Acessibilidade / Reportar erro

Primeiro registro de Cololejeunea panamensis (Lejeuneaceae) para a América do Sul

First record of Cololejeunea panamensis G. Dauphin & Pócs (Lejeuneaceae) in South America

Resumos

Cololejeunea panamensis G. Dauphin & Pócs, descrita em 2006 foi referida como endêmica para a ilha de Barro Colorado no Panamá, América Central. Durante um estudo sobre a brioflora da ilha do Marajó, uma espécie de Cololejeunea mostrou-se diferente das espécies já registradas no Brasil, provando ser uma nova ocorrência para a América do Sul. O objetivo desse trabalho é divulgar a ocorrência dessa espécie em território brasileiro e ampliar o conhecimento sobre sua distribuição geográfica, morfologia e ecologia. O material estudado foi coletado na ilha do Marajó, município de Soure, estado do Pará, Brasil, no período de 10 a 16 de Janeiro de 2007. As amostras coletadas estão depositadas no Herbário do Museu Paraense Emílio Goeldi (MG). Foram coletadas um total de nove amostras contendo Cololejeunea panamensis, sendo esse o segundo registro já feito da espécie além do material tipo e o primeiro registro para a América do Sul. A espécie é descrita taxonomicamente, ilustrada e são feitos comentários sobre a distribuição geográfica, variação morfológica e habitat.

Marchantiophyta; hepáticas; briófitas; Ilha do Marajó; Amazônia


Cololejeunea panamensis G. Dauphin & Pócs was described in 2006 and cited as endemic to Barro Colorado Island in Panama, Central America. During a study on the bryophytes of Marajó Island, one of the Cololejeunea collected showed differences from the species recorded in Brazil, proving to be a new record for South America. The aim of this study is to report the occurrence of this species in Brazil and discuss its geographic distribution, morphology and ecology. The material studied was collected on Marajó Island, municipality of Soure, Para state, Brazil, from 10 to 16 January 2007. The collections are deposited in the herbarium of Museu Paraense Emílio Goeldi (MG). We sampled nine collections containing Cololejeunea panamensis. This is the second record for C. panamensis after the type collection and the first record in South America. The species is described taxonomically, illustrated and comments on geographic distribution, morphology and habitat are presented.

Marchantiophyta; liverworts; bryophytes; Marajó Island; Amazon


NOTA CIENTÍFICA

Primeiro registro de Cololejeunea panamensis (Lejeuneaceae) para a América do Sul

First record of Cololejeunea panamensis G. Dauphin & Pócs (Lejeuneaceae) in South America

Eliete da Silva Brito1 1 Autor para correspondência: eliete_briofita@hotmail.com ; Anna Luiza Ilkiu-Borges

Museu Paraense Emílio Goeldi, Av. Magalhães Barata 376, 66040-170, Belém, PA, Brasil

RESUMO

Cololejeunea panamensis G. Dauphin & Pócs, descrita em 2006 foi referida como endêmica para a ilha de Barro Colorado no Panamá, América Central. Durante um estudo sobre a brioflora da ilha do Marajó, uma espécie de Cololejeunea mostrou-se diferente das espécies já registradas no Brasil, provando ser uma nova ocorrência para a América do Sul. O objetivo desse trabalho é divulgar a ocorrência dessa espécie em território brasileiro e ampliar o conhecimento sobre sua distribuição geográfica, morfologia e ecologia. O material estudado foi coletado na ilha do Marajó, município de Soure, estado do Pará, Brasil, no período de 10 a 16 de Janeiro de 2007. As amostras coletadas estão depositadas no Herbário do Museu Paraense Emílio Goeldi (MG). Foram coletadas um total de nove amostras contendo Cololejeunea panamensis, sendo esse o segundo registro já feito da espécie além do material tipo e o primeiro registro para a América do Sul. A espécie é descrita taxonomicamente, ilustrada e são feitos comentários sobre a distribuição geográfica, variação morfológica e habitat.

Palavras-chave: Marchantiophyta, hepáticas, briófitas, Ilha do Marajó, Amazônia.

ABSTRACT

Cololejeunea panamensis G. Dauphin & Pócs was described in 2006 and cited as endemic to Barro Colorado Island in Panama, Central America. During a study on the bryophytes of Marajó Island, one of the Cololejeunea collected showed differences from the species recorded in Brazil, proving to be a new record for South America. The aim of this study is to report the occurrence of this species in Brazil and discuss its geographic distribution, morphology and ecology. The material studied was collected on Marajó Island, municipality of Soure, Para state, Brazil, from 10 to 16 January 2007. The collections are deposited in the herbarium of Museu Paraense Emílio Goeldi (MG). We sampled nine collections containing Cololejeunea panamensis. This is the second record for C. panamensis after the type collection and the first record in South America. The species is described taxonomically, illustrated and comments on geographic distribution, morphology and habitat are presented.

Key words: Marchantiophyta, liverworts, bryophytes, Marajó Island, Amazon.

Cololejeunea está entre os gêneros de Lejeuneaceae que predominam no Neotrópico, apresentando 62 espécies, incluindo aquelas anteriormente circunscritas sob Aphanolejeunea (=Cololejeunea) (Pócs & Bernecker 2009). Para o Brasil são citadas 21 espécies, das quais 17 ocorrem na Amazônia (Bastos 2012).

Pouco se conhece sobre esse gênero na ilha do Marajó, estado do Pará, para onde maioria dos trabalhos tratou somente do estudo dos musgos (Lisboa & Maciel 1994; Lisboa et al. 1998; Lisboa et al. 1999). Entretanto, durante um estudo realizado por Brito (2011) sobre a brioflora nos municípios de Cachoeira do Arari e Soure na ilha do Marajó, foram coletadas cinco espécies de Cololejeunea, dentre as quais uma mostrou-se diferente dos táxons já registrados no Brasil, provando ser uma nova ocorrência para a América do Sul. O objetivo desse trabalho é divulgar a ocorrência dessa espécie em território brasileiro e ampliar o conhecimento sobre sua distribuição geográfica, morfologia e ecologia.

A Ilha do Marajó, situada ao Norte do Brasil, pertence ao arquipélago do Marajó, maior complexo flúvio-marinho do mundo, o qual ocupa uma área de 49.606 km2 (Cruz 1987; Amaral et al. 2007). O material foi coletado durante excursões realizadas no período de 10 a 16 de janeiro de 2007, no município de Soure, ilha do Marajó, localizado a 0º43'40" S e 48º31'02" W, a 4 m de altitude do nível do mar .

Os exemplares foram coletados aleatoriamente, encontrados em vegetação de teso e vegetação secundária. O teso é um tipo de vegetação presente no Marajó que representa as áreas mais altas dos campos florestados, podendo ficar fora da zona de inundação (Amaral et al. 2007). Tanto o teso quanto a vegetação secundária caracterizam-se pela vegetação relativamente aberta e baixa (até 8 m de altitude), com alta incidência de luz. Os espécimes coletados foram preservados seguindo-se o método descrito por Lisboa (1993).

A espécie foi identificada com base em Dauphin et al. (2006). As amostras coletadas estão depositadas no Herbário do Museu Paraense Emílio Goeldi (MG) e uma duplicata foi enviada para o herbário do Eszterházy Föiskola, Eger, Hungria (ERG).

A seguir é apresentada uma breve descrição de C. panamensis com base no material coletado na ilha do Marajó.

Cololejeunea panamensisG. Dauphin & Pócs, Tropical Bryology 27: 76. f. 1-2. 2006. Tipo: PANAMÁ. Zona do Canal: Ilha de Barro Colorado: 9º09'N, 79º51'W, 20 m, 28. II. 2006, sobre árvore viva, G. Dauphin s. n. (holótipo PMA; isótipo EGR). Fig. 1


Gametófitos verde claros, diminutos, 247–300 µm de largura, filídios contíguos, agudo-ovalados, 175–180 × 125–145 µm, ápice terminando em 1–2 células hialinas, células sub-isodiamétrica, 15–25 µm de diâm., paredes finas a levemente espessadas, lóbulos ovalados a elipsoidais, 100–130 × 80–113 µm, 1/2 do comprimento do lobo, com 2 dentes obtusos de tamanhos geralmente iguais ou o primeiro dente pode apresentar-se menor que o segundo, papila hialina posicionada entre os dois dentes. Autóica, androécio terminal no ápice do caulídios, com 1–2 pares de brácteas, ginoécio em ramos laterais curtos, com brácteas quase simetricamente bilobadas, perianto 280–400 × 220–280 µm obcordado, com duas asas crenadas, curtamente rostrado.

Material examinado. BRASIL. PARÁ: Ilha do Marajó, Soure, Pedral, 11.I.2007, A.L. Ilkiu-Borges et al. 3051 (MG); A.L. Ilkiu-Borges et al. 3058 (MG); A.L. Ilkiu-Borges et al. 3059 (ERG, MG); R.C.P. Santos et al. 203 (MG); R.C.P. Santos et al. 204 (MG); A.L. Ilkiu-Borges et al. 3109 (MG); A.L. Ilkiu-Borges et al. 3127 (MG); A.L. Ilkiu-Borges et al. 3138 (MG); A.L. Ilkiu-Borges et al. 3164 (MG).

Espécie encontrada na ilha de Barro Colorado, no Panamá, e na ilha do Marajó, no Brasil. Primeira ocorrência para a América do Sul.

Após a descoberta de Cololejeunea panamensis na ilha do Marajó, a sua distribuição passa a ser disjunta, confirmando que muitos casos de endemismo de ilhas são na verdade resultado de pesquisas insuficientes em floras adjacentes (Tan & Pócs 2000). Além disso, devido a dispersão em grande escala, as briófitas se distribuem geralmente em mais de um continente (Schofield & Crum 1972).

Tanto na ilha de Barro Colorado, quanto na ilha do Marajó, Cololejeunea panamensis apresentou-se exclusivamente como corticícola. Dessa maneira, é possível sugerir que C. panamensis possa estar presente em ambientes semelhantes ao longo da costa norte da América do Sul até o Panamá.

A única diferença (considerada como variação morfológica de Cololejeunea panamensis) observada entre o espécime tipo e o material coletado na ilha do Marajó foram os dentes do lóbulo que variaram em tamanho, podendo o primeiro dente ser menor que o segundo. Cololejeunea panamensis é morfologicamente semelhante a C. ecuadoriensis Pócs, se distinguindo pela presença de 1–2 células hialinas no ápice do filídio, perianto bi-alado, lóbulos com dois dentes obtusos de tamanhos iguais compostos por 1(–2) células e separados por uma fenda estreita. Em C. ecuadoriensis, as células hialinas do ápice do filídio são filamentosas (3–8 células de comprimento), o perianto é 4–5 alado, e o lóbulo apresenta o primeiro dente formado por duas células e o segundo muito reduzido (Dauphin et al. 2006; Pócs 2002).

Agradecimentos

As autoras agradecem ao Prof. Dr. Tamás Pócs do Departamento de Botânica do Eszterházy Föiskola, Eger, Hungria, pela confirmação da espécie. Ao CNPq o apoio financeiro.

Artigo recebido em 24/06/2011.

Aceito para publicação em 13/03/2012.

  • Amaral, D.D.; Vieira, I.C.G.; Salomão, R.P.; Almeida, S.S.; Silva, J.B.F.; Costa Neto, S.V.; Santos, J.U.M.; Carreira, L.M.M. & Bastos, M.N.C. 2007. Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Anajás, Ilha do Marajó. Belém. Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém. 110p.
  • Bastos, C.J.P. 2012. Lejeuneaceae. In: Forzza, R.C. et al. (eds.). Lista de espécies da flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/2012/FB097436>. Acesso em 12 Mar 2012.
  • Brito, E.S. 2011. Riqueza e aspectos ecológicos das briófitas do município de Soure e Cachoeira do Arari, Ilha do Marajó, Pará, Brasil. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal Rural da Amazônia, Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém. 143p.
  • Cruz, M.E.M. 1987. Marajó: essa imensidão de ilhas. 1.ed. São Paulo. 111p.
  • Dauphin, G.; Pócs, T.; Villarreal, J.C. & Salazar Allen, N. 2006. Nuevos registros de hepáticas y anthocerotófitas para Panamá. Tropical Bryology 27: 73-85.
  • Lisboa, R.C.L. 1993. Musgos acrocárpicos do estado de Rondônia. Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém. 272p.
  • Lisboa, R.C.L. & Maciel, U.N. 1994. Musgos da Ilha de Marajó - I - Afuá. Boletim Museu Paraense Emílio Goeldi, Série Botânica 10: 43-55.
  • Lisboa, R.C.L.; Lima, M.J.L. & Maciel, U.N. 1999. Musgos da Ilha de Marajó - II - Anajás, Pará, Brasil. Acta Amazonica 29: 201-206.
  • Lisboa, R.C.L.; Muniz, A.C.M. & Maciel, U.N. 1998. Musgos da Ilha de Marajó - III - Chaves (Pará). Boletim Museu Paraense Emílio Goeldi, Série Botânica 14: 117-125.
  • Pócs, T. 2002. New or little known epiphyllous liverworts, IX. Two new Neotropical Cololejeunea species. Acta Botanica Hungarica 44: 371-382.
  • Pócs, T. & Bernecker, A. 2009. Overview of Aphanolejeunea (Jungermanniopsida) after 25 years. Botanical Journal 54: 1-11.
  • Schofield, W.B. & Crum, H.A. 1972. Disjunctions in bryophytes. Annals of the Missouri Botanical Garden 59: 174-202.
  • Tan, B.C. & Pócs, T. 2000. Bryogeography and conservation of bryophytes. In: Shaw A.J. & Goffinet B. (eds.). Bryophyte biology. Vol. 1. University Press Cambridge, Cambridge. Pp. 403-476.
  • 1
    Autor para correspondência:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      07 Mar 2013
    • Data do Fascículo
      Set 2012

    Histórico

    • Recebido
      24 Jun 2011
    • Aceito
      13 Mar 2012
    Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Rua Pacheco Leão, 915 - Jardim Botânico, 22460-030 Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Tel.: (55 21)3204-2148, Fax: (55 21) 3204-2071 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
    E-mail: rodriguesia@jbrj.gov.br