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A inserção social da pós-graduação em enfermagem

EDITORIAL

A inserção social da pós-graduação em enfermagem

Maria Helena Palucci MarzialeI; Isabel Amélia Costa MendesII

Editores da Revista Latino-Americana de Enfermagem da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem:

IProfessor Titular, e-mail: marziale@eerp.usp.br

IIProfessor Titular, e-mail: iamendes@eerp.usp.br

Diante da divulgação dos resultados preliminares da avaliação trienal dos cursos de Pós-Graduação (PG) no Brasil, realizada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), muito se tem discutido sobre este assunto no âmbito da academia. O sistema de avaliação vigente valoriza aspectos ligados a qualidade dos programas relacionados á formação de recursos humanos e a geração de conhecimento produzido que são pontuados através dos seguintes quesitos: qualidade da proposta do programa, corpo docente, corpo discente, teses e dissertações, produção intelectual e inserção social.

Considerando que este último quesito objetiva identificar como os mestres e doutores, bem como suas pesquisas e de seus orientadores, atuam em termos de desafios decisivos para a sociedade, e que cada área do conhecimento tem autonomia para definir e entender inserção social dentro de suas particularidades, buscou-se neste editorial apresentar elementos para subsidiar a reflexão sobre a inserção social da PG na Enfermagem brasileira.

A PG em Enfermagem no Brasil, desde a criação dos primeiros programas de mestrado (1972) e doutorado (1981) tem a missão de contribuir na formação de mestres e doutores críticos, éticos e reflexivos, capazes de construir novos conhecimentos em benefício da sociedade.

Observa-se que nos últimos anos o número de programas de mestrado e doutorado em enfermagem, credenciados na CAPES, aumentou na ordem de 69% passando de 16 programas no triênio 1998-2000 para 27 no triênio 2004-2006. No período de 2001 a 2006 foram formados 2102 Mestres e 653 doutores em Enfermagem oriundos dos diferentes estados brasileiros, países da América - Latina e da África de língua portuguesa. Atualmente estão credenciados 32 programas de PG; há aproximadamente 700 cursos de graduação em Enfermagem e 200.000 enfermeiros graduados.

A academia desempenha um papel central na geração de conhecimentos e a PG é responsável pela maior parte da produção científica da Enfermagem brasileira e esta produção, a cada dia ganha maior visibilidade no cenário mundial, embora ainda distante, de áreas mais tradicionais como a Medicina, tanto em número de artigos como no percentual de citações e índice de impacto dos periódicos. No entanto, percebe-se que, assim como em outras áreas do conhecimento, há dificuldade para aplicar os conhecimentos produzidos á prática e na produção de produtos.

Entende-se que para a expansão da PG na Enfermagem faz-se necessário discutir o seu futuro em relação não só ao aumento das publicações em periódicos internacionais de impacto mas também a inserção social da produção acadêmica da PG e sua contribuição para o desenvolvimento social e econômico do país. Assim, faz-se necessário a publicação dos resultados das pesquisas também em periódicos nacionais de qualidade e na mídia popular para que os resultados das pesquisas com reflexos na vida das pessoas sejam percebidos por toda a sociedade.

Sabe-se que as contribuições da pesquisa científica à sociedade são mediadas por processos políticos, culturais e sociais amplos(1); no entanto, alguns elementos podem ser considerados indicadores de quais são estas contribuições.

Na área de exatas por exemplo, pode ser a geração de resultados técnicos tais como processos, patentes concedidas, softwares inovativos. Na área da saúde os resultados estão voltados á qualidade da assistência prestada aos usuários, produtividade e eficiência dos serviços, diminuição de indicadores de morbi-mortalidade, ampliação da longevidade, entre outros.

A inserção social da PG por sua vez, é mais ampla pois inclui aspectos da produção do conhecimento e da formação de recursos humanos que são avaliados pela CAPES por meio dos seguintes indicadores:

- Inserção e impacto regional e (ou) nacional: avaliado pelo impacto educacional (contribuição para a melhoria do ensino fundamental, médio, graduação, técnico/profissional e para o desenvolvimento de propostas inovadoras de ensino), impacto social (formação de recursos humanos qualificados para a administração pública ou a sociedade civil que possam contribuir para o aprimoramento da gestão pública e a redução da dívida social, ou para a formação de um público que faça uso dos recursos da ciência e do conhecimento); impacto cultural (formação de recursos humanos qualificados para o desenvolvimento cultural e artístico, formulando políticas culturais e ampliando o acesso à cultura e às artes e ao conhecimento nesse campo); impacto tecnológico/econômico (contribuição para o desenvolvimento micro-regional, regional e/ou nacional destacando os avanços produtivos gerados; disseminação de técnicas e conhecimentos); integração e cooperação com outros programas com vistas ao desenvolvimento da pesquisa e da pós-graduação - participação em programas de cooperação e intercâmbio sistemáticos; participação em projetos de cooperação entre programas com níveis de consolidação diferentes, voltados para a inovação na pesquisa ou o desenvolvimento da pós-graduação em regiões ou sub-regiões geográficas.

- Visibilidade ou transparência dada pelo programa à sua atuação: efetuada pela manutenção de página Web para a divulgação de dados internos, critérios de seleção de alunos, produção docente e discente, financiamentos recebidos, acesso a teses e dissertações.

Cabe destacar que as atividades de extensão são valorizadas na PG, á medida que os resultados tenham poder de transformação social, não se tratando de mera aplicação de um conhecimento pronto á realidades que clamam por ele, é importante que esses trabalhos retro alimentem a pesquisa e a formação(1)..

Diante do exposto acredita-se que a inserção social e a avaliação do impacto socioeconômico dos programas de PG e dos produtos da pesquisa científica devam ser amplamente discutidos pelos programas de PG da área de Enfermagem, pois a reflexão sistemática sobre impactos da pesquisa pode produzir novos critérios para avaliação e a definição de estratégias pertinentes para uso pelos pesquisadores, além de estimular o diálogo dos cientistas e dos programas de pós-graduação com os usuários do conhecimento e a sociedade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Dantas F. Responsabilidade social e pós-graduação no Brasil: idéias para avaliação. Debates RBPG [periodico online] 2007 novembro [acessado em 02 de setembro de 2007]; 1(2):160-72. Disponível em: www2.capes.gov.br/rbpg/portal/conteudo/.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Dez 2007
  • Data do Fascículo
    Out 2007
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