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Por que publicar a pesquisa qualitativa em psicoterapia e psicanálise?

EDITORIAL

Por que publicar a pesquisa qualitativa em psicoterapia e psicanálise?

Caro leitor,

Com este editorial, encerro oficialmente minha participação como um dos editores da revista nesses últimos quatro anos. Ao me despedir, pretendia fazer um balanço retrospectivo de nossas realizações; entretanto, vou me ater apenas a dois aspectos.

Primeiramente, gostaria de deixar esta singela mensagem de incentivo para que todos os colegas que se dedicam ao estudo da psicoterapia e da psicanálise produzam e continuem a difundir o conhecimento científico através da Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul.

Dificilmente, hoje, vamos encontrar algum cientista que acredite no distanciamento absolutamente neutro entre o pesquisador e seu objeto de pesquisa e que também acredite num método único para se adquirir conhecimento. Inúmeras são as dificuldades para fazer pesquisa e publicá-la. O que se observa é a tendência de que cada disciplina busque seus próprios métodos de aquisição de dados e verificação de resultados, assim como o fazem a psiquiatria clínica e a neurociência. Nesse sentido, a psicoterapia e a psicanálise (aqui incluída como uma psicoterapia) devem achar e/ou definir sua própria metodologia de pesquisa, e não tentar simplesmente adaptar-se a métodos extraídos de outras ciências. Um exemplo freqüente dessa prática é a tentativa frustrada de aplicação de instrumentos de pesquisa standard, que são utilizados de forma fria e concreta, numa tentativa de investigar, com metodologia quantitativa, temas que, por sua natureza subjetiva, talvez sejam melhor adaptados à metodologia qualitativa.

Isso posto, podemos nos perguntar: é possível pesquisar, objetivamente, um inconsciente, que só se dá a conhecer através da experiência subjetiva e, ao mesmo tempo, privada, como ocorre na relação terapêutica? Além do mais, o rigorismo científico pode soar muito limitante, na medida em que as conclusões de uma pesquisa sempre tendem a ser modestas, contrastando com a riqueza descritiva, quase literária, dos relatos clínicos a que estamos acostumados. Nesse sentido, como diz Fonagy, psicanalista e pesquisador, o fato empírico soa enfadonho diante de nossas narrativas clínicas tão evocativas.

Embora as pesquisas atuais ainda mantenham, muitas delas, critérios próprios de medida de tendências para resultado e processo psicanalíticos e psicoterápicos, a troca de informações cresceu muito, com grupos trabalhando na América - do Sul e do Norte - e também na Europa - principalmente na Alemanha e Inglaterra -, engajados no estudo microscópico da interação momento a momento do processo intersubjetivo de interação na psicoterapia e na psicanálise, em cada sessão ou em pequenos segmentos de sessão.

Portanto, vejo como de grande utilidade científica a aplicação prática da metodologia qualitativa, que, através da análise de conteúdo, pode ser utilizada na pesquisa conceitual, empírica e clínica, e, conseqüentemente, observar tendências, servindo de base para futuras investigações e para a transmissão de conhecimento. Mais recentemente, pesquisadores de diversas origens, inclusive do nosso meio, utilizando a metodologia qualitativa, vêm conquistando espaço nos principais periódicos internacionais, publicando os resultados de pesquisas produzidas nos meios acadêmicos ou fora deles, o que deve servir de estímulo para os demais pesquisadores em psicoterapia e psicanálise submeterem seus trabalhos e pesquisas para publicação na Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul.

Em segundo lugar, mas não menos importante, quero registrar que minha passagem pelo honroso e desafiador cargo de editor da Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, que dividi juntamente com César Brito e Flávio Shansis durante as duas últimas gestões, encerra-se com o sentimento do dever cumprido da melhor forma possível. Assim como os colegas editores e conselheiros que nos antecederam, é também meu desejo e convicção que aqueles que me sucederem o farão com maior dedicação, obtendo pleno êxito nessa tarefa de encaminhar os novos rumos da nossa revista. Nada do que fizemos teria sido possível se não houvesse essa continuidade e objetivos comuns que nos unem como psiquiatras na tarefa de construir uma revista cada vez melhor, moderna e de elevado nível científico, hoje reconhecida nos meios nacionais e internacionais. Durante esses anos, tive a oportunidade de trabalhar com o inestimável incentivo e a colaboração das diretorias da SPRS, capitaneadas, respectivamente, pelos Presidentes Jair Escobar e Alfredo Cataldo Neto, com a incansável secretária Sandra, com a competência da Denise da Scientific, colegas editores, diversos autores de trabalhos, membros dos conselhos, incansáveis colaboradores de primeira ordem, sem os quais nossas metas e realizações não teriam sido alcançadas.

Muito obrigado especialmente ao nosso dedicado conselho editorial, composto pelos colegas: Antônio Marques da Rosa, Anna Kauffmann, Gustavo Schestatsky, Júlio Chachamovich, Letícia Kipper, Maria Angélica Nunes, Maria da Graça Motta e Suzana Fortes.

Boa leitura e até breve.

Jacó Zaslavsky

Editor

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Out 2006
  • Data do Fascículo
    Dez 2005
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