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Tradução para o português (Brasil), equivalência semântica e consistência interna do Male Body Checking Questionnaire (MBCQ)

Portuguese (Brazil) translation, semantic equivalence and internal consistency of the Male Body Checking Questionnaire (MBCQ)

CARTA AO EDITOR

Tradução para o português (Brasil), equivalência semântica e consistência interna do Male Body Checking Questionnaire (MBCQ)

Portuguese (Brazil) translation, semantic equivalence and internal consistency of the Male Body Checking Questionnaire (MBCQ)

Pedro Henrique Berbert de CarvalhoI; Maria Aparecida ContiII; Táki Athanássios CordásIII; Maria Elisa Caputo FerreiraIV

IUniversidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Laboratório de Estudos do Corpo (Labesc)

IIFaculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo (USP), Programa de Transtornos Alimentares (Ambulim) do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP)

IIIDepartamento de Psiquiatria, IPq-HCFMUSP, Ambulim

IVUSP, UFJF, Labesc

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Pedro Henrique Berbert de Carvalho Laboratório de Estudos do Corpo, Faculdade de Educação Física e Desportos Universidade Federal de Juiz de Fora Rua José Lourenço Kelmer, s/n, Campus Universitário 36036-900 - Juiz de Fora, MG, Brasil E-mail: pedro.berbert@gmail.com

Os transtornos alimentares (TA), como a anorexia e a bulimia nervosas, são síndromes comportamentais que se caracterizam pelo medo excessivo de engordar, a insatisfação com o peso e a forma corporais e uma vivência conturbada com o corpo1.

Como resposta a esse complexo quadro, o paciente apresenta rotineiramente comportamentos inadequados para o controle do peso e forma corporais1, como o de checagem. Ações constantes como aferições do peso, por meio do uso de espelhos e superfícies reflexivas, toque e "pinçamento" de dobras corporais, comparação do corpo com o de outros indivíduos, entre outros comportamentos de autoavaliação2,4, associam-se à evitação corporal - recusa em pesar-se, olhar seu corpo e comportamentos de ocultar partes dele2,3.

Embora, sugerindo cautela, visto que a avaliação isolada dos comportamentos de checagem não apresente validade diagnóstica, Mountford et al.4 ressaltam a importância clínica dessas condutas.

Pacientes com TA, costumeiramente, adotam a checagem corporal a fim de avaliar sua eficácia no controle de peso e, no caso de julgamento de seu fracasso, reforçando ainda mais suas medidas inadequadas, prejudicando a evolução do tratamento2,4. Nesse sentido, a criação e a adaptação transcultural de instrumentos para esse fim são importantes, visto auxiliarem no acompanhamento e monitoramento clínico5, bem como na pesquisa científica.

Recentemente, devido ao aumento na incidência de TA em homens, Hildebrandt et al.6 desenvolveram o Male Body Checking Questionnaire (MBCQ), para a avaliação e o acompanhamento dos comportamentos de checagem corporal. O MBCQ consta de 19 afirmações, de autopreenchimento, respondidas na forma de escala Likert de pontos (1 - nunca a 5 - muito frequentemente). O escore varia de 19 a 95 pontos. Quanto maior a pontuação, mais frequentes são os comportamentos relacionados à checagem corporal6. O estudo original6 comprovou quatro fatores que responderam por 66,91% da variância total, sendo esses: (1) Checagem Muscular Global (CMG); (2) Checagem de Peito e Ombro (CPO); (3) Outros - Checagem Comparativa (OCC); e (4) Checagem Corporal (CC). A consistência interna correspondeu a 0,86, 0,85, 0,83 e 0,72, respectivamente6. Apresentou igualmente boa validade concorrente (correlação significativa - p < 0,01) com sintomas de perfeccionismo, com TA, com dismorfia muscular6. Comprovou sua validade discriminante e estabilidade durante duas semanas de avaliação (r = 0,84), estando assim indicado para avaliar a checagem corporal de homens norte-americanos6.

No Brasil, contamos com as validações do Body Checking Cognitions Scale (BCCS)7 e Body Checking and Avoidance Questionnaire (BCAQ)8, para amostras femininas, não existindo, portanto, escalas correspondentes para os homens. Assim, este estudo tem como objetivo traduzir e analisar a equivalência semântica e a consistência interna do MBCQ6.

Foi solicitada inicialmente a autorização do autor para a tradução e a adaptação do questionário, e seguidas as etapas metodológicas específicas de adaptação transcultural sugeridas por Beaton et al.9 e aplicadas por Kachani et al.7. Foram realizadas as traduções do instrumento da língua inglesa para o português do Brasil e, em reunião, elaborada uma síntese de tradução. Posteriormente, o instrumento foi retrotraduzido para a língua inglesa. Todas as versões foram reunidas e foi realizada análise da equivalência semântica com os peritos, constituído por dois tradutores, dois retrotradutores e especialistas em processos de adaptação transcultural de escalas, sendo elaborada uma nova versão do instrumento. Um pré-teste foi realizado com o intuito de avaliar a clareza e o grau de compreensão verbal do instrumento por especialistas no atendimento a pacientes com TA (n = 16) e estudantes adultos do sexo masculino (n = 32) com média de idade de 21,1 anos (dp: 2,6 anos). O instrumento foi apresentado na forma Likert de pontos, por meio de uma escala verbal-numérica adaptada10 (0 - não entendi nada a 5 - entendi perfeitamente e não tenho dúvidas), em que foi perguntado: "Quanto você compreendeu do que foi perguntado em cada questão?".

O instrumento passou por modificações e uma nova versão (Versão final - Anexo 1 Anexo 1 ) foi elaborada. A etapa final constou de sua aplicação em amostra de estudantes do sexo masculino (n = 62), com idade média de 20,6 anos (dp: 4,7 anos), para a realização da análise de consistência interna.

Todos os cuidados éticos foram tomados, com a participação voluntária dos sujeitos, a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e a aprovação pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal de Juiz de Fora - protocolo nº 2193.253.2010 (parecer nº 276/2010).

O instrumento foi considerado de fácil tradução, passou por modificações com o intuito de facilitar sua compreensão e assim sofreu alterações de tempo, conjugação e expressões verbais, como também em relação a algumas palavras.

Duas questões merecem destaque por apresentarem significativas alterações em sua construção. Para a questão 3, foram sugeridas as alterações das palavras flexiono, bíceps e simetria, com a inversão da ordem das expressões, dando ênfase à checagem corporal. Já a questão 17 não captava a intenção do indivíduo em checar sua musculatura "escondida", inserindo-se, assim, os termos "aperto" e "escondido" na construção da frase.

Optou-se pela manutenção da sigla do instrumento original, entretanto se alterou a forma de apresentação da escala seguindo modelo do BCCS7, em forma de tabela, na qual cada linha representa um item do questionário e cada coluna representa uma opção de resposta.

As avaliações dos especialistas e estudantes confirmaram a boa compreensão verbal do instrumento (média e desvio-padrão): 4,68 (0,29) e 4,59 (0,39), respectivamente. A consistência interna foi satisfatória (alfa de Cronbach: 0,96) e, para os fatores: 1 (CMG - itens: 1, 2, 3, 4, 5, 14 e 15), 2 (CPO - itens: 11, 12 e 13), 3 (OCC - itens: 6, 7, 8 e 9) e 4 (CC - itens: 10, 16, 17, 18 e 19), os valores corresponderam a 0,92, 0,85, 0,83 e 0,90, respectivamente, similares aos do instrumento original6.

O presente estudo comprometeu-se em descrever o processo de tradução, equivalência semântica e análise da consistência interna do MBCQ brasileiro. Vale ressaltar a necessidade de futuras análises que possam mensurar outras equivalências, a fim de verificar sua validade externa e reprodutibilidade9. Somente assim este instrumento poderá ser utilizado como uma ferramenta útil tanto na área clínica como em estudos epidemiológicos.

Recebido: 13/9/2011

Aceito: 31/10/2011

Anexo 1

Anexo 1 - Clique para ampliar Anexo 1

  • 1
    American Psychiatric Association [DSM-IV]. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 4a ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 1995.
  • 2. Grilo CM, Reas DL, Brody ML, Burke-Martindale CH, Rothschild BS, Masheb RM. Body checking and avoidance and the core features of eating disorders among obese men and women seeking bariatric surgery. Behav Res Ther. 2005;43(5):629-37.
  • 3. Reas DL, Grilo CM, Masheb RM, Wilson GT. Body checking and avoidance in overweight patients with binge eating disorder. Int J Eat Disord. 2005;37(4):342-6.
  • 4. Mountford V, Haase A, Waller G. Is body checking in the eating disorders more closely related to diagnosis or to symptoms presentation? Behav Res Ther. 2007;45(11):2704-11.
  • 5. Bowden A, Fox-Rushby JA. A systematic and critical review of the process of translation and adaptation of generic health-related quality of life measures in Africa, Asia, Eastern Europe, the Middle East, South America. Soc Sci Med. 2003;57(7):1289-306.
  • 6. Hildebrandt T, Walker DC, Alfano L, Delinsky L, Bannon K. Development and validation of a male specific body checking questionnaire. Int J Eat Disord. 2010;43(1):77-87.
  • 7. Kachani AT, Barbosa ALR, Brasiliano S, Cordás TA, Hochgraf PB, Conti MA. Tradução, adaptação transcultural para o português (Brasil) e validação de conteúdo da Body Checking Cognitions Scale (BCCS). Rev Psiq Clín. 2011;38(1):13-8.
  • 8. Kachani AT, Hochgraf PB, Brasiliano S, Barbosa ALR, Cordás TA, Conti MA. Psychometric evaluation of the "Body Checking and Avoidance Questionnaire - BCAQ" - adapted to Brazilian Portuguese. Eat Weight Disord. (No prelo)
  • 9. Beaton DE, Bombardier C, Guillemin F, Ferraz MB. Guidelines for the process of cross-cultural adaptation of self-report measures. Spine. 2000;25(24):3186-91.
  • 10. Amaral ACS, Cordás TA, Conti MA, Ferreira MEC. Equivalência semântica e avaliação da consistência interna da versão em português do Sociocultural Attitudes Towards Appearance Questionnaire-3 (SATAQ-3). Cad Saude Publica. 2011;27(8):1487-97.

Anexo 1

  • Endereço para correspondência:

    Pedro Henrique Berbert de Carvalho
    Laboratório de Estudos do Corpo, Faculdade de Educação Física e Desportos
    Universidade Federal de Juiz de Fora
    Rua José Lourenço Kelmer, s/n, Campus Universitário
    36036-900 - Juiz de Fora, MG, Brasil
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      09 Maio 2012
    • Data do Fascículo
      2012
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