História da enfermagem: reflexões sobre o ensino e a pesquisa na graduação

Resumos

This study aims to contribute to the discussion on the development of a specific research line on Nursing History. It concludes by addressing the current situation of nursing teaching in undergraduate courses, its persisting difficulties and growing possibilities of this yet so little explored field.

history of nursing; nursing; teaching

El artículo busca contribuir para la discusión de las posibilidades de desarrollar una línea de investigación específica en Historia de la Enfermería. Al final, se presenta la situación actual de la enseñanza de este campo del saber de la enfermería en los cursos de pregrado, las dificultades aún persistentes y las posibilidades de crecimiento de este campo todavía tan poco explorado.

historia de la enfermería; enfermería; enseñanza

COMUNICAÇÕES BREVES/RELATOS DE CASOS

História da enfermagem: reflexões sobre o ensino e a pesquisa na graduação

Taka Oguisso^I; Genival Fernandes de Freitas^II

^IEnfermeira, Advogada, Professor Titular

^IIEnfermeiro, Advogado, Professor Doutor, e-mail: [e-mail]. Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo

RESUMO

Este artigo busca contribuir com a discussão sobre as possibilidades para o efetivo desenvolvimento de uma linha de pesquisa específica em História da Enfermagem. Finaliza discorrendo sobre a situação atual do ensino dessa área de domínio do campo de saber da enfermagem nos cursos de graduação, as dificuldades ainda persistentes e as possibilidades de crescimento desse campo ainda tão pouco explorado.

Descritores: história da enfermagem; enfermagem; ensino

INTRODUÇÃO

O primeiro currículo da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP) seguia de perto o programa determinado pela escola oficial padrão (Escola Anna Nery), de acordo com o Decreto 20.109/31, mas, como refere Da. Maria Rosa Pinheiro, ainda estava muito preso ao modelo americano e só gradualmente foi tomando características próprias adaptadas à situação encontrada no Brasil⁽¹⁾. O currículo, oriundo da Lei n. 775/49, não alterou grandemente o programa anterior, pois manteve ciências biológicas, sociais e humanas e os diferentes ramos da enfermagem, sem determinar carga horária ou duração de estágio, exceto o de enfermagem em saúde pública que deveria ser de três meses.

O tema história da enfermagem, no Brasil, resistiu praticamente incólume a todas as reformas curriculares ocorridas, desde 1923. Como disciplinas independentes ou integradas como módulos em disciplinas maiores ou áreas temáticas, como ocorre dentro das atuais diretrizes curriculares nacionais, o fato é que esse assunto constou das reformulações legais e continua na ordem do dia. Entre as matérias da primeira escola de enfermagem, criada no Hospício Nacional de Alienados, em 1890, não constava essa disciplina. Relatos da fundação de um curso de enfermagem em moldes nightingaleanos, por enfermeiras inglesas, em 1894, no Hospital Samaritano, em São Paulo, de iniciativa particular, e do curso de Cruz Vermelha Brasileira, criado em 1916, também não mencionam essa disciplina, talvez porque seus fundadores estivessem mais preocupados com a formação técnica do profissional. A partir de 1923, esse tema passou a constar do elenco de disciplinas com o nome de "Bases históricas, éticas e sociais da enfermeira"; em 1931, chamou-se Ética e História da Enfermagem; em 1949, apenas História da Enfermagem.

Ao final da década de 1960, ocorreu a Reforma Universitária e foi aprovada a Resolução nº 4/72, mais conhecida como Parecer nº 163/72 que a antecedeu. Nessa Resolução, surgiu a matéria Exercício da Enfermagem, com a inclusão da deontologia e legislação profissional, sem mencionar História, mas muitos docentes continuaram a integrar aspectos históricos de Enfermagem, mesmo sem a obrigatoriedade legal. Em 1994, com a Portaria nº 1721/94, foi fixado o currículo mínimo para os cursos de enfermagem, onde a História da Enfermagem é incluída explicitamente como uma das matérias da área temática Fundamentos de Enfermagem e assim mantida pelas atuais diretrizes curriculares.

A História da Enfermagem, como parte das ciências humanas, continua relegada a espaços espremidos no início ou final de conteúdos considerados nobres da enfermagem, reduzindo-se ao mínimo necessário a carga horária, se comparada com a duração citada por Alcântara em seu artigo, que era de 60 horas, e ministrada em dois períodos, no primeiro e no terceiro ano⁽²⁾.

O presente estudo tem como objetivos contribuir para a discussão das possibilidades sobre o desenvolvimento do ensino e da pesquisa em História da Enfermagem, no curso de graduação, bem como incentivar a produção científica futuramente mais consistente, como referem Barreira e Baptista, quanto ao processo de investigação e diversificada quanto aos seus enfoques e abrangência⁽³⁾.

O ENSINO ATUAL DE HISTÓRIA DA ENFERMAGEM NO CURSO DE GRADUAÇÃO DA ESCOLA

Inicialmente, a disciplina de História de Enfermagem era ministrada, no assim chamado período júnior, correspondente ao segundo semestre do curso teórico de graduação de enfermagem. Eram quatro os períodos de ensino, na época: pré-clínico, júnior, intermediário e sênior, completando-se o curso em 36 meses de aulas e as férias eram de dois meses em todo o curso. Para esse ensino contou com docentes de renome como Amália Corrêa de Carvalho e Maria Rosa Pinheiro, no início.

No programa atual do curso de graduação, a História da Enfermagem constitui um módulo dentro da disciplina ENO 101 - Políticas de Saúde, de Educação e Cidadania, ministrada no primeiro semestre de cada ano aos alunos ingressantes. A disciplina contém 4 módulos: História da Enfermagem, Políticas de Saúde no Brasil, Processo de Trabalho da Enfermagem: assistir e gerenciar, ética e cidadania. Trata-se da primeira disciplina de enfermagem que o aluno deve freqüentar dentro do Programa de Graduação, na própria Escola de Enfermagem. Após a primeira aula, o aluno é convidado a realizar uma enquete com, no mínimo, três pessoas desconhecidas, não membros da equipe de enfermagem e nem familiares do aluno com o objetivo de identificar a percepção dessas pessoas sobre a profissão de enfermagem, utilizando um roteiro - O que é enfermeiro e o que você acha que ele faz em seu trabalho?

Uma outra atividade desenvolvida na disciplina de História da Enfermagem propõe aos alunos que se imaginem no ano 2050, e escrevam, uma carta-testamento, considerando a situação encontrada por eles e descrevendo os progressos que a profissão da enfermagem teria alcançado. Essa atividade objetiva estimular a participação dos alunos em atividades agremiativas.

A PESQUISA DE HISTÓRIA DA ENFERMAGEM NO CURSO DE GRADUAÇÃO

Os trabalhos de pesquisa, em caráter totalmente voluntário e extracurricular, têm sido desenvolvidos com vários alunos. Dois deles já estão publicados em periódicos indexados, um está no prelo e um quarto foi interrompido, face a problemas encontrados na coleta de dados, desde 1998. Todos esses trabalhos tiveram início durante o prelecionamento do módulo História da Enfermagem, prosseguindo durante o segundo período e/ou terceiro período, quando se passa para a fase de coleta de dados e somente quando o aluno já se encontra no quinto período é que o trabalho alcança fase de análise de dados e elaboração do relatório. Em geral, no final do quinto período o trabalho está sendo enviado para publicação.

Nos últimos anos, vem-se estudando e discutindo as áreas do conhecimento pelas agências de fomento à pesquisa. Mais recentemente, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) divulgou propostas de alterações nas áreas de conhecimento, a fim de atenuar o grave problema da interdisciplinaridade. De acordo com essas alterações, na composição de diversas áreas do conhecimento, foram criadas subáreas para abrigar diversas especialidades. Assim, a enfermagem contempla quatro áreas: Médico-Cirúrgica, Saúde Pública, Gestão e Enfermagem Especializada, sendo a História da Enfermagem considerada uma especialidade da Enfermagem⁽⁴⁾.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No curso de graduação, os propósitos do ensino de história deveriam ampliar horizontes culturais dos estudantes, desenvolver a capacidade de julgamento independente, a honestidade intelectual em relação aos trabalhos lidos e citados, a tolerância, o respeito pelas opiniões alheias, a capacidade de expressão, enfim, conhecimentos, ideais, atitudes e hábitos⁽²⁾.

A criação de núcleos de pesquisa de História da Enfermagem Brasileira nas escolas de enfermagem é decisiva ao incremento da produção científica e à sua produção. Assim sendo, uma melhor compreensão da trajetória dessa profissão, necessária à formação de uma consciência crítica, depende também do interesse e da consciência que se tiver das relações passado/presente, o que faz com que se valorize os papéis históricos, como atores que participam do movimento da história⁽⁴⁾.

O ensino de Historia da Enfermagem, em relação ao conteúdo, não pode consistir numa sucessão de nomes de pessoas que exerceram atividades de enfermagem e relacionados aos quais, simultaneamente, sejam citados fatos e acontecimentos sem que fosse apresentada uma compreensão integrada de todos esses elementos nos distintos cenários ao longo do tempo. Nessa perspectiva, já se reconhecia, na década de oitenta, que o ensino da disciplina História da Enfermagem não fazia apelo ao estudante⁽⁵⁾.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Recebido em:16.11.2005

Aprovado em: 13.9.2006

• 1. Barreira IA, Baptista SS. Nexos entre pesquisa em história da enfermagem e o processo de cientifização da profissão. In: Anais do 51º Congresso Brasileiro de Enfermagem e 10º Congreso Panamericano de Enfermería; 1999 out. 2-7; Florianópolis. Florianópolis: ABEn-Seção SC; 1999. p. 295-311.
• 2. Alcântara G. O ensino de ética e história da enfermagem. Rev Bras Enfermagem 1966 agosto; 19(4):393-402.
• 3. Pinheiro MRS. Histórico da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo.Rev Esc Enfermagem USP 1967 setembro; 1(1):3-47.
• 4. Barreira IA. Memória e história para uma nova visão da enfermagem no Brasil. Rev Latino-am Enfermagem 1995 julho; 7(3):87-93.
• 5. Di Lascio CMS. O ensino da história na formação do enfermeiro. Rev Bras Enfermagem 1985 abril; 35(2):126-37.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  19 Mar 2007
• Data do Fascículo
  Fev 2007

Histórico

• Recebido
  16 Nov 2005
• Aceito
  13 Set 2006