Acessibilidade / Reportar erro

Identificação dos sinais de alerta para a prevenção da parada cardiorrespiratória intra-hospitalar* * Apoio financeiro do Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), Brasil, processo nº 2016/17829-6.

RESUMO

Objetivo:

identificar ocorrência dos sinais de alerta e alterações nos sinais vitais em indivíduos com parada cardiorrespiratória intra-hospitalar e correlacioná-los à ocorrência desse evento.

Método:

estudo retrospectivo, analítico e quantitativo que incluiu 218 prontuários de pacientes que sofreram parada cardiorrespiratória intra-hospitalar e identificados sinais de alerta e alterações nos sinais vitais. Para variáveis contínuas, calculou-se média, desvio padrão, mediana, mínimo e máximo; para as categóricas, frequência e percentual. Comparou-se a idade e ocorrência de parada cardiorrespiratória com ocorrência de sinais de alerta pelo Teste Qui-Quadrado e Teste não paramétrico de MannWhitney (p-valor<0,05).

Resultados:

62,1% dos pacientes apresentaram sinais e sintomas de choque, 44,9% neurológicos, 40,4% mal-estar, 15,2% sugestivos de síndrome coronariana aguda e 25,9% confusão mental. Na última mensuração dos sinais vitais antes da parada cardiorrespiratória, a maioria apresentou frequência cardíaca alterada, anormal (32,6%) e severamente anormal (23,9%), frequência respiratória anormal (37,1%) e severamente anormal (27,0%).

Conclusão:

identificou-se como sinais de alerta: sinais de choque, neurológicos, mal-estar e síndrome coronariana aguda. Alterações nos sinais vitais prevalentes foram: frequência cardíaca, respiratória e saturação de O2. Pacientes com pressão arterial sistólica severamente anormal não receberam alta e aqueles com frequência respiratória anormal não sobreviveram em 6 meses após a parada cardiorrespiratória.

Descritores:
Enfermagem em Urgência e Emergência; Parada Cardiorrespiratória; Sinais Vitais; Assistência Hospitalar; Prevenção Secundária; Pesquisa Quantitativa

ABSTRACT

Objective:

to identify the occurrence of warning signs and changes in vital signs in individuals who experienced in-hospital cardiorespiratory arrest and correlate them with the occurrence of this event.

Method:

this is a retrospective, analytical and quantitative study that included 218 medical records of patients who suffered in-hospital cardiorespiratory arrest and identified warning signs and alterations in vital signs. Mean, standard deviation, median, minimum and maximum values were calculated for the continuous variables, and frequency and percentage for the categorical variables. We compared the age and occurrence of cardiorespiratory arrest with the occurrence of warning signs using the Chi-Square Test and the Mann Whitney non-parametric test (p-value < 0.05).

Results:

62.1% of the patients presented signs and symptoms of shock, 44.9% of neurological alteration, 40.4% of malaise, 15.2% presented signs suggestive of acute coronary syndrome, and 25.9% presented mental confusion. In the last measurement of vital signs before cardiorespiratory arrest, the majority of patients had altered abnormal (32.6%) and severely abnormal (23.9%) heart rate, and abnormal (37.1%) and severely abnormal (27.0%) respiratory rate.

Conclusion:

the warning signs identified were: shock, neurological signs, malaise and acute coronary syndrome. The prevalent changes in vital signs were: heart rate, respiratory rate and O2 saturation. Patients with severely abnormal systolic blood pressure were not discharged and those with abnormal respiratory rate did not survive 6 months after cardiorespiratory arrest.

Descriptors:
Emergency Nursing; Cardiopulmonary Arrest; Vital Signs; Hospital Care; Secondary Prevention; Quantitative Research

RESUMEN

Objetivo:

identificar la presencia de señales de alerta y alteraciones en los signos vitales en individuos con parada cardiorrespiratoria intrahospitalaria y correlacionarlos a la ocurrencia de ese evento.

Método:

estudio retrospectivo, analítico y cuantitativo que incluyó 218 prontuarios de pacientes que sufrieron paro cardiorrespiratorio intrahospitalario e identificados signos de alerta y alteraciones en los signos vitales. Para variables continuas, se calculó la media, desviación estándar, mediana, mínima y máxima; para las categóricas, se calculó la frecuencia y el porcentaje. Se comparó la edad y ocurrencia de parada cardiorrespiratoria con ocurrencia de señales de alerta por el Test Chi-cuadrado y Test no paramétrico de MannWhitney (p-valor <0,05).

Resultados:

62,1% de los pacientes presentaron signos y síntomas de shock, 44,9% neurológicos, 40,4% malestar, 15,2% sugestivos de síndrome coronario agudo y 25,9% confusión mental. En la última medición de los signos vitales antes de la parada cardiorrespiratoria, la mayoría presentó frecuencia cardiaca alterada, anormal (32,6%) y severamente anormal (23,9%), frecuencia respiratoria anormal (37,1%) y severamente anormal (27,0%).

Conclusión:

como signos de alerta se identificaron: signos de shock, neurológicos, malestar y síndrome coronario agudo. Los cambios en los signos vitales prevalentes fueron: frecuencia cardíaca, respiratoria y saturación de O2. Los pacientes con presión arterial sistólica severamente anormal no recibieron alta y aquellos con frecuencia respiratoria anormal no sobrevivieron en 6 meses después de la parada cardiorrespiratoria.

Descriptores:
Enfermería de Emergencia; Paro Cardíaco; Signos Vitales; Atención Hospitalaria; Prevención Secundaria; Investigación Cuantitativa

Introdução

A equipe de enfermagem, muitas vezes, é a primeira a identificar as alterações clínicas dos pacientes. Essas modificações podem ser facilmente detectadas por meio da monitoração dos sinais vitais (SSVV) e pela observação atenta das expressões faciais e do comportamento neuroemocional dos pacientes. A identificação das alterações dos valores que desviam do normal é acompanhada por um crescente risco de eventos clínicos adversos, dentre eles a parada cardiorrespiratória (PCR), sendo que a identificação precoce de anormalidades oferece uma oportunidade de intervenção precoce, aumentando a sobrevida e melhorando a qualidade de vida dos pacientes11 Jorge VC, Barreto M da S, Ferrer ALM, Santos EAQ, Rickli HC, Marcon SS. Nursing team and detection of indicators of worsening condition in emergency room patients. Esc Anna Nery. 2012 Oct/Dec; 16(4):767-74. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S1414-81452012000400018
https://doi.org/http://dx.doi.org/10.159...
.

A PCR é caracterizada pela interrupção súbita dos batimentos cardíacos, movimentos respiratórios e perda imediata da consciência, acarretando lesão cerebral irreversível e morte, caso as medidas adequadas para estabilizar o paciente não sejam tomadas imediatamente22 Souza SFM, Silva GNS. Parada cardiorrespiratória cerebral: assistência de enfermagem após a reanimação. Rev Ciênc Saúde Nova Esperança. [Internet]. 2013 Sep [Acesso 12 nov 2016]; 11(2):143-57. Disponível em: http://www.facene.com.br/wp-content/uploads/2010/11/Parada-cardiorrespiratória-cerebral.pdf
http://www.facene.com.br/wp-content/uplo...
.

Anualmente, mais de 200 mil adultos sofrem PCR em ambiente intra-hospitalar nos Estados Unidos33 Go AS, Mozaffarian D, Roger VL, Benjamin EJ, Berry JD, Blaha MJ, et al. Heart disease and stroke statistics--2014 update: a report from the American Heart Association. Circulation. 2014 Jan 21; 129(3):e28-292. doi: https://doi.org/10.1161/CIR.0000000000000558
https://doi.org/https://doi.org/10.1161/...
-44 Merchant RM, Yang L, Becker LB, Berg RA, Nadkarni V, Nichol G, et al. Incidence of treated cardiac arrest in hospitalized patients in the United States. Crit Care Med. 2011 Nov; 39(11):2401-6. doi: 10.1097/CCM.0b013e3182257459
https://doi.org/10.1097/CCM.0b013e318225...
, sendo que muitos desses eventos poderiam ser evitados55 Hodgetts TJ, Kenward G, Vlackonikolis I, Payne S, Castle N, Crouch R, et al. Incidence, location and reasons for avoidable in-hospital cardiac arrest in a district general hospital. Resuscitation. 2002 Aug; 54(2):115-23. doi: https://doi.org/10.1016/S0300-9572(02)00098-9
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/...
-66 Galhotra S, DeVita MA, Simmons RL, Dew MA, Members of the Medical Emergency Response Improvement Team (MERIT) Committee. Mature rapid response system and potentially avoidable cardiopulmonary arrests in hospital. Qual Saf Health Care. 2007 Aug; 16(4):260-5. doi: http://dx.doi.org/10.1136/qshc.2007.022210
https://doi.org/http://dx.doi.org/10.113...
por meio da identificação de sinais prévios e instauração de terapêutica adequada55 Hodgetts TJ, Kenward G, Vlackonikolis I, Payne S, Castle N, Crouch R, et al. Incidence, location and reasons for avoidable in-hospital cardiac arrest in a district general hospital. Resuscitation. 2002 Aug; 54(2):115-23. doi: https://doi.org/10.1016/S0300-9572(02)00098-9
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/...
.

A PCR raramente é um evento súbito, trata-se do resultado da deterioração progressiva da função respiratória e circulatória77 Stub D, Smith K, Bernard S, Nehme Z, Stephenson M, Bray JE, et al. Air Versus Oxygen in ST-Segment-Elevation Myocardial Infarction. Circulation. 2015 Jun 16; 131(24):2143-50. doi: https://doi.org/10.1161/CIRCULATIONAHA.114.014494
https://doi.org/https://doi.org/10.1161/...
. A PCR em pacientes hospitalizados, com frequência, é precedida de sinais de piora clínica. A detecção e a intervenção precoces, nessas situações de instabilidade clínica, é uma oportunidade de prevenir a PCR nesses pacientes e aumentar a segurança do paciente hospitalizado88 Taguti P da S, Dotti AZ, Araujo KP de, Pariz PS de, Dias GF, Kauss IAM, et al. The performance of a rapid response team in the management of code yellow events at a university hospital. Rev Bras Ter Intensiva. 2013 Jun; 25(2):99-105. doi: http://dx.doi.org/10.5935/0103-507X.20130020.
https://doi.org/http://dx.doi.org/10.593...
.

Estudos demonstraram relações entre anormalidades em medidas rotineiras dos SSVV e desfechos ruins, incluindo morte e PCR intra-hospitalar99 Bleyer AJ, Vidya S, Russell GB, Jones CM, Sujata L, Daeihagh P, et al. Longitudinal analysis of one million vital signs in patients in an academic medical center. Resuscitation. 2011 Nov; 82(11):1387-92. doi: https://doi.org/10.1016/j.resuscitation.2011.06.033
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/...
-1010 Smith GB, Prytherch DR, Meredith P, Schmidt PE, Featherstone PI. The ability of the National Early Warning Score (NEWS) to discriminate patients at risk of early cardiac arrest, unanticipated intensive care unit admission, and death. Resuscitation. 2013 Apr; 84(4):465-70. doi: https://doi.org/10.1016/j.resuscitation.2012.12.016
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/...
. Um estudo americano encontrou alta prevalência de SSVV anormais precedendo PCR. Os pacientes com três SSVV anormais tiveram mortalidade 20% maior que aqueles sem alterações, mostrando a relação direta entre essas alterações e o aumento da taxa de mortalidade intra-hospitalar1111 Andersen LW, Kim WY, Chase M, Berg KM, Mortensen SJ, Moskowitz A, et al. The prevalence and significance of abnormal vital signs prior to in-hospital cardiac arrest. Resuscitation. 2016 Jan; 98:112-7. doi: https://doi.org/10.1016/j.resuscitation.2015.08.016
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/...
. Um estudo realizado no Japão colocou em prática um sistema de Escore de Alerta Precoce (EAP), no qual cada alteração de sinal vital (pressão arterial sistólica, frequência cardíaca, frequência respiratória, temperatura, nível de consciência) recebia um valor de 0-3. O escore total correspondia a soma desses valores. Escores maiores ou iguais a 7 significavam “zona de perigo”, ou seja, maior possibilidade de deterioração aguda. Pacientes na “zona de perigo” recebiam intervenções precocemente. Após a implantação do EAP, a taxa de PCR intra-hospitalar a cada 1000 admissões diminuiu de 5,21 para 2,051212 Nishijima I, Oyadomari S, Maedomari S, Toma R, Igei C, Kobata S, et al. Use of a modified early warning score system to reduce the rate of in-hospital cardiac arrest. J Intensive Care. 2016; 4:12. doi: https://doi.org/10.1186/s40560-016-0134-7
https://doi.org/https://doi.org/10.1186/...
.

A mensuração dos SSVV, usualmente realizada pela equipe de enfermagem, é uma atividade rotineira no hospital e de extrema importância, pois determina o estado de saúde do indivíduo, a evolução do quadro clínico e pode prever a deterioração clínica11 Jorge VC, Barreto M da S, Ferrer ALM, Santos EAQ, Rickli HC, Marcon SS. Nursing team and detection of indicators of worsening condition in emergency room patients. Esc Anna Nery. 2012 Oct/Dec; 16(4):767-74. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S1414-81452012000400018
https://doi.org/http://dx.doi.org/10.159...
.

O primeiro elo da cadeia de sobrevida nos casos de PCR intra-hospitalar é a vigilância do paciente e a identificação dos sinais de alerta. A literatura cita como fatores de risco para PCR as alterações nos SSVV. Nesse cenário, é relevante a atuação da equipe de enfermagem na verificação periódica dos SSVV identificando precocemente as alterações que podem preceder a PCR e outras emergências cardiovasculares, aumentando, dessa forma, a segurança do paciente.

Assim sendo, o objetivo deste estudo foi identificar a ocorrência dos sinais de alerta e alterações nos SSVV em indivíduos que apresentaram PCR intra-hospitalar e correlacionar a presença dos sinais de alerta e alterações nos SSVV com ocorrência de PCR.

Método

Trata-se de um estudo retrospectivo, analítico e de abordagem quantitativa. O estudo foi realizado no Serviço de Emergência do Hospital São Paulo (HSP). O HSP é um hospital universitário, de grande porte e alta complexidade, oferecendo um atendimento multiprofissional à saúde nas modalidades ambulatorial, de internação e de urgência e emergência1313 Hospital São Paulo - Atendimento Hospitalar. [Internet]. 2012 [cited Apr 14, 2018]. Available from: http://www.hospitalsaopaulo.org.br/atendimento-hospitalar
http://www.hospitalsaopaulo.org.br/atend...
.

A coleta de dados foi realizada de outubro de 2016 a janeiro de 2017, de forma retrospectiva, por meio da análise dos prontuários dos pacientes. Foram incluídos 218 prontuários de pacientes que sofreram PCR no setor de Emergências Clínicas, no período de janeiro de 2011 a fevereiro de 2012. Foram excluídos os prontuários dos pacientes que sofreram PCR em ambiente extra-hospitalar. As variáveis relacionadas ao paciente foram coletadas por meio de instrumento elaborado pela pesquisadora, que continha gênero, idade, cor da pele, estado neurológico antes da PCR e ocorrência de PCR anterior. As variáveis relacionadas à PCR foram ritmo inicial, intervalos de tempo para realização de ressuscitação cardiopulmonar (RCP), desfibrilação, liberação das vias aéreas e epinefrina e duração da PCR. Os sinais de alerta, como alterações neurológicas (rebaixamento de nível de consciência, convulsão, hemiparesia, desvio de rima labial, disartria, fala pastosa e/ou fala diferente do cotidiano), sintomas de síndrome coronariana aguda - SCA (dor torácica, em aperto, ou sensação de peso, irradiada para mandíbula, braços, região torácica posterior), mal-estar e sinais de choque (mudança de cor, umidade e diminuição da temperatura nas extremidades do paciente - extremidades pálidas, acinzentadas, úmidas ou cianóticas), além dos sinais vitais, foram registrados no período das 24 horas que precederam a PCR. Além disso, foram pesquisados se houve retorno à circulação espontânea e a sobrevida nas primeiras 24 horas, na alta, em seis meses e um ano após a PCR. Para os pacientes que evoluíram para óbito foi pesquisada a causa da morte.

Os dados foram analisados, de maneira descritiva e inferencial pelo Programa SPSS (Statistical Package for the Social Science, versão 11.5 for Windows). A análise estatística dos dados foi feita com cálculo de média, mediana, mínimo e máximo para variáveis contínuas. Para variáveis categóricas, foram realizados cálculos de frequência e percentual. Para calcular a ocorrência de óbito com variáveis de interesse, utilizou-se o Teste QUI-Quadrado e, quando necessário, o Teste da Razão de Verossimilhança ou Exato de Fisher. Para identificar os fatores relacionados à sobrevivência do paciente, utilizou-se a Regressão de Cox, com um nível de significância de 5% (p-valor < 0,05). Para comparar a evolução de Categoria de Performance Cerebral (CPC) com variáveis de interesse (categóricas), utilizou-se o Teste Exato de Fisher. Para comparar a ocorrência de óbito com variáveis de interesse (contínuas), utilizou- se o teste de Mann-Whitney, com um nível de significância de 5% (p-valor< 0,05). Os resultados foram apresentados por meio de quadros, tabelas e gráficos. Para análise estatística dos SSVV, consideraram-se SSVV anormais: frequência cardíaca (FC) ≤60 ou ≥100 bpm, frequência respiratória (FR) ≤10 ou >20 rpm e pressão arterial sistólica (PAS) ≤90 mmHg. Foi considerado também um subgrupo de SSVV severamente anormais: FC ≤50 ou ≥130 bpm, FR ≤8 ou ≥30 rpm e PAS ≤80 mmHg1111 Andersen LW, Kim WY, Chase M, Berg KM, Mortensen SJ, Moskowitz A, et al. The prevalence and significance of abnormal vital signs prior to in-hospital cardiac arrest. Resuscitation. 2016 Jan; 98:112-7. doi: https://doi.org/10.1016/j.resuscitation.2015.08.016
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/...
.

O estudo é parte da tese de doutorado aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (protocolo - 0030/2011). Considerando que este estudo é observacional e a coleta de dados foi realizada por meio de prontuários, não ocasionando nenhum tipo de interferência no setor ou no atendimento aos pacientes, houve dispensa do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Resultados

Na população do estudo, a média de idade foi 66,8 anos, com 52,3% do sexo masculino e 47,7% do sexo feminino. Em relação à cor, 71,1% se autodeclararam brancos, 15,1% amarelos, 10,6% negros e 3,2% pardos. A maioria era independente para as atividades de vida diária (53,9%) e não tinha apresentado PCR prévia (97,7%).

De acordo com a Tabela 1, o ritmo inicial de PCR mais frequente foi atividade elétrica sem pulso (57,4%), sendo que a média de tempo entre o colapso e o início das manobras de RCP foi 0,8 minutos. O tempo médio entre o início da RCP e o 1° choque foi 9,4 minutos; para a liberação das vias aéreas, 5,5 minutos; e administração da 1ª dose de epinefrina, 1,7 minuto. A duração total da RCP foi em média 16,1 minutos.

Tabela 1
Ritmo inicial da parada cardiorrespiratória e intervalos de tempo durante o atendimento da população estudada. São Paulo, SP, Brasil, 2017

Em relação aos sinais de alerta para ocorrência de PCR (n=198), 62,1% dos pacientes apresentaram sinais e sintomas de choque, 44,9% neurológicos, 40,4% mal-estar e 15,2% sinais e sintomas sugestivos de síndrome coronariana aguda.

Na população estudada, a média da frequência respiratória nas 24 horas que antecederam a PCR foi 25,5 irpm; pressão arterial sistólica, 98,3 mmhg; pressão arterial diastólica, 60,0 mmhg; pressão arterial média, 60,1 mmhg; frequência cardíaca, 84,7b pm; temperatura, 36,3º C; saturação de oxigênio, 90,4%, sendo que 25,9% dos pacientes apresentaram confusão mental, de acordo com a Tabela 2.

Tabela 2
Sinais vitais, saturação de oxigênio e nível de consciência nas 24 horas antecedentes à parada cardiorrespiratória da população estudada. São Paulo, SP, Brasil, 2017

Em relação aos desfechos, 48,6% retornaram à circulação espontânea, sendo que 16,8% sobreviveram às primeiras 24 horas, 6,3% à alta hospitalar, 5,3% nos seis meses e 4,9% em um ano após a alta. Em relação ao motivo do óbito, 92 (42,6%) evoluíram a óbito por infecção, 52 (24,1%) por câncer, 39 (18,1%) por doenças cardiovasculares, 3 (1,4%) por trauma, 95 (44%) por outras causas.

Segundo a Tabela 3, a maioria dos sobreviventes na alta, em 6 meses e em 1 ano após a PCR, encontrava-se independente em atividades de vida diária, com CPC 1 ou 2.

Tabela 3
Estado neurológico após parada cardiorrespiratória da população estudada. São Paulo, SP, Brasil, 2017

A Tabela 4 apresenta a associação das variáveis sociodemográficas, do estado neurológico pré-parada, do ritmo inicial de parada e dos desfechos com os sinais de alerta apresentados pelos pacientes deste estudo.

Tabela 4
Associação das variáveis sociodemográficas, do estado neurológico pré-parada cardiorrespiratória, ritmo inicial de parada e dos desfechos com os sinais de alerta. São Paulo, SP, Brasil, 2017

Em relação à ocorrência de sinais neurológicos, pacientes que apresentaram esses sinais tiveram maior percentual de retorno de circulação espontânea (62,9%) e de sobrevida nas primeiras 24 horas após o evento (22,5%), se comparados aos que não os apresentaram (36,7% e 9,2%, respectivamente).Quanto aos pacientes que apresentaram sinais de Síndrome Coronariana Aguda (SCA), percebeu-se predominância de pacientes com CPC 1 (33,3), seguida de pacientes com CPC 2 (14,4%), em detrimento de pacientes com CPC 3 e 4/5, 4,3% e 0%, respectivamente. Pacientes que apresentaram FV como ritmo inicial de PCR tiveram maior percentual de sinais de SCA (57,1%) do que com outros ritmos. Pacientes com sinais de SCA, em relação aos que não apresentaram, tiveram maior percentual de alta (13,3%) e de óbitos por doença cardiovascular (DCV) (33,3%).

Quanto à ocorrência de sinais de choque, percebeu-se relação entre uma média de idade mais elevada (69,3) e maior percentual de óbito por infecção (52%) em pacientes que apresentaram sinais de choque, se comparados aos que pacientes não apresentaram tais sinais (63,4 anos e 37%, respectivamente). Pacientes sem sinais de choque apresentam maior percentual de alta, de sobrevida nas primeiras 24hrs pós-PCR (10,7%), em 6 meses pós-PCR (9,3%) e em 1 ano pós-PCR (9,3%).

Em relação à última mensuração de sinais vitais antes da PCR, a maioria dos pacientes apresentou frequência cardíaca alterada, anormal e severamente anormal (32,6% e 23,9%, respectivamente) e pressão arterial sistólica (54,4%) dentro da normalidade. Quanto à frequência respiratória, a maioria dos pacientes apresentou parâmetros anormais e severamente anormais (37,1% e 27,0%, respectivamente), como apresentado na Tabela 5.

Tabela 5
Última mensuração de frequência cardíaca, frequência respiratória e pressão arterial sistólica antes da parada cardiorrespiratória, classificadas em normal/anormal. São Paulo, SP, Brasil, 2017

Discussão

No presente estudo, algumas características demográficas dos pacientes foram semelhantes às reportadas na literatura, como a proporção maior de homens e indivíduos de cor branca. A média de idade dos pacientes desta amostra foi maior que de outros estudos nacionais que incluíram unidade coronariana e unidades de terapia intensiva, entretanto em estudos internacionais que incluíram unidades de internação e de terapia intensiva (UTI) observou-se média de idade mais elevada1414 Nolan JP, Soar J, Smith GB, Gwinnutt C, Parrott F, Power S, et al. Incidence and outcome of in-hospital cardiac arrest in the United Kingdom National Cardiac Arrest Audit. Resuscitation. 2014 Aug; 85(8):987-92. doi: https://doi.org/10.1016/j.resuscitation.2014.04.002
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/...

15 Terman SW, Shields TA, Hume B, Silbergleit R. The influence of age and chronic medical conditions on neurological outcomes in out of hospital cardiac arrest. Resuscitation. 2015 Apr; 89:169-76. doi: https://doi.org/10.1016/j.resuscitation.2015.01.006
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/...

16 Donnino MW, Salciccioli JD, Howell MD, Cocchi MN, Giberson B, Berg K, et al. Time to administration of epinephrine and outcome after in-hospital cardiac arrest with non-shockable rhythms: retrospective analysis of large in-hospital data registry. BMJ. 2014 May 20; 348:g3028. doi: https://doi.org/10.1136/bmj.g3028
https://doi.org/https://doi.org/10.1136/...

17 Morrison LJ, Schmicker RH, Weisfeldt ML, Bigham BL, Berg RA, Topjian AA, et al. Effect of gender on outcome of out of hospital cardiac arrest in the Resuscitation Outcomes Consortium. Resuscitation. 2016 Mar; 100:76-81. doi: https://doi.org/10.1016/j.resuscitation.2015.12.002
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/...

18 Silva RMFL da, Silva BAG de L e, Silva FJM e, Amaral CFS. Cardiopulmonary resuscitation of adults with in-hospital cardiac arrest using the Utstein style. Rev Bras Ter Intensiva. 2016; 28(4):427-35. doi: http://dx.doi.org/10.5935/0103-507x.20160076.
https://doi.org/http://dx.doi.org/10.593...
-1919 Nacer DT. Sobrevivência a parada cardiorrespiratória: avaliação da performance cerebral. Campo Grande. [Internet]. [Dissertação - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. 2016 [Acesso 15 mar 2017]. Disponível em: https://posgraduacao.ufms.br/portal/trabalho-arquivos/download/2421
https://posgraduacao.ufms.br/portal/trab...
. O ritmo inicial de PCR mais frequente foi AESP (57,4%), seguido de assistolia (35,6%). No geral, esses dois ritmos são reportados como os mais frequentes em ambientes hospitalares, porém em um estudo americano que avaliou o prognóstico pós-PCR em pacientes com doenças crônicas, de diversas faixas etárias, a partir de 18 anos, até grupos acima de 80 anos1515 Terman SW, Shields TA, Hume B, Silbergleit R. The influence of age and chronic medical conditions on neurological outcomes in out of hospital cardiac arrest. Resuscitation. 2015 Apr; 89:169-76. doi: https://doi.org/10.1016/j.resuscitation.2015.01.006
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/...
, e em outro estudo, com objetivo de determinar se a administração precoce de epinefrina em pacientes com ritmo inicial de PCR não chocável está associada com o melhores prognósticos neurológicos1616 Donnino MW, Salciccioli JD, Howell MD, Cocchi MN, Giberson B, Berg K, et al. Time to administration of epinephrine and outcome after in-hospital cardiac arrest with non-shockable rhythms: retrospective analysis of large in-hospital data registry. BMJ. 2014 May 20; 348:g3028. doi: https://doi.org/10.1136/bmj.g3028
https://doi.org/https://doi.org/10.1136/...
, o ritmo de assistolia foi o mais prevalente.

Nesta pesquisa, a média dos intervalos de tempo em minutos entre o colapso e o início da RCP (0,8’), o início da RCP e da desfibrilação (9,4’) e a liberação de VAS (5,5’) foram superiores aos observados em estudo prospectivo realizado em UTI de Minas Gerais, que apresentaram médias de 0,7’; 7,1’ e 4,8’, respectivamente1818 Silva RMFL da, Silva BAG de L e, Silva FJM e, Amaral CFS. Cardiopulmonary resuscitation of adults with in-hospital cardiac arrest using the Utstein style. Rev Bras Ter Intensiva. 2016; 28(4):427-35. doi: http://dx.doi.org/10.5935/0103-507x.20160076.
https://doi.org/http://dx.doi.org/10.593...
. Essa diferença pode estar relacionada ao fato de este estudo ter sido realizado no Serviço de Emergência, o que pode implicar em atraso no monitoramento dos pacientes que apresentaram PCR, diferente do ambiente de terapia intensiva, no qual os pacientes já estão monitorizados. Outro aspecto que pode estar relacionado é o fato de que este estudo foi retrospectivo, no qual as informações de interesse foram retiradas de prontuários hospitalares e podem conter registros incompletos.

O intervalo médio de tempo entre o início da RCP e a administração da primeira dose de epinefrina foi de 1,7 minuto neste trabalho, inferior ao observado em outra pesquisa (2,5’). Isso pode ser atribuído ao fato de este estudo ter sido realizado em um hospital universitário, que possui um grande contingente de profissionais. Com relação ao tempo entre o início da RCP e seu término, o desta amostra (16,1’) foi semelhante ao de outro estudo realizado em UTI (16,3’)1818 Silva RMFL da, Silva BAG de L e, Silva FJM e, Amaral CFS. Cardiopulmonary resuscitation of adults with in-hospital cardiac arrest using the Utstein style. Rev Bras Ter Intensiva. 2016; 28(4):427-35. doi: http://dx.doi.org/10.5935/0103-507x.20160076.
https://doi.org/http://dx.doi.org/10.593...
.

A monitoração dos SSVV dos pacientes permite detectar modificações que aumentam o risco de eventos clínicos adversos como a PCR. Estudo realizado no Reino Unido utilizou o Escore Nacional de Alerta Precoce, um sistema de pontuação baseada na FC, FR, pressão arterial, satO2, temperatura, nível de consciência e uso de oxigênio suplementar, variando de 0 a 20, para detectar pacientes em risco de apresentar PCR1010 Smith GB, Prytherch DR, Meredith P, Schmidt PE, Featherstone PI. The ability of the National Early Warning Score (NEWS) to discriminate patients at risk of early cardiac arrest, unanticipated intensive care unit admission, and death. Resuscitation. 2013 Apr; 84(4):465-70. doi: https://doi.org/10.1016/j.resuscitation.2012.12.016
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/...
. Tal estudo verificou que a média de FC (81bpm), FR (17rpm), PAS (126mmHg), pressão arterial diastólica (70mmHg), temperatura (36,7°C) e SatO2 (96%) encontrava-se dentro da normalidade(10), divergente dos achados neste estudo. Outro parâmetro analisado pela pesquisa foi o nível de consciência, em que 91,7% dos pacientes estavam alertas(10), diferente dos pacientes desta amostra em que a maioria apresentava alteração de nível de consciência (79,5%), sendo a confusão mental a mais frequente (25,9%). Essa diferença pode ser explicada, pois todos os pacientes deste estudo evoluíram para PCR.

Estudos similares ao atual investigam a prevalência de sinais vitais anormais e sua associação com o risco de parada cardiorrespiratória. Dentre as alterações de SSVV descritas na literatura associadas com o risco de PCR estão FC anormal, FR anormal e PAS diminuída1111 Andersen LW, Kim WY, Chase M, Berg KM, Mortensen SJ, Moskowitz A, et al. The prevalence and significance of abnormal vital signs prior to in-hospital cardiac arrest. Resuscitation. 2016 Jan; 98:112-7. doi: https://doi.org/10.1016/j.resuscitation.2015.08.016
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/...
,2020 Hodgetts TJ, Kenward G, Vlachonikolis IG, Payne S, Castle N. The identification of risk factors for cardiac arrest and formulation of activation criteria to alert a medical emergency team. Resuscitation. 2002 Aug; 54(2):125-31. doi: https://doi.org/10.1016/S0300-9572(02)00100-4
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/...
. No estudo, todos os pacientes com PAS severamente anormal (≤80mmHg) foram a óbito. Resultados semelhantes foram observados em outro estudo, em que a mortalidade aumentava conforme os valores da PAS diminuíam, sendo que pacientes com valores de PAS ≤80mmHg apresentam taxa de mortalidade superior a 90%1111 Andersen LW, Kim WY, Chase M, Berg KM, Mortensen SJ, Moskowitz A, et al. The prevalence and significance of abnormal vital signs prior to in-hospital cardiac arrest. Resuscitation. 2016 Jan; 98:112-7. doi: https://doi.org/10.1016/j.resuscitation.2015.08.016
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/...
.

No atual estudo, a maioria dos pacientes (37,1%) apresentou frequência respiratória anormal, sendo que todos os pacientes que apresentaram tal alteração não estavam vivos 6 meses após a PCR. Entretanto, estudo realizado com o objetivo de examinar a associação entre alterações críticas de SSVV com a mortalidade refere que pacientes com FR <10rpm na admissão apresentaram mortalidade de 10%99 Bleyer AJ, Vidya S, Russell GB, Jones CM, Sujata L, Daeihagh P, et al. Longitudinal analysis of one million vital signs in patients in an academic medical center. Resuscitation. 2011 Nov; 82(11):1387-92. doi: https://doi.org/10.1016/j.resuscitation.2011.06.033
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/...
, valores inferiores aos desta pesquisa e de outra, que revelou percentuais de mortalidade de 80% a 90% para valores de FR >20rpm1111 Andersen LW, Kim WY, Chase M, Berg KM, Mortensen SJ, Moskowitz A, et al. The prevalence and significance of abnormal vital signs prior to in-hospital cardiac arrest. Resuscitation. 2016 Jan; 98:112-7. doi: https://doi.org/10.1016/j.resuscitation.2015.08.016
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/...
.

Em relação à CPC pré-PCR, a maioria dos pacientes desta amostra foi classificada com CPC 2 (53,9%), outros estudos nacionais também apresentaram maiores percentuais de pacientes com CPC 2 (50%2121 Vancini-Campanharo CR, Vancini RL, Lira CAB de, Lopes MCBT, Okuno MFP, Batista REA, et al. One-year follow-up of neurological status of patients after cardiac arrest seen at the emergency room of a teaching hospital. Einstein. 2015; 13(2):183-8. doi: 10.1590/S1679-45082015AO3286
https://doi.org/10.1590/S1679-45082015AO...
e 96,7%1919 Nacer DT. Sobrevivência a parada cardiorrespiratória: avaliação da performance cerebral. Campo Grande. [Internet]. [Dissertação - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. 2016 [Acesso 15 mar 2017]. Disponível em: https://posgraduacao.ufms.br/portal/trabalho-arquivos/download/2421
https://posgraduacao.ufms.br/portal/trab...
). O elevado quantitativo deste segundo estudo1919 Nacer DT. Sobrevivência a parada cardiorrespiratória: avaliação da performance cerebral. Campo Grande. [Internet]. [Dissertação - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. 2016 [Acesso 15 mar 2017]. Disponível em: https://posgraduacao.ufms.br/portal/trabalho-arquivos/download/2421
https://posgraduacao.ufms.br/portal/trab...
pode estar associado ao fato de o mesmo incluir apenas pacientes que tiveram alta após o evento.

A CPC dos pacientes deste estudo foi reavaliada no momento da alta hospitalar e em outros dois momentos, após seis meses e em um ano, e foi observada melhora da condição neurológica ao longo do tempo. Na alta hospitalar, a maioria dos pacientes apresentava CPC 2, enquanto que nos períodos seguintes os percentuais foram mais elevados para CPC 1. Resultados similares foram obtidos em outro estudo nacional, com melhora progressiva da condição neurológica nesses períodos2121 Vancini-Campanharo CR, Vancini RL, Lira CAB de, Lopes MCBT, Okuno MFP, Batista REA, et al. One-year follow-up of neurological status of patients after cardiac arrest seen at the emergency room of a teaching hospital. Einstein. 2015; 13(2):183-8. doi: 10.1590/S1679-45082015AO3286
https://doi.org/10.1590/S1679-45082015AO...
.

A associação das variáveis deste estudo com os sinais de alerta apresentados pelos pacientes mostrou que a ocorrência de sinais neurológicos se associou a maiores percentuais de retorno à circulação espontânea. Esses resultados podem ser relacionados ao estado de baixa perfusão cerebral que pode preceder a PCR, evidenciados por rebaixamento do nível de consciência, ocorrência de convulsões, alterações no movimento, na sensibilidade e na fala, comumente identificados pelos profissionais de saúde2222 Piegas L, Timerman A, Feitosa G, Nicolau J, Mattos L, Andrade M, et al. V Diretriz da sociedade brasileira de cardiologia sobre tratamento do infarto agudo do miocárdio com supradesnível do segmento ST. Arq Bras Cardiol. [Internet]. 2015 [Acesso 14 abril 2018];105(2). Disponível em: http://www.gnresearch.org/doi/10.5935/abc.20150107
http://www.gnresearch.org/doi/10.5935/ab...
.

A maioria dos pacientes com sinais de SCA apresentava CPC pré- parada 1 e 2, e como esperado o ritmo de PCR mais frequente foi a fibrilação ventricular. Os ritmos chocáveis são comuns nas primeiras horas após o início dos sintomas da SCA, e a RCP imediata de alta qualidade e a desfibrilação precoce associam-se à maior sobrevida e melhor resultado neurológico nesses indivíduos2222 Piegas L, Timerman A, Feitosa G, Nicolau J, Mattos L, Andrade M, et al. V Diretriz da sociedade brasileira de cardiologia sobre tratamento do infarto agudo do miocárdio com supradesnível do segmento ST. Arq Bras Cardiol. [Internet]. 2015 [Acesso 14 abril 2018];105(2). Disponível em: http://www.gnresearch.org/doi/10.5935/abc.20150107
http://www.gnresearch.org/doi/10.5935/ab...
.

A reperfusão coronariana nos pacientes com suspeita ou diagnóstico confirmado de SCA pós-PCR é recomendada2222 Piegas L, Timerman A, Feitosa G, Nicolau J, Mattos L, Andrade M, et al. V Diretriz da sociedade brasileira de cardiologia sobre tratamento do infarto agudo do miocárdio com supradesnível do segmento ST. Arq Bras Cardiol. [Internet]. 2015 [Acesso 14 abril 2018];105(2). Disponível em: http://www.gnresearch.org/doi/10.5935/abc.20150107
http://www.gnresearch.org/doi/10.5935/ab...
. Os maiores percentuais de alta dos pacientes que apresentaram sinais de SCA neste estudo podem estar relacionados ao atendimento precoce e especializado prestado no hospital do estudo, que possui cardiologista no serviço de emergência e um setor de cardiologia intervencionista.

Nesta pesquisa, a presença de sinais de choque associou-se a pacientes com média de idade mais elevada e à maior mortalidade decorrente de doenças infecciosas. Por outro lado, os pacientes que não apresentavam sinais de choque apresentaram maior percentual de alta e de sobrevida nas primeiras 24 horas, seis meses e um ano após a PCR.

Os pacientes pós-PCR, na grande maioria das vezes, necessitam de cuidados críticos e prolongados e são submetidos a procedimentos invasivos, fatores que os tornam vulneráveis a infecções locais e sistêmicas. A elevada incidência de sepse é relatada na literatura mundial2323 Rhodes A, Evans LA, Alhazzani W, Levy MM, Antonelli M, Ferrer R, et al. Surviving Sepsis Campaign: International Guidelines for Management of Sepsis and Septic Shock: 2016. Intensive Care Med. 2017; 43:304-77. doi: 10.1007/s00134-017-4683-6
https://doi.org/10.1007/s00134-017-4683-...

24 Tillmann B, Wunsch H. Epidemiology and Outcomes. Crit Care Clin. 2018; 34(1):15-27. doi: https://doi.org/10.1016/j.ccc.2017.08.001
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/...
-2525 Mayr FB, Yende S, Angus DC. Epidemiology of severe sepsis. Virulence. 2014; 5(1):4-11. doi: https://doi.org/10.4161/viru.27372
https://doi.org/https://doi.org/10.4161/...
e o crescente número de idosos e de pacientes com doenças crônicas são fatores, dentre outros, que podem contribuir para o aumento da mortalidade nessas situações2323 Rhodes A, Evans LA, Alhazzani W, Levy MM, Antonelli M, Ferrer R, et al. Surviving Sepsis Campaign: International Guidelines for Management of Sepsis and Septic Shock: 2016. Intensive Care Med. 2017; 43:304-77. doi: 10.1007/s00134-017-4683-6
https://doi.org/10.1007/s00134-017-4683-...
. Um plano de cuidados pós-PCR tem potencial de melhorar a mortalidade precoce, ocasionada por instabilidade hemodinâmica e insuficiência de múltiplos órgãos e sistemas, a morbidade e a mortalidade tardias, que resultam do dano neurológico persistente. Dessa forma, essas medidas devem ser incentivadas e difundidas2626 Callaway CW, Donnino MW, Fink EL, Geocadin RG, Golan E, Kern KB, et al. Part 8: Post-Cardiac Arrest Care: 2015 American Heart Association Guidelines Update for Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care. Circulation. 2015; 132(suppl 2):S465-S82. doi: https://doi.org/10.1161/CIR0000000000000262
https://doi.org/https://doi.org/10.1161/...
.

Dentre as limitações deste estudo, pode-se destacar o fato dos dados serem secundários, obtidos dos prontuários dos pacientes, que, por vezes, não são registrados em sua completude. Além disso, apesar do local do estudo ser um hospital universitário de alta complexidade, possui recursos limitados, o que pode ter influenciado os achados.

Este estudo é de extrema relevância para a prática, pois os sinais de alerta pré-PCR são comuns e podem se manifestar por alterações dos sinais vitais e ocorrência de sinais e sintomas. É cuidado fundamental da equipe de enfermagem a verificação periódica e de acordo com as necessidades do paciente, dos sinais vitais, e por prestar assistência integral e ininterrupta pode identificar precocemente sinais e sintomas que precedem o colapso cardiocirculatório.

Conclusão

Neste estudo, identificou-se como sinais de alerta os sinais de choque, neurológicos, mal-estar e SCA. As alterações nos SSVV mais prevalentes foram na FC, FR e Sat O2. Pacientes com PAS severamente anormal não receberam alta e aqueles com frequência respiratória anormal não sobreviveram em seis meses após a PCR.

References

  • 1
    Jorge VC, Barreto M da S, Ferrer ALM, Santos EAQ, Rickli HC, Marcon SS. Nursing team and detection of indicators of worsening condition in emergency room patients. Esc Anna Nery. 2012 Oct/Dec; 16(4):767-74. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S1414-81452012000400018
    » https://doi.org/http://dx.doi.org/10.1590/S1414-81452012000400018
  • 2
    Souza SFM, Silva GNS. Parada cardiorrespiratória cerebral: assistência de enfermagem após a reanimação. Rev Ciênc Saúde Nova Esperança. [Internet]. 2013 Sep [Acesso 12 nov 2016]; 11(2):143-57. Disponível em: http://www.facene.com.br/wp-content/uploads/2010/11/Parada-cardiorrespiratória-cerebral.pdf
    » http://www.facene.com.br/wp-content/uploads/2010/11/Parada-cardiorrespiratória-cerebral.pdf
  • 3
    Go AS, Mozaffarian D, Roger VL, Benjamin EJ, Berry JD, Blaha MJ, et al. Heart disease and stroke statistics--2014 update: a report from the American Heart Association. Circulation. 2014 Jan 21; 129(3):e28-292. doi: https://doi.org/10.1161/CIR.0000000000000558
    » https://doi.org/https://doi.org/10.1161/CIR.0000000000000558
  • 4
    Merchant RM, Yang L, Becker LB, Berg RA, Nadkarni V, Nichol G, et al. Incidence of treated cardiac arrest in hospitalized patients in the United States. Crit Care Med. 2011 Nov; 39(11):2401-6. doi: 10.1097/CCM.0b013e3182257459
    » https://doi.org/10.1097/CCM.0b013e3182257459
  • 5
    Hodgetts TJ, Kenward G, Vlackonikolis I, Payne S, Castle N, Crouch R, et al. Incidence, location and reasons for avoidable in-hospital cardiac arrest in a district general hospital. Resuscitation. 2002 Aug; 54(2):115-23. doi: https://doi.org/10.1016/S0300-9572(02)00098-9
    » https://doi.org/https://doi.org/10.1016/S0300-9572(02)00098-9
  • 6
    Galhotra S, DeVita MA, Simmons RL, Dew MA, Members of the Medical Emergency Response Improvement Team (MERIT) Committee. Mature rapid response system and potentially avoidable cardiopulmonary arrests in hospital. Qual Saf Health Care. 2007 Aug; 16(4):260-5. doi: http://dx.doi.org/10.1136/qshc.2007.022210
    » https://doi.org/http://dx.doi.org/10.1136/qshc.2007.022210
  • 7
    Stub D, Smith K, Bernard S, Nehme Z, Stephenson M, Bray JE, et al. Air Versus Oxygen in ST-Segment-Elevation Myocardial Infarction. Circulation. 2015 Jun 16; 131(24):2143-50. doi: https://doi.org/10.1161/CIRCULATIONAHA.114.014494
    » https://doi.org/https://doi.org/10.1161/CIRCULATIONAHA.114.014494
  • 8
    Taguti P da S, Dotti AZ, Araujo KP de, Pariz PS de, Dias GF, Kauss IAM, et al. The performance of a rapid response team in the management of code yellow events at a university hospital. Rev Bras Ter Intensiva. 2013 Jun; 25(2):99-105. doi: http://dx.doi.org/10.5935/0103-507X.20130020.
    » https://doi.org/http://dx.doi.org/10.5935/0103-507X.20130020
  • 9
    Bleyer AJ, Vidya S, Russell GB, Jones CM, Sujata L, Daeihagh P, et al. Longitudinal analysis of one million vital signs in patients in an academic medical center. Resuscitation. 2011 Nov; 82(11):1387-92. doi: https://doi.org/10.1016/j.resuscitation.2011.06.033
    » https://doi.org/https://doi.org/10.1016/j.resuscitation.2011.06.033
  • 10
    Smith GB, Prytherch DR, Meredith P, Schmidt PE, Featherstone PI. The ability of the National Early Warning Score (NEWS) to discriminate patients at risk of early cardiac arrest, unanticipated intensive care unit admission, and death. Resuscitation. 2013 Apr; 84(4):465-70. doi: https://doi.org/10.1016/j.resuscitation.2012.12.016
    » https://doi.org/https://doi.org/10.1016/j.resuscitation.2012.12.016
  • 11
    Andersen LW, Kim WY, Chase M, Berg KM, Mortensen SJ, Moskowitz A, et al. The prevalence and significance of abnormal vital signs prior to in-hospital cardiac arrest. Resuscitation. 2016 Jan; 98:112-7. doi: https://doi.org/10.1016/j.resuscitation.2015.08.016
    » https://doi.org/https://doi.org/10.1016/j.resuscitation.2015.08.016
  • 12
    Nishijima I, Oyadomari S, Maedomari S, Toma R, Igei C, Kobata S, et al. Use of a modified early warning score system to reduce the rate of in-hospital cardiac arrest. J Intensive Care. 2016; 4:12. doi: https://doi.org/10.1186/s40560-016-0134-7
    » https://doi.org/https://doi.org/10.1186/s40560-016-0134-7
  • 13
    Hospital São Paulo - Atendimento Hospitalar. [Internet]. 2012 [cited Apr 14, 2018]. Available from: http://www.hospitalsaopaulo.org.br/atendimento-hospitalar
    » http://www.hospitalsaopaulo.org.br/atendimento-hospitalar
  • 14
    Nolan JP, Soar J, Smith GB, Gwinnutt C, Parrott F, Power S, et al. Incidence and outcome of in-hospital cardiac arrest in the United Kingdom National Cardiac Arrest Audit. Resuscitation. 2014 Aug; 85(8):987-92. doi: https://doi.org/10.1016/j.resuscitation.2014.04.002
    » https://doi.org/https://doi.org/10.1016/j.resuscitation.2014.04.002
  • 15
    Terman SW, Shields TA, Hume B, Silbergleit R. The influence of age and chronic medical conditions on neurological outcomes in out of hospital cardiac arrest. Resuscitation. 2015 Apr; 89:169-76. doi: https://doi.org/10.1016/j.resuscitation.2015.01.006
    » https://doi.org/https://doi.org/10.1016/j.resuscitation.2015.01.006
  • 16
    Donnino MW, Salciccioli JD, Howell MD, Cocchi MN, Giberson B, Berg K, et al. Time to administration of epinephrine and outcome after in-hospital cardiac arrest with non-shockable rhythms: retrospective analysis of large in-hospital data registry. BMJ. 2014 May 20; 348:g3028. doi: https://doi.org/10.1136/bmj.g3028
    » https://doi.org/https://doi.org/10.1136/bmj.g3028
  • 17
    Morrison LJ, Schmicker RH, Weisfeldt ML, Bigham BL, Berg RA, Topjian AA, et al. Effect of gender on outcome of out of hospital cardiac arrest in the Resuscitation Outcomes Consortium. Resuscitation. 2016 Mar; 100:76-81. doi: https://doi.org/10.1016/j.resuscitation.2015.12.002
    » https://doi.org/https://doi.org/10.1016/j.resuscitation.2015.12.002
  • 18
    Silva RMFL da, Silva BAG de L e, Silva FJM e, Amaral CFS. Cardiopulmonary resuscitation of adults with in-hospital cardiac arrest using the Utstein style. Rev Bras Ter Intensiva. 2016; 28(4):427-35. doi: http://dx.doi.org/10.5935/0103-507x.20160076.
    » https://doi.org/http://dx.doi.org/10.5935/0103-507x.20160076
  • 19
    Nacer DT. Sobrevivência a parada cardiorrespiratória: avaliação da performance cerebral. Campo Grande. [Internet]. [Dissertação - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. 2016 [Acesso 15 mar 2017]. Disponível em: https://posgraduacao.ufms.br/portal/trabalho-arquivos/download/2421
    » https://posgraduacao.ufms.br/portal/trabalho-arquivos/download/2421
  • 20
    Hodgetts TJ, Kenward G, Vlachonikolis IG, Payne S, Castle N. The identification of risk factors for cardiac arrest and formulation of activation criteria to alert a medical emergency team. Resuscitation. 2002 Aug; 54(2):125-31. doi: https://doi.org/10.1016/S0300-9572(02)00100-4
    » https://doi.org/https://doi.org/10.1016/S0300-9572(02)00100-4
  • 21
    Vancini-Campanharo CR, Vancini RL, Lira CAB de, Lopes MCBT, Okuno MFP, Batista REA, et al. One-year follow-up of neurological status of patients after cardiac arrest seen at the emergency room of a teaching hospital. Einstein. 2015; 13(2):183-8. doi: 10.1590/S1679-45082015AO3286
    » https://doi.org/10.1590/S1679-45082015AO3286
  • 22
    Piegas L, Timerman A, Feitosa G, Nicolau J, Mattos L, Andrade M, et al. V Diretriz da sociedade brasileira de cardiologia sobre tratamento do infarto agudo do miocárdio com supradesnível do segmento ST. Arq Bras Cardiol. [Internet]. 2015 [Acesso 14 abril 2018];105(2). Disponível em: http://www.gnresearch.org/doi/10.5935/abc.20150107
    » http://www.gnresearch.org/doi/10.5935/abc.20150107
  • 23
    Rhodes A, Evans LA, Alhazzani W, Levy MM, Antonelli M, Ferrer R, et al. Surviving Sepsis Campaign: International Guidelines for Management of Sepsis and Septic Shock: 2016. Intensive Care Med. 2017; 43:304-77. doi: 10.1007/s00134-017-4683-6
    » https://doi.org/10.1007/s00134-017-4683-6
  • 24
    Tillmann B, Wunsch H. Epidemiology and Outcomes. Crit Care Clin. 2018; 34(1):15-27. doi: https://doi.org/10.1016/j.ccc.2017.08.001
    » https://doi.org/https://doi.org/10.1016/j.ccc.2017.08.001
  • 25
    Mayr FB, Yende S, Angus DC. Epidemiology of severe sepsis. Virulence. 2014; 5(1):4-11. doi: https://doi.org/10.4161/viru.27372
    » https://doi.org/https://doi.org/10.4161/viru.27372
  • 26
    Callaway CW, Donnino MW, Fink EL, Geocadin RG, Golan E, Kern KB, et al. Part 8: Post-Cardiac Arrest Care: 2015 American Heart Association Guidelines Update for Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care. Circulation. 2015; 132(suppl 2):S465-S82. doi: https://doi.org/10.1161/CIR0000000000000262
    » https://doi.org/https://doi.org/10.1161/CIR0000000000000262
  • *
    Apoio financeiro do Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), Brasil, processo nº 2016/17829-6.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2019

Histórico

  • Recebido
    21 Maio 2018
  • Aceito
    13 Ago 2018
Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto / Universidade de São Paulo Av. Bandeirantes, 3900, 14040-902 Ribeirão Preto SP Brazil, Tel.: +55 (16) 3315-3451 / 3315-4407 - Ribeirão Preto - SP - Brazil
E-mail: rlae@eerp.usp.br