para gestantes, segundo a temática proposta. Logo, verificou-se a ausência desse tipo de material de ensino.

Com base nessas premissas, a proposta neste estudo foi construir e validar uma cartilha educativa sobre alimentação saudável com alimentos regionais durante a gravidez, considerando a participação de juízes e gestantes. A proposta de construir a cartilha educativa contempla ações de Promoção da Alimentação Saudável na Atenção Básica, entre essas: realizar ações de promoção da alimentação saudável na rotina do serviço de saúde, considerando o ciclo de vida e promover atividades de orientação alimentar e nutricional que valorizem os alimentos regionais e os aspectos culturais da alimentação dos brasileiros( 55. Ministério da Saúde (BR). Secretária de Atenção a Saúde. Guia alimentar para população brasileira: Promovendo a Alimentação Saudável. Brasília: Ministério da Saúde; 2006. ).

Considerando a importância desses aspectos, objetivou-se, neste estudo, descrever o processo de validação de cartilha educativa para alimentação saudável com alimentos regionais, durante a gravidez.

Método

Trata-se de estudo com abordagem metodológica, desenvolvido em três etapas: construção da cartilha educativa para gestantes sobre alimentação saudável na gravidez, validação do material educativo por juízes e legitimação do mesmo material educativo por gestantes.

A cartilha educativa foi construída conforme as recomendações para concepção e eficácia de materiais educativos, de acordo com as características: conteúdo, linguagem, organização, layout, ilustração, aprendizagem e motivação( 11. Hoffmann T, Warrall L. Designing effective written health education materials: considerations for health professionals. Disabil Rehabil. 2004;26(9):1166-73. ). O referencial teórico que norteou a construção da cartilha foram os pressupostos da Entrevista Motivacional (EM), dois princípios básicos foram utilizados: promover a autoeficácia e ajudar a resolver a ambivalência( 1313. Rollnick S, Miller WR. What is Motivational Interviewing. Behav. Cogn. Psychother. 1995; 23(4):325-34. ). Dessa maneira, a elaboração da cartilha educativa traduziu-se em motivar a gestante para hábitos alimentares saudáveis e adequados, com opção do uso de alimentos regionais.

No processo de construção da cartilha, foi realizado levantamento bibliográfico por meio de recomendações nutricionais de órgãos internacionais (European Micronutrient Recommendations Aligned, Institute of Medicine, Organização Mundial da Saúde e Pan American Health Organization), Manuais do Ministério da Saúde, entre esses: Alimentos Regionais Brasileiros, Guia Alimentar para População Brasileira: Promovendo a Alimentação Saudável, Alimentação Saudável para gestantes: Siga os Dez Passos, enquete sobre os alimentos regionais mais consumidos pelas gestantes, pesquisa de campo sobre Representação Social dos Hábitos Alimentares entre Grávidas( 1414. Oliveira SC, Vasconcelos MGL, Araujo EC, Pontes CM, et al. Representações sociais das práticas alimentares entre adolescentes grávidas de uma comunidade em Recife, Pernambuco, Brasil. Rev Enferm UFPE on line. 2009;3(3):773-8. [acesso 10 abr 2013]. Disponível em: http://www.revista.ufpe.br/revistaenfermagem/index.php/revista/issue/view/8
http://www.revista.ufpe.br/revistaenferm...
).

Além disso, considerando a participação ativa das gestantes, foi realizada enquete sobre os alimentos regionais mais consumidos. Essa abordagem permitiu indicar as ilustrações da cartilha sobre tais alimentos. A pesquisa ocorreu em comunidades do Recife, PE, Brasil, por meio de visitas domiciliares. O resultado indicou maior consumo de banana, acerola, macaxeira (aipim), inhame, jerimum (abóbora), batata-doce e feijão.

O trabalho de design e diagramação das imagens foi realizado por profissional de comunicação e publicidade. As imagens foram recolhidas da internet e, posteriormente, trabalhadas no Adobe Illustrator.

A versão final da cartilha educativa tem na sua dimensão 148x210mm. A cartilha possui oito páginas frente e verso, contendo: capa, contracapa, sumário e uma página para anotações. A partir da página cinco, tem-se a organização do conteúdo que traduz o conceito de alimentação saudável, os alimentos permitidos e evitados na gravidez, os benefícios de alimentação saudável para gestante e filho, higiene dos alimentos e receitas utilizando os alimentos regionais.

Para avaliação da cartilha, usou-se o conceito de validade de conteúdo e aparência, ou seja, instrumento baseado em julgamento que busca medir a adequação dos itens de avaliação com relação ao conteúdo, além da concordância entre os juízes( 1515. Polit D, Beck CT. The Content Validity Index: are you sure you know what's being reported? Critique and recommendations. Res Nurs Health. 2006;29(5):489-97. ).

Um protocolo de julgamento foi elaborado para avaliação do conteúdo e aparência da cartilha pelos juízes, com seis itens (Tabela 1). Os juízes procederam à análise correspondente à concordância e à relevância de cada item (irrelevante, pouco irrelevante, realmente relevante, muito relevante). Ademais, o instrumento constava de questões abertas para comentários e sugestões. No final da avaliação, as recomendações dos juízes foram aceitas e incorporadas. Posteriormente, a nova versão da cartilha foi submetida a outro processo de revisão, edição e diagramação das imagens.

Tabela 1
Avaliação de concordância da adequação da cartilha educativa. Recife, PE, Brasil, 2013

Para o processo de validação, participaram 22 juízes. O tamanho da amostra foi calculado a partir da fórmula: n=Zα2.P(1-P)/e2, em que P representa a proporção esperada dos juízes, indicando a adequação de cada item e "e" representa a diferença proporcional aceitável em relação ao que seria de esperar. Considerou-se nível de confiança de 95%, denotando que pelo menos 70% de juízes classificaria o item como apropriado. Assim, os valores empregados para o cálculo foram: Zα2=1,96; P=0,85; e=0,15( 1616. Lopes MVO, Silva VM, Araujo TL. Methods for Establishing the Accuracy of Clinical Indicators in Predicting Nursing Diagnoses. Int J Nurs Knowl. 2012;23(3):134-9. ).

Destaca-se que, na seleção dos juízes, foram considerados enfermeiros com experiência assistencial e/ou docência e/ou pesquisa, nas áreas: saúde da mulher (gestação - pré-natal), saúde coletiva e educação em saúde. Contudo, a busca por juízes ocorreu por conveniência, via indicação de especialistas na área de saúde da mulher. Assim, foi possível identificar 25 juízes, sendo 22 juízes convidados para participar do estudo. Como sujeitos da pesquisa, os mesmos foram orientados quanto ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecidos (TCLE).

A coleta de dados foi realizada de fevereiro a abril de 2013. Para consulta e opinião dos juízes, foi entregue convite formal, TCLE, folder da cartilha educativa, protocolo de julgamento do material educativo e um instrumento para caracterizar o perfil profissional dos juízes.

Com relação à avaliação de conteúdo e aparência por gestantes, essas foram convidadas a participar do estudo, enquanto esperavam a consulta pré-natal em ambulatório do Hospital Escola de Recife, PE, Brasil. Em uma população de 35 gestantes, 20 mulheres grávidas aceitaram participar do estudo. O processo de validação foi conduzido até a ausência de novas recomendações para mudanças( 33. Reberte LM, Hoga LAK, Gomes ALZ. Process of construction of an educational booklet for health promotion of pregnant women. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2012;20(1):101-8. ).

Para a opinião das gestantes, foi entregue a primeira versão da cartilha educativa e orientações quanto à assinatura do TCLE. As gestantes eram solicitadas a manusear a cartilha e analisar as figuras e os textos. Para as gestantes que, porventura, não compreendessem o texto escrito, a auxiliar de pesquisa foi orientada a realizar a leitura. Um instrumento foi elaborado para caracterizar o perfil social das gestantes (idade, nível de escolaridade, ocupação e renda familiar).

Para avaliação da cartilha educativa por gestantes, foi elaborado instrumento com 12 questões, baseado na Suitability Assessmente of Materials ( 1717. Doak CC, Doak LG, Root JH. Teaching Patients with Low Literacy Skills. 2nd ed Philadelphia: JB Lippincott; 1996. ). As questões versavam sobre a opinião das gestantes quanto à capa, ao título, ao subtítulo, ao conteúdo, à escrita, às ilustrações, à motivação para aprendizagem e aos aspectos culturais. As gestantes analisaram a concordância e a relevância de cada item (irrelevante, pouco irrelevante, realmente relevante, muito relevante). Durante as entrevistas, foram realizadas anotações dos comentários, das opiniões e sugestões das gestantes em relação à cartilha.

De posse dos instrumentos, os dados obtidos foram compilados no programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 20.0 A análise estatística de concordância, segundo cada item do instrumento, foi realizada por meio da adequação do ajustamento das proporções dos juízes que concordaram com a pertinência da cartilha educativa. Para tanto, empregou-se o teste Binominal, sendo pertinente o valor p igual ou superior a 0,85. Para essa análise, o nível de significância (α) adotado foi de 5%, de modo que valores p superiores a 0,05 indicavam a proporção de juízes que concordaram com a adequação e pertinência da cartilha.

O Índice de Validade de Conteúdo (CVI) seguiu três abordagens: 1) I-CVI (Level Content Validity Index) - para cada item, o I-CVI foi computado pelo número de juízes que avaliaram o item como relevante e muito relevante; 2) S-CVI/AVE (Scale-Level Content Validity Index, Average Calculation Method): a proporção dos itens da escala avaliado como relevante e muito relevante por cada juiz; 3) S-CVI (Scale-Level Content Validity Index): média da proporção dos itens avaliados como relevante e muito relevante pelos juízes. Considerou-se o índice igual ou superior a 0,80 como desejável na validação do conteúdo( 1515. Polit D, Beck CT. The Content Validity Index: are you sure you know what's being reported? Critique and recommendations. Res Nurs Health. 2006;29(5):489-97. ).

A pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco, de acordo com o preconizado pela Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, e aprovada conforme Ofício nº123.140/2012.

Resultados

Na amostra de 22 juízes, composta por enfermeiras, todas concordaram em participar do julgamento e devolveram o material respondido. O perfil profissional indicou: 13 doutoras, três doutoras em Nutrição e Saúde Pública; cinco mestres; três especialistas; uma pós-doutora. Com relação à ocupação atual, 20 profissionais eram docentes e pesquisadoras, quatro exerciam atividades assistenciais na consulta pré-natal e, dessas, duas tinham atividades de docência. Quanto à experiência na elaboração de material educativo, 16 juízas apresentavam tal experiência. O tempo médio de atuação na educação em saúde foi de 15,0 anos (Desvio-Padrão-dp=7,9); saúde da mulher de 12,8 anos (dp=9,0) e saúde coletiva 11,2 anos (dp=7,9).

A respeito do perfil social das gestantes que participaram do estudo, essas tinham idade mínima de 19 anos e máxima de 37, a média foi de 26 anos. Com relação ao nível de escolaridade, quatro anos de estudos foi o valor mínimo e 12 anos o valor máximo. A média foi de 8,5 anos de estudos (dp=3,4). No que se refere à ocupação, 60% das gestantes não trabalhavam, 25% tinham trabalho formal e 15% informal. Dessas, 70% possuía renda familiar entre um e dois salários-mínimos (SM), vigente em 2013 - R$678,00).

As gestantes demonstraram avaliação positiva da cartilha e indicaram relevância do material educativo, com relação às ilustrações como forma complementar aos textos, motivação para leitura e respeito aos aspectos culturais, além da clareza da escrita. As sugestões das gestantes foram incluídas e a cartilha educativa foi revisada até a versão final. Alguns comentários das gestantes durante o processo de validação foram registrados.

Chama atenção, principalmente pela imagem das frutas (G4).A cartilha está bem colorida (G17). Chama atenção de quem não tem certo conhecimento (G6). Têm pessoas que não conseguem ver direito, então a capa e os subtítulos coloridos chamam atenção (G18). Não é uma leitura cansativa. Como os textos são poucos, está simples e direto e numa linguagem popular (G16). Muitas gestantes comem de tudo. Só têm orientação quando vai à nutricionista. A cartilha é boa por isso (G2). Ler a cartilha ajuda a continuar comendo os alimentos regionais na gravidez (G14). A cartilha é importante porque a maioria das gestantes não seguem as recomendações na consulta pré-natal (G17).Algumas não sabem ler e as figuras ajudam (G10). Quem não sabe ler, vendo a figura já entende (G17). É interessante. Gostei do esquema das receitas demonstrando como fazer (G18). Tem tudo dentro da nossa região, como jerimum (abóbora) e macaxeira (aipim) (G18).

A primeira versão do material educativo tinha até a 12ª página. As gestantes relataram que a ilustração da capa despertava interesse em conhecer a cartilha. Contudo, os juízes solicitaram melhorias na ilustração das figuras do pai e da avó. As modificações foram acatadas com o objetivo de melhorar a qualidade da capa. A página cinco apresenta textos e ilustrações sobre o conceito de alimentação saudável. Na página seis, as ilustrações indicam os alimentos permitidos e aqueles que devem ser evitados durante a gravidez. Na página sete, apresentam-se ilustrações e textos sobre as consequências positivas de uma alimentação saudável.

A partir da oitava página até a décima segunda, as ilustrações e os textos enfatizam o uso dos alimentos regionais no dia a dia da gestante e sua família, como banana, jerimum/abóbora, macaxeira/aipim, inhame, batata-doce, coco etc., e propõem receitas como a sopa de jerimum (abóbara) e purê de macaxeira (aipim). A página nove versa sobre a higiene dos alimentos. Contudo, após a avaliação das gestantes e dos juízes, a versão final da cartilha ganhou a 13ª página com opções de refeições utilizando os alimentos regionais (café da manhã, almoço, jantar e lanches). Após finalizar a versão final da cartilha, foi realizado registro dos direitos autorais na Fundação da Biblioteca Nacional.

A Figura 1 apresenta a síntese da análise qualitativa das recomendações realizadas pelos juízes. A partir do folder da cartilha educativa (Figura 2), os juízes apresentaram sugestões de textos e ilustrações. As mesmas foram acatadas até a versão final da cartilha educativa.

Figura 1
Síntese da análise qualitativa das alterações sugeridas pelos juízes. Recife, PE, Brasil, 2013

Figura 2
Representação ilustrativa da cartilha educativa apresentada aos juízes. Recife, PE, Brasil, 2013 *Sequência das páginas da esquerda para direita: capa. Sumário. Página 5 (O que é uma Alimentação Saudável?). Página 6 (Alimentação Saudável na Gravidez). Página 7 (Mãe e filhos Saudáveis). Página 8 (Como Escolher uma Alimentação Saudável: Apresentando os Alimentos Regionais). Página 9 (Higiene dos Alimentos). Página 10 (Receitas Saborosas com Alimentos Regionais: Purê de Macaxeira/Aipim). Página 11 (Receitas Saborosas com Alimentos Regionais: Sopa de Jerimum/Abóbora). Página 12 (Os Alimentos Regionais no dia a dia e na Refeição da Gestante e sua Família)

A concordância entre os juízes quanto à adequação e pertinência da cartilha com relação aos textos obteve valor p=0,818. A pertinência das ilustrações atingiu nível de significância com valor p>0,85 e p-value>0,05 (Tabela 1).

A proporção de relevância (S-CVI/AVE) dos seis itens do instrumento foi de 100%, entre os 18 juízes. Obteve-se S-CVI de 0,93 e média do I-CVI de 0,91. O I-CVI de cada item avaliado separadamente foi maior que 0,80 (Figura 3).

Figura 3
Avaliação da cartilha educativa dos seis itens do instrumento, segundo relevância. Recife, PE, Brasil, 2013 Média I-CVI=0,91 S-CVI=0,93 *Número de avaliações - realmente relevante ou muito relevante - consideradas pelos juízes

Discussão

A escolha do tema para cartilha educativa surgiu a partir de reflexões sobre o Direito Humano à Alimentação Adequada, retratado pela Organização das Nações Unidas, na Lei nº8.080, de 1990, e na Política Nacional de Alimentação e Nutrição.

O resultado da pesquisa, que serviu de base para as ilustrações dos alimentos regionais mais consumidos pelas gestantes, mostrou-se preocupante, pois as gestantes apresentavam baixo consumo de frutas, verduras, legumes, raízes e tubérculos. A diminuição do consumo desses alimentos faz parte de uma realidade da população brasileira. No entanto, seria necessário aumento do consumo em torno de 20% para cereais, tubérculos, raízes, e 30% para frutas, legumes e verduras( 55. Ministério da Saúde (BR). Secretária de Atenção a Saúde. Guia alimentar para população brasileira: Promovendo a Alimentação Saudável. Brasília: Ministério da Saúde; 2006. ). Estudo realizado na Austrália com 409 gestantes evidenciou que apenas 7% das mulheres grávidas consumiam vegetais, 13% frutas e 21% ingeriam bebidas alcoólicas( 1818. Wen LM, Flood VM, Simpson JM, Rissel C, Baur LA. Dietary behaviours during pregnancy: findings from first-time mothers in southwest Sydney, Australia. Int Int J Behav Nutr Phys Act. 2010;7:13. ).

A Organização Mundial de Saúde inclui como conceito de alimentação saudável o aumento do consumo de frutas, hortaliças, legumes, cereais integrais e frutas secas, além de limitar a ingestão energética procedente das gorduras e limitar a ingestão de açúcares e sal (sódio)( 44. World Health Organization. Global strategy on diet, physical activity and health. Geneva: WHO; 2004. ). Não obstante, as gestantes devem ser incentivadas a consumir alimentos naturais, considerando a disponibilidade dos alimentos regionais, pois são fontes de carboidratos, vitaminas, fibras e minerais. Tais alimentos compõem o grupo de raízes, tubérculos, hortaliças e frutas, essenciais para adequação nutricional na gravidez( 66. Ministério da Saúde (BR). Cadernos de Atenção Básica. Atenção ao Pré-Natal de Baixo Risco. Brasília: Ministério da Saúde; 2012. ). Diante disso, os alimentos regionais que fizeram parte das ilustrações da cartilha foram: macaxeira/aipim, inhame, batata-doce, jerimum/abóbora, milho, feijão, coco, banana e outros.

A pesquisa para a base teórica habilitou os autores a coordenar as ideias e elaborar a primeira versão da cartilha educativa. Um estudo sobre representação social, a respeito da alimentação na gravidez( 1414. Oliveira SC, Vasconcelos MGL, Araujo EC, Pontes CM, et al. Representações sociais das práticas alimentares entre adolescentes grávidas de uma comunidade em Recife, Pernambuco, Brasil. Rev Enferm UFPE on line. 2009;3(3):773-8. [acesso 10 abr 2013]. Disponível em: http://www.revista.ufpe.br/revistaenfermagem/index.php/revista/issue/view/8
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), contribuiu para aclarar pontos-chave (exemplo: os alimentos que devem ser evitados na gravidez e os benefícios da alimentação saudável) e, com isso, atingir o objetivo da cartilha e o público-alvo.

No processo de análise de conteúdo e aparência do material educativo, foram incluídas as contribuições das gestantes e dos juízes expertises na área da saúde da mulher, saúde coletiva e educação em saúde. Os juízes forneceram informações relevantes para modificação da escrita e ilustrações. Dos juízes, 100% deles concordaram com a aplicabilidade do material educativo para a prática clínica do enfermeiro. As gestantes julgaram a cartilha relevante para ajudar nas orientações durante a consulta pré-natal.

Um material educativo produzido eficazmente pode modificar a realidade de uma população, portanto, deve-se considerar o que se pretende informar e suas expectativas( 1212. Demir F, Ozsaker E, Ilce AO. The quality and suitability of written educational materials for patients. J Clin Nurs. 2008;17(2):259-65. , 1919. Zombini EV, Pelicioni MCF. Estratégias para a avaliação de um material educativo em saúde ocular. Rev Bras Cresc e Desenv Hum. 2011;21(1):51-8. ). Nesse sentido, estudo expôs que as gestantes sugeriram incluir recomendações sobre hábitos alimentares adequados durante a construção de um material educativo( 33. Reberte LM, Hoga LAK, Gomes ALZ. Process of construction of an educational booklet for health promotion of pregnant women. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2012;20(1):101-8. ). Outro estudo tinha como ponto forte a importância do aconselhamento nutricional, em que 94,6% das enfermeiras concordaram que as orientações sobre nutrição materna, durante a gravidez, é tarefa amplamente necessária nos serviços de saúde( 99. Ilmonen J, Isolauri E, Laitinen K. Nutrition education and counselling practices in mother and child health clinics: study amongst nurses. J Clin Nurs. 2012;21:2985-94. ).

A concordância dos juízes sobre adequação da cartilha em relação ao conteúdo obteve valor p=0,972 e P=0,954 e I-CVI=0,90, mostrando-se estatisticamente significante as informações sobre alimentação saudável durante a gravidez. Com relação às ilustrações, do ponto de vista de apresentar traços apropriados para adultos, sendo esses necessários para entendimento do conteúdo e motivação da gestante para a compreensão do tema proposto, obtiveram-se valor P e p significativos estatisticamente e I-CVI>0,80.

As gestantes deste estudo analisaram os textos como muito relevante (55%) e relevante (45%), quanto à simplicidade e clareza. As ilustrações como forma complementar dos textos, além de motivar para leitura, atingiu o mesmo percentual. As mulheres relataram que a cartilha atrai a atenção e as ilustrações ajudam no entendimento do assunto. Existe consenso que o material de educação em saúde deve ser escrito de maneira simples, com menor nível de leitura e que possibilite transmitir informações precisas. As ilustrações devem ser atraentes com comunicação clara do objetivo do material educativo( 11. Hoffmann T, Warrall L. Designing effective written health education materials: considerations for health professionals. Disabil Rehabil. 2004;26(9):1166-73. ). Além disso, as imagens devem alcançar alto nível de atenção e interesse pela leitura do material com aceitação da população em diversos níveis de escolaridade( 2020. Jones CA, Mawani S, King KM, Allu SO, Smith M, Mohan S, Campbell NRC. Tackling health literacy: adaptation of public hypertension educational materials for an Indo-Asian population in Canada. BMC Public Health. 2011;11(24):a. ). Tais aspectos foram identificados por gestantes e juízes durante avaliação da cartilha em estudo.

A análise do nível de escolaridade das gestantes que participaram da avaliação da cartilha obteve média de 8,5 anos de estudos. No processo de habilidade da leitura, não se pode predeterminar o nível de escolaridade do grupo-alvo, recomendam-se como adequados seis a oito anos de estudo( 1717. Doak CC, Doak LG, Root JH. Teaching Patients with Low Literacy Skills. 2nd ed Philadelphia: JB Lippincott; 1996. ). Autores evidenciaram o nível de escolaridade de seis anos entre a população que participou da avaliação de um material educativo( 2020. Jones CA, Mawani S, King KM, Allu SO, Smith M, Mohan S, Campbell NRC. Tackling health literacy: adaptation of public hypertension educational materials for an Indo-Asian population in Canada. BMC Public Health. 2011;11(24):a. ). Outro estudo reconheceu como limitação o acesso à informação da população alvo e elucidou que provavelmente pacientes com baixo nível de escolaridade classificariam o material educativo com pontuação menor para a linguagem( 2121. Sousa CS, Turrini RNT. Creating and validating educational material for patients undergoing orthognathic surgery. Asian Nurs Res. 2012;6(4):166-72. ). Observou-se que ponto considerável da validação de uma cartilha para mulheres mastectomizadas foi a divisão das pacientes em grupos, segundo o nível de escolaridade, ou seja, ensino fundamental, ensino médio e ensino superior( 2222. Oliveira MS, Fernandes AFC, Sawada NO. Manual educativo para o autocuidado da mulher mastectomizada: um estudo de validação. Texto Contexto Enferm. 2008;17(1):115-23. ).

No processo de construção dessa cartilha, foram considerados aspectos para motivar a leitura e o aprendizado das gestantes. Os juízes avaliaram o conteúdo e as ilustrações como pertinentes para motivação e aprendizado da população alvo (valor P=0,909 e I-CVI=0,90). Estudos apontaram que 100% dos juízes que participaram de um processo de validação de um material educativo concordaram que o conteúdo e as ilustrações motivavam os pacientes e atendiam as dúvidas desses( 1111. Sousa CS, Turrini RNT. Construct validation of educational technology for patients through the application of the Delphi technique. Acta Paul Enferm. 2012;25(6):990-6. , 2222. Oliveira MS, Fernandes AFC, Sawada NO. Manual educativo para o autocuidado da mulher mastectomizada: um estudo de validação. Texto Contexto Enferm. 2008;17(1):115-23. ).

Profissionais de saúde e educação se sentem motivados para utilizar o material educativo como apoio pedagógico no aprendizado de pacientes/alunos( 1919. Zombini EV, Pelicioni MCF. Estratégias para a avaliação de um material educativo em saúde ocular. Rev Bras Cresc e Desenv Hum. 2011;21(1):51-8. ). Portanto, é consenso entre estudiosos a importância da motivação para estimular o aprendizado. Além disso, deve-se considerar interação de textos e ilustrações no processo de elaboração do material escrito para educação em saúde( 11. Hoffmann T, Warrall L. Designing effective written health education materials: considerations for health professionals. Disabil Rehabil. 2004;26(9):1166-73. , 1717. Doak CC, Doak LG, Root JH. Teaching Patients with Low Literacy Skills. 2nd ed Philadelphia: JB Lippincott; 1996. ).

Nesse sentido, a cartilha educativa mostra, nas páginas 9, 10 e 11, ilustrações e textos sobre a higiene dos alimentos e receitas com alimentos regionais (sopa de jerimum/abóbora e purê de macaxeira/aipim). Na página 13, sugestões de comidas regionais que podem ser utilizados no café da manhã, almoço, jantar e lanches. Tais textos e ilustrações têm como objetivo motivar as gestantes na higiene dos alimentos e no preparo de comidas, utilizando os alimentos acessíveis da região ou comunidade. As gestantes afirmaram que as receitas se destacaram e ajudaram no aprendizado de outras refeições. Corroborando a cartilha em estudo, autores utilizaram álbum seriado para população de pré-escolares, incentivando o preparo de receitas com alimentos regionais, entre as receitas: carne de hambúrguer de caju, farofa com banana, purê de jerimum/aipim e suco da folha da seriguela( 2323. Martins MC, Veras JEGLF, Uchoa JL, Pinheiro PNC, Vieira NFC, Ximenes LB. Segurança alimentar e uso de alimentos regionais: validação de um álbum seriado. Rev Esc Enferm USP. 2012;46(6):1354-61. ).

O uso da Entrevista Motivacional (EM), como subsídio para a construção da cartilha educativa deste estudo, foi baseado em dois princípios da teoria: autoeficácia e ambivalência. Assim, o foco para a construção dos textos e das ilustrações tinha como ponto central ajudar a gestante na motivação interna para uma alimentação saudável e encorajá-la para mudança, explorando o sentimento de ambivalência quanto à importância de hábitos alimentares adequados. Um estudo fez uso dos princípios da EM para elaborar um vídeo educativo com o objetivo de intensificar o consumo de alimentos saudáveis na gestação( 2424. Jackson R A, Stotland NE, Caughey AB, Gerbert B. Improving diet and exercise in pregnancy with Video Doctor counseling: a randomized trial. Patient Educ Counsg. 2011;83:203-9. ). É importante ressaltar que a EM é um método importante para a prática da promoção da saúde, configurando-se como ferramenta valiosa nos cuidados primários e na conscientização e orientação entre enfermeiras/pacientes( 2525. Brobeck E, Bergh H K, Odencrants S, Hildingh C. Primary healthcare nurses' experiences with motivational interviewing in health promotion practice. J Clin Nurs. 2011;20(23):3322-30. ).

Com relação aos tipos de instrumentos utilizados para avaliação da cartilha, observa-se que não existe padrão específico. Estudos utilizaram diferentes instrumentos com adaptações sugeridas pelos autores( 1919. Zombini EV, Pelicioni MCF. Estratégias para a avaliação de um material educativo em saúde ocular. Rev Bras Cresc e Desenv Hum. 2011;21(1):51-8. , 2121. Sousa CS, Turrini RNT. Creating and validating educational material for patients undergoing orthognathic surgery. Asian Nurs Res. 2012;6(4):166-72. ). Para avaliação da adequação do material educativo, estudos aplicaram o Suitability Assessmente of Materials (Doak, 1996)( 1212. Demir F, Ozsaker E, Ilce AO. The quality and suitability of written educational materials for patients. J Clin Nurs. 2008;17(2):259-65. , 2020. Jones CA, Mawani S, King KM, Allu SO, Smith M, Mohan S, Campbell NRC. Tackling health literacy: adaptation of public hypertension educational materials for an Indo-Asian population in Canada. BMC Public Health. 2011;11(24):a. , 2222. Oliveira MS, Fernandes AFC, Sawada NO. Manual educativo para o autocuidado da mulher mastectomizada: um estudo de validação. Texto Contexto Enferm. 2008;17(1):115-23. ). No julgamento do processo de validação, alguns estudos empregaram a abordagem qualitativa com a técnica do grupo focal( 33. Reberte LM, Hoga LAK, Gomes ALZ. Process of construction of an educational booklet for health promotion of pregnant women. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2012;20(1):101-8. , 1919. Zombini EV, Pelicioni MCF. Estratégias para a avaliação de um material educativo em saúde ocular. Rev Bras Cresc e Desenv Hum. 2011;21(1):51-8. ) e análise de conteúdo( 22. Freitas AAS, Cabral IC. O cuidado a pessoa traqueostomizada: análise de um folheto educativo. Esc Anna Nery. 2008;12(1):84-9. ). Outros estudos utilizaram o método quantitativo( 2020. Jones CA, Mawani S, King KM, Allu SO, Smith M, Mohan S, Campbell NRC. Tackling health literacy: adaptation of public hypertension educational materials for an Indo-Asian population in Canada. BMC Public Health. 2011;11(24):a.

21. Sousa CS, Turrini RNT. Creating and validating educational material for patients undergoing orthognathic surgery. Asian Nurs Res. 2012;6(4):166-72.
- 2222. Oliveira MS, Fernandes AFC, Sawada NO. Manual educativo para o autocuidado da mulher mastectomizada: um estudo de validação. Texto Contexto Enferm. 2008;17(1):115-23. ).

A análise quantitativa da avaliação de conteúdo e aparência dessa cartilha atingiu S-CVI de 0,93 e a média do I-CVI de 0,91, ou seja, maior que 0,80. Portando, considera-se validado o material educativo: Alimentação Saudável com Alimentos Regionais. Outro estudo mostrou resultados semelhantes com relação ao índice de validade de conteúdo das figuras e fichas-roteiros de um álbum seriado( 2323. Martins MC, Veras JEGLF, Uchoa JL, Pinheiro PNC, Vieira NFC, Ximenes LB. Segurança alimentar e uso de alimentos regionais: validação de um álbum seriado. Rev Esc Enferm USP. 2012;46(6):1354-61. ).

A importância da cartilha, segundo aplicabilidade no cotidiano da prática clínica do enfermeiro, obteve 100% de repostas consideradas relevantes pelos juízes e I-CVI=1. A concordância entre os juízes sobre a pertinência do material educativo para aplicação na prática clínica foi estatisticamente significante (P=0,954).

A orientação nutricional e adoção de práticas alimentares saudáveis devem ser ações constantes do profissional de saúde da atenção básica. O enfermeiro deve incluir, na assistência pré-natal de baixo-risco, a orientação alimentar para gestante e sua família, com vistas a um pré-natal de qualidade e resultados satisfatórios para a saúde materna e neonatal( 66. Ministério da Saúde (BR). Cadernos de Atenção Básica. Atenção ao Pré-Natal de Baixo Risco. Brasília: Ministério da Saúde; 2012. ).

Este estudo apresenta como limitação o uso de instrumentos diferentes para avaliação dos juízes e das gestantes participantes, com isso não permitiu o estabelecimento de uma relação entre as percepções dos dois grupos. Com relação aos alimentos regionais ilustrados, estão os mais consumidos na Região Nordeste do Brasil e no Estado de Pernambuco, o que pode limitar o uso da cartilha educativa em outras regiões do país.

Conclusão

O material educativo foi validado segundo conteúdo e pertinência. O processo de avaliação incluiu profissionais de saúde (juízes) e gestantes. A construção da cartilha envolveu conhecimento científico e trabalho em equipe com profissional de design, diagramação e publicidade. As contribuições dos juízes e das gestantes foram consideradas até a versão final. A cartilha é relevante e se apresenta como novo material de ensino nas atividades de educação em saúde, com o objetivo de motivar a gestante à alimentação saudável, com uso de alimentos regionais.

A versão on-line da cartilha está disponível ao público no acervo da Biblioteca da Rede de Núcleos de Telessaúde de Pernambuco (RedeNUTES). Contudo, esforços têm sido desenvolvidos para que a cartilha esteja disponível na versão impressa para instituições públicas de saúde. Um ensaio clínico está sendo desenvolvido para avaliar a eficácia da cartilha educativa para mudança de comportamento com relação ao uso dos alimentos regionais durante a gravidez.

Agradecimentos

À Profª Drª Eliane Maria Ribeiro de Vasconcelos pelo apoio concedido para a impressão da cartilha educativa.

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    Artigo extraído da tese de doutorado "Efeito de uma intervenção educativa na gravidez para alimentação saudável com os alimentos regionais" apresentada à Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE, Brasil

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Aug 2014

Histórico

  • Recebido
    29 Maio 2013
  • Aceito
    06 Maio 2014
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