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Validação de material educativo para o cuidado da pessoa com estomia intestinal* * Este artigo refere-se à chamada “Tecnologias educacionais e métodos pedagógicos inovadores na formação de recursos humanos em saúde”. Artigo extraído da dissertação de mestrado “Construção e validação de tecnologia educativa para o cuidado de pessoas com estomia intestinal”, apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde, Natal, RN, Brasil. Apoio Financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Processo 423694/2016-2, Brasil.

Resumo

Objetivo:

validar uma cartilha educativa para pessoas com estomias intestinais como recurso tecnológico no ensino do autocuidado.

Método:

pesquisa metodológica para a construção e validação de cartilha educativa por nove juízes especialistas e 25 pessoas com estomias. Foi considerado o índice de concordância de, no mínimo, 80% para se garantir a validação do material.

Resultados:

quanto aos objetivos da cartilha, todos os juízes avaliaram os itens como “adequado” ou “totalmente adequado”, com índice de validade de conteúdo de 1,00. Com relação à estrutura e apresentação da cartilha, o índice total foi de 0,84. No quesito relevância, o total foi de 0,97 e o índice geral da cartilha educativa foi de 0,89, confirmando a validação junto aos juízes. Todos os itens da organização, estilo da escrita, aparência e motivação do material foram considerados validados pelo público-alvo, atingindo índice de concordância total de 0,99.

Conclusão:

no contexto da educação em saúde, a cartilha foi considerada válida e adequada para o cuidado das pessoas com estomias intestinais, podendo ser utilizada em ambientes de ensino, pesquisa, extensão e no cuidado à pessoa com estomia intestinal.

Descritores:
Estomia; Autocuidado; Tecnologia Educativa; Educação em Saúde; Cuidados de Enfermagem; Estudos de Validação

Abstract

Objective:

to validate an educational booklet for people with intestinal stoma as a technological resource in the teaching of self-care.

Method:

a methodological research for the construction and validation of an educational booklet by nine expert judges and 25 people with stomas. The agreement index of at least 80% was considered to guarantee the validation of the material.

Results:

regarding the objectives of the booklet, all the judges evaluated the items as “adequate” or “totally adequate”, with a content validity index of 1.00. Regarding the structure and presentation of the booklet, the total index was 0.84. Regarding relevance, the total was 0.97 and the general index of the educational booklet was 0.89, confirming the validation with the judges. All items of the organization, writing style, appearance and motivation of the material were considered as validated by the target audience, reaching a total agreement index of 0.99.

Conclusion:

in the context of health education, the booklet was considered valid and suitable for the care of people with intestinal stoma, and can be used in teaching, research, extension and care for people with intestinal stoma.

Descriptors:
Ostomy; Self-Care; Educational Technology; Health education; Nursing Care; Validation Studies

Resumo

Objetivo:

validar una guía educativa para personas con ostomías intestinales, como recurso tecnológico en la enseñanza del autocuidado.

Método:

investigación metodológica para la construcción y validación de una guía educativa por nueve jueces especialistas y 25 personas con ostomías. Se consideró el índice de concordancia mínimo de 80% para garantizar la validación del material.

Resultados:

en cuanto a los objetivos de la guía, todos los jueces evaluaron los ítems como “adecuado” o “totalmente adecuado” con índice de validación de contenido de 1,00. En relación a la estructura y presentación de la guía, el índice fue de 0,84. En el punto atinente a la relevancia, el total fue de 0,97 y el índice general de la guía educativa fue de 0,89, confirmándose la validación junto a los jueces. Todos los ítems de la organización, estilo de escritura, apariencia y motivación del material fueron validados por el público destinatario, alcanzándose el índice de concordancia total de 0,99.

Conclusión:

En el contexto de educación en salud, la guía se consideró válida y adecuada para el cuidado de personas con ostomías intestinales, apta para ser utilizada en el ámbito educativo, investigaciones, extensión y en el cuidado a la persona con ostomía intestinal.

Descriptores:
Ostomía; Autocuidado; Tecnología Educativa; Educación en Salud; Cuidados de Enfermería; Estudios de Validación

Introdução

Estomia de eliminação é a denominação dada a uma abertura criada artificialmente no abdômen, por procedimento cirúrgico, para comunicação do ambiente interno do trato intestinal ou urinário com o ambiente externo, por onde ocorrem as eliminações de fezes e urina. A estomia intestinal pode ser classificada em dois tipos, de acordo com o local afetado, subdividindo-se em ileostomia e colostomia(11 Burch J. Management of peristomal skin complications. Br J Health Care Manage. 2014; 20(6): 264-9. doi: https://doi.org/10.12968/bjhc.2014.20.6.264
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).

As principais causas que levam à confecção de uma estomia são as de origem neoplásica, que comprometem o cólon e reto (câncer colorretal). Estimativas de 2018-2019 revelam aproximadamente 582.590 mil casos novos de câncer no Brasil, dos quais o câncer colorretal apresentou uma incidência de 37.360 mil novos casos, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA)(22 Ministério da Saúde (BR). Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA). Estimativa 2018-2019: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA; 2018 [Acesso 14 set 2019]. Disponível em: https://www.inca.gov.br/numeros-de-cancer
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). Ademais, outras causas, como doenças inflamatórias intestinais e traumas abdominais, também podem ocasionar a confecção de uma estomia(33 Lins MAF Neto, Fernandes DOA, Didoné EL. Epidemiological characterization of ostomized patients attended in referral Center from the city of Maceió, Alagoas, Brazil. J Coloproctol. (Rio J). 2016; 36(2):64-8. doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.jcol.2014.08.016
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).

Viver com essa condição ocasiona diversas alterações na vida de uma pessoa e de seus familiares, que repercutem em aspectos físicos, psicológicos e sociais. A aquisição de uma estomia demanda novas habilidades para o autocuidado, conhecimentos sobre as mudanças corporais e uma nova perspectiva de saúde, bem como estratégias de enfrentamento para um melhor processo adaptativo(44 Reisdorfer N, Locks MOH, Girondi JBR, Amante LN, Corrêa MS. Transition process to experience with elimination intestinal stoma: repercussions on body image. ESTIMA, Braz J Enterostomal Ther. 2019; 17: e1219. doi: https://doi.org/10.30886/estima.v16.683_PT
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).

Nesse momento, o apoio dos familiares e amigos, assim como dos profissionais de saúde, é fundamental para as pessoas com estomias. Ressalta-se a necessidade dos cuidados prestados pela equipe de enfermagem a essa população em todo o perioperatório, com a responsabilidade de orientar sobre o procedimento cirúrgico e todas as etapas, que vão desde a internação hospitalar, até os cuidados no pós-operatório e depois alta hospitalar(55 Pinto IES, Queirós SMM, Queirós CDR, Silva CRR, Santos CSVB, Brito MAC. Risk factors associated with the development of elimination stoma and peristomal skin complications. Referência. 2017; 15: 155-66. doi: http://dx.doi.org/10.12707/RIV17071
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-66 Rodrigues SC, Matos SS, Ferraz AF, Donoso MTV, Borges EL, Silqueira SMF, et al. Postoperative period of ostomized patients with colorectal cancer: a comprehensive analysis. Rev SOBECC. 2016; 21(2): 90-6. doi: http://dx.doi.org/10.5327/Z1414-4425201600020005
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).

Na fase do pós-operatório as intervenções da equipe devem estar direcionadas para a realização do autocuidado, por meio da retomada das atividades de vida diária, além de adequações particulares e participação em grupos de apoio, onde ocorre a troca de experiências sobre o convívio com a estomia e o processo adaptativo(77 Silva CRDT, Andrade EMLR, Luz MHBA, Andrade JX, Silva GRF. Quality of life of people with intestinal stomas. Acta Paul Enferm. 2017; 30(2):144-51. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1982-0194201700023
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).

No decorrer das consultas de enfermagem, é possível constatar diversas dificuldades no autocuidado, que resultam em baixa autoestima e autoeficácia, associadas ao manuseio e à adaptação dos equipamentos coletores, devido às complicações na estomia e área periestomal. Evidencia-se ainda que essas pessoas atribuem tais dificuldades à falta ou insuficiência de orientações sobre a estomia e os cuidados necessários nos períodos pré e pós-operatório(88 Carvalho DS, Silva AGI, Ferreira SRM, Braga LC. Elaboration of an educational technology for ostomized patients: peristomal skin care. Rev Bras Enferm. 2019; 72(2): 447-54. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0024
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-99 Jesus BP, Aguiar FAS, Rocha FC, Cruz IB, Andrade Neto GR, Rios BRM, et al. Colostomy and self-care: meanings for ostomized patients. Rev Enferm UFPE on line. [Internet]. 2019 [cited Sept 12, 2019]; 13(1):105-10. Available from: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/view/236771/31134
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).

Faz-se necessário, por parte da equipe de enfermagem, estabelecer estratégias educativas para satisfazer tanto às necessidades específicas de reabilitação, quanto à melhoria da qualidade de vida dessa população(1010 Monteiro SNC, Carvalho EMP, Medeiros L, Silva ALS, Guilheme D. Health education for children with intestinal stomies: the nurse as caregiver of care. Rev Pesqui Qualitativa. [Internet]. 2018 [cited Sept 12, 2019]; 6 (10):44-59. Available from: https://www.researchgate.net/publication/326616561
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). Na Enfermagem, a educação em saúde é um instrumento fundamental para uma assistência de boa qualidade, pois o enfermeiro atua nos ensinamentos do autocuidado às pessoas com estomia e seus familiares(1111 Mota MS, Gomes GC, Petuco VM. Repercussions in the living process of people with stomas. Texto Contexto Enferm. 2016; 25(1): e1260014. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0104-070720160001260014
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).

O crescente uso de materiais educativos (cartilha) como recursos na educação em saúde tem assumido um papel importante no processo de ensino-aprendizagem, principalmente na intervenção terapêutica(1212 Albuquerque AFLL, Pinheiro AKB, Linhares FMP, Guedes TG. Technology for self-care for ostomized women’s sexual and reproductive health. Rev Bras Enferm. 2016; 69(6):1164-71. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0302
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). Eles são úteis para essa população, uma vez que favorecem o conhecimento, desenvolvem suas atitudes, habilidades e autonomia.

A finalidade da educação na saúde é estimular a independência da pessoa, com base em troca de conhecimentos, de modo a incentivar o autocuidado e a adesão aos tratamentos necessários(1212 Albuquerque AFLL, Pinheiro AKB, Linhares FMP, Guedes TG. Technology for self-care for ostomized women’s sexual and reproductive health. Rev Bras Enferm. 2016; 69(6):1164-71. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0302
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). Dessa forma, objetivou-se validar uma cartilha educativa para pessoas com estomias intestinais como recurso tecnológico no ensino do autocuidado.

Método

Estudo metodológico, desenvolvido no período de outubro de 2016 a novembro de 2017. A pesquisa teve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN sob o Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) nº 65942517.9.0000.5537.

Para a construção da cartilha educativa, tomaram-se como base os resultados da revisão integrativa da literatura e demandas relatadas pelas pessoas com estomias intestinais, atendidas no Centro de Reabilitação do Adulto do Rio Grande do Norte, localizado em Natal/RN.

A revisão foi realizada nas bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde, Medical Literature Analysis and Retrieval System Online, Índice Bibliográfico Espanhol de Ciências da Saúde, PubMed Central, Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature, Web Of Science e SciVerse Scopus. Foram selecionados artigos que adequaram aos critérios de inclusão e respondiam à pergunta norteadora: “Quais as principais dificuldades para o cuidado de pessoas com estomias?”. A amostra final foi composta por 17 artigos.

As dificuldades de realizar o autocuidado estão relacionadas com a limpeza da estomia, troca, vazamento, recorte e qualidade inadequada da bolsa, complicações, ausência de conhecimento quanto ao autocuidado, pele periestomal, desconforto, insegurança, esvaziamento da bolsa e irrigação.

No que concerne ao estudo qualitativo, do qual emergiram as demandas relatadas pela população do estudo, a amostra foi composta por 30 pessoas com estomias intestinais que buscavam atendimento no setor de estomaterapia do Centro de Reabilitação Adulto do Rio Grande do Norte (CRA-RN) e que se adequaram aos critérios de inclusão. Utilizou-se a seguinte questão norteadora: “Quais foram as principais dificuldades quanto ao seu cuidado com a estomia?”.

Os resultados decorrentes dessa etapa junto às pessoas com estomias intestinais assemelham-se aos encontrados na revisão, uma vez que os principais resultados estão relacionados aos problemas com a bolsa coletora (troca e recorte), limpeza, vazamento e cuidado com a pele periestomal.

Do levantamento geral dos conteúdos pertinentes emergiram seções de ensino nas quais foram destacados: os conceitos de estomia intestinal, tipos de estomias, características normais do estoma, bolsas coletoras, cuidados com a estomia e com a bolsa coletora e as dúvidas mais frequentes das pessoas quanto ao esvaziamento e troca do coletor de uma e duas peças.

Com base nesses resultados, foram elaborados diálogos e ilustrações que facilitassem a compreensão dos ensinamentos, até mesmo para pessoas com dificuldade de leitura. Obteve-se ainda o auxílio de programas de computador, bem como de profissionais de design gráfico da Secretaria de Educação a Distância - SEDIS e do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde - LAIS da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Esses departamentos auxiliaram na elaboração da arte da cartilha de acordo com o conteúdo teórico, elaborado previamente, além de construir ilustrações atrativas e de fácil compreensão. Depois de confeccionadas as ilustrações, foram iniciadas a formatação, configuração e diagramação das páginas.

Na etapa de validação, consideraram-se as recomendações sobre o número ideal de juízes especialistas e do público-alvo(1313 Pasquali L. Psychometrics. Rev Esc Enferm USP. 2009; 43(Spe):992-9. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S0080-62342009000500002
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). Logo, participaram da etapa de validação de conteúdo e de aparência nove enfermeiros e 25 pessoas com estomias intestinais, respectivamente.

Os critérios de seleção dos juízes especialistas foram: que tivessem experiência na área de estomias intestinais, terem artigo publicado na área de interesse em periódico indexado ou publicação de artigos que envolvessem a temática estomia e terem prática clínica na área de estomaterapia. A validação de conteúdo compõe a avaliação do universo de informações que fornece a estrutura e a base para formulação de questões que representem adequadamente o conteúdo(1313 Pasquali L. Psychometrics. Rev Esc Enferm USP. 2009; 43(Spe):992-9. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S0080-62342009000500002
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).

Após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, foram enviados o questionário de caracterização, o material educativo em versão impressa e o instrumento de validação de conteúdo. Para tanto, adaptou-se um questionário semiestruturado(1414 Silva J. Educação para o autocuidado de estomizados intestinais no domicílio: do planejamento à avaliação de resultados. [dissertação]. Ribeirão Preto (SP): Universidade de São Paulo; 2013.) com 17 assertivas, organizado em formato de escala de Likert com cinco opções de julgamento: “totalmente adequado”, “adequado”, “parcialmente adequado”, “não se aplica” e “inadequado”. Cada assertiva correspondeu a um item de avaliação, distribuídos em três domínios avaliativos (Objetivo, Estrutura e organização, e Relevância). Constaram, ainda, espaços destinados a sugestões e comentários gerais.

Após a realização dos ajustes necessários na cartilha, por meio das sugestões feitas pelos especialistas, seguiu-se a validação com o público-alvo, na qual se utilizou um instrumento adaptado(1313 Pasquali L. Psychometrics. Rev Esc Enferm USP. 2009; 43(Spe):992-9. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S0080-62342009000500002
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), com 13 perguntas referentes à organização, estilo de escrita, aparência e motivação. Havia três opções de respostas para cada pergunta: positiva (sim/fáceis de entender/claro/interessantes), imparcial (em parte/não sei) e negativa (não/difíceis de entender/confuso/desinteressante), conforme cada tipo de questão(1515 Gonçales MB. Teste de Papanicolaou: construção e validação de material educativo para usuárias de serviços de saúde. [dissertação]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo; 2007.).

Essa etapa consistiu na avaliação da facilidade da leitura, compreensão e aparência, por meio do julgamento pelo público-alvo. Foram convidadas, individualmente, 25 pessoas com estomia intestinal que frequentavam o CRA, referência no atendimento multiprofissional a essa população em todo o estado.

Os critérios de inclusão foram: ter estomia intestinal, idade igual ou maior a 18 anos, comparecimento para atendimento no CRA durante o período proposto para a coleta e ter disponibilidade de 10 a 20 minutos para responder o instrumento. Excluíram-se as pessoas com incapacidade de leitura textual e/ou visual, bem como aquelas com capacidade mental prejudicada para realizar a avaliação dos itens.

A versão final da cartilha contém 32 páginas com dimensão de 150 x 200 mm, impressas nas cores predominantes de vermelho e laranja, sobre papel A4 fosco 150 g/m, presas por grampos. E o título da cartilha é “Aprendendo a cuidar da estomia intestinal”.

Foi utilizado o Índice de Validade de Conteúdo (IVC), que mede a concordância dos juízes quanto à representatividade dos itens em relação ao conteúdo em estudo, calculado através da divisão do número de juízes que avaliaram o item como adequado/adequado necessitando de alterações pelo total de juízes (avaliação por item), resultando na proporção de juízes que julgaram o item válido. Para calcular o IVC geral do instrumento foi realizada a soma de todos os IVCs calculados separadamente, e dividida pelo número de itens(1616 Alexandre NMC, Coluci MZO. Content validity in the development and adaptation processes of measurement instruments. Ciênc Saúde Coletiva. 2011; 16(7): 3061-8. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232011000800006
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). As sugestões dos juízes para a melhoria da cartilha foram analisadas e acatadas.

Para a validação da cartilha educativa pelos juízes da área, os itens e o instrumento como um todo deveriam apresentar IVC maior ou igual a 0,80, para este estudo. Os itens que apresentassem índices abaixo de 0,80 seriam excluídos ou reformulados de acordo com as sugestões dos especialistas.

Para análise dos itens julgados pelo público-alvo, também foram considerados validados os dados com nível de concordância maior que 0,80 nas respostas positivas(1616 Alexandre NMC, Coluci MZO. Content validity in the development and adaptation processes of measurement instruments. Ciênc Saúde Coletiva. 2011; 16(7): 3061-8. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232011000800006
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). Os participantes foram identificados em suas falas pela letra “P” seguida de um número arábico de 1 a 25 (P1, P2, P3...), conforme a ordem da sua participação na coleta dos dados.

Resultados

A primeira versão do material educativo submetido à validação pelos juízes especialistas era de 32 páginas, intitulada “Aprendendo a cuidar da estomia intestinal”. O conteúdo desta cartilha continha uma apresentação inicial e, na sua sequência, os seguintes assuntos, que estavam apresentados na forma de tópicos: conhecendo a estomia; tipos de estomias intestinais; características normais da estomia; bolsas coletoras; cuidados com a bolsa coletora; dúvidas frequentes; e, ao final, as referências bibliográficas consultadas para elaborar o texto.

Com relação à validação da cartilha, nove juízes participaram da pesquisa, todos do sexo feminino, com formação em Enfermagem. A média do tempo de formação foi de 8,5 anos, mínimo de 4 e máximo de 15 anos. Todos possuíam mestrado ou doutorado, com a temática estomia como objeto de estudo. Cinco trabalhavam na área da assistência em estomaterapia e os demais, na docência. Todos possuíam publicações de pesquisa envolvendo a temática estomia e dois deles, além dessa temática, também possuíam publicações sobre validação de instrumentos.

Primeiramente, os juízes avaliaram a cartilha educativa quanto aos objetivos a serem atingidos com sua utilização. Nenhum item foi julgado inadequado nem parcialmente adequado ou marcado como “não se aplica”. Verificou-se que, quanto aos objetivos da cartilha, todos os itens foram considerados válidos, visto que todos os juízes os classificaram como “adequado” ou “totalmente adequado”, o que conferiu um IVC de 1,00 para os objetivos propostos, como exposto na Tabela 1.

Tabela 1
Avaliação dos juízes de conteúdo quanto aos objetivos do material educativo. Natal, RN, Brasil, 2017

Adiante, os juízes avaliaram a cartilha quanto à sua estrutura e apresentação e nenhum item foi julgado “inadequado” ou como “não se aplica”. Ela foi considerada validada, atingindo IVC total de 0,84. No entanto, alguns foram julgados como parcialmente adequados por 22,2% dos juízes, conforme a Tabela 2. Esses itens tratavam da clareza e objetividade das mensagens apresentadas; da sequência lógica do conteúdo proposto; se as informações estavam bem estruturadas em concordância e ortografia; se o estilo de redação correspondia ao nível de conhecimento do público-alvo; e se as ilustrações eram expressivas e suficientes.

Tabela 2
Avaliação dos juízes de conteúdo quanto à estrutura e apresentação do material educativo. Natal, RN, Brasil, 2017

A análise dos comentários/sugestões dos especialistas para o conteúdo demonstrou a adequação da representação dos itens e destacou as modificações necessárias. Todos os juízes especialistas apresentaram algum tipo de comentário ou sugestão para o aprimoramento da cartilha. Foram sugeridas, por exemplo, substituições de palavras para facilitar a compreensão por todos.

Com relação à relevância da cartilha educativa (Tabela 3), não houve itens julgados como “inadequado” ou “não se aplica”. Apenas um juiz classificou o item “O material propõe à pessoa com estomia adquirir conhecimento quanto ao manejo do autocuidado com a estomia” como “parcialmente adequado”. No quesito relevância, o IVC total foi 0,97, visto que os demais juízes classificaram todos os itens como “adequado” ou “totalmente adequado”. Consequentemente, o IVC geral da cartilha educativa é 0,89, confirmando a validação da aparência e conteúdo junto aos especialistas da área.

Tabela 3
Avaliação dos juízes de conteúdo quanto à relevância do material educativo. Natal, RN, Brasil, 2017

Referente à validação com o público-alvo, um total de 25 pessoas com estomias intestinais participou desta etapa. Tinham idade mínima de 18 e máxima de 66 anos, com média de 52 anos, em sua maioria do sexo feminino (64%), casadas (60%) e 56% com ensino fundamental incompleto. Quanto ao tempo em que viviam com a estomia, 52% tinham entre 2 e 10 anos de convívio e 40% apresentavam menos de 2 anos, o que mostra tempos de convivência distintos para que a pessoa com estomia intestinal adquira maior segurança e aprenda a realizar seu autocuidado.

Como etapa de avaliação da clareza, compreensão e relevância do conteúdo apresentado pela cartilha educativa, uma vez realizadas as correções sugeridas pelos juízes, ela foi submetida à avaliação pelo público com estomia intestinal.

A versão corrigida e impressa da cartilha foi entregue individualmente e, somente após o material ser manuseado e lido, era solicitado a eles que respondessem o instrumento de validação, aplicado pela pesquisadora. A Tabela 4 mostra o resultado da avaliação do material pelo público com estomia intestinal.

Tabela 4
Avaliação das pessoas com estomia quanto à organização, estilo da escrita, aparência e motivação da cartilha. Natal, RN, Brasil, 2017

Não houve resposta negativa nos itens avaliados pelo público-alvo. Todos os itens da organização, estilo da escrita, aparência e motivação do material foram considerados validados, pois atingiram índice de concordância total de 0,99. Apenas uma resposta do item “organização”, na pergunta “A capa chama sua atenção?”, foi tida como “resposta imparcial”, e a pessoa com estomia não justificou o motivo pelo qual a capa não chamou totalmente a sua atenção.

Outro item que teve resposta imparcial foi sobre a pergunta: “Você se sentiu motivado a ler a cartilha até o final?”. Como justificativa, respondeu: Eu já tenho a estomiahá 5 anos e aprendi a fazer tudo sozinho depois de muito tempo, mas mesmo assim, tenho interesse de ter uma pra ler com calma em casa, pois leio devagar e ler ela todinha aqui vai me custar mais tempo do que já levei pra ver página por página (P12).

Após todo o processo de validação, a cartilha educacional foi finalizada com 34 páginas e passou a ser ofertada por profissionais da área. A imagem da capa do material está representada na Figura 1.

Figura 1
Capa da cartilha. Natal, RN, Brasil, 2018

Discussão

A cartilha obteve IVC geral dos juízes de 0,89, apresentando validade em consonância com outros estudos de construção e validação de cartilhas que obtiveram IVC > 0,80(1717 Oliveira SC, Lopes MVO, Fernandes AFC. Development and validation of an educational booklet for healthy eating during pregnancy. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2014; 22(4): 611-20. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0104-1169.3313.2459
http://dx.doi.org/10.1590/0104-1169.3313...

18 Silva RA, Ximenes LB, Cruz AG, Serra MA, Araújo MF, Andrade LM, et al. Sexual activity of people with spinal cord injury: development and validation of an educational booklet. Acta Paul Enferm. 2018; 31(3):255-64. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1982-0194201800037
http://dx.doi.org/10.1590/1982-019420180...
-1919 Moura IH, Silva AFR, Rocha AESH, Lima LHO, Moreira TMM, Silva ARV. Construction and validation of educational materials for the prevention of metabolic syndrome in adolescents. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2017; 25:e2934. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1518-8345.2024.2934
http://dx.doi.org/10.1590/1518-8345.2024...
). A etapa de validação por especialistas é essencial para a avaliação de possíveis incoerências que possam prejudicar a compreensão por parte da população a que se destina a cartilha, além de conferir um maior rigor metodológico no uso de tecnologias educativas(1616 Alexandre NMC, Coluci MZO. Content validity in the development and adaptation processes of measurement instruments. Ciênc Saúde Coletiva. 2011; 16(7): 3061-8. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232011000800006
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).

Destaca-se, nesse processo, a participação de juízes estomaterapeutas no estudo, uma vez que se trata de uma especialidade relativamente recente no Brasil e exclusiva do profissional enfermeiro, o que fornece contribuições para a criação de tecnologias na área de estomaterapia.

Essa contribuição em processos de validação de tecnologias educativas por profissionais enfermeiros se ancora também em suas características de formação e atuação, em que assumem o papel de educador da pessoa com estomia, da família e da comunidade. Observa-se, então, que esses profissionais têm um maior tempo com essa população, o que permite observar com mais atenção as necessidades de cuidado e fortalecer vínculos para melhor interação e diálogo(2020 Maurício VC, Souza NVDO, Costa CCP, Dias MO. The view of nurses about educational practices targeted at people with a stoma. Esc Anna Nery. 2017; 21(4): e20170003. doi: http://dx.doi.org/10.1590/2177-9465-ean-2017-0003
http://dx.doi.org/10.1590/2177-9465-ean-...
).

Desse modo, a cartilha educativa também é vislumbrada como recurso para auxiliar os profissionais na educação em saúde, vista como modo de cuidar para fortalecer a capacidade e autonomia do outro. Assim, a educação em saúde, por constituir uma intervenção dialógica, permite a capacitação contínua(1212 Albuquerque AFLL, Pinheiro AKB, Linhares FMP, Guedes TG. Technology for self-care for ostomized women’s sexual and reproductive health. Rev Bras Enferm. 2016; 69(6):1164-71. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0302
http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2016...
), e a tecnologia educativa no formato impresso tem sido bastante utilizada para melhorar o conhecimento, a satisfação, participação no tratamento e o autocuidado de pessoas com estomia(2121 Rosado SR, Silva NM, Filipini CB, Teles AAS, Sonobe HM, Dázio EMR. Living well with a stoma: experience report on the preparation of a booklet. Rev Enferm UFPE on line. [Internet]. 2017 [cited Sept 12, 2019]; 11(5): 2242-9. Available from: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/view/23382
https://periodicos.ufpe.br/revistas/revi...
).

Em ensaio clínico realizado na Turquia, estratégias educativas de autocuidado com slides, vídeos e cartilhas educativas foram implementadas no grupo intervenção, verificando-se que os escores de autocuidado aumentaram significativamente no grupo intervenção, quando comparado ao grupo controle (p<0,001), onde foram estabelecidas apenas as intervenções de rotina. A educação tem um papel importante no desenvolvimento do autocuidado, independência e adaptação das pessoas com estomias(2222 Culha I, Kosgeroglu N, Bolluk O. Effectiveness of Self-care Education on Patients with Stomas. IOSR-JNHS. [Internet]. 2016 [cited Sept 14, 2019]; 5 (2): 70-6. Available from: https://www.researchgate.net/publication/317781600_Effectiveness_of_Selfcare_Education_on_Patients_with_Stomas
https://www.researchgate.net/publication...
).

Pessoas com estomias que não recebem uma educação em saúde adequada apresentam déficits de reinserção social e de retorno às atividades de vida que realizavam antes da cirurgia. Estudos mostram que muitas dessas pessoas possuíam um conhecimento deficiente quanto aos cuidados com a estomia e com o corpo, bem como atividades físicas e de lazer, o que resultou em isolamento social, complicações periestomais e prejuízos nas atividades cotidianas, como sono e higiene corporal(2323 Bulkley JE, McMullen CK, Grant M, Wendel C, Hornbrook MC, Krouse RS. Ongoing ostomy self-care challenges of long-term rectal cancer survivors. Support Care Cancer. 2018; 26(11): 3933-9. doi: http://dx.doi.org/10.1007/s00520-018-4268-0
http://dx.doi.org/10.1007/s00520-018-426...
-2424 Cengiz B, Bahar Z. Perceived Barriers and Home Care Needs When Adapting to a Fecal Ostomy: A Phenomenological Study. J Wound Ostomy Continence Nurs. 2017; 44(1): 63-8. doi: http://dx.doi.org/10.1097/WON.0000000000000271.
http://dx.doi.org/10.1097/WON.0000000000...
).

A cartilha educativa se insere como uma importante ferramenta no suporte educacional a essa população, por abordar aspectos de cuidados com o estoma, troca da bolsa, higienização, vestimentas e quando e onde procurar auxílio profissional, de modo a estimular a autonomia para o desenvolvimento do autocuidado.

O acesso a esse material contribuirá para a aquisição de conhecimentos que permitam auxiliar as pessoas com estomias intestinais no processo de adaptação à nova condição de vida, na ressignificação de sua autoimagem e autoconceito, superação dos medos, bem como tabus advindos da alteração da imagem corporal(1212 Albuquerque AFLL, Pinheiro AKB, Linhares FMP, Guedes TG. Technology for self-care for ostomized women’s sexual and reproductive health. Rev Bras Enferm. 2016; 69(6):1164-71. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0302
http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2016...
).

Dessa forma, as informações na cartilha buscam alcançar os conhecimentos básicos sobre o assunto, tanto por parte do conteúdo teórico, como pelas ilustrações. Por isso, houve a preocupação de que estas fossem explicativas e complementares em relação ao ensino na forma escrita, facilitando a comunicação visual e a aproximação com o conhecimento por parte dos participantes com limitada aproximação com a linguagem escrita(1717 Oliveira SC, Lopes MVO, Fernandes AFC. Development and validation of an educational booklet for healthy eating during pregnancy. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2014; 22(4): 611-20. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0104-1169.3313.2459
http://dx.doi.org/10.1590/0104-1169.3313...
-1818 Silva RA, Ximenes LB, Cruz AG, Serra MA, Araújo MF, Andrade LM, et al. Sexual activity of people with spinal cord injury: development and validation of an educational booklet. Acta Paul Enferm. 2018; 31(3):255-64. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1982-0194201800037
http://dx.doi.org/10.1590/1982-019420180...
).

Dentre estes aspectos a serem considerados na comunicação para o ensino, é importante destacar a adequação da linguagem a esse público-alvo, facilitando a compreensão por pessoas com variados níveis de escolaridade(1717 Oliveira SC, Lopes MVO, Fernandes AFC. Development and validation of an educational booklet for healthy eating during pregnancy. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2014; 22(4): 611-20. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0104-1169.3313.2459
http://dx.doi.org/10.1590/0104-1169.3313...
-1818 Silva RA, Ximenes LB, Cruz AG, Serra MA, Araújo MF, Andrade LM, et al. Sexual activity of people with spinal cord injury: development and validation of an educational booklet. Acta Paul Enferm. 2018; 31(3):255-64. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1982-0194201800037
http://dx.doi.org/10.1590/1982-019420180...
).

Em consonância com esses aspectos, o público-alvo avaliou a cartilha de forma positiva, considerando-a importante, de grande utilidade, adequada e explicativa, principalmente para as pessoas com pouco tempo de estomia que ainda não têm o conhecimento acerca das habilidades que deverão desenvolver para garantir seu autocuidado, possibilitando melhor adaptação e prevenção de complicações futuras. Essa avaliação foi importante para validar o material e disseminar informações para o cuidado cotidiano com a estomia e o uso da bolsa coletora.

A disponibilização de um material educativo auxilia e uniformiza as orientações a serem realizadas, além de servir para consulta do público-alvo com vistas ao cuidado em saúde. A cartilha educativa é um instrumento que contribui no cuidado, principalmente no período logo após a construção da estomia, uma vez que durante a hospitalização torna-se difícil assimilar tantas novas informações(88 Carvalho DS, Silva AGI, Ferreira SRM, Braga LC. Elaboration of an educational technology for ostomized patients: peristomal skin care. Rev Bras Enferm. 2019; 72(2): 447-54. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0024
http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2016...
).

Estudo realizado nos Estado Unidos com pessoas recém-estomizadas concorda que estabelecer uma ponte entre o período de transição e alta hospitalar e o acompanhamento clínico inicial, usando intervenções sensíveis, educacionais e oportunas, deve ser uma prioridade nesta população. Os profissionais de saúde devem se esforçar para ajudar esses pacientes a retornarem para o mais próximo possível de sua função normal(2525 White T, Watts P, Morris M, Moss J. Virtual Postoperative Visits for New Ostomates. Continuing education. Comput Inform Nurs. 2019; 37(2): 73-7. doi: http://dx.doi.org/10.1097/CIN.0000000000000498
http://dx.doi.org/10.1097/CIN.0000000000...
).

Nessa perspectiva, a cartilha educativa assume um papel importante, pois essa população carece de materiais educativos dessa natureza que possam auxiliar as pessoas com estomias, o familiar e o cuidador(2626 Shoji S, Souza NVDO, Maurício VC, Costa CCP, Alves FT. Nursing care in stomatherapy and the use of technologies. ESTIMA. 2017; 15(3):169-77. doi: http://dx.doi.org/10.5327/Z1806-3144201700030008
http://dx.doi.org/10.5327/Z1806-3144201...
). Além disso, há escassez de publicações focadas no cuidado de enfermagem e tecnologias, sobretudo, direcionadas ao processo de educação em saúde(2626 Shoji S, Souza NVDO, Maurício VC, Costa CCP, Alves FT. Nursing care in stomatherapy and the use of technologies. ESTIMA. 2017; 15(3):169-77. doi: http://dx.doi.org/10.5327/Z1806-3144201700030008
http://dx.doi.org/10.5327/Z1806-3144201...
-2727 Sousa ARA, Menezes LCG, Miranda SM, Cavalcante TB. Educational strategies for people with ostomy bowel:n integrative review. Enferm Atual. [Internet]. 2017 [cited Sept 12, 2019]; 81(19): 84-8. Available from: http://revistaenfermagematual.com.br/index.php/revista/article/view/325
http://revistaenfermagematual.com.br/ind...
).

A apresentação de materiais educativos desenvolvidos por profissionais deve ter ampla difusão e divulgação, a fim de colaborar com a promoção da educação em saúde para auxiliar no desenvolvimento do autocuidado e melhoria na qualidade de vida do indivíduo(2222 Culha I, Kosgeroglu N, Bolluk O. Effectiveness of Self-care Education on Patients with Stomas. IOSR-JNHS. [Internet]. 2016 [cited Sept 14, 2019]; 5 (2): 70-6. Available from: https://www.researchgate.net/publication/317781600_Effectiveness_of_Selfcare_Education_on_Patients_with_Stomas
https://www.researchgate.net/publication...
). Portanto, acredita-se que a construção e validação desta cartilha educativa contribuirá para a adesão ao autocuidado dessa população.

O material educativo impresso ou digital, disponibilizado em PDF (Formato Portátil de Documento), tem sido usado por profissionais de saúde no CRA como ferramenta de ensino. Por isso, a abordagem participativa utilizada na construção e na validação deste material educativo permitiu identificar as necessidades das pessoas com estomias intestinais, as quais indicam o conteúdo da cartilha correspondendo às suas próprias demandas.

Como limitação do estudo, tem-se o alto custo do material impresso para disponibilização à população-alvo, bem como a dificuldade de uso da cartilha online por pessoas que não possuem acesso a esse recurso. Além disso, pessoas com baixo déficit cognitivo e demência terão dificuldades em assimilar as informações contidas no material.

Sugerem-se, assim, novos estudos de validação com tecnologias audiovisuais para superar tais limitações e auxiliar essa população nos cuidados com a estomia, bem como acrescentar tecnologias que possam ser reproduzidas e disseminadas, de modo a auxiliar no avanço científico e na saúde dessa população.

Conclusão

A pesquisa promoveu a validação da cartilha educativa “Aprendendo a cuidar da estomia intestinal”, sendo validada quanto aos domínios objetivo, estrutura, organização e relevância pelos especialistas e quanto à organização, estilo de escrita, aparência e motivação junto à população-alvo, nos quais todos obtiveram IVC superior a 0,80.

Assim, no contexto da educação em saúde, a cartilha foi considerada válida e adequada para o cuidado das estomias intestinais e poderá ser usada em ambientes de ensino, pesquisa, extensão e no cuidado clínico. A cartilha poderá auxiliar na autonomia e autocuidado de pessoas com estomias, bem como servir de suporte aos profissionais na assistência a essa população.

  • *
    Este artigo refere-se à chamada “Tecnologias educacionais e métodos pedagógicos inovadores na formação de recursos humanos em saúde”. Artigo extraído da dissertação de mestrado “Construção e validação de tecnologia educativa para o cuidado de pessoas com estomia intestinal”, apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde, Natal, RN, Brasil. Apoio Financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Processo 423694/2016-2, Brasil.

Agradecimentos

Agradecimento à equipe da Secretaria de Educação a Distância - SEDIS/UFRN e do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde - LAIS/UFRN), a todos do Setor de Materiais Interativos e Audiovisuais. Link da tecnologia educacional na íntegra: https://repositorio.ufrn.br/jspui/bitstream/123456789/24960/1/APRENDENDO_A_CUIDAR_ESTOMIA.pdf

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Editado por

Editor Associado: Ricardo Alexandre Arcêncio

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Maio 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    05 Nov 2018
  • Aceito
    13 Fev 2020
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