Acessibilidade / Reportar erro

Do delirante ao ficcional: um estudo sobre a situação psicanalítica em um caso de paranóia

Resumos

Este ensaio é um estudo psicanalítico a respeito de Lia, paranóica, artista em tempo integral, que, ao tecer suas estórias, viu a linha que separa a ficção da realidade ser esfumaçada em seu ato de escrita. Escritora de romances e poesias, Lia também pinta sobre quaisquer suportes que se lhe apresentam. Consideraremos que sua paranóia não pode ser separada de sua produção literária e gráfica, pois elas estão entranhadas umas nas outras. Assim, o tratamento psicanalítico realizado com essa paciente decorreu precisamente daquilo que constitui sua paranóia: sua produção escrita e artística. No desenrolar da situação analítica sua escrita é transformada pela leitura de um outro fora dela e, nesse nicho, Lia pôde construir uma forma diferente de subjetivação.

Escrita; leitura; paranóia; psicanálise


Este ensayo es un estudio psicoanalítico a respecto de Lia, paranoica, artista en tiempo integral, que al urdir sus historias, vio la fina hebra que separa la ficción de la realidad esfumarse en su acto de escrita. Escritora de novelas y poesías Lia también pinta sobre cualquier superficie que se le presente. Consideraremos que su paranoia no puede ser separada de su producción literaria y gráfica, pues ellas están extremamente fundidas una con la otra. Así, el tratamiento psicoanalítico realizado con esta paciente devino precisamente de aquello que constituye su paranoia: su producción escrita y artística. Durante el desarrollo de la situación analítica su escrita se ve transformada por la lectura del otro fuera de ella y, en este nicho, Lia pudo construir una forma diferente de subjetivación.

Escrita; lectura; paranoia; psicoanálisis


Cet essai décrit une étude psychanalytique sur Lia, paranoïaque, artiste à plein temps qui, en tissant ses histoires, se rend compte que la ligne qui sépare la fiction de la réalité de sa production écrite a perdu ses contours bien définis. Lia n’écrit pas seulement des romans et des poésies, mais elle peint aussi sur toute sorte de supports qu’elle rencontre. Nous présupposons que la paranoïa ne peut pas être séparée de sa production littéraire et graphique, étant donné qu’elles sont liées entre elles. Ainsi, le traitement psychanalytique de cette patiente découle précisément de ce qui constitue sa paranoïa: sa production écrite et artistique. Pendant le développement de la situation analytique, sa production écrite est transformée par la lecture d’un autre en dehors d’elle-même et, dans cette niche, Lia réussit à construire une forme différente de subjectivation.

Production écrite; lecture; paranoïa; psychanalyse


This article consists of a psychoanalytic study on a paranoiac patient named Lia. She is a full-time artist as well as writer, and, in spinning her tales, she saw the line that separates fiction from reality evaporate as she wrote. Lia produces novels and poems, and paints on any medium she has at hand. We can suppose that her paranoia cannot be separated from her literary and graphic production, since they are so closely interwoven. Therefore, the psychoanalytic treatment with this patient was based specifically on that which constituted her paranoia, namely, her writings and artistic production. As the analytic situation evolved, her writing was transformed by the reading by another outside her. In this niche Lia was able to construct a different form of subjectivation.

Writing; reading; paranoia; psychoanalysis


Texto completo disponível apenas em PDF.

Referências

  • ALBERTI, S. (org.). Autismo e esquizofrenia na clínica da esquize Rio de Janeiro: Marca D’Água, 1999.
  • ANZIEU, D. O eu-pele São Paulo: Casa do Psicólogo, 1989.
  • ASSOUN, P.-L. O olhar e a voz Lições psicanalíticas sobre o olhar e a voz. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 1999.
  • BARTUCCI, G. (org.). Psicanálise, literatura e estéticas da subjetivação Rio de Janeiro: Imago, 2001.
  • BIRMAN, J. (org). Tausk e o aparelho de influenciar na psicose São Paulo: Escuta, 1990.
  • CABAS, A. G. A função do falo na loucura Campinas: Papirus, 1988.
  • DERRIDA, J. A escritura e a diferença São Paulo: Perspectiva, 1995.
  • DERRIDA, J. . A farmácia de Platão. São Paulo: Iluminuras, 1997.
  • DERRIDA, J. Mal de arquivo. Uma impressão freudiana. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 2001.
  • DERRIDA, J. & BERGSTEIN, L. Enlouquecer o subjétil Unesp, 1998.
  • FÉDIDA, P. Nome, figura e memória A linguagem na situação psicanalítica. São Paulo: Escuta, 1991.
  • FREUD, S. (1905). Fragmento da análise de um caso de histeria. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago. v. VII.
  • FREUD, S. (1907). Delírios e sonhos na Gradiva de Jensen. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1980. v. IX.
  • FREUD, S. (1911). Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranóia. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1980. v. XII.
  • FREUD, S. (1923). O ego e o id. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1980. v. XIX.
  • FREUD, S. (1924). Neurose e psicose. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1980. v. XIX.
  • FREUD, S. (1925). Uma nota sobre o “Bloco mágico”. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1980. v. XX.
  • FREUD, S. (1938). Achados, idéias, problemas. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1980. v. XXIII.
  • GREEN, A. Narcisismo de vida, narcisismo de morte São Paulo: Escuta, 1988.
  • LACAN, J. O seminário. Livro 3 As psicoses Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.
  • LACAN, J. Da psicose paranóica em suas relações com a personalidade. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1987. p. 175.
  • LECLAIRE, S. As palavras do psicótico. In: KATZ, Chaim S. (org.). Psicose, uma leitura psicanalítica São Paulo: Escuta, 1991.
  • MANGUEL, A. No bosque do espelho. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
  • MILNER, M. The Hands of the Living God: An Account of a Psychoanalytic Treatment. London: Hogarth, 1969.
  • SCHNITZLER, A. Meu amigo Ypsilon. In: Contos de amor e morte São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
  • SILVA, Jr. O lugar de ninguém: ausência e linguagem na situação analítica. Percurso, n. n. 31, v. 2 / n. 32, v. 1, 2003-2004.
  • WINNICOTT, D. W. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1979.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Apr-Jun 2006

Histórico

  • Recebido
    Maio 2005
  • Aceito
    Set 2005
Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental Av. Onze de Junho, 1070, conj. 804, 04041-004 São Paulo, SP - Brasil - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: secretaria.auppf@gmail.com