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A paixão da causalidade: uma fala em causa?* * Tradução de Monica Seincman , 1 1 Este trabalho é extraído de um capítulo do meu livro A prova pela fala. Sobre a causalidade em psicanálise (PUF, 1996) e de um artigo publicado em 1993 em Cliniques Méditerranéennes.

Este artigo coloca a questão de saber de onde provém a neces- sidade de se buscarem causas psicológicas para o sofrimento e para a doença, transformando o pathos dessas experiências cruciais na busca de uma explicação aceitável pela razão. Partindo de fragmen- tos clínicos e da análise do texto de Tausk sobre "a gênese do apare- lho de influenciar" na esquizofrenia, o trabalho visa explicitar a especificidade da posição psicanalítica em relação às proposições psicológicas (por vezes influenciadas pela própria psicanálise), de caráter explicativo e "compreensivo", face a esta questão. Propõe-se que "a tendência causalista em psicanálise consti- tui uma resistência ao próprio método psicanalítico " e que é exigido do psicanalista um trabalho particular de luto consistindo na re- núncia a pretensão aos sentidos estabelecidos de uma vez por todas em benefício de se admitir, a partir do contexto da situação psicana- lítica, que podemos "sofrer sem razão" e que nosso pensamento se forma "do encontro de nosso desejo com alguns fragmentos, retos de palavras e de fonemas". Conclui-se que a necessidade de se encontrar causas psicoló- gicas para o sofrimento decorre da própria experiência originária de aquisição da linguagem, tempo mítico durante o qual um único aparelho de linguagem funcionou para dois corpos, fundador da relação desnaturada do ser humano com seu próprio corpo, para a qual o eu busca - desesperadamente - uma explicação definitiva.


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