Neste artigo, procurou-se analisar como o perverso, sádico ou masoquista, ao atuar sua fantasia ($<>a) toma-se como objeto a para recusar a castração e localizá-la em seu parceiro angustiado e dividido ($). Assim, ele goza e atende aos imperativos do supereu de modo bem peculiar. Trata-se de uma estratégia obstinada para repor a voz do Outro, torná-lo não castrado, o que lhe daria acesso a um gozo mítico. Para isso, se distinguem as fantasias neurótica e perversa e analisa-se o modo como o engendramento do gozo é correlato à posição do objeto a e do sujeito dividido em cada uma delas. Além disso, se aprofunda, nas relações do supereu com a fantasia do perverso, sádico ou masoquista, o que demonstra suas particularidades. Conclui-se, então, pela importância da clínica e do diagnóstico diferencial nos estudos acerca do supereu.
Palavras-chave:
Supereu; perversão; sadismo; masoquismo
Resumos
In this article, we aimed to analyze how the pervert, sadist, or masochist, when acting out his fantasy ($<>a) takes himself as an object a to refuse castration and locates it in his anguished and divided partner ($). Thus, he enjoys and meets the superego imperatives in a very peculiar way. This is a stubborn strategy to restore the voice of the Other, to make him non-castrated, which would give him access to a mythical jouissance. To this end, neurotic and perverse fantasies are distinguished and the way in which the engendering of jouissance is correlated to the position of the object and that of the divided subject in each one is analyzed. Besides this, the relations of the superego with the fantasy of the perverse, sadist, or masochist are deeply studied, which demonstrates their particularities. Therefore, it is concluded, by the importance of the clinic and the differential diagnosis in the studies about the superego.
Key words:
Superego; perversion; sadism; masochism
Dans cet article, nous analysons comment le pervers, sadique ou masochiste, lorsqu’il réalise son fantasme ($<>a) se prend lui-même comme objet a pour refuser la castration et la situer chez son partenaire angoissé et divisé ($). Ainsi, il jouit et répond aux impératifs du surmoi d’une manière très particulière. Il s’agit d’une stratégie obstinée pour redonner la parole à l’Autre, le rendre non castré, ce qui lui donnerait accès à une jouissance mythique. Pour cela, on distingue les fantasmes névrotiques et pervers et on analyse la façon dont l’engendrement de la jouissance est corrélé à la position de l’objet a et du sujet divisé en chacun d’eux. De plus, il approfondit les relations du surmoi avec le fantasme du pervers (sadique ou masochiste), ce qui démontre ses particularités. On conclut donc par l’importance de la clinique et du diagnostic différentiel dans les études sur le surmoi.
Mots clés:
Surmoi; perversion; sadisme; masochisme
En este artículo hemos tratado de analizar cómo el pervertido, sádico o masoquista, al representar su fantasía ($<>a) se toma a sí mismo como objeto a para rechazar la castración y localizarla en su angustiada y dividida pareja ($). Así, disfruta y cumple con los imperativos del superyó de una manera muy peculiar. Se trata de una estrategia obstinada para restituir la voz del Otro, para hacerlo no castrado, lo que le daría acceso a un goce mítico. Para ello, se distinguen las fantasías neuróticas y las perversas y se analiza el modo en que el engendramiento del goce se correlaciona con la posición del objeto a y del sujeto dividido en cada una de ellas. Además, se profundiza en las relaciones del superyó con la fantasía del perverso, sádico o masoquista, demostrando sus particularidades. Se concluye así la importancia de la clínica y el diagnóstico diferencial en los estudios sobre el superyó.
Palabras clave:
Superyó; perversión; sadismo; masoquismo
Trabalhar as interfaces da perversão com o supereu por meio do ensino lacaniano possibilitou demonstrar, ao contrário do que a princípio se possa imaginar, como o perverso em relação ao neurótico e ao psicótico é muito mais submetido e subserviente à instância superegoica e a seus imperativos de gozo. O supereu, segundo Lacan (1972-73/1985b)Lacan, J. (1985b). O seminário. Livro 20. mais, ainda. Zahar. (Seminário proferido em 1972-73)., é a única instância psíquica que obriga o sujeito a gozar, mas o perverso, ao recusar a castração do Outro, acaba por fazer do gozo seu bem mais precioso. Então, para tentar conseguir que esse Outro se torne não castrado, é preciso que o perverso pague o preço de fazer de seu desejo uma pura vontade de gozo em ato, preço que ele paga sem hesitar.
Assim, para entender o modo de gozo do perverso, é importante diferenciar sua fantasia da do neurótico. Como demonstra Lacan (1964/1985a)Lacan, J. (1985a). O seminário. Livro 11. Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Jorge Zahar. (Seminário proferido em 1964)., por meio da fórmula da fantasia2 2 Optamos por manter, neste artigo, como fantasia a tradução dos termos: alemão phantasie e franceses fantasie e fantasme, dado o fato de a palavra fantasia guardar a dimensão consciente e inconsciente do fantasiar (Coutinho Jorge, 2010, p. 45). Sabemos que a questão da tradução dos termos na obra do francês Jacques Lacan para a língua portuguesa não é um consenso (Abreu & D’Agord, 2021) e abre questões quanto a processos editoriais, linguísticos, filiatórios e conceituais (Escalante, 2013). ($<>a), o perverso em sua cena fantasmática não ocupa o lugar do sujeito dividido ($) tal qual o neurótico. O perverso goza apenas do lugar de objeto a e busca uma pessoa que possa ficar como o sujeito dividido e angustiado na cena montada por ele com esse propósito.
Nesse contexto, no sádico e no masoquista, o supereu apela para o objeto a na fantasia, que é a posição que o perverso ocupa na cena fantasmática montada e encenada por ele. O supereu age assim para exigir o gozo do Outro, por meio de imperativos que buscam ir além do prazer, a fim de atingir a pura dor, na busca da satisfação que produziria um Outro completo. Essa especificidade perversa do gozo por meio da dor, aliada a um sujeito que coloca a si mesmo no lugar de objeto a — para escamotear a falta do Outro, em uma espécie de fetiche macabro —, é o movimento tanto do sádico quanto do masoquista em seus jogos sexuais. Ambos se colocam como objeto a frente a um outro que se divide e sustenta a angústia de castração em seu lugar, por isso é pouco provável uma parceria sadomasoquista entre eles.
Assim, neste artigo, pretendemos avançar com a discussão do estado da arte acerca do supereu no campo psicanalítico. Tomaremos a distinção entre perversão e neurose, seja quanto à fantasia e à angústia, seja quanto à composição de regulação de gozo oriunda da relação sujeito, Outro e objeto a. E, finalmente, o modo como o sadismo e o masoquismo testemunham a incidência do supereu, a fim de empreender um estudo transversal à obra lacaniana que permita a elucidação decantada das figuras do supereu.
A perversão
No estudo clássico acerca do fetichismo, Freud (1927/1996b)Freud, S. (1996b). Fetichismo. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (J. Salomão, trad., vol. XXI, pp. 155-160). Imago. (Trabalho original publicado em 1927). expõe suas premissas sobre o modo como alguns sujeitos, como quer Millot (2004)Millot, C. (2004). Gide, Genet e Mishima: inteligência da perversão. Companhia de Freud., “transmudam o sofrimento em gozo e a falta em plenitude” (p. 7). Ao desenhar, com base em sua clínica, os modos peculiares de satisfação pelo desmentido [Verleulung] da castração, Freud instala uma leitura do gozo cunhada posteriormente de perversa por Lacan (1962-63/2005)Lacan, J. (2005). O seminário. Livro 10. A angústia. Jorge Zahar. (Seminário proferido em 1962-63)., deslocando o eixo moral pelo imperativo ético.
Millot (2004)Millot, C. (2004). Gide, Genet e Mishima: inteligência da perversão. Companhia de Freud., ao discutir os casos de Gide, Genet e Mishima, mostra como a erotização da pulsão de morte emerge singularmente em cada um como movimento de retorno ao que, do desejo/desprezo materno, cativa e retém um corpo de gozo, que a ele deseja invaginar novamente. Sua tese é que, na ausência de um operador simbólico decidido pelo Nome-do-Pai, essa erotização venha a instalar uma relação possível entre Eros e Tanatos (pulsão de vida e pulsão de morte) “para erigir o sexo como muralha contra a morte” (p. 9). Desse ponto a perversão instala um modo peculiar de gozo, fora da aliança paterna à lei, dentro da qual se receberia proteção por fidelidade, de onde se renunciaria a certa cota de gozo por salvação diante das ameaças oceânicas do amor ou desamor maternos: “Recusar a lei paterna comporta opor um desmentido à ameaça que lhe dá seu peso” (p. 10).
É também com um caso clínico que Freud dá mostras de como o pênis materno pode ser substituído pelo objeto fetiche, completando o Outro, assim não castrado e pleno de gozo. Trata-se de um paciente cujo gozo fetichista era encontrado em certo “brilho do nariz”, um “vislumbre” (Freud, 1927/1996b, p. 179Freud, S. (1996b). Fetichismo. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (J. Salomão, trad., vol. XXI, pp. 155-160). Imago. (Trabalho original publicado em 1927).). Desse elemento clínico, Freud desenvolve a hipótese de que, face à constatação real da ausência do falo materno, a criança, ao mesmo tempo, a nega pela recusa de sua inexistência. Mantém-se, assim, a percepção e a recusa da falta: “Reteve essa crença, mas também a abandonou. No conflito entre o peso da percepção desagradável e a força de seu contra desejo, chegou-se a um compromisso” (p. 181).
A percepção se detém, então, em um objeto deslocado na cena escópica, que passa a substituir simbolicamente essa falta horripilante — o objeto fetiche. Por isso, muitas vezes são objetos próximos ao pelo pubiano, como alguns tipos de tecidos, outras vezes os pés, enfim, objetos que detêm o olhar e fixam ali um modo de satisfação na antessala da castração: “É como se a última impressão antes da estranha e traumática fosse retida como fetiche” (Freud, 1927/1976, p. 182).
Esse substituto herda o interesse dirigido ao falo, enquanto recebe um aumento extraordinário de investimento, pois guarda o horror da castração como monumento a si próprio na criação do substituto, hiperinvestido libidinalmente. Uma corrente da vida mental a reconhece e outra a desmente e nega, e ambas, recusa e afirmação, existem lado a lado na perversão: “Permanece um indício do triunfo sobre a ameaça da castração e uma proteção contra ela” (Freud, 1927/1976, p. 181).
Promove-se, assim, nesse movimento denegatório, uma satisfação do absoluto erigido num Outro a quem o sujeito, como objeto de sua falta, realiza como plenitude de gozo. Quanto mais se denega a castração do objeto (falo), mais lhe confere realidade através do objeto fetiche, construído pela operação da negação: “Essa báscula, pela qual o negativo se positiva sem cessar” (Millot, 2004, p. 11Millot, C. (2004). Gide, Genet e Mishima: inteligência da perversão. Companhia de Freud.) implica exatamente a exigência voraz do supereu em sanar essa falta, modalizando o gozo perverso. Vejamos como o supereu cumpre aí sua função.
Supereu e perversão
O supereu foi formulado por Freud em 1923, no texto “O eu e o isso”, como uma instância diretamente relacionada à pulsão de morte. O supereu, em toda a obra freudiana, segundo Pena, Moreira, Guerra (2020)Pena, B. F., Moreira, J. O., & Guerra, A. M. C. (2020). O supereu em Freud e Lacan: da moralidade à amoralidade, uma gula estrutural. Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., 23(1), 37-56. https://doi.org/10.1590/1415-4714.2020v23n1p37.4
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, tem uma dupla vertente que o caracteriza: por um lado, é herdeiro do complexo de Édipo ao exigir o cumprimento da lei e do ideal do eu; por outro lado, é representante do isso, da pulsão de morte. Assim, essa instância exige a lei, todavia, invariavelmente de modo desproporcional, em excesso, com o intuito de punir o sujeito. Freud, então, relacionou o supereu à reação terapêutica negativa, ao masoquismo em todas as suas variações, à melancolia, ao mal-estar na civilização. Foi, porém, Lacan (1962-63/2005)Lacan, J. (2005). O seminário. Livro 10. A angústia. Jorge Zahar. (Seminário proferido em 1962-63). quem deu a essa instância seu estatuto de puro gozo ao defini-la como o primeiro objeto a. O objeto a mais original, a voz, enquanto supereu, que, desarticulada de qualquer significante, se incrusta no sujeito como uma pura exigência de satisfação.
Lacan, desde seus primeiros seminários na década de 1950, demonstra o caráter constrangedor e imperativo do supereu e o diferencia do ideal do eu, no qual o sujeito inclusive pode se sentir amado: “O supereu é constrangedor e o ideal do eu exaltante” (Lacan, 1953-54/1986, p. 123Lacan, J. (1986). O seminário. Livro 1. Os escritos técnicos de Freud. Jorge Zahar. (Seminário proferido em 1953-54).). O supereu funciona como um imperativo, um tu és sem atributo. Portanto, é uma lei insensata, sem dialética, que busca atormentar o sujeito com suas exigências descabidas (Lacan, 1955-56/2002Lacan, J. (2002). O seminário. Livro 3. As psicoses. Jorge Zahar. (Seminário proferido em 1955-56).). Todavia, como frisa Miller (2006)Miller, J.-A. (2006). A clínica do supereu. In Recorrido de Lacan. (pp. 131-147). Manantial., foi a partir da década de 1960 — mais voltado ao campo do gozo do que ao do significante — ao formular o objeto a (voz) como supereu, que Lacan desenvolveu o suporte teórico necessário para conceber um supereu Real, uma pura exigência de gozo, que demonstra toda a avidez dessa instância, sua gula insaciável.
O supereu como objeto a (voz) segundo Lacan (1962-63/2005)Lacan, J. (2005). O seminário. Livro 10. A angústia. Jorge Zahar. (Seminário proferido em 1962-63)., se constitui a partir das primeiras relações da criança com o Outro, por isso não se trata de uma voz significante, mas de um puro som, que é potencialmente separável do Outro e que não é assimilado pelo sujeito, mas apenas incorporado por ele como corpo estranho. O supereu objeto a (voz), então, é uma coação ao gozo, que não permite contestação e exige a satisfação de modo imperativo.
Nesse contexto, Lacan (1971/2009, p. 166)Lacan, J. (2009). O seminário. Livro 18. De um discurso que não fosse semblante. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1971). ainda caracterizou o supereu como um apelo: “ao gozo puro, isto é, à não castração”, desvelando mais uma vez a voracidade e o caráter Real dessa instância. Diante dos imperativos de gozo do supereu, o sujeito estará inexoravelmente em dívida. Há sempre a impossibilidade de atender tais imperativos, mesmo que se tente cumprir as exigências de gozo do supereu, na medida em que elas são intermináveis e se reforçam a cada vez, ou seja, o supereu estará sempre disposto a exigir mais gozo.
No ensino lacaniano, o supereu pode ser definido com uma única palavra: Goze! Para Lacan, o supereu é uma gula de puro gozo, insaciável e mortífera, que se volta contra o próprio sujeito. Instância amoral, cheia de truques, assim, pode obrigar um sujeito a gozar pela obediência servil às minúcias da lei e, em outro sujeito, pela transgressão dessa lei. Onde quer que esse sujeito se sinta oprimido, constrangido por seus ideais, por sua moral ou mesmo por suas insuficiências de gozo, lá estará o supereu para amaldiçoá-lo. Pela lógica de cobrança dessa instância, quanto mais se paga, mais se deve. E é preciso gozar mais e mais para que o sujeito tente saldar suas dívidas.
Todavia, é preciso ressaltar que, nesses casos, trata-se do funcionamento do supereu na neurose, aquilo que escapa à castração, à lei do pai, mas é coordenado a ela, já que se volta contra o sujeito justamente ao cobrar os pecados do pai. Assim, o supereu se encontra referido às fissuras da metáfora paterna que se apresentam onde a lei fracassa. Nessa perspectiva, como ressalta Gerez-Ambertín (2003)Gerez-Ambertín, M. (2003). As vozes do supereu: na clínica e no mal-estar na civilização. (S. Chebli, trad.). EDUCS., o neurótico paga sua hipoteca ao parricídio por meio da demanda. Desse modo, o supereu encontra por meio da demanda os significantes que se ligam a seus imperativos de gozo e, assim, impõem suas ordens insensatas: “O arrependimento, a vergonha, a culpa inconsciente, a consciência de culpa e suas variações (como “modos masoquistas de vida”) se situam na ordem da demanda” (Gerez-Ambertín, 2003, p. 267Gerez-Ambertín, M. (2003). As vozes do supereu: na clínica e no mal-estar na civilização. (S. Chebli, trad.). EDUCS.).
Na perversão, no entanto, diferentemente da neurose, há uma topologia quanto à demanda do Outro e ao Outro, e quanto ao desejo que não se formula a partir da falta que leva à pergunta: o que o Outro quer de mim? O perverso se sente superior ao neurótico e percebe o neurótico como uma espécie de débil que não sabe o que quer, que se submete às demandas do Outro, que se deprime (Miller, 1997Miller, J.-A. (1997). Sobre Kant com Sade. In Lacan elucidado (pp. 153-218). Zahar.). O perverso, por seu turno, já sabe o que quer e, orientado apenas por sua vontade de gozo, se coloca como o objeto de gozo em sua fantasia. Ele é aquele servo obstinado que tenta repor a voz ao Outro e recusar sua castração ao responder, sem contestação ou barganha, às exigências de gozo do supereu.
O perverso não deseja em função da lei, da proibição, mas faz essa lei existir para dar consistência ao Outro. Entretanto, sua lei é caprichosa e busca denegar o furo do Outro. Na perversão, então, o supereu pode atuar de modo mais explícito. O perverso é impelido a gozar, não se trata propriamente de uma escolha, mas de sua subserviência absoluta aos imperativos de gozo do supereu, que ele coloca como princípio racional de sua conduta: “Vontade que faz do gozo o princípio racional da ação, que não nasce da decisão elaborada de um querer, mas de uma coação que exige escapar da lei do Édipo e da castração” (Santos & Besset, 2013, p. 411Santos, A., & Besset, V. (2013). A perversão, o desejo e o gozo: articulações possíveis. Estudos de Psicologia, 30(3), 405-413. https://doi.org/10.1590/S0103-166X2013000300010
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).
Lacan (1960/1998b)Lacan, J. (1998b). Subversão do sujeito e dialética do desejo no inconsciente freudiano. In Escritos. (V. Ribeiro, trad., pp. 807-842). Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1960). ressalta que o neurótico substitui o objeto a da fantasia pela demanda. Já o perverso, ao contrário, lida com o próprio objeto a na fantasia, completamente desvelado por sua vontade de gozo (Lacan, 1963/1998aLacan, J. (1998a). Kant com Sade. In Escritos. (V. Ribeiro, trad., pp. 776-803). Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1963).). O perverso, como o mestre do gozo, se entrega aos imperativos do supereu para tentar fazer do Outro um Outro consistente não castrado, que goza devido a sua lealdade. Para recusar a castração e atender as imposições de gozo do supereu, o perverso constrói meticulosamente uma cena na qual se torna o próprio instrumento do gozo do Outro, posição que assume sem titubear. A cena criada pelo perverso diretamente relacionada à sua fantasia tem o estatuto de um ritual que é cumprido ao pé da letra e que se repete a cada vez que ele atua dentro dessa cena.
O supereu na perversão tem um modo de operar diferente de sua atuação na neurose. Todavia, usa de outros meios para alcançar o mesmo fim: Goze! Assim, segundo Lacan (1968-69/2008)Lacan, J. (2008). O seminário. Livro 1. De um Outro ao outro. Jorge Zahar. (Seminário proferido em 1968-69)., o perverso atende de forma exemplar às exigências do supereu em uma busca realmente obstinada de restituir o objeto a (voz) ao Outro. O que é típico na perversão é a recusa da castração do Outro e, para recusá-la, o perverso atua sua fantasia que tem justamente esse propósito.
Como objeto a ele busca completar o Outro e consegue ser um servo devotado do supereu, goza sem constrangimento, pois não acessa sua própria divisão e, para isso, está disposto a pagar qualquer preço: “O preço que o perverso paga por sua Verleugnung — o desmentido da castração —, é o de se ver obrigado a nunca poupar esforços para tentar suprir o Outro com o gozo” (Alberti & Martinho, 2013, p. 133Alberti, S., & Martinho, M. H. (2013). Sexuação, desejo e gozo: entre neurose e perversão. Psicologia USP, 24(1), 119-142. https://doi.org/10.1590/S0103-65642013000100007
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). O perverso paga esse preço para que, em sua fantasia, o sujeito dividido seja apenas seu parceiro, alguém que ele escolhe a dedo para ocupar esse lugar. Resta então, ao perverso, apenas o lugar do objeto a, do qual extrai seu gozo submetendo-se às vontades desmedidas do supereu.
A fantasia e seu efeito de inversão na perversão
Lacan propõe a fórmula da fantasia ($<>a) já no Seminário 5: As formações do inconsciente, como parte do grafo do desejo, mas é apenas no Seminário 10: A angústia, que o objeto a dessa fórmula passa a ter uma dimensão Real. Assim, esse objeto pode funcionar como causa de desejo ou como condensador de gozo no campo fantasmático. O objeto a, nesse período do ensino lacaniano, como ressalta Soler (2012)Soler, C. (2012). Seminário de leitura de texto ano 2006-2007: seminário A angústia de Jacques Lacan. Escuta., corresponde a um furo no Real causado pela castração, que é a própria entrada da criança na linguagem, uma castração Real, que deve ser diferenciada da ausência que o Simbólico introduz pela presença do significante Nome-do-Pai.
Nesse momento do ensino de Lacan, resta uma indefinição acerca da temporalidade da inscrição dessas ausências, que só se resolverá claramente nos anos 1970. Poderíamos supor, ainda nos anos 1960, que a castração Real é aquela que precede a simbólica, e a partir dela se estabeleceria a fantasia, por meio de duas operações que se sucedem: a instauração do traço unário, que marca a divisão do sujeito, e a extração do objeto a do campo do Outro. Portanto, a partir do primeiro encontro com o desejo do Outro, que inexoravelmente é traumático, se presentificam pelo campo do Outro os dois elementos-chave da fantasia, a saber: $ e objeto a. Nesse contexto, portanto, a fantasia articula-se como resposta à castração Real, o vazio da estrutura que remete à própria castração da linguagem. A fantasia que se forma com a entrada da criança na linguagem tem como finalidade encobrir o desejo do Outro. A fantasia, então, funciona como uma resposta do sujeito frente ao insuportável desse desejo do Outro, ao qual essa fantasia vem se sobrepor, como um véu para encobri-lo.
A função da fantasia consiste em tampar a abertura no Outro, esconder sua inconsistência, como faz, por exemplo, a presença fascinante de um roteiro sexual que serve de anteparo para mascarar a impossibilidade da relação sexual. A fantasia esconde o fato de que o Outro, a ordem simbólica, se estrutura em torno de uma impossibilidade traumática, em torno de algo que não pode ser simbolizado, isto é, o real do gozo. (Žižek, 1992, p. 121Žižek, S. (1992). Eles não sabem o que fazem: o sublime objeto da ideologia. Zahar.)
Entretanto, em “Lituraterra” (1971/2003) e, na mesma direção freudiana em “A negativa” (1925/1996a), Lacan trata a inscrição da ausência como o mesmo ato que ocorre em duas direções: Simbólica e Real. Em Freud (1925/1996a)Freud, S. (1996a). A negativa. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. (J. Salomão, trad., vol. XIX, pp. 261-270). Imago. (Trabalho original publicado em 1925)., teríamos a inscrição primária e simbólica inconsciente (Bejahung) como ato psíquico simultâneo à expulsão Real (Ausstossung). Em outras palavras, a escrita inconsciente deixará, no mesmo ato, sempre um resto lógico e operatório, pulsionalmente desguarnecido de representação. A letra seria um remate daquilo que, no Seminário 9: A identificação (1961-62), Lacan distinguiu do traço primeiro e do que o apaga. A escritura e a letra estão no Real, e o significante está no Simbólico (Lacan, 1971/2003Lacan, J. (2003). Lituraterra. In Outros escritos. ( V. Ribeiro, trad., pp. 15-25). Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1971).). A fantasia viria em socorro dessa dupla falta, Real e Simbólica.
Lacan (1962-63/2005)Lacan, J. (2005). O seminário. Livro 10. A angústia. Jorge Zahar. (Seminário proferido em 1962-63). demonstrou com aquilo que denomina o esquema simplificado da divisão do sujeito como se dá esse encontro, no qual opera a castração Real por meio do desejo do Outro. O momento em que o ser (S) se depara com a linguagem (A) marcado por uma contingência que se dá por meio do encontro desse ser com o desejo do Outro (Ⱥ) operação que resulta na divisão do próprio sujeito ($) e tem como resto o objeto a.
Essa operação é o que possibilita a articulação da fantasia como resposta ao impossível de suportar do encontro com o desejo do Outro, pois a partir daí a fantasia fará a mediação do sujeito com esse desejo. A fantasia é a resposta para o enigma: Que queres? É por meio dela que o sujeito dividido vai se valer do objeto a como causa do desejo.
Entretanto, para situar a fantasia do perverso, é importante diferenciá-la da fantasia do neurótico, já que o fato de o neurótico ter fantasias perversas não permite que se conclua precipitadamente que as fantasias do perverso, em termos inconscientes, sejam iguais às do neurótico. Lacan (1958-59/2016aLacan, J. (2016a). O seminário. Livro 6. O desejo e sua interpretação. Jorge Zahar. (Seminário proferido em 1958-59).; 1962-63/2005Lacan, J. (2005). O seminário. Livro 10. A angústia. Jorge Zahar. (Seminário proferido em 1962-63).; 1968-69/2008Lacan, J. (2008). O seminário. Livro 1. De um Outro ao outro. Jorge Zahar. (Seminário proferido em 1968-69).) frisa que, ao contrário, há diferenças marcantes entre elas, tanto em sua constituição quanto em seu modo de funcionamento.
Como se pode observar na Figura 1, no neurótico, a fantasia é constituída no campo do Outro. Nesse caso, tanto o sujeito dividido $ quanto o objeto a, resto dessa divisão, estão no campo do Outro, em A: “Todos os dois estão do lado do Outro, porque a fantasia, esteio do meu desejo, está inteiramente do lado do Outro” (Lacan, 1962-63/2005, p. 36Lacan, J. (2005). O seminário. Livro 10. A angústia. Jorge Zahar. (Seminário proferido em 1962-63).).
Já no caso do perverso, o sujeito se mantém como objeto a, suturando a falta, numa relação que desmente a barra do Outro castrado, criando a ilusão de que a falta não existe: “No perverso as coisas estão em seu lugar, se assim posso dizer. O a está onde o sujeito não pode vê-lo, e o S barrado está em seu lugar” (Lacan, 1962-63/2005, p. 59Lacan, J. (2005). O seminário. Livro 10. A angústia. Jorge Zahar. (Seminário proferido em 1962-63).). O perverso se coloca enquanto o próprio objeto a e localiza em sua fantasia apenas o sujeito dividido, lugar que será ocupado por um outro que não ele. Lacan, então, afirma que dos dois elementos da fantasia — $ barrado e o objeto a — o segundo se situa de modo diferente no perverso e no neurótico em relação à função reflexiva de A, ou seja, diante do Outro como espelho.
Por isso, embora o neurótico tenha fantasias perversas, se de fato as atua e passa a ocupar o lugar do objeto a, em tese, ele teria dificuldade de bancar essa posição de puro objeto na cena fantasmática. Diferentemente do perverso, além de o objeto a em sua fantasia estar inserido no campo do Outro, o neurótico acaba por acessar sua própria falta enquanto sujeito dividido: “Esse objeto a que o neurótico se leva a ser em sua fantasia cai-lhe quase tão mal quanto polainas em um coelho. É por isso que o neurótico nunca faz grande coisa de sua fantasia” (Lacan, 1962-63/2005, p. 60Lacan, J. (2005). O seminário. Livro 10. A angústia. Jorge Zahar. (Seminário proferido em 1962-63).). Embora a fantasia estruture a possibilidade do desejo na neurose, o neurótico a demonstra nas entrelinhas, enquanto o perverso, para ocupar o lugar de mestre do gozo, faz questão de atuá-la de modo explícito.
Assim, como lembra Soler (2012)Soler, C. (2012). Seminário de leitura de texto ano 2006-2007: seminário A angústia de Jacques Lacan. Escuta., tanto o neurótico quanto o perverso têm o recurso da fantasia, mas o perverso tem uma relação mais direta com o objeto a, ou seja, menos mediada, já que o neurótico busca sempre um objeto postiço para recobrir o objeto a, em sua fantasia. Nesse contexto, segundo Jorge (2010)Jorge, M. A. C. (2010). Fundamentos de Freud a Lacan, vol. 2: a clínica da fantasia. Zahar., o que o perverso deseja é uma reposição do gozo absoluto como o próprio objeto a, na medida em que sua entrada no mundo simbólico se deu por uma fixação na fantasia do lado do objeto a e não do lado do sujeito dividido ($). A sua obstinação é se encontrar com o sujeito puro prazer, aquele que goza sem a barra (S) para poder atingir o gozo absoluto e recusar a castração do Outro.
Lacan, então, propõe que, no funcionamento da fantasia perversa, a fórmula da fantasia ($<>a) demonstrada por ele para a neurose deve ser pensada de forma invertida no caso da estrutura perversa: “É propriamente falando um efeito inverso da fantasia. É o sujeito que se determina a si mesmo como objeto, em seu encontro com a divisão da subjetividade” (Lacan, 1964/1985a, p. 175Lacan, J. (1985a). O seminário. Livro 11. Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Jorge Zahar. (Seminário proferido em 1964).). Nesse contexto, segundo Eidelsztein (2017)Eidelsztein, A. (2017). O grafo do desejo. Toro., se, no caso da neurose, se lê a fórmula da fantasia como um sujeito dividido em relação ao objeto a, no caso da perversão isso se modifica e é do lugar de objeto a frente à divisão de um outro, que o perverso se localiza e goza em sua fantasia.
Por meio de sua fantasia, o perverso procura denegar a falta, a castração do Outro: “No lugar privilegiado do gozo, do objeto a da fantasia, que ele coloca no lugar de Ⱥ” (Lacan, 1960/1998b, p. 838Lacan, J. (1998b). Subversão do sujeito e dialética do desejo no inconsciente freudiano. In Escritos. (V. Ribeiro, trad., pp. 807-842). Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1960).). Então, é por meio de uma fantasia de suturar o Outro, de repor aquilo que lhe falta, que o supereu vai exigir o gozo do perverso. Para tanto, o supereu goza a partir da fixação do perverso em uma cena como o próprio objeto de gozo da fantasia: “Como objeto de gozo e em relação à perversão, o supereu consegue, apelando ao objeto no fantasma, usufruir de uma ‘satisfação’ na procura do gozo do Outro” (Gerez-Ambertín, 2003, p. 259Gerez-Ambertín, M. (2003). As vozes do supereu: na clínica e no mal-estar na civilização. (S. Chebli, trad.). EDUCS.). Portanto, o supereu impõe ao perverso o gozo do Outro ao exigir a total submissão aos seus imperativos, que ele atende e goza, por meio do lugar do próprio objeto a na fantasia, lugar que, como frisa Rabinovich (2005)Rabinovich, D. (2005). A angústia e o desejo do Outro. Companhia de Freud., seria insuportável para o neurótico ocupar.
Nessa perspectiva, em “Kant com Sade”, texto contemporâneo ao Seminário 10: A angústia, Lacan (1963/1998) reafirma que o perverso se diferencia do neurótico à medida que goza ao se colocar enquanto objeto a como instrumento do gozo do Outro. Assim, deve capturar seu parceiro em uma cena fantasmática, de modo que apenas o parceiro se angustie, enquanto sujeito dividido ($). O neurótico usa sua fantasia para fins particulares, já o perverso pode atuar sua fantasia, demonstrá-la de forma explícita e sustentá-la sem vacilação. Ele a sustenta com frieza, apenas como a encarnação do puro objeto a, na cena que ele mesmo monta.
Como lembra Miller (1997)Miller, J.-A. (1997). Sobre Kant com Sade. In Lacan elucidado (pp. 153-218). Zahar., em “Kant com Sade” Lacan (1963/1998a)Lacan, J. (1998a). Kant com Sade. In Escritos. (V. Ribeiro, trad., pp. 776-803). Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1963). fez uma leitura surreal para a filosofia da época: pensar Kant por meio de Sade. Segundo ele, essa proposta teve a intenção de enfatizar o objeto que está escondido em Kant (1788/2011)Kant, E. (2011). Crítica da razão prática. Martins Fontes. (Trabalho original publicado em 1788). na Crítica da razão prática, mas que, em Sade, desvela-se completamente em seus romances, a saber, o objeto a. Essa é a essência da perversão: imperativos de gozo do supereu que obrigam ao perverso desvelar o lugar do objeto a na fantasia ao se colocar como instrumento do gozo do Outro, como um servo obediente que procura manejar com mestria o gozo para transpor sua própria falta a outra pessoa, sua vítima, que se angustia até o limite de se desvanecer frente à fenda de sua divisão, exposta por seu algoz.
Portanto, a distinção entre neurose e perversão, por meio da fantasia, do objeto a e dos imperativos de gozo do supereu, abre boa perspectiva para se pensar a clínica diferencial. Nesse contexto, visando aprofundar as relações entre a estrutura perversa, a fantasia e o supereu, busca-se investigar as especificidades dessa relação por meio do sadismo e do masoquismo.
A subserviência do perverso aos imperativos de gozo do supereu
Durante a década de 1960, Lacan retoma as questões do masoquismo e do sadismo a partir do funcionamento da fantasia, o sujeito barrado ($) e o objeto a que a compõem. Nesse contexto, formula o objeto a como Real e demonstra o índice da presença desse objeto pela angústia, aspecto que foi importante para se entender o funcionamento do perverso em seu campo fantasmático. Assim, a fantasia que encobre o desejo do Outro como uma tela de proteção frente ao Real também pode despertar a angústia, a angústia de castração, afeto que o perverso tem verdadeiro horror de vivenciar. A angústia está diretamente ligada à fantasia, pois funciona como um sinal da desestabilização das relações do sujeito com o objeto a no campo fantasmático.
A angústia, ensinou-nos Freud, desempenha em relação a algo a função de sinal. Digo que é um sinal relacionado com o que se passa em termos da relação do sujeito com o objeto a, em toda a sua generalidade. O sujeito só pode entrar nesta relação na vacilação de um certo fading, vacilação que tem sua notação designada por um S barrado. A angústia é o sinal de certos momentos dessa relação. (Lacan, 1962-63/2005, p. 98Lacan, J. (2005). O seminário. Livro 10. A angústia. Jorge Zahar. (Seminário proferido em 1962-63).)
A angústia surge por um excesso marcado pela presença incômoda do objeto a. Nesse contexto, Lacan afirma que a angústia não é sem objeto. A angústia é a presença marcante do objeto a na fantasia. Diante disso, o modo como o perverso alcança o gozo do Outro está diretamente ligado à estratégia de recusar a castração, mas por meio de uma cena fantasmática que, na verdade, tem como objetivo exponenciar a angústia do Outro.
Dizem que o masoquista visa o gozo do Outro. Mostrei-lhes que o que essa ideia esconde é que, em última instância, ele visa realmente a angústia do Outro. É isso que permite desarticular a manobra. Do lado do sadismo, o comentário é análogo. O que fica patente é que o sádico busca a angústia do Outro. O que isso mascara é que se trata do gozo do Outro. (Lacan, 1962-63/2005, p. 195Lacan, J. (2005). O seminário. Livro 10. A angústia. Jorge Zahar. (Seminário proferido em 1962-63).)
O perverso, sádico ou masoquista, goza por meio do gozo do Outro e aplaca a sua própria angústia, quando localiza esse afeto apenas em um outro que vai ocupar o lugar do sujeito dividido em sua fantasia. Do lado do perverso, como objeto a durante essa cena, não há angústia, não há vacilação, mas obstinação na busca do gozo absoluto. Nesse contexto, é pouco provável um par sadomasoquista entre dois perversos, entre um sádico e um masoquista. Ambos ocupam o mesmo lugar na fantasia: o de objeto a, o que dificulta estabelecimento dessa parceria.
O sádico claramente busca a angústia do Outro, ao realçar em sua vítima a fenda que constitui a divisão do sujeito; esse é seu objetivo. Ele é o próprio legislador, por isso se submete à lei que proclama e igualmente exige a submissão de sua vítima a todos os caprichos dessa lei, para tentar suturar a castração do Outro. Nesse contexto, Lacan afirma que o sádico sabe exatamente o que quer e onde procurar. Ele tem um desejo e o realiza em ato, o sustenta com convicção na cena criada por ele para tal propósito. Entretanto, apesar de saber que sustenta o próprio desejo, aquilo que não sabe é o que procura: “O que o agente do desejo sádico não sabe é o que ele procura, e o que ele procura é fazer-se aparecer, ele mesmo, como puro objeto” (Lacan, 1962-63/2005, p. 118Lacan, J. (2005). O seminário. Livro 10. A angústia. Jorge Zahar. (Seminário proferido em 1962-63).). A posição de objeto a do perverso lhe garante evitar a angústia. O executor da fantasia sadeana se transforma, em última análise, apenas em instrumento do gozo do Outro, objeto a. É o que se pode observar no Esquema I proposto por Lacan em “Kant com Sade” (Figura 3)
O Esquema I retrata a fantasia sádica a partir da obra de Sade, a relação entre o verdugo e sua vítima. Pode-se observar que o desejo sádico (d) coloca o verdugo como objeto a. Ele é aquele que possui um desejo que se expressa como uma vontade de gozo determinada, implacável, que move toda a história frente à vítima, o sujeito barrado ($) angustiado em sua mais profunda divisão. Essa operação, em última instância, visa o encontro com o sujeito do puro prazer (S). Como observa André (1995)André, S. (1995). A impostura perversa. (V. Ribeiro, trad.). Jorge Zahar., a manobra do mestre sadeano busca produzir um sujeito mítico, o puro sujeito do prazer. Todavia, é preciso entender que esse sujeito mítico, de fato, nunca é atingido nem pelo sádico nem por sua vítima.
O sádico busca o gozo sem pressa. A angústia se faz em primeiro lugar pela ameaça, pela expectativa da vítima. Assim, Sade faz questão de dizer a ela previamente o que vai passar, as especificidades de sua tortura, enfim, qual será o seu destino em suas mãos. Além disso, a própria execução do ato sádico também provoca a angústia e divide o sujeito, que está na posição da vítima. Por isso, na fantasia sádica, por mais paradoxal que pareça, quem está na posição de sujeito é a vítima: “O sujeito na fantasia é a vítima, não é o verdugo. O paradoxo da fantasia na perversão em Sade, com o paradigma de Lacan, é que o sujeito não é aquele que tem a fantasia” (Miller, 1997, p. 194Miller, J.-A. (1997). Sobre Kant com Sade. In Lacan elucidado (pp. 153-218). Zahar.).
Nesse contexto, no sadismo, o objeto a (voz), enquanto imperativo de gozo do supereu, segundo Lacan, se dá de forma intransitiva. É uma voz de puro comando, uma dominação absoluta já que o sujeito dividido, a vítima, não quer obedecer à vontade de gozo de seu algoz, mas obedece e sem a menor contestação. Lacan (1968-69/2008)Lacan, J. (2008). O seminário. Livro 1. De um Outro ao outro. Jorge Zahar. (Seminário proferido em 1968-69). ressalta como é espantoso que em Sade todas as suas ações são iniciadas por uma fala, uma ordem que a vítima atende sem nenhuma revolta. Assim, o sádico rouba a fala de suas vítimas e dá voz ao Outro, enquanto uma vontade de gozo inegociável e indiscutível, na qual só cabe a ele ser instrumento e a vítima obedecer, mas não sem angústia.
A voz enquanto objeto que o perverso quer restituir ao Outro não é aquela que entra pelos ouvidos, mas a presença do objeto a no comando absoluto da cena que divide o sujeito e na qual o sádico é mero instrumento, uma pura vontade de gozo como forma de ser um suplemento de gozo ao Outro: “O sádico, aqui, é apenas o instrumento do suplemento dado ao Outro, mas o qual, nesse caso, o Outro não quer. Não quer, mas, mesmo assim, obedece” (Lacan, 1968-69/2008, p. 251Lacan, J. (2008). O seminário. Livro 1. De um Outro ao outro. Jorge Zahar. (Seminário proferido em 1968-69).). Na busca obstinada de dar consistência ao Outro para recusar sua castração, ele monta a cena e desvela-se nessa mesma cena enquanto objeto a. Assim, a vítima capturada, siderada, angustiada em sua mais profunda divisão ($), apenas responderá às ordens sem contestação, mesmo frente a todos os excessos de seu verdugo.
Chegar ao ápice da dor e da angústia, no entanto, faz com que essa vítima enquanto sujeito sucumba, o que leva o perverso ao ápice de seu gozo, mas acaba com sua brincadeira. A dor, todavia, também tem um fim, como o próprio prazer ela encontra seu limite: “Por mais prolongada que a suponhamos, no entanto, como o prazer ela tem seu fim: é o esvanecimento do sujeito” (Lacan, 1963/1998a, p. 785Lacan, J. (1998a). Kant com Sade. In Escritos. (V. Ribeiro, trad., pp. 776-803). Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1963).). Por isso, o sádico faz questão de que a tortura seja um processo doloroso bem lento. Esse processo incide no próprio destino da vítima, e marca no perverso seu modo de gozo.
Em suma, as sevícias infligidas têm por objetivo extrair do gozo sua parcela de dor, isolar aquilo que, no gozo, é o mal, a fim de revelar um puro prazer sem mistura. No momento em que essa separação está para se realizar e em que essa revelação de um gozo puro está para se produzir, a vítima desmaia e o mestre “descarrega”. (André, 1995, p. 24André, S. (1995). A impostura perversa. (V. Ribeiro, trad.). Jorge Zahar.)
No caso do sadismo, o supereu exige o gozo por meio de uma cena específica que se estabelece dentro do seu enquadre fantasmático e na qual o perverso está como objeto a, que divide e angustia sua vítima. Assim, ele goza e atende os imperativos cruéis do supereu, a seus comandos de gozo. Esse é seu modo de obter satisfação que implica recusar a castração do Outro.
Todavia, no caso do masoquista, ele não se mostra declaradamente como objeto a, não se coloca abertamente como desejante, como aquele que impõe a um outro seu desejo como vontade de gozo. O masoquista ocupa o lugar de um mero objeto de troca, como uma simples mercadoria, que se pode descartar. Então, ele também é o objeto a: “Sob a aparência do deslustrado, do atirado aos cães, à imundice, à lata de lixo, ao rebotalho do objeto comum” (Lacan, 1962-63/2005, p. 120Lacan, J. (2005). O seminário. Livro 10. A angústia. Jorge Zahar. (Seminário proferido em 1962-63).). Assim, a princípio, há uma impossibilidade de vê-lo como o que ele no fundo é, a saber, objeto a. Nesse caso, entretanto, diferentemente do sádico, ele ocupa o lugar do objeto a, enquanto objeto rejeitado.
A verdade, que é propriamente dada pela prática masoquista, onde é ali evidente que o masoquista — para... subtrair, se se pode dizer, furtar, no único canto onde evidentemente é apreensível, [isso] que é o objeto pequeno a — entrega-se, deliberadamente, a essa identificação, a esse objeto enquanto rejeitado. (Lacan, 1966-67, p. 424)
O masoquista, como instrumento do gozo do Outro, aparece na cena como objeto a. Na verdade, ele se oferece nesse lugar, mas é importante frisar que não demanda essa posição, no fundo ele a exige. Cabe a seu parceiro impor-lhe a lei de modo cruel, já que é preciso que o parceiro lhe cobre uma libra de carne para que o masoquista possa encarnar o objeto a. Ele se põe como escravo do Outro, apenas um objeto de gozo, que necessariamente deve ser castigado além do limite tolerável para o seu próprio algoz.
Na verdade, é seu algoz que sofre na cena em que castiga, pois o masoquista, por mais que não pareça, é sempre o dono do jogo, aquele que, como o sádico, fisga o seu parceiro para ocupar o lugar do sujeito dividido em sua fantasia. Então, ao encarnar o objeto a, deixa seu parceiro totalmente exposto à angústia. Como explicita Miller (1997)Miller, J.-A. (1997). Sobre Kant com Sade. In Lacan elucidado (pp. 153-218). Zahar., no fundo o masoquista não é a vítima, ele também é o “verdugo” na cena que ele constrói e comanda. Lacan (1966-67) inclusive ressalta que a esposa de Sacher-Masoch em suas memórias deixa claro o quanto lhe era angustiante obedecer às vontades de seu parceiro. Enfim, participar das cenas estabelecidas por ele era algo extremante desconfortável para ela.
É interessante notar que o masoquista, assim como o sádico, também estabelece minuciosamente a cena em que vai pôr em jogo sua fantasia. Porém, no seu caso, na hora de executar essa cena, ele nem precisa falar. Assim, deixa evidente que não é da fala que se trata, já que o que ele quer restituir é a voz do Outro, dar-se como seu próprio suplemento de gozo: “Que o masoquista faça da voz do Outro, por si só, aquilo a que dará a garantia de responder como um cão, isso é o essencial” (Lacan, 1968-69/2008, p. 249Lacan, J. (2008). O seminário. Livro 1. De um Outro ao outro. Jorge Zahar. (Seminário proferido em 1968-69).).
Nessa perspectiva, o masoquista faz toda uma encenação, que tem um rito, um cerimonial que ele estabelece e assegura que seja realizado por meio de um contrato com seu parceiro, para que ele, o masoquista, imponha as regras do jogo. Se o masoquista pode ficar calado na hora em que faz sua encenação, é porque suas ordens já foram dadas. As regras devem ser rigorosamente cumpridas assegurando ao masoquista a posição de puro instrumento do gozo do Outro na cena. Ele é aquele que deve ser chicoteado, amarrado, espancado em nome da lei que ele mesmo legisla. Assim, o contrato garante que a cena construída por ele vai ser seguida à risca por seu parceiro. Esse é um ponto que se mostra fundamental para sua performance enquanto objeto, já que lhe assegura de antemão a atuação desse parceiro exatamente da forma que o masoquista predeterminou para seu parceiro estar inserido em sua fantasia.
Frente à castração do Outro, o perverso masoquista faz do Outro um Outro do gozo com o objetivo de lhe restaurar o objeto — a voz — e construir assim um Outro completo. O contrato masoquista é parte essencial desta cena na qual ele tenta repor, restaurar, restabelecer a voz no Outro, para que este se faça ouvir a partir deste resto demoníaco que impele ao gozo. É aí que o ritual e a encenação adquirem relevância. (Gerez-Ambertín, 2003, p. 257Gerez-Ambertín, M. (2003). As vozes do supereu: na clínica e no mal-estar na civilização. (S. Chebli, trad.). EDUCS.)
As exigências de gozo do supereu se dão na fantasia do masoquista por meio de sua posição enquanto objeto a, com a qual ele se identifica como instrumento do gozo do Outro. É dessa forma que ele goza, ao se oferecer como um suplemento de gozo, como o próprio objeto a, voz que deve restituir ao Outro sua condição de não castrado: “O eixo de gravidade do masoquista age no nível do Outro e dá reposição nele da voz como suplemento” (Lacan, 1968-69/2008, p. 250Lacan, J. (2008). O seminário. Livro 1. De um Outro ao outro. Jorge Zahar. (Seminário proferido em 1968-69).). Portanto, como objeto rejeitado, também quer fazer um Outro absoluto, restituir a esse Outro castrado o objeto que ele perdeu, que caiu como resto frente à sua divisão.
Há, portanto, um modo de gozo bem específico tanto do sádico quanto do masoquista e trabalhar com os conceitos de fantasia — objeto a e sujeito dividido — e de angústia articulados aos modos de gozo exigidos pelo supereu também abre uma boa perspectiva para se pensar o diagnóstico diferencial entre neurose e perversão. Uma perspectiva que pretende contribuir e que também possui suas particularidades, visto que o diagnóstico estrutural em psicanálise não busca eliminar as especificidades do sujeito nem quer lhe dar rótulos, mas indicar a direção do tratamento, que sempre deverá se orientar pela singularidade do caso a caso.
Para concluir
As sutis distinções quanto às modalidades de imposição superegoica na neurose e na perversão evidenciam elementos clínicos importantes ao diagnóstico em psicanálise. Vividos no mais das vezes na intimidade nem sempre confessável da fantasia neurótica ou muito meticulosamente elaborados na performance perversa, os modos de gozo correlatos a essa incidência lançam luz à direção clínica na práxis do analista. Com a proposição teórica do objeto a e seus desdobramentos acerca da angústia — que não é sem objeto —, Lacan pôde avançar em distinções centrais:
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quanto ao lugar do sujeito e do objeto na fantasia neurótica e perversa, discutindo e nem sempre concordando, mas sofisticando a ideia freudiana de que a perversão é o negativo da neurose;
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quanto às posições de gozo, na neurose oriunda da própria divisão do sujeito em relação ao objeto a no enquadre fantasmático e na perversão vividas na fantasia, na condição de objeto a que tenta completar o Outro numa busca obstinada pelo gozo mítico;
-
quanto à proposição da posição perversa do sádico e do masoquista regente da produção da angústia do Outro, ainda que com estilos distintos.
Podemos, assim, concluir neste trabalho que o ponto de partida dos estudos acerca do supereu não dispensa a discussão clínica diagnóstica. Na verdade, agrega novas perspectivas, valendo-se dela como experiência e como guia em sua elaborada consolidação.
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1
O presente artigo faz parte das atividades desenvovlidas no estágio de pós-doutoramento de Breno Ferreira Pena, iniciado em maio de 2022 sob supervisão de Andréa Maris Campos Guerra, na Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, no Programa de Pós-graduação em Psicologia.
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2
Optamos por manter, neste artigo, como fantasia a tradução dos termos: alemão phantasie e franceses fantasie e fantasme, dado o fato de a palavra fantasia guardar a dimensão consciente e inconsciente do fantasiar (Coutinho Jorge, 2010, p. 45). Sabemos que a questão da tradução dos termos na obra do francês Jacques Lacan para a língua portuguesa não é um consenso (Abreu & D’Agord, 2021Abreu, T. M., & D’Agord, M. R. L. (2021). O “fantasme” em Jacques Lacan, o Intraduzível em questão. Trivium [online], 13(1), 101-111. http://dx.doi.org/10.18379/2176-4891.2021v1p.101.
http://dx.doi.org/10.18379/2176-4891.202... ) e abre questões quanto a processos editoriais, linguísticos, filiatórios e conceituais (Escalante, 2013Escalante, A. (2013). Traduzir psicanálise: impasses de um texto. In P. H. Tavares, M. B. de Paula, W. C. Costa (Orgs.), Tradução e psicanálise (pp. 23-37). 7 Letras.).
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» http://dx.doi.org/10.18379/2176-4891.2021v1p.101 - Alberti, S., & Martinho, M. H. (2013). Sexuação, desejo e gozo: entre neurose e perversão. Psicologia USP, 24(1), 119-142. https://doi.org/10.1590/S0103-65642013000100007
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
09 Out 2023 -
Data do Fascículo
2023
Histórico
-
Recebido
02 Set 2022 -
Revisado
07 Fev 2023 -
Aceito
20 Abr 2023