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Área de Nutrição na Capes

EDITORIAL EDITORIAL

Área de Nutrição na Capes

Egberto Gaspar de MouraI; João Pereira LeiteII

ICoordenador Pró-Tempore da área de Nutrição na Capes

IICoordenador da área de Medicina 2 na Capes, membro do CTC da Capes

Os pesquisadores que atuam no denominado campo da Alimentação e Nutrição, no Brasil têm muito a comemorar com a criação da nova área de Nutrição da Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (CAPES). Por outro lado, porém, os Programas de Pós-Graduação que constituirão a nova área têm pela frente uma grande responsabilidade em torná-la cada vez mais relevante cientificamente e cada vez mais comprometida com o desenvolvimento nacional e com a melhoria das condições de vida das pessoas. Esta, aliás, tem sido a tônica da pesquisa em Alimentação e Nutrição no País, desde os seus primórdios. Josué de Castro, já em 1932, com "As Condições de Vida das Classes Operárias no Recife", foi diretamente responsável pela formulação da chamada ração essencial mínima, estabelecida por intermédio do Decreto-Lei n° 399, de 30 de abril de 1938, e posterior regulamentação da lei do salário-mínimo, de 1º de maio de 1940, cujo custo foi baseado em seus estudos. Esse tipo de relevância e de atuação, em que as descobertas científicas mudam o mundo, é que deve pautar a nova área de Nutrição, baseada no exemplo estabelecido pelos fundadores do campo de Alimentação e Nutrição. Citam-se não só aqueles que já não estão entre nós, mas também aqueles que fundaram as Faculdades e Institutos de Nutrição e os Programas de Pós-Graduação na área, e que ainda continuam trabalhando ativamente, como Bertoldo Kruse, Malaquias Baptista Filho e Dirce Sigulem, entre tantos.

O que de fato convenceu o Conselho Superior da Capes na aprovação da nova área de Nutrição foi a maturidade de um conjunto de programas que estavam reunidos na área de Medicina II, já numa câmara específica de Nutrição. Esses programas, por sua especificidade, multi- e interdisciplinaridade, diferenciavam-se dos outros programas da área de Medicina II e não se enquadravam em nenhuma outra área da Capes. Cabe ressaltar que esse convencimento foi decorrente de um longo processo, que teve seu marco inicial no estabelecimento, em 2006, do primeiro Fórum de Coordenadores de Programas de Pós-Graduação em Nutrição, em Salvador. Seis anos e oito reuniões desse mesmo grupo foram necessários para a evolução do processo, analisando e estimulando a busca de qualificação dos Programas, com base nos critérios estabelecidos pela área de Medicina II, em contínuo intercâmbio com as comissões de avaliação desta área à época, com os Professores Julio Sérgio Marchini, Pedro Israel Cabral de Lira e Maria Teresa Olinto. Cabe destacar que, em 2009, com a aprovação do seu regimento, o grupo passou a denominar-se Fórum Nacional de Coordenadores de Programas de Pós-Graduação em Alimentação e Nutrição. Tudo isso fez ver, dentro da área de Medicina II, que a Nutrição já poderia almejar o status de uma nova área de avaliação, com sua dinâmica específica e no mesmo patamar elevado das outras áreas afins, em especial as três áreas médicas, a Saúde Coletiva e a Ciência e Tecnologia dos Alimentos, que pertence à área de Agrárias, bem como as áreas Biológicas. Assim, foi garantido o empenho do coordenador da área de Medicina II, Prof. João Pereira Leite, como interlocutor do Fórum na Diretoria de Avaliação da Capes.

O trabalho do Prof. João Pereira Leite, coordenador da Medicina II no triênio 2007-2009, no processo de convencimento da maturidade da nova área, dentro do Conselho Técnico Científico (CTC) da Capes, foi de fundamental importância, frente aos elevados critérios que têm pautado a avaliação da Medicina II. Uma apresentação ao CTC em 2009, realizada pelo Prof. Gilberto Kac como presidente do Fórum, resumiu as razões para a criação da área e atuou fortemente na decisão final do CTC, pelo encaminhamento da nova área. A situação foi facilitada pelo processo de criação de outras novas áreas, como a de Biodiversidade, que congregou subáreas de Biológicas I (Botânica, Oceanografia e Zoologia) com a já existente área de Ecologia, assim como a área de Ensino e a de Ciências Ambientais, proveniente da área Interdisciplinar. Em todas elas, o critério de racionalidade acadêmica e a maturidade do conjunto de Programas foi o denominador comum para a aprovação. É importante ressaltar que apenas a racionalidade acadêmica, como um campo específico de conhecimento, não permitiria a criação de uma nova área, se não fosse evidente o número de Programas e a sua expressividade em termos de produção científica e formação de alunos.

Convencidos o CTC e o Diretor de Avaliação da Capes, Prof. Lívio Amaral, este encaminhou a proposta de criação das novas áreas ao Presidente da Capes, Prof. Jorge de Almeida Guimarães, que levou a proposição ao Conselho Superior da Capes. Nunca é demais ressaltar o papel desempenhado pelos Profs. Jorge e Lívio, que acompanharam todo o processo e com seus questionamentos melhoraram em muito a proposta de criação da nova área, que acabou acontecendo no tempo certo de amadu-recimento.

Num primeiro momento e de forma usual, o Conselho Superior determinou a criação de um comitê para busca de coordenadores pro tempore para as novas áreas, os quais tivessem destacada produção científica na área e experiência no processo de avaliação. Foi escolhido o nome do Prof. Egberto Gaspar de Moura, em razão tanto de seu trabalho no campo da Nutrição Experimental, quanto de sua experiência de 9 anos nas comissões de avaliação da Capes,além de sua atuação, nos últimos 3 anos, como coordenador adjunto da área de Biológicas I, participando do processo de criação da nova área de Biodiversidade. Porém, principalmente contou o fato de ter ele acompanhado a maioria dos encontros do Fórum Nacional de Coordenadores de Programas de Pós-Graduação em Alimentação e Nutrição, desde o II Fórum de Recife. Assim, contribuiu para moldar a nova área de Nu-trição, trabalhando junto com tantos outros que atuaram no processo de convencimento dentro das comissões de avaliação de Medicina II, como os já citados Pedro Lyra, Júlio Marchini, Maria Teresa Olinto e, recentemente, o próprio Gilberto Kac, quando já não era mais Presidente do Fórum. A história detalhada do processo de discussão do Fórum e da criação da nova área de Nutrição poderá ser lida no artigo de Kac et al., neste mesmo número da Revista.

Nomeado o coordenador pro tempore em junho de 2011, compete a ele organizar a área, cujo núcleo principal são 18 Programas provenientes da Medicina II e que eram avaliados na câmara de Nutrição, exceto os Programas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e o da Univer-sidade Federal do Pernambuco (UFPE) de Vitória de Santo Antão, com projetos e linhas, em sua maioria, fora da área de Nutrição. Programas de outras áreas afins, tais como Saúde Coletiva e Ciência e Tecnologia dos Alimentos, também estão sendo consultados e poderão vir a ingressar na área de Nutrição. Nessa tarefa, o Prof. Egberto conta com uma comissão pro tempore, aprovada pela Presidência da Capes, cuja constituição se deve em primeiro lugar ao mérito científico de seus componentes, bem como à sua atuação nas diferentes áreas que constituem a Nutrição e, por fim, à sua distribuição regional. Uma tarefa já estabelecida pela nova comissão foi a definição inicial dos campos de saber que delimitam a nova área (classificação que pode sofrer modificações em função do aprofundamento da discussão), os quais são neste momento: (1) Nutrição Clinica; (2) Nutrição Experimental; (3) Alimentação e Nutrição em Saúde Coletiva; (4) Ciências Humanas e Sociais aplicadas à Alimentação e Nutrição; e (5) Ciência dos Alimentos aplicada à Saúde Humana. Em conformidade com esses critérios, cinco pesquisadores foram escolhidos: Profa. Egle Siqueira Masi Universidade de Brasília (UnB), Prof. Francisco de Assis Guedes de Vasconcelos Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Prof. Gilberto Kac Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Profa. Lilian Cuppari Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e Prof. Raul Manhães de Castro (UFPE). À comissão caberá a formulação dos documentos da área, inclusive a atribuição do Qualis às revistas em que os pesquisadores dos Programas publicarem no triênio e a avaliação dos diferentes editais da Capes para a área de Nutrição no período, assim como a avaliação de cursos novos (APCN).

Finalmente, os Programas de Pós-Graduação que constituem a nova área de Nutrição têm um grande desafio pela frente, seja a melhoria de sua qualidade, seja a busca de níveis de excelência ainda não alcançados, pois, embora tenha três Programas de nível 5, a área ainda não tem nenhum de nível 6 ou 7. Para atingir tais patamares, os Programas têm que atuar em conjunto, auxiliando-se e procurando incentivar o crescimento da área de forma ordenada, baseado sempre no mérito científico, mas com a preocupação de atingir as diferentes regiões do País, especialmente o Norte, ainda sem nenhum Programa de Nutrição. Outros desafios envolvem a maior internacionalização da área, com o enga-jamento dos alunos no Programa Ciência sem Fronteiras, por exemplo, ou ainda a formação de mestrados profissionais, que permitam a qualificação de pessoal para os diferentes ramos de atuação dos nutricionistas. Questão importante é também a constituição de Programa Interinstitucional, que permita a colegas altamente qualificados, que atuem no campo da Alimentação e Nutrição, mas que pertençam ao quadro de instituições ainda carentes de orientadores, a orientação na Pós-Graduação stricto sensu.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Mar 2012
  • Data do Fascículo
    Dez 2011
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