Acessibilidade / Reportar erro

O ensino da saude da mulher em cursos de graduação em enfermagem

Resumos

Este artigo objetiva analisar o ensino da Saúde da Mulher nos Cursos de Enfermagem da cidade de São Paulo, caracterizando os docentes e os processos pedagógicos neles vivenciados. Aplicou-se questionário a 17 docentes responsáveis por este ensino. Observa-se boa qualificação docente e tempo de docência, predominantemente, superior a 05 anos. A maioria dos professores tem curso de formação docente e atuam em regime parcial ou hora-aula. A denominação "Assistência de Enfermagem à Saúde da Mulher" é a mais adotada nos cursos. Os processos pedagógicos mostram uma tendência de ampliação dos referenciais conceituais, mantendo-se a aula expositiva como a estratégia fundamental e, a prova escrita como instrumento avaliativo prioritário. O ensino da Saúde da Mulher apresenta, assim, incorporação de perspectiva mais crítica sobre saúde da mulher, contando com a participação de professores titulados e apresentando situações de aprendizagem que transitam entre a transmissão e a construção ativa.

ensino; docente de enfermagem; saúde da mulher


This article aimed to analyze the Women's Health Education in the Nursing courses in São Paulo, SP, Brazil, characterizing faculty members and the pedagogical processes implemented. A questionnaire was carried out with 17 professors responsible for the teaching. It was possible to observe good qualification of the faculty members, in its majority with teaching experience superior to five years. In addition, most of the professors have teaching education with partial dedication to teaching and research or work per hour. The denomination "Women's Health Nursing Assistance" is adopted by the majority of courses. The pedagogical processes tend to extend conceptual references, keeping expositive classes as the main teaching strategy and written tests are the most applied evaluation method. The teaching of woman's health presents, therefore, a more critical perspective about woman's health with the participation of graduate professors and learning situations that integrate both the transmission and the active construction of knowledge.

teaching; faculty nursing; women's health


Este artículo tiene como objetivo analizar la enseñanza en Salud de la Mujer a nivel de graduación de Enfermería en la ciudad de São Paulo, describiendo a los docentes y sus procesos pedagógicos. Se aplicó un cuestionario a 17 docentes responsables por materias relacionadas a la Salud de la Mujer. Fue observada una buena calificación del docente y un tiempo de la enseñanza superior a cinco años. La mayoría de los profesores tienen formación pedagógica y trabaja en un régimen de tiempo parcial o por hora/ clases. La denominación "Asistencia de Enfermería en Salud de la Mujer" es adoptada en la mayoría de las facultades y escuelas. Los procesos pedagógicos muestran una tendencia de ampliar los referenciales conceptuales; siendo aún mantenida la clase expositiva como estrategia fundamental y la prueba escrita como instrumento prioritario para la evaluación. La perspectiva de la enseñanza en Salud de la Mujer es mas crítica por parte de los docentes, quienes por tener algo nivel académico favorecen al aprendizaje, el cual se da entre la transmisión y la construcción activa.

enseñanza; docentes de enfermería; salud de mujer


COMUNICAÇÕES BREVES / RELATO DE CASOS

O ensino da saude da mulher em cursos de graduação em enfermagem

Neiva Gomes de AlencarI; Sylvia Helena Souza da Silva BatistaII; Lídia Ruiz-MorenoIII

IEnfermeira, Mestre em Ensino em Ciências da Saúde, Professor do Centro Universitário Nove de Julho, Professor da Faculdade de Enfermgem do Hospital Israelita Albert Einstein, E-mail: neiva.alencar@ig.com.br, ngalencar@uol.com.br

IIOrientador, Bióloga. Doutor em Biologia, Professor, e-mail: lidia@cedess.epm.br

IIIOrientador, Psicóloga. Doutor em Psicologia da Educação, Professor, e-mail: sylvia@cedess.epm.br. Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo

RESUMO

Este artigo objetiva analisar o ensino da Saúde da Mulher nos Cursos de Enfermagem da cidade de São Paulo, caracterizando os docentes e os processos pedagógicos neles vivenciados. Aplicou-se questionário a 17 docentes responsáveis por este ensino. Observa-se boa qualificação docente e tempo de docência, predominantemente, superior a 05 anos. A maioria dos professores tem curso de formação docente e atuam em regime parcial ou hora-aula. A denominação "Assistência de Enfermagem à Saúde da Mulher" é a mais adotada nos cursos. Os processos pedagógicos mostram uma tendência de ampliação dos referenciais conceituais, mantendo-se a aula expositiva como a estratégia fundamental e, a prova escrita como instrumento avaliativo prioritário. O ensino da Saúde da Mulher apresenta, assim, incorporação de perspectiva mais crítica sobre saúde da mulher, contando com a participação de professores titulados e apresentando situações de aprendizagem que transitam entre a transmissão e a construção ativa.

Descritores: ensino; docente de enfermagem; saúde da mulher

INTRODUÇÃO

Em 1991, o relatório do Pew Health Professions Commission sinalizou aos educadores a necessidade de mudar os currículos de Enfermagem com vistas a direcionar o ensino, dentro de uma perspectiva preventiva(1). No cenário brasileiro, os Cursos de Enfermagem vêem vivenciando várias reformulações, especialmente na busca pela implementação das Diretrizes Curriculares. Em relação à Saúde da Mulher, as referidas Diretrizes(2) estabelecem como conteúdos essenciais a Assistência de Enfermagem prestada à mulher, considerando os determinantes socioculturais e econômicos desse processo.

As transformações epidemiológicas do Brasil, as mudanças nos padrões de vida das mulheres, a ampliação das concepções sobre Saúde da Mulher(3)e os movimentos de implementação de políticas públicas que atendam às suas demandas traduzem a singularidade de um momento de significativas transformações. Nesse sentido, questiona-se: como tem ocorrido o ensino da saúde da mulher nos cursos de graduação das escolas de enfermagem da cidade de São Paulo? Este artigo tem como objetivo analisar o ensino da Saúde da Mulher nesses cursos, caracterizando os docentes e os processos pedagógicos neles vivenciados.

METODOLOGIA

Esta é uma pesquisa exploratória, descritiva e transversal, desenvolvida junto a 17 docentes responsáveis por disciplinas que abordam conteúdos relativos à Saúde da Mulher em 17 cursos de Enfermagem da cidade de São Paulo. Coletou-se os dados a partir de questionário que investigou características dos professores e os processos pedagógicos, vivenciados no ensino da Saúde da Mulher. Os próprios pesquisadores aplicaram os questionários, após o projeto ter sido aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, e os participantes assinarem Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

A leitura descritivo-analítica dos dados envolveu quatro fases: leitura exaustiva dos questionários, organização das informações, sistematização dos dados e construção de diálogos entre os dados e a literatura(4).

RESULTADOS

No campo da titulação acadêmica, a população estudada distribui-se entre doutores (4), mestres (10) e especialistas (3 professores). O tempo de experiência docente variou de mais de cinco anos (10 professores) até menos de um ano (dois professores), com outros 4 professores apresentando inserção na docência em Enfermagem entre 3 e 5 anos e 1 docente entre 1 e 3 anos.

Momentos de formação docente ocorreram para 11 professores, especialmente na pós-graduação. Seis docentes (três doutores e três mestres) não participaram de nenhuma atividade formativa. Quanto ao regime de trabalho, 8 docentes trabalham em regime parcial de trabalho, seis são contratados como horistas, 2 desempenham atividades em tempo integral (40 h) e 1 professor trabalha em regime de dedicação exclusiva.

O ensino da Saúde da Mulher nos cursos assume diferentes denominações: Assistência de Enfermagem à Saúde da Mulher (14 cursos), Enfermagem Obstétrica e Ginecológica (2 cursos); Enfermagem Obstétrica e Neonatológica (1 curso). A carga horária mostra heterogeneidade entre as instituições: 101-105 horas em nove instituições, 71-100 horas em seis e superior a 200 horas em duas. Identificou-se que, em 12 cursos, a disciplina Saúde da Mulher vem sofrendo mudanças como redução e/ou redistribuição de carga horária, adaptação de conteúdos, implantação de proposta de ensino problematizadora.

As estratégias de ensino privilegiadas abrangem aula expositiva (17 referências), trabalho em grupo (16 indicações), aula dialogada (10 referências), outras estratégias (8 indicações) e pôster (1 menção). Na avaliação da aprendizagem, a prova escrita é utilizada por todos os docentes. O levantamento bibliográfico foi referido 12 vezes, enquanto o resumo e o fichamento tiveram 7 indicações. Outros tipos de avaliação (visita a campo, seminários integrados com outras disciplinas, jornadas científicas, campanhas de atendimento) foram referidos 6 vezes e a prova prática somente recebeu uma indicação.

DISCUSSÃO

Os resultados evidenciam boa qualificação docente no ensino da Saúde da Mulher, seguindo a tendência atual, onde a exigência de titulação vem sendo quesito fundamental para a contratação docente. Estudos mostram que o nível de titulação pode contribuir para a disseminação de uma cultura acadêmica preocupada com a produção do conhecimento(5). O tempo de docência é, predominantemente, superior a 5 anos. Mesmo não considerando esse fator como único indicador, momentos vividos pelos professores e seu aprendizado dentro das salas de aula parecem ser proporcionais ao tempo de docência(6).

A maioria dos professores sinalizou a participação em atividades formativas para o exercício da docência em Enfermagem. Entende-se a formação como resultante de um processo complexo e contínuo de preparo técnico, teórico e pedagógico(7-8). As qualificações do enfermeiro obstetra para a docência incluem a preparação para ensinar criticamente, comprometendo-se com a aprendizagem dos estudantes e com o desenvolvimento da competência da prática clínica(9).

No que se refere ao regime de trabalho, chama a atenção o significativo número de professores que atuam em regime parcial ou contrato baseado em hora aula. Esse dado parece indicar a existência de condições de trabalho docente diferenciadas, no que se refere às possibilidades concretas de dedicação às atividades de ensino, pesquisa e extensão.

Os processos pedagógicos do ensino da saúde da mulher investigados mostram tendência de ampliação dos referenciais assumidos nesse campo, extrapolando o ciclo gravídico-puerperal e abrindo perspectivas e novos desafios dentro dos cursos(10). Identificou-se que todos os professores utilizam a aula expositiva como a mais importante estratégia de ensino. Outros tipos de atividades foram listados com ênfase na aprendizagem em grupo, o que poderá trazer resultados importantes para a formação de um enfermeiro que valorize o trabalho na equipe de saúde.

Em relação às práticas avaliativas, a prova escrita é o instrumento mais utilizado pelos docentes. Esse tipo de avaliação, com ênfase no aspecto cognitivo, tem sido alvo de críticas e reflexões(11); os outros instrumentos avaliativos mencionados (revisão bibliográfica, fichamento, resumo) mostram-se mais próximos ao desenvolvimento de postura crítica frente às informações científicas, investindo no aprofundamento reflexivo sobre os conteúdos abordados(12). Esse estudo mostrou, também, restrita utilização da prova prática por parte dos professores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos dados coletados e das análises empreendidas neste estudo, é possível configurar uma compreensão do Ensino da Saúde da Mulher em Cursos de Graduação em Enfermagem na Cidade de São Paulo, revelando movimentos de superação e transformação dos processos de formação de enfermeiros. A incorporação de uma perspectiva teórica mais crítica na área da saúde da mulher, com a participação de professores que investem em suas qualificações acadêmicas e com situações de ensino e aprendizagem que, se por um lado, ainda mantém traços de uma cultura acadêmica mais transmissiva, por outro anunciam movimentos que situam o aluno de maneira mais ativa e propositiva, delineiam cenários múltiplos e diferenciados. Nesse sentido, ressalta-se que pesquisas sobre docentes e processos pedagógicos no contexto do Ensino da Saúde da Mulher representam dimensões importantes ao estudo da graduação em Enfermagem, projetando-se um enfermeiro preparado para atuar de maneira crítica, reflexiva e comprometida nas práticas de atenção à saúde.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Recebido em: 11.8.2005

Aprovado em: 16.11.2006

  • 1. Hamner JE, Wilder B. A new curriculum for a new millennium. Nurs Outlook May/June 2001; 49(3):127-33.
  • 2. Ministério da Educação [www.mec.gov.br ]. Brasília: Ministério da Educação [Acesso30 de abril de 2004]. Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduação. Disponível em: http: //www.mec.gov.br
  • 3
    Ministério da Saúde (BR). Manual - Ano da Mulher. Brasília: MS; 2004.
  • 4. Minayo MC. Desafio do Conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 6ª ed. São Paulo: HUCITEC; Rio de Janeiro: ABRASCO, 1999.
  • 5. Batista NA, Batista SH. A docência em saúde: desafios e perspectivas. In: Batista NA, Batista SH, (organizadores). Docência em Saúde: temas e experiências. São Paulo: Ed. Senac, 2004.
  • 6. Nimitz ME, Ciampone MHT. O significado da capacitação docente na práxis educacional. Rev Paul Enfermagem 1999; 18(1/3): 27-34.
  • 7. Figueroa AA. A inovação da educação superior em Enfermagem e os aportes do desenho da instrução. Rev Latino-am Enfermagem 1999 abril;7 (2): 5-13.
  • 8. Peres HHC, Leite MMJE, Kuregani P. A percepção dos docentes universitários à respeito de sua capacitação para o ensino em Enfermagem. Rev Esc Enfermagem USP abril 1998; 32 (1): 52-8.
  • 9. Oermann MH. Professional Nursing Education in the future: changes and challenges. J Obstet Neonatol Nurs 1994; 23(2):53-57.
  • 10. Thompson JE. Competencies for midwifery teachers. Midwifery 2002; 18: 256-59.
  • 11. Oliveira CC. Dimensão Instrumental. In Berbel NAN, Costa WS, Gomes I RL,Oliveira CCE, Vasconcellos MMM. Avaliação de Aprendizagem no Ensino Superior: um retrato em cinco dimensões. Londrina (PR): Ed. UEL; 2001.
  • 12. Ruiz- Moreno L. Trabalho em Grupo: experiências inovadoras na área de educação em saúde. In: Batista N, Batista SH. Docência em Saúde: temas e experiências. São Paulo (SP) :Senac; 2004. p. 85-99.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Maio 2007
  • Data do Fascículo
    Abr 2007

Histórico

  • Recebido
    11 Ago 2005
  • Aceito
    16 Nov 2006
Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto / Universidade de São Paulo Av. Bandeirantes, 3900, 14040-902 Ribeirão Preto SP Brazil, Tel.: +55 (16) 3315-3451 / 3315-4407 - Ribeirão Preto - SP - Brazil
E-mail: rlae@eerp.usp.br