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Marcos definidores da condição juvenil para católicos e pentecostais na baixada fluminense - algumas proposições a partir de um survey

Resumos

Resumo: O artigo analisa dados parciais de um survey com jovens católicos em paróquias e jovens pentecostais em Igrejas da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro. A pesquisa mais ampla discutiu ainda representações da política e noções de desenvolvimento. A proposta do presente artigo é apresentar elementos que favoreçam o delineamento do perfil de jovens religiosos; a compreensão sobre formas de construção da identidade juvenil e, ainda, alguns aspectos comportamentais, tais como sexualidade e drogas. Os resultados indicam aproximações e diferenças desses jovens em relação aos dois segmentos analisados e quando comparados a jovens metropolitanos em geral.

jovens católicos; pentecostais; Baixada Fluminense; perfis; identidades


Abstract: The article analyzes partial data from a survey made with young Catholics in parishes and young people Pentecostal Churches in the Baixada Fluminense in Rio de Janeiro. The survey also discussed representation of politics and notions of development. The purpose of this article is to introduce elements that favor the outline of the profile of religious youth; provide understanding on ways of identity construction and even youth behavioral aspects such as sexuality and drugs. The results indicate similarities and differences of these young people in the two segments analyzed, and when compared to metropolitan youth in general.

Young Catholics; Pentecostals; Baixada Fluminense; profiles; identities


Marcos definidores da condição juvenil para católicos e pentecostais na baixada fluminense – algumas proposições a partir de um survey

Silvia Regina Alves Fernandes

RESUMO

Resumo: O artigo analisa dados parciais de um survey com jovens católicos em paróquias e jovens pentecostais em Igrejas da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro. A pesquisa mais ampla discutiu ainda representações da política e noções de desenvolvimento. A proposta do presente artigo é apresentar elementos que favoreçam o delineamento do perfil de jovens religiosos; a compreensão sobre formas de construção da identidade juvenil e, ainda, alguns aspectos comportamentais, tais como sexualidade e drogas. Os resultados indicam aproximações e diferenças desses jovens em relação aos dois segmentos analisados e quando comparados a jovens metropolitanos em geral.

Palavras-chave: jovens católicos, pentecostais, Baixada Fluminense, perfis, identidades.

ABSTRACT

Abstract: The article analyzes partial data from a survey made with young Catholics in parishes and young people Pentecostal Churches in the Baixada Fluminense in Rio de Janeiro. The survey also discussed representation of politics and notions of development. The purpose of this article is to introduce elements that favor the outline of the profile of religious youth; provide understanding on ways of identity construction and even youth behavioral aspects such as sexuality and drugs. The results indicate similarities and differences of these young people in the two segments analyzed, and when compared to metropolitan youth in general.

Keywords: Young Catholics, Pentecostals, Baixada Fluminense, profiles, identities.

Introdução

Este texto explora parte dos dados de uma pesquisa mais ampla desenvolvida na Baixada Fluminense – Rio de Janeiro1 1 Projeto de pesquisa desenvolvido com apoio da FAPERJ por meio dos fomentos: Auxílio à Pesquisa e Auxílio Instalação. Agradeço aos alunos: Bruna Grasiela Carvalho (IC/FAPERJ), Geziel Sousa (IC/FAPERJ), Juliana Oliveira, Natasha Soares, Jessica Sarubi, Camila Silva, Thiago Tintureiro e Bruno Jaccoud pela coleta e digitação dos dados. Agradeço a Marcelo Pitta pela amostragem e tratamento estatístico. que objetivou analisar a relação entre juventude, religião e política. O estudo foi realizado com jovens de 15 a 24 anos2 2 No espaço deste trabalho não é possível explorar satisfatoriamente a categoria juventude. O debate gira em torno da imprecisão do conceito, que não deve estar atrelado apenas à dimensão etária. Nesse sentido, o presente artigo parte de uma classificação etária padronizada pela ONU e avança na tentativa de conceituação com base nos valores e comportamentos definidores da condição juvenil contemporizando-os com pesquisas de Novaes e Velho acima referenciadas. Para uma discussão sobre o conceito, ver Fernandes 2010. que participavam de paróquias católicas e Igrejas pentecostais nos anos de 2007 e 2008. Uma parte dos dados foi discutida em outro lugar (Fernandes 2009), onde foram apresentadas as crenças e pertenças dos jovens investigados, além de algumas representações sociopolíticas. Foram entrevistados quinhentos e quarenta e dois jovens evangélicos e cento e cinquenta e oito jovens católicos. Essa aparente desproporção é um dado da pesquisa, pois a unidade de seleção foi o templo católico ou pentecostal3 3 Para o desenho amostral foi utilizado o cadastro das Igrejas evangélicas de corte pentecostal fornecido pela Tele Listas, tendo em vista que a informação das prefeituras era absolutamente incipiente. As paróquias católicas foram amostradas a partir do anuário católico. A pesquisa foi desenvolvida nas Igrejas dos municípios de Nova Iguaçu, São João de Meriti e Duque de Caxias. Optou-se por uma amostra de aproximadamente 1/3 dos templos por município e por religião. A situação quantitativa dos templos pentecostais, com telefone, em outubro de 2007, foi a seguinte: 62 em Duque de Caxias; 128 em Nova Iguaçu e 40 em São João de Meriti. Os números para as paróquias católicas no ano da coleta foram: 23 em Nova Iguaçu, 13 em Duque de Caxias e 8 em São João de Meriti. , mas havia sempre menor número de jovens nas paróquias católicas em atividades ordinárias do que nas Igrejas pentecostais.

Dentre os entrevistados 43,3% eram homens, 50,6% mulheres e 6,2% não responderam à questão relativa ao sexo. No universo católico, as moças correspondem a 49,8%; os rapazes totalizam 45,8% e 4,4% não responderam a respeito. Entre os pentecostais informantes, 50,7% eram moças e 42,7%, rapazes; 6,6% não informaram o sexo. Percebe-se, portanto, que há maior proporção de moças do que rapazes nas Igrejas, fato que confirma outras pesquisas (Mariz e Machado 2000).

A classe social predominante para o conjunto de entrevistados é a C1, que corresponde a uma renda familiar de R$ 1.318,004 4 Confira os critérios da ABEP para classe social de acordo com a renda. Disponível em: http://www.abep.org/codigosguias/CCEB2008-Base2006e2007.pdf . Acesso em 02/04/. 2009. . Entretanto, surpreende que no segmento pentecostal exista maior proporção de jovens na classe A2, que corresponde a famílias com renda de R$ 7.557,00. Nas classes A1 e B1, que reúnem os grupos com maior renda, os católicos estão em situação mais favorecida do que os pentecostais, mas é importante não negligenciar que os pentecostais se destacam nas classes A2, como vimos, e B2, que indicam faixa de renda igualmente alta em relação à maioria da população.

Quanto ao município de residência, há maior número de informantes nas Igrejas dos municípios de Nova Iguaçu, seguidos de Duque de Caxias e São João de Meriti. Esses índices estão em consonância com a amostra dos templos nestes municípios, uma vez que, do ponto de vista quantitativo, eles se apresentaram, à época da coleta de dados, nessa mesma ordem5 5 Confira a nota 3. . Assim, entre os católicos temos a seguinte distribuição: 50,2% residem em Nova Iguaçu; 24,7% residem em Duque de Caxias, 21,8% em São João de Meriti; 1,9% dos católicos, embora tenham sido entrevistados em templos dos municípios supracitados, residiam em outro município da Baixada Fluminense. Por fim, 1,3% residiam em outro município fora da Baixada Fluminense, mas foram encontrados nos templos dos municípios pertencentes à amostra.

Entre os pentecostais a distribuição segue a mesma tendência: 45,3% dos jovens residem em Nova Iguaçu, 29,1%, em Duque de Caxias e 15,2% residem em São João de Meriti. Morando em municípios da Baixada Fluminense que não os da amostra encontramos 8,7% dos entrevistados. Residindo em município fora da região e frequentando templos na Baixada Fluminense encontramos 1,4%. Um jovem nesse grupo não informou o município de residência.

Esses dados mostram que a territorialidade ainda é um elemento importante para o acesso aos templos e ofertas religiosas. Um jovem pode morar em um município e frequentar uma Igreja pertencente a outro, distante de seu local de moradia, mas tal ocorrência ainda é baixa. Convites de amigos, identificação com o templo ou até mesmo simpatia pelo líder religioso podem ser fatores de atração e adesão dos jovens a determinada Igreja.

Os jovens pentecostais apresentaram maior nível de escolaridade do que os jovens católicos. Embora nos diversos níveis de escolaridade eles estejam em situação equivalente, quanto ao nível superior completo há 2,5% de jovens pentecostais e apenas 0,6% dos católicos entrevistados. Quando analisados os índices de jovens que estão cursando o nível superior, encontramos 12,8% de católicos e 14,8% de pentecostais. A informação é interessante por sugerir que o ascetismo pentecostal e neopentecostal pode promover uma disciplina que catalisa a busca pelos estudos e formação. Um dos pastores entrevistados, pertencente à Igreja Assembleia de Deus, ressaltou a importância dos estudos e o estímulo que oferece em sua Igreja para que os jovens adquiram formação por meio do ingresso nas universidades.

Vale destacar que a maioria dos jovens informantes em ambos os grupos (católicos e pentecostais) está cursando o ensino médio, situação escolar própria da faixa etária predominante entre eles: 15 a 17 anos. Além disso, os católicos entrevistados possuem menor faixa etária.

Ao analisarmos o grau de instrução dos chefes de família, encontramos outro dado importante. Os responsáveis pelos jovens pentecostais possuem maior escolaridade que os dos jovens católicos. Assim, enquanto, no primeiro grupo, 10,1% dos chefes de família concluíram o nível superior, entre os católicos 8,4% dos chefes de família lograram essa escolaridade. Estaria o pentecostalismo favorecendo o acesso aos estudos e promovendo mobilidade geracional por meio da escolarização?

Regina Novaes (2006), ao analisar dados de pesquisas,6 6 Regina cita a pesquisa de Marcio Pochmann aqui também indicada na bibliografia de referência. comenta que na atualidade a ausência de mobilidade social está no centro da questão juvenil. Assim, não obstante os jovens atuais terem alcançado maiores níveis de escolarização quando comparados à geração de seus pais, esse fato por si só não lhes tem garantido maior inserção no mercado de trabalho. A precariedade dos serviços oferecidos ao segmento juvenil, sobretudo aos jovens de camadas populares, estabelece uma fórmula ineficaz entre estudo e trabalho. Na análise de Regina, isso significa dizer que, a despeito de um jovem alcançar maiores níveis de escolaridade, não lhe é assegurada uma inserção de qualidade no mercado de trabalho, tendo em vista que há uma produção de serviços que exigem baixa qualificação e que ocasionam um empobrecimento do trabalho.

A presente pesquisa confirmou que o trabalho e a inserção laboral são temas que afligem também a juventude das Igrejas. Muitos jovens não compareciam aos grupos focais nos fins de semana porque estavam trabalhando ou se preparando em cursinhos diversos (pré-vestibular, informática etc.), buscando aprimorar a formação de maneira a alcançar melhores condições de vida no futuro. Veremos um pouco mais à frente quais são as expectativas dos jovens sobre seu futuro e sua vida nos próximos cinco anos.

Em ambos os grupos, a maior parte dos jovens não trabalha,7 7 O questionário apresentou oito opções de resposta para a situação atual do jovem em relação ao trabalho. Diferenciamos o desempregado daquele que não trabalha por questões etárias. Essa instrução era dada ao informante no ato do preenchimento. sendo 48,4% entre os católicos e 36,8% entre os pentecostais. No conjunto de jovens pentecostais, encontramos a maior taxa de desemprego (15,1%), já que entre os católicos 11,3% declararam-se desempregados, indicando uma diferença de quase 4% dos católicos em relação aos pentecostais. Não obstante, os jovens pentecostais parecem estar em situação de menor precariedade na inserção laboral, já que 20,6% trabalham com carteira assinada, ao passo que, entre os católicos, a proporção cai para 17,1%. Por outro lado, os jovens pentecostais empregados sem registro em carteira totalizam 11,9%, enquanto os católicos nessa condição compreendem 9,5% dos entrevistados. O corte por idade apresentou uma maior proporção de jovens empregados com carteira assinada na faixa dos 18 aos 24 anos em ambos os segmentos, mas entre os pentecostais permanece a maior proporção (61,4%) em relação aos católicos (52,5%). Na faixa dos 15 aos 17 anos está concentrada a maior proporção de jovens que não trabalham em ambos os segmentos religiosos, atingindo uma média de 71%.

Esses dados sinalizam a maior circulação no mundo do trabalho por parte dos jovens pentecostais. São também eles os mais engajados em trabalhos por conta própria (5,4%), uma vez que apenas 1,9% dos católicos estão nessa condição laboral. Alguns jovens em ambos os grupos também declararam realizar estágios remunerados ou sem remuneração. Nessas modalidades de atividade profissional, os entrevistados das duas correntes religiosas se equivalem, representando 5,6% os que fazem estágio remunerado e cerca de 3% os estagiários sem remuneração.

No que se refere ao estado civil de nossos informantes, provavelmente em razão da baixa faixa etária, a grande maioria em ambas as correntes religiosas é solteira; 96,2% de católicos e 93,5% de pentecostais. Há, portanto, um número maior de jovens pentecostais casados no civil e no religioso.

A maior parte dos jovens entrevistados nos templos pentecostais e neopentecostais se declaram pentecostais, mas foram encontrados nessas Igrejas, em proporções mínimas, jovens do protestantismo histórico e católicos não-praticantes. Desse modo, confirma-se que havia baixa circulação de católicos em Igrejas evangélicas da Baixada por ocasião da pesquisa. No caso das paróquias católicas, não foram encontrados jovens pentecostais. Ressalte-se que a identidade religiosa de pentecostais e católicos se expressa em proporções semelhantes, sendo que os católicos, nas várias modalidades, apresentam pequeno destaque (93,5%) em relação aos pentecostais (91,1%), quando comparamos as declarações de pertença (Fernandes 2009).

Embora os jovens tenham sido entrevistados dentro das Igrejas, o que poderia sugerir alta assiduidade, a periodicidade das visitas ao templo é mais intensa entre os pentecostais do que entre os católicos, fato que corrobora os dados de outras pesquisas (Fernandes 2006), feitas com população adulta.

O debate sobre a religiosidade contemporânea sugere que as representações de Deus têm se modificado seguindo uma tendência de relativização da conceituação cristã. Embora esse tema historicamente tenha sido fonte de interesse filosófico e teológico, à sociologia importa analisar a ocorrência de continuidades ou reformulações da figura de Deus no sentido de observar se a perspectiva cristã permanece na visão de mundo das novas gerações. Ademais, o ato de ressignificar a conceito de Deus pode trazer em seu bojo a prévia ressignificação da experiência religiosa, da relação com o religioso e com as instituições. Assim, buscamos compreender as percepções juvenis sobre o tema em referência. Entre os jovens religiosos de ambos os segmentos, a visão predominante é a informada pela tradição cristã na qual Deus é visto como pai que ama e se preocupa com cada homem/mulher. Tal visão é compartilhada por 76,6% dos católicos e 88,4% dos pentecostais. A segunda opção mais representativa é a afirmação de Deus como amor, totalizando 75,2% dos católicos e 76,0% dos pentecostais8 8 A questão permitia múltiplas respostas. . Destaque-se o fato de que quatro jovens católicos e nove pentecostais declararam não acreditar em Deus, embora estivessem presentes às Igrejas nos momentos de atividades religiosas, o que pode confirmar a ideia de que essas instituições funcionam também como espaços de encontro e não exclusivamente de expressão religiosa. Poucos entrevistados acreditam que Deus seja energia cósmica, ainda que entre os católicos essa representação seja mais presente. A diferença de cosmovisões na comparação dos grupos fica mais explícita quando se observa a representação de Deus como natureza. Enquanto entre os católicos 27,9% acreditam que Deus possa ser concebido como a natureza, entre os pentecostais o índice é de apenas 8,8%.

Estudos do início da atual década correlacionaram religião e transferência intergeracional no Rio de Janeiro (Decol 2001), constatando menor número de católicos no interior de cada coorte populacional. Tal dado traria como consequência um menor número de crianças recebendo a influência religiosa de seus pais. A partir do censo do ano 2000, muitos estudos têm discutido a questão da herança religiosa, como forma de averiguar a existência de transmissão religiosa intergeracional, ou seja, a transferência da religião de uma geração a outra, de pais para os filhos.

Buscamos aqui observar a tendência acima descrita ao investigar a religião dos progenitores desses jovens. Em tempos de perda de influência da família na formação das novas gerações a religião seria um elemento que ainda permanece? Uma pesquisa feita com jovens mineiros do ensino médio (Tavares e Camurça 2006) mostrou que a família ainda exerce forte capacidade de transmissão da religião. Assim, os filhos tenderiam majoritariamente a seguir a religião de seus pais. Os autores defendem que, no catolicismo, essa tendência de reprodução seria ainda maior do que no universo protestante e que os pais católicos tendem a exercer forte influência na escolha da religião dos filhos. Regina Novaes pondera esse poder paterno e acredita que no contexto atual os jovens têm feito suas escolhas em um campo religioso "mais plural e competitivo" (2005:268).

Com efeito, a existência de uma correlação direta entre a religião dos pais e a escolha religiosa dos jovens pode não ser tão facilmente mensurável. Entre jovens estudantes da PUC - Rio, por exemplo, apenas 10% dos entrevistados compreendem que suas crenças foram herdadas de seus pais (Fernandes et. al. 2010). A questão da representação sobre as escolhas está claramente colocada em evidência nesse caso, pois, também no que se refere às influências recebidas para a escolha do curso universitário, a família é indicada como terceira alternativa para os entrevistados. Assim, em primeiro lugar consideram que escolheram o curso por motivos pessoais; em segundo lugar, em função das demandas do mercado de trabalho e, em último lugar, por conta da família.

A afirmação de uma identidade geracional em contraposição aos pais foi observada por Velho (2006) em jovens que frequentam a praia do posto nove, no Rio de Janeiro. O autor analisa que, não obstante o fato de serem originários de famílias católicas, a frequência a terreiros de umbanda e candomblé na periferia do Rio é comum no grupo, denotando claro afastamento da adesão religiosa dos progenitores.

Por outro lado, um estudo feito por Novaes e Mello (2002) com jovens da cidade do Rio de Janeiro mostrou que, para 58,1% dos entrevistados, a família foi determinante na escolha de sua religião. Portanto, continuidades e rupturas na relação entre família, religião e juventude ainda merecem ser investigadas, quem sabe agregando-se outras variáveis.

A pesquisa demonstrou que 45% dos jovens católicos possuem o pai praticando a religião, seja por meio das CEBs (9,1%); do movimento de Renovação Carismática (5,1%); de pastorais diversas (28,8%) ou que se consideram simplesmente praticantes sem informar o tipo de vínculo com a Igreja (2,0%). O percentual de jovens católicos cujo pai é católico não-praticante é de 33,6%. Assim, totalizam 78,6% os jovens católicos com pai católico, o que revela a existência de um continuum na religião sob o ponto de vista geracional. Quando olhamos o lado materno, essa continuação se intensifica. 64,2% dos jovens católicos têm mãe praticando o catolicismo por meio de diferentes grupos: 10,2% nas CEBs; 7,2% na RCC; 40,9% possuem mãe católica que atua em diversas pastorais e 5,7% têm mãe católica praticante sem que tenha sido informado o tipo de vínculo ou grupo religioso na Igreja. Os jovens com mãe católica não-praticante totalizam 26,5%. Portanto, há 90,7% de jovens católicos que herdaram o catolicismo da mãe.

Não há dúvida de que a figura materna exerce forte influência na formação religiosa dos filhos, que só eventualmente tendem a romper com a tradição religiosa em ambiente familiar. Um documentário produzido pelo cineasta José Joffily mostrou como a presença materna foi muitas vezes decisiva na escolha religiosa de jovens que buscavam a vida sacerdotal (Joffily 2000). O filme mostra que a figura paterna é quase ausente nesse tipo de escolha e que as mães são determinantes no estímulo ou na preservação do vínculo dos jovens padres com a família.

A constatação sobre a transmissão da religião em uma juventude oriunda de municípios com baixos índices de desenvolvimento socioeconômico e cultural sugere que, nas análises sociológicas sobre mobilidade religiosa no segmento juvenil, será necessário acrescentar a variável local de moradia. Se, por um lado, há baixa mobilidade religiosa entre os jovens, por outro, pesquisas anteriores mostraram que os jovens de classe C são os que mais mudam de religião (56%) (Novaes e Mello 2002). Como explicar, todavia, que nossa pesquisa tenha chegado a resultados opostos no que se refere à mobilidade religiosa entre jovens pobres e eles tendam a preservar a religião dos pais? É relevante destacar que o público entrevistado, diferentemente de outras pesquisas, encontrava-se nas Igrejas e não nos domicílios. Assim, se há mobilidade religiosa para os jovens em geral, há baixa mobilidade entre os jovens religiosos que as frequentam. Entre os católicos 9,3% declararam ter mudado de religião e entre os pentecostais a proporção é de 18,7%. Claramente o segmento evangélico apresenta maior mobilidade, posto que o catolicismo é religião fundante e tende a ser o ponto de partida dos que buscam novas experiências religiosas.

A partir de agora entraremos em outros temas explorados na pesquisa e que permitem delinear um interessante perfil de jovens religiosos na Baixada Fluminense.

Identidades juvenis, percepções e valores

Com o objetivo de avaliar o grau de satisfação do jovem com a própria condição social e etária e, além disso, compreender suas representações sobre essa fase da vida, perguntamos como se sentem enquanto jovens; quais os melhores e piores aspectos dessa condição. Essas perguntas revelaram preocupações que certamente são compartilhadas por outros jovens não-religiosos, a saber: estudo, trabalho e futuro. A tríade de demandas juvenis sinaliza a fragilidade do desenvolvimento do país, que expõe esse segmento a um estado de vulnerabilidade permanente, sobretudo aqueles jovens provenientes dos estratos socioeconômicos menos favorecidos.

Quando analisadas as demandas relacionadas ao desenvolvimento do país e do município e as expectativas dos jovens sobre sua condição etária, fica evidente que o trabalho e a educação, como se fossem um refrão musical, povoam o imaginário dos jovens pesquisados e esses aspectos (trabalho e educação) constituem-se como fatores capazes de lhes propiciar melhores condições de vida.

A tabela abaixo aponta para a existência de maior dose de otimismo por parte dos católicos quanto à condição juvenil, ao mesmo tempo em que as opiniões dos jovens pentecostais indicam maior equivalência entre as coisas boas e ruins da juventude. Na verdade, eles estão claramente mais divididos que os católicos no que se refere à avaliação de sua condição, que passa não tanto pela faixa etária, mas pelas relações sociais estabelecidas, pelo modo como elaboram as diversas representações da sociedade e pelas formas cada vez mais novas de inserção nos grupos sociais. Nesse sentido, a condição identitária juvenil pode e deve ser pensada enquanto "histórica e relacional", como sugere Regina Novaes (1997).

Importa assinalar que, independentemente das diferenças, tanto os entrevistados católicos quanto os pentecostais avaliam positivamente sua condição juvenil, considerando que em ambos os segmentos cerca da metade deles considera que a juventude se apresenta como um estado da vida em que as coisas boas se sobrepõem às ruins.

Entretanto, importa observar que são os católicos os que mais avaliam negativamente a condição juvenil, considerando que há mais coisas ruins (6,3%) em ser jovem quando comparados aos pentecostais (2,7%). Esse dado pode ser explicado pelo otimismo pentecostal em relação ao que se pode alcançar nesta vida, tendo-se como base a Teologia da Prosperidade.

Mas quais seriam as melhores coisas da juventude? As ideias de liberdade, de ausência de responsabilidades e as descobertas amorosas, tão presentes no imaginário social juvenil, não correspondem à avaliação de católicos e pentecostais sobre as melhores coisas da juventude, mas antes a possibilidade de estudar e o fato de ser nessa fase que o futuro é mais fortemente vislumbrado. Tal representação se torna mais evidente entre os jovens pentecostais, em comparação com os católicos, mas em ambos os grupos as opções Estudar e ter um futuro pela frente atingem proporções altas, contemplando os anseios de mais da metade dos informantes. Vejamos como esse dado foi representado na pesquisa:

Como afirmamos, a valorização dos estudos é maior entre os pentecostais (68,7%), bem como a valorização do fato de possuírem um futuro pela frente (57,4%) e de poderem estabelecer relações de namoro que impliquem em compromisso (28,8%). Diferentemente dos católicos, que valorizam em igual proporção o namoro com ou sem compromisso e demonstram maior relativização da condição de namoro como um aspecto positivo da juventude, os pentecostais reforçam o ethos de valorização de relações amorosas mais estáveis, consequência da forte moralidade desse segmento. Interessa notar ainda que os jovens católicos atribuem, em maior proporção, valor às amizades e à ausência de responsabilidades nessa fase da vida do que os pentecostais, assim como a sociabilidade com os amigos na Igreja é mais valorizada pelos jovens católicos. São estes também os que mais valorizam as atividades de lazer noturnas, em posição claramente oposta à dos pentecostais, que tendem a rejeitá-las provavelmente por compreenderem que a expressão "curtir a noite" envolveria atividades por eles consideradas inapropriadas ou demoníacas, tais como sexo, funk ou o uso de drogas de qualquer natureza. Nos últimos tempos, contudo, os jovens pentecostais têm criado espaços de lazer religiosos como os cafés gospel ou as Super Night Gospel (Rumstain 2007).

A pesquisa de Abramo e Branco (2005) que inspirou a formulação de algumas questões deste estudo encontrou resultados significativamente diferentes em relação a esse tema, quando sondados jovens metropolitanos na mesma faixa etária aqui adotada. Guardadas as diferenças amostrais e metodológicas entre as duas pesquisas, esse fato sugere que tanto a situação de moradia quanto a vinculação religiosa podem ser variáveis importantes para a análise das expectativas e representações juvenis. Para jovens da pesquisa de Abramo e Branco (idem), a ausência de responsabilidades e preocupações (45%) e a possibilidade de aproveitar a vida (40%) constituem-se nos principais elementos da condição juvenil. Vê-se, portanto, que são representações bem diferentes daquelas indicadas pelos jovens na presente pesquisa, guardando-se como destacamos o fato de que o trabalho Retratos da Juventude teve como base amostral jovens de todo o Brasil.

Vejamos quais seriam as representações negativas acerca da condição juvenil na visão dos jovens católicos e pentecostais.

Os jovens pentecostais e católicos consideram que a falta de oportunidades de trabalho representaria o pior aspecto da condição juvenil. Entre os católicos a proporção é de 57,7%, e entre os pentecostais, 53%. A preocupação com o futuro se apresenta como um aspecto negativo para uma proporção um pouco maior de pentecostais (41,3%), quando comparados aos católicos (35,5%).

Os dados das tabelas 02 e 03 confluem quanto às expectativas e preocupações juvenis: estudo, trabalho e futuro são os parâmetros norteadores da qualidade de vida e realização do jovem religioso que habita as periferias urbanas. Nesse quesito, os jovens informantes da pesquisa de Abramo e Branco (idem), com a qual estamos dialogando, indicaram que não haveria nada de ruim na condição juvenil (26%), proporção significativamente inferior à que obtivemos como resultado.

Note-se que o que está em jogo nesse conjunto de questões é a tentativa de delimitação das representações individuais e coletivas acerca da juventude, ou seja, a formação das identidades juvenis. Ser jovem na periferia é diferente de ser jovem nas áreas centrais e mais valorizadas das metrópoles e certamente as condições socioeconômicas e socioculturais são fatores importantes na formulação dessas representações. Evidencia-se que a heterogeneidade do segmento não representa meramente uma questão de fragmentação ou pluralismo pós-moderno, mas esta seria uma situação que se revela pelos diferentes níveis de acesso aos bens materiais e imateriais, à inserção social e às condições de vida de um modo geral. Sendo assim, à faixa etária – que tem funcionado como categoria globalizante e definidora do segmento – devem ser agregadas variáveis socioeconômicas e socioculturais, tais como renda, empregabilidade, nível de escolarização, acesso a equipamentos educativos culturais tais como cinema, teatro, livros, dentre outros.

As disparidades regionais e as particularidades locais são fatores que devem ser levados em conta na caracterização dos matizes da condição juvenil, conforme indicou Regina Novaes (2006), sugerindo ainda que essas particularidades não só atenuam desigualdades como podem acentuá-las.

Para Gilberto Velho (2006) as categorias de juventude, adolescência e infância são sempre passíveis de revisão em nossas sociedades. O autor recorda que, no clássico texto de Gilberto Freire, Sobrados e Mocambos, datado de 1936, já se percebia a problematização sobre a construção das fronteiras etárias. Haveria, portanto, várias maneiras de "ser jovem" e de "ser velho", que estariam pautadas no processo de socialização e na noção de projeto, categoria chave na análise da expansão do processo de individualização das sociedades ocidentais.

Perguntados sobre qual seria o marco definidor do fim da condição juvenil, católicos e pentecostais apresentaram opiniões convergentes, com pequenas diferenciações valorativas. Assim, as opções adquirir família e nunca receberam uma valoração similar para os católicos, dado que sugere que para 35,2% desses a condição juvenil se consolidaria como um estado permanente e as responsabilidades familiares seriam o único fator a relativizar essa condição, bem como a perda da alegria de viver, outra opção de resposta que recebeu importante adesão dos jovens católicos (35%).

Os entrevistados das Igrejas pentecostais apresentaram representações similares acerca dos marcos definidores da juventude, mas a moral evangélica mais uma vez se anuncia de modo mais evidente, tendo em vista que 36% dos pentecostais indicaram que a composição de uma nova família representaria um dos elementos definidores de um novo estágio da vida, um pouco mais distante da juventude, que também é lida como uma condição quase permanente.

Vejamos os dados no gráfico abaixo:

Como essa questão permitia até três opções de resposta, a interpretação dos dados nos obriga a considerar que os jovens apresentam respostas ambivalentes para o mesmo tema; ambivalência que se mostra nas proporções semelhantes, para ambos os segmentos, em relação às três primeiras opções indicadas (em ordem ascendente). A partir de então, as diferentes visões entre os dois grupos vão se apresentando de forma mais nítida. São os católicos que apontam em maior proporção os marcos definidores da juventude. Distanciam-se dos pentecostais, sobretudo ao considerar que ser capaz de enfrentar sozinho/a os problemas (25,5%) seria uma atitude que consolidaria um desses marcos, além da saída da casa dos pais (19,9%) e da possibilidade de lograr a independência financeira (19,4%).

Explorando esse dado no grupo de foco, uma jovem católica afirmou: "quando a pessoa tem uma família e um trabalho, ela percebe que aquela coisa de jovem já se passou. Ela tem que ter responsabilidade".

As expectativas e projetos juvenis podem estar em sintonia com as visões de futuro coletivo e individual. Desse modo, sondamos os informantes em relação ao futuro do mundo e de suas vidas. Vejamos suas respostas:

Católicos (38,3%) e pentecostais (45,2%) acreditam que nos próximos cinco anos o mundo estará pior. Cerca de 17% de jovens católicos acreditam que tudo ficará como está, enquanto apenas 7,3% de pentecostais acreditam nessa possibilidade. A proporção de jovens católicos (34,2%) e pentecostais (32,4%) que acreditam que o mundo vai melhorar é aproximada, apresentando leve tendência mais otimista dos católicos.

Os jovens pentecostais tendem a ter uma visão mais pessimista do mundo em razão dos conteúdos doutrinários da tradição protestante, que incluem a perdição da humanidade caso os homens não se convertam à verdadeira religião e crença. Esses jovens apresentam ainda uma visão de mundo que tende a reforçar aspectos negativos da vida social, tais como os vícios e o sexo desregrado. Com efeito, esse segmento apresentou maior índice de abstenção em relação a tal pergunta, postura que pode comportar a existência de dúvidas, indiferença ou dificuldades de outra natureza.

Se há pessimismo nas expectativas relacionadas ao futuro do mundo, o mesmo não ocorre em relação à vida pessoal. Católicos e pentecostais acreditam que nos próximos cinco anos suas vidas tendem a melhorar, conforme se vê no gráfico abaixo.

Na pesquisa Retratos da Juventude Brasileira, já referida, obteve-se opinião similar dos informantes sobre o tema em questão. A tendência é de otimismo em relação à vida pessoal e pessimismo em relação ao mundo. O resultado se repete no presente estudo. Nenhum dos informantes católicos acredita que sua vida vai piorar e, entre os pentecostais, menos de 1% (0,6%) consideraram esta possibilidade.

O futuro se apresenta como um tempo de espera ativa e o presente assume uma dimensão de preparação para esse tempo, que carrega um misto de expectativas positivas e ansiedades. O futuro tanto se presta como depositário do sentido de agir quanto representa o tempo que irá orientar a definição de si, na medida em que o jovem projeta algo que será no futuro (Leccardi 2005).

Essa representação tão positiva em relação ao próprio futuro foi explorada em nossos grupos de foco. Tanto os jovens pentecostais quanto os católicos entendem que a melhoria de suas vidas dependerá de seus esforços e empenhos pessoais, o que significa pouca credibilidade em políticas públicas e qualidade de vida propiciada pelo Estado. A crença geral é a de que quem se esforça, estuda e luta por seus objetivos conseguirá êxito em seus projetos. Os jovens acreditam que podem mudar suas condições de vida ou, quem sabe, o mundo, a partir de sua própria capacidade de inovação. Essa visão pode corroborar ações de caráter individual em detrimento de um ativismo político, mas apenas análises multivariadas ajudariam a explicar tal otimismo. Contudo, as mesmas não foram realizadas nessa pesquisa em razão do tamanho da amostra e do baixo poder estatístico para a adoção desse procedimento. Seria importante verificar se o otimismo está relacionado a condições histórico-culturais, renda, escolaridade etc.

Tal constatação foi realizada também por Paulo Krischke (2005) ao analisar os dados sobre cultura política e participação democrática da pesquisa Retratos da Juventude Brasileira (Abramo e Branco idem). O autor sugere que o clima eleitoral de 2002 – período em que foi realizada a coleta de dados da pesquisa nacional com a juventude – pode ter favorecido esse otimismo. Entretanto, como vimos analisando, a tendência de otimismo em relação à vida pessoal permanece entre os jovens, ainda que estejamos tratando de segmentos juvenis específicos (religiosos) e em condições de vida eventualmente diferenciadas do conjunto de informantes da pesquisa supracitada. Ocasionalmente, a popularidade do presidente Lula, bem como as ações do atual governo (2011) na área econômica e social, pode favorecer o otimismo juvenil, já que a melhora das condições de vida, sob o ponto de vista econômico, e a inserção laboral são os aspectos mais comentados entre os jovens, de acordo com os grupos de foco realizados.

Visando a extrair mais elementos para a análise dos valores e percepções dos jovens em relação ao campo da política e outros aspectos da vida social, procuramos investigar quais seriam as principais mudanças no país que os jovens religiosos encampariam, caso a possibilidade de incrementá-las dependesse exclusivamente deles. A tabela abaixo apresenta os resultados.

A principal mudança a ser incrementada para os jovens católicos (65,9%) e pentecostais (56,9%) seria a extirpação da miséria e da pobreza. Em segundo lugar, os católicos elegeram a violência (60,5%) como um problema a ser enfrentado na sociedade brasileira, mas, para os pentecostais, a segunda opção mais indicada diz respeito à crença em Deus. Assim, pouco mais da metade dos jovens pentecostais (51,4%) fariam com que as pessoas acreditassem mais em Deus, caso tivessem o poder de alterar a ordem social num passe de mágica.

A tabela mostra que, enquanto os jovens católicos parecem estar mais preocupados com problemas sociais, são as questões morais e familiares que mais preocupam os pentecostais. Desse modo, estes últimos se destacam ao sugerirem maior união entre as famílias. A exceção se coloca na opção sobre oferta de emprego e educação para a juventude. Nesse caso, 27% dos pentecostais mostraram-se preocupados em transformar esse cenário, assim como 26% dos católicos apresentaram visão similar. Temos aqui uma conciliação de opiniões no que se refere à situação laboral e à educação juvenil.

Em relação aos valores que os jovens consideram mais importantes, constata-se que a solidariedade adquire maior valorização entre os católicos (49,5%) que entre os pentecostais (38,1%), sendo o valor mais votado entre o primeiro grupo. A grande maioria dos jovens pentecostais (81,5%) elegeu o temor a Deus como o principal valor para uma sociedade, que corresponde à segunda opção mais valorizada (44,5%) para os católicos. Para os pentecostais o segundo valor de uma sociedade é a solidariedade (38,1%). A temática do respeito às diferenças aparece, em proporções diferentes, como terceiro valor mais indicado em ambos os segmentos. Assim, 40,4% dos católicos e 33,2% dos pentecostais tendem a valorizar essa atitude.

Os jovens católicos atribuem valor à religiosidade em maior proporção que os pentecostais. Desse modo, para 23,8% dos primeiros a religiosidade é um valor importante para a sociedade brasileira, ao passo que, para os segundos, esse item recebe apenas 6,6% de adesão. Aqui se expressaria a visão de mundo mais flexível dos católicos em relação a diferentes formas de expressão religiosa, fato que denota uma cosmovisão mais pluralista. Os pentecostais tendem a eleger as ideias de religião e temor a Deus como valores em oposição à religiosidade. Essa, diferentemente da religião, levaria a caminhos nem sempre condizentes com as prescrições doutrinárias que adotam. A tabela abaixo apresenta os dados na íntegra.

Para os católicos há três principais valores em uma sociedade: a solidariedade (49,5%), o temor a Deus (44,5%) e a igualdade de oportunidades (41,0%). Os jovens pentecostais definiram que os principais valores de uma sociedade seriam primeiramente o temor a Deus (81,5%), seguido da igualdade de oportunidades (40,0%) e da solidariedade (38,1%). Desse modo, embora os jovens dos diferentes segmentos religiosos se aproximem na consideração dos valores, percebe-se que se diferenciam na intensidade da valorização de cada um desses aspectos. Evidencia-se que o temor a Deus recebe maior valorização dos jovens pentecostais do que dos católicos, o que denota o forte ascetismo pentecostal e uma percepção mais propriamente religiosa sobre os valores sociais. Os católicos elegem claramente a solidariedade social como o maior valor, fato que pode indicar a presença de uma maior proximidade do universo religioso e secular entre esse segmento juvenil. Importa notar ainda que, quando analisada como um valor da sociedade, a justiça social recebe maior aprovação dos católicos do que dos pentecostais.

O conceito de religiosidade carrega em si uma conotação menos doutrinária e rígida do que o conceito de religião, já que o primeiro sugere que as pessoas podem realizar uma composição de aspectos que eventualmente estão presentes em várias religiões e formar a sua religiosidade própria. Talvez por isso ele receba bem menos adesão dos pentecostais, sempre mais afeitos à doutrina religiosa do que os católicos.

A maior rigidez disciplinar dos jovens pentecostais se expressa, ainda, quando as opções obediência às autoridades e disciplina pessoal recebem maior adesão proporcional entre eles, uma vez que os católicos praticamente não manifestam a representação do quesito obediência às autoridades como um valor.

Pentecostais e católicos também se diferenciam de modo significativo no que se refere à avaliação do respeito ao meio ambiente. Assim, enquanto aproximadamente 14% dos primeiros reconhecem esse aspecto como um valor social, cerca de dos católicos o fez. Assim, o discurso de valorização ambiental parece fazer mais eco entre os jovens católicos do que entre os pentecostais.

Aspectos comportamentais – drogas, sexualidade e aborto

Procurou-se conhecer as visões de mundo dos jovens católicos e pentecostais a respeito do uso de drogas lícitas e ilícitas, bem como de seu comportamento sexual. É sabido que, em relação a esse segundo quesito, tanto a Igreja Católica quanto as protestantes, em suas várias vertentes, defendem a virgindade até o casamento. Além disso, ambos os grupos são contrários ao aborto em quaisquer circunstâncias. Esses são temas sempre controversos, especialmente junto ao segmento juvenil, e sugerem a necessidade de ampliação do conhecimento das tendências comportamentais dos jovens que estão no dia a dia das Igrejas e que experimentam cotidianamente os dois lados da moeda, ou seja, o discurso da moralidade e da castidade e, simultaneamente, o apelo proveniente da realidade social, que estimula a iniciação sexual tão logo se chega à adolescência. Pode-se afirmar que essa tríade, presente sobretudo no universo juvenil, consolida-se como um campo de interesse das Igrejas, as quais exercem sobre esses jovens diferentes níveis de influência comportamental. Objetivou-se, portanto, perceber as visões juvenis e o grau de conhecimento da doutrina sobre alguns desses aspectos para, em pesquisas futuras, verificar possíveis correlações entre a pertença religiosa e as tendências relacionadas ao uso de drogas, sexo e permissividade em relação ao aborto.

Drogas

Vejamos primeiramente a questão das drogas ilícitas. Perguntados sobre o uso de maconha e cocaína, os jovens posicionaram-se da seguinte forma:

As tabelas acima demonstram que, embora os jovens religiosos estejam em um ambiente social em que há importante disseminação de drogas ilícitas, estas parecem não exercer forte atração sobre eles. Por outro lado, reconhecemos a dificuldade da abordagem desse tema com uma juventude que está dentro das Igrejas e cujo comportamento deve, por princípio, diferir da maioria de seus colegas de geração. Além disso, há implicações legais na afirmação da adesão a esse comportamento, fato que certamente inibe uma resposta positiva à questão. Não obstante, na pesquisa de Abramo e Branco (2005) com a juventude metropolitana, a mesma questão referente ao uso da maconha contou com 10% dos jovens afirmando já ter experimentado essa droga e 3% declararam já ter feito uso de cocaína ou crack. Evidentemente as comparações nesse caso não podem ser aplicadas de modo irrestrito, já que a pesquisa de Abramo e Branco não analisou jovens religiosos de forma comparada. Contudo, os dados sugerem a possibilidade de diferenças no comportamento entre jovens religiosos e não religiosos, fato que mereceria novas investigações acerca de correlações entre a variável religião e o consumo de drogas ilícitas.

A literatura psiquiátrica e sociológica tem demonstrado a existência de alguma correlação entre a variável religião e o uso de drogas. A primeira exerceria um efeito inibidor sobre a segunda, respeitando-se as distinções entre drogas pesadas e uso de tabaco e álcool (Dalgalarrondo et. al. 2004).

Na presente pesquisa, é maior a proporção de jovens pentecostais cuja rede de amigos ou conhecidos apresenta um número mais extenso de pessoas que usam drogas ilícitas, seja a maconha seja a cocaína. Entretanto, os jovens católicos já presenciaram, em maior proporção do que os pentecostais, pessoas usando maconha, e praticamente a mesma proporção (mais da metade) nos dois grupos religiosos já viu pessoas usando a cocaína. A proporção de jovens católicos que já sofreu algum tipo de assédio para o uso da maconha (18,3%) e da cocaína (14,6%) é bem maior do que a de pentecostais, o que sugere que o vínculo com as Igrejas pentecostais pode inibir o assédio de outros jovens para o uso de drogas. Contudo, é maior a proporção de jovens pentecostais que já seguraram a maconha, e a cocaína é uma droga mais experimentada por esse grupo, ainda que em baixa proporção. Tal dado se confirmou em vários testemunhos relatados por pastores ou jovens no universo pentecostal que investigamos. Os pastores comentam que "é muito difícil trazer o jovem que está no mundo das drogas", mas esses líderes religiosos entendem que seriam exitosos nessa operação.

Em relação às drogas lícitas, como o cigarro e a bebida alcoólica, os jovens católicos e pentecostais apresentaram perfil semelhante quanto ao tabagismo e diferenciaram-se quanto à ingestão de bebidas alcoólicas. Assim, cerca de 30% de católicos ingerem bebidas alcoólicas e apenas 1,8% de pentecostais o fazem. Vejamos os dados conforme gráficos abaixo:

O tabagismo também foi mais comum entre os jovens católicos. Assim, cerca de 9% já fumaram, enquanto, entre os pentecostais, aproximadamente 5% tiveram esse hábito. Vejamos o comportamento de ambos os grupos religiosos em relação ao consumo de bebidas alcoólicas.

Como mencionado anteriormente, há maior proporção de jovens católicos que consomem álcool, hábito praticamente inexistente entre os pentecostais. A proporção de jovens católicos que já possuiu esse costume (23,4%) é também maior do que no grupo dos pentecostais (17,0%), denotando maior permissividade entre os católicos. É curioso notar que o índice de abstenção a essa questão entre os jovens pentecostais, embora baixo, é maior do que entre os católicos. O que faria com que alguns jovens das Igrejas pentecostais omitissem a resposta em relação a um tema que, por estar relacionado a hábito ou comportamento, não pode significar não saber, mas sim não querer responder? Supõe-se que ocorra maior constrangimento dos jovens desse universo em declarar o próprio comportamento. Isso se daria em razão de que eventualmente estariam consumindo bebidas alcoólicas ou em razão de que, se porventura consumiram bebida alcoólica no passado, essa atitude lhes parece abominável no presente, face à nova moralidade pentecostal adquirida?

Sexualidade e aborto

Uma significativa parte dos estudos sobre sexualidade na adolescência tem constatado que rapazes e moças iniciam precocemente a vida sexual (Heilborn et. al. 2006; Goldenberg 2006), independentemente da classe social. Contudo, as mulheres com baixa instrução tendem a ingressar na vida sexual tão logo iniciada a experiência do namoro, diferentemente das que pertencem a classes privilegiadas que preferem retardar o ingresso na vida sexual. A cultura orienta os comportamentos e os roteiros que são considerados plausíveis para cada grupo social (Heilborn 2006). Desse modo, a iniciação sexual dos jovens pode ser condicionada por fatores socioculturais e econômicos.

Os apelos midiáticos, o processo de modernização da sociedade brasileira, que traz em seu bojo a individualização e autonomização dos indivíduos, e as situações de classe e de sociabilidade poderão dimensionar ou orientar o comportamento juvenil no campo da sexualidade. Por essa razão, as teorias da individualização não deveriam ser generalizadas, mas confrontadas com o comportamento dos jovens em suas diferentes inserções sociais. Além disso, há estudos que comprovam o forte papel da família como núcleo de apoio dos jovens (Gonçalves 2005) e o quanto estes valorizam tal esfera na definição e norteamento de suas ações, a despeito das abordagens que atribuem à família um lugar menos relevante na sua formação.

Nos ambientes religiosos é comum – em se tratando do comportamento sexual – encontrar um gap entre doutrina e prática (Gomes e Natividade 2006). Constatamos, portanto, que, em relação à vivência da sexualidade, uma parte dos jovens religiosos na pesquisa demonstrou iniciar precocemente a vida sexual. Entre os católicos, 29,3% iniciaram a vida sexual antes dos 18 anos; 5,6% a partir dos 18 anos; 11,1% preferiram não responder a essa questão e um pouco mais da metade, 54%, afirmaram ser virgens.

A proporção de jovens pentecostais que iniciou a vida sexual antes dos dezoito anos é um pouco inferior a dos católicos. Sendo assim, 20% dos jovens pentecostais estão nessa condição; 6,9% iniciaram a vida sexual a partir dos dezoito anos, 61,9% afirmaram ser virgens e 11,3%, ou seja, proporção similar à dos católicos, preferiram não responder. Obviamente, o índice de não-respostas sinaliza uma possível interdição do tema em ambos os segmentos religiosos, pois, em pesquisa nacional, a proporção máxima de não-resposta ou abstenção atingiu 8% (Abramo e Branco 2005:428).

O gráfico abaixo apresenta a opinião dos jovens entrevistados em relação ao sexo antes do casamento. Diferentemente das semelhanças em relação ao início da vida sexual, aqui a posição dos jovens pentecostais fica mais evidente. Os católicos são mais favoráveis ao sexo antes do casamento, mas muitos preferem não responder a questão.

Cerca de 30% dos jovens católicos são contrários ao aborto, ao passo que entre os pentecostais esse índice chega aos 83,3%. Desse modo, enquanto 48,8% dos jovens católicos são favoráveis ao aborto, apenas 6,7% dos jovens pentecostais concordam com essa prática. De qualquer forma, esse índice surpreende em se tratando do universo pentecostal.

As opiniões dos jovens a respeito da gravidez na adolescência obedecem a um padrão comum, que é o de rejeição ao aborto nesses casos. Assim, católicos e pentecostais tendem a rejeitar a possibilidade de aborto em situação de gravidez indesejada. Esse dado ajuda a matizar as visões do senso comum de que os jovens pobres tenderiam a ser menos críticos em relação ao aborto. Em outra direção, a pesquisa sugere que a religião ajudaria na ponderação do aborto entre os jovens, na medida em que lhes forneceria alguns parâmetros valorativos que julgam a prática como abominável.

No caso do catolicismo, a Conferência dos Religiosos do Brasil – CNBB – trabalhou exaustivamente o tema do aborto em uma Campanha da Fraternidade, evento anual que aborda temas sociais. Uma vasta campanha foi realizada nas paróquias católicas e dioceses em 2008, de modo a conscientizar os fiéis sobre a defesa da vida. A abordagem que criminaliza o aborto em qualquer situação é defendida pela Igreja Católica e tem sido fonte de controvérsia no meio evangélico, conforme demonstrou o estudo de Maria das Dores C. Machado (2000). A autora analisou que, em várias situações, as Igrejas adotam estratégias diversas em relação ao tema e essas instituições tanto podem convergir para a situação regulamentada no país quanto podem condenar o aborto, independentemente dos casos de estupro ou risco de vida para a mãe.

Vejamos na tabela abaixo como os jovens se posicionaram em relação ao tema:

Os dados demonstram que a religião não se apresenta como uma variável determinante na avaliação da gravidez indesejada. Católicos e pentecostais apresentam visões semelhantes e entendem o aborto como um crime contra a vida. No Cristianismo é mais forte a condenação do aborto do que em outras religiões, como, por exemplo, o Islamismo, onde se permite o aborto até o 120º dia de gravidez. Na doutrina religiosa dos protestantes há abordagens mais flexíveis do que na Igreja Católica, ainda que a tendência seja de rejeição radical ao aborto.

A manutenção da gravidez na adolescência é estimulada pelos grupos religiosos de ambos os segmentos, que tendem a ser mais flexíveis diante desses casos se levado em conta a rigidez de sua doutrina religiosa no tocante à virgindade até o casamento. Liza Steele (2011) observou esse fato em sua pesquisa com mães adolescentes em favelas brasileiras.

Mas será que os jovens entrevistados conhecem o discurso oficial de suas Igrejas a respeito dessa temática? Na tentativa de avaliar se as visões e comportamentos dos jovens religiosos em relação à sexualidade estariam pautados em orientações dadas pelos líderes de suas respectivas Igrejas, perguntamos se conhecem e se seguem tais orientações. Assim, boa parte dos católicos (73,9%) e dos pentecostais (95,6%) reconhece que suas Igrejas defendem que o sexo seja praticado apenas após o casamento, ou seja, para a grande maioria o discurso oficial é conhecido. Mas outros aspectos do discurso institucional não são tão conhecidos. Vejamos as opiniões dos jovens em relação às demais assertivas.

Em detrimento do discurso oficial da Igreja Católica em relação à sexualidade, cerca de 30% dos jovens presentes nas paróquias católicas dos municípios investigados nesta pesquisa desconhecem as orientações oficiais. Este dado é corroborado nas três assertivas posteriores, em diferentes proporções. Assim, quase 14% dos jovens católicos investigados entendem que a Igreja Católica recomenda o uso de preservativos, posição claramente discordante do discurso institucional; 31,3% entendem que a instituição não recomenda o uso de preservativos e 9,7% acham que a posição da Igreja é que o sexo pode ser praticado antes do casamento, se ocorrer em contexto de relações estáveis.

Os jovens pentecostais demonstraram maior conhecimento do discurso oficial de suas Igrejas sobre o sexo antes do casamento. Assim, quase 95,8% assinalaram a opção que assegura o sexo após o casamento como um comportamento defendido por suas Igrejas. 12,4% dos jovens assinalaram que as instituições religiosas de que participam recomendam o uso de preservativos. Vale lembrar que a diversidade do campo pentecostal, incluindo-se as Igrejas neopentecostais, pode abarcar diferentes orientações também no campo da sexualidade. Entretanto, há poucos estudos que analisam as especificidades de orientações sobre sexualidade no universo dessas correntes, mas alguns demonstram a existência de um ethos privado, não confessional, que norteia as práticas no campo da sexualidade e reprodução (Duarte et. al. 2006).

Considerações gerais

Os vínculos dos jovens com a Igreja ou religião demonstram novos modelos de pertencimento, uma vez que, apesar de terem sido entrevistados nas Igrejas, nem por isso observou-se homogeneidade quanto à atuação dos jovens em sua religião. Há mais moças do que rapazes nas Igrejas, sejam elas católicas ou pentecostais, e esses últimos podem frequentar templos em locais diversos, até mesmo distantes do lugar de moradia, fato que demonstra uma circulação interessante dos jovens pentecostais, favorecendo o trânsito intraevangélico, isto é, entre denominações evangélicas.

Há mais jovens pentecostais do que católicos cursando o nível superior e isso pode ocorrer por dois fatores: o primeiro seria a baixa idade dos jovens católicos encontrados nas Igrejas e o segundo sugeriria a ocorrência de uma mobilidade social geracional, uma vez que os pais dos jovens pentecostais possuem maior escolaridade do que os pais dos jovens católicos.

Educação e trabalho são questões que preocupam os pesquisados de ambos os segmentos. Os pentecostais transitam mais no universo laboral, seja com vínculo empregatício ou de forma autônoma, mais ainda assim reclamam do desemprego e das poucas oportunidades de trabalho dadas aos jovens em geral.

Os jovens religiosos em municípios da Baixada Fluminense pertencem a famílias com renda familiar baixa. Curiosamente, há uma proporção – ainda que pequena – de pentecostais que pertencem a classes sociais acima dos católicos. Esse fato merece investigações posteriores a respeito das condições de vida dos jovens pentecostais e suas famílias, problema que não foi objeto da presente pesquisa.

A figura da mãe é determinante na identidade religiosa dos jovens pesquisados. Em ambos os segmentos eles tendem a seguir a religião dos pais, sobretudo da mãe, fato que contesta a tese da ausência de transmissão religiosa entre as gerações. Os jovens católicos atuam nas CEBs, ainda que esse universo venha atravessando significativas redefinições. Apenas 5,8% atuam em grupos da Renovação Carismática, ao passo que 14,5% sentem-se vinculados às CEBs. A pesquisa confirmou que a assiduidade ao templo é característica mais intensa no universo pentecostal do que no católico. Os jovens pentecostais vão mais à Igreja e estão mais presentes no templo quando comparados com os católicos, informação que corrobora pesquisas anteriores em relação à assiduidade dos pentecostais.

O perfil desses jovens é dinâmico e, em muitos casos, católicos e pentecostais se assemelham, como, por exemplo, nas representações ou imagens sobre Deus. Prevaleceu para ambos os segmentos a visão de Deus como um pai de amor, mas os católicos assumem em maior proporção a representação de Deus como energia cósmica, assim como a ideia de Deus como energia. Tal fluidez sugere que, embora as matrizes sejam cristãs, o Catolicismo é mais poroso e tende a produzir visões mais pluralistas sobre o universo religioso.

A pesquisa mostra de maneira definitiva que a religião é valorizada pelos jovens religiosos investigados. Tanto católicos quanto pentecostais consideram a religião muito importante para uma dada sociedade. Desse modo, há que se refutar a tese do indiferentismo religioso da juventude ou, ao menos, há que se considerar que no Brasil, diferentemente da Bélgica ou de outros países europeus, não ocorre uma necessária passagem de "religião instituída" para uma "religião recomposta" (Hervieu-Léger 2005:48), mas a religião instituída se recompõe no ato mesmo de sua incorporação pelos fiéis e a juventude apenas reproduz a essência valorativa da religião.

Educação e igualdade de oportunidades aparecem como os principais indicadores de desenvolvimento social para o Brasil. A demanda por educação é expressa de múltiplas formas pelos jovens pesquisados e a ela podem ser agregadas as questões do trabalho e do futuro. Esses seriam os ícones a demarcar a identidade juvenil, que prima por uma perspectiva otimista no que se refere à construção do futuro. Para os jovens, ainda que o mundo esteja pior nos próximos cinco anos, sua vida estará melhor. De onde vem esse otimismo? Procede de uma crença no esforço pessoal, de busca de oportunidades e de empenhos individuais. Essa postura revela a existência de um determinado nível de ceticismo dos jovens em relação às soluções provenientes do Estado ou das políticas públicas que ocasionalmente lhes favoreçam a juventude, visão que se verificou nos jovens presentes nos grupos de foco.

O ceticismo presente em alguns jovens a respeito do futuro do mundo e do país não os torna alheios à dimensão sociopolítica. Vários sugeriram que há mudanças importantes a serem produzidas na sociedade brasileira. Especialmente o empenho para que se minimize ou extermine a pobreza e a violência foi indicado por jovens católicos e pentecostais. Os últimos incluíram o fortalecimento da crença em Deus como um importante fator a ser incluído no rol de mudanças sociais. Essa expectativa sugere que no universo pentecostal é mais nítida a associação entre problemas sociais e ausência de fé. Embora a solidariedade, o temor a Deus e a igualdade de oportunidades sejam indicados como os principais valores de uma sociedade, os jovens católicos se destacam em termos proporcionais, ao elegerem a solidariedade como o principal valor social.

Se a juventude pode ser um estado permanente, sem delimitações etárias, para boa parte dos jovens aqui pesquisados há um momento específico a partir do qual a identidade juvenil passa a ser ressignificada. Assim, do momento em que formam uma família em diante, os jovens entendem que ingressam em uma fase mais adulta que lhes exigirá novas responsabilidades. Por outro lado, há um dado subjetivo que promove a eternização da juventude. Muitos acreditam que se deixa de ser jovem quando se perde a alegria de viver, assim responsabilidades familiares e perda da alegria de viver demarcariam o fim da juventude. Algumas nuanças, entretanto, podem ser indicadas quando comparados os dois grupos. Os católicos diferenciam-se demarcando a importância do enfrentamento dos problemas; a saída da casa dos pais e a independência financeira como os principais divisores de água entre juventude e vida adulta.

Foram poucos os jovens religiosos da pesquisa que afirmaram ter feito uso de drogas ilícitas, tais como maconha e cocaína. A maioria, em ambos os segmentos, não experimentou nenhuma das duas, mas entre os pentecostais a proporção dos que experimentaram maconha supera sutilmente os católicos, não ultrapassando a casa dos 5%. Quando o tema é bebida alcoólica, a relação irá inverter-se e verifica-se que há mais jovens católicos consumindo bebidas alcoólicas do que jovens pentecostais; já o fumo é um hábito de poucos jovens em ambos os segmentos.

O liberalismo dos jovens católicos em relação ao uso de bebidas alcoólicas é replicado quando o assunto é virgindade, pois tendem a ser muito mais favoráveis ao sexo antes do casamento do que os pentecostais. Quando o tema é aborto, observa-se forte rejeição por parte de ambos os segmentos, contudo uma vez mais há maior proporção de jovens católicos favoráveis a essa prática em caso de gravidez indesejada. Para a maioria dos jovens o aborto é uma prática criminosa.

Esses temas relacionados a sexualidade e reprodução demonstraram com mais propriedade que muitos jovens católicos desconhecem o discurso oficial de suas Igrejas em relação a alguns aspectos, como, por exemplo, o uso de preservativos. Essa tendência é mais observada entre os católicos do que entre os evangélicos.

Os dados aqui explorados oferecem, portanto, uma visão ampla de jovens religiosos e suas dinâmicas existenciais, revelando diferenças importantes e similaridades surpreendentes entre os dois grupos. A religião pauta a configuração de valores e ideias juvenis, mas pode não ser determinante em vários aspectos, sobretudo em relação a formas de inserção na política, aspecto que trabalharemos em outro texto.

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Notas

Recebido em julho de 2010

Aprovado em janeiro de 2011

Silvia Regina Alves Fernandes (fernandes.silv@gmail.com)

Doutora em Ciências Sociais, Professora da UFRRJ, Departamento de História e Economia — Instituto Multidisciplinar. Tem pesquisado o cenário religioso no Brasil, com ênfase no catolicismo. É líder do grupo de pesquisa do CNPq "Dinâmicas territoriais, cultura e religião", e pesquisadora do grupo de pesquisa "Estudos do Cristianismo". Em 2010, teve lançado, pela editora FAPERJ/Quartet, seu livro Jovens religiosos e o catolicismo — escolhas, desafios e subjetividades.

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  • VELHO, Gilberto. (2006), "Juventudes, projetos e trajetórias". In: M. I. M. de Almeida; F. Eugenio (orgs.). Culturas jovens novos mapas do afeto Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
  • 1
    Projeto de pesquisa desenvolvido com apoio da FAPERJ por meio dos fomentos: Auxílio à Pesquisa e Auxílio Instalação. Agradeço aos alunos: Bruna Grasiela Carvalho (IC/FAPERJ), Geziel Sousa (IC/FAPERJ), Juliana Oliveira, Natasha Soares, Jessica Sarubi, Camila Silva, Thiago Tintureiro e Bruno Jaccoud pela coleta e digitação dos dados. Agradeço a Marcelo Pitta pela amostragem e tratamento estatístico.
  • 2
    No espaço deste trabalho não é possível explorar satisfatoriamente a categoria juventude. O debate gira em torno da imprecisão do conceito, que não deve estar atrelado apenas à dimensão etária. Nesse sentido, o presente artigo parte de uma classificação etária padronizada pela ONU e avança na tentativa de conceituação com base nos valores e comportamentos definidores da condição juvenil contemporizando-os com pesquisas de Novaes e Velho acima referenciadas. Para uma discussão sobre o conceito, ver Fernandes 2010.
  • 3
    Para o desenho amostral foi utilizado o cadastro das Igrejas evangélicas de corte pentecostal fornecido pela Tele Listas, tendo em vista que a informação das prefeituras era absolutamente incipiente. As paróquias católicas foram amostradas a partir do anuário católico. A pesquisa foi desenvolvida nas Igrejas dos municípios de Nova Iguaçu, São João de Meriti e Duque de Caxias. Optou-se por uma amostra de aproximadamente 1/3 dos templos por município e por religião. A situação quantitativa dos templos pentecostais, com telefone, em outubro de 2007, foi a seguinte: 62 em Duque de Caxias; 128 em Nova Iguaçu e 40 em São João de Meriti. Os números para as paróquias católicas no ano da coleta foram: 23 em Nova Iguaçu, 13 em Duque de Caxias e 8 em São João de Meriti.
  • 4
    Confira os critérios da ABEP para classe social de acordo com a renda. Disponível em:
  • 5
    Confira a nota 3.
  • 6
    Regina cita a pesquisa de Marcio Pochmann aqui também indicada na bibliografia de referência.
  • 7
    O questionário apresentou oito opções de resposta para a situação atual do jovem em relação ao trabalho. Diferenciamos o desempregado daquele que não trabalha por questões etárias. Essa instrução era dada ao informante no ato do preenchimento.
  • 8
    A questão permitia múltiplas respostas.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      02 Ago 2011
    • Data do Fascículo
      Jun 2011

    Histórico

    • Recebido
      Jul 2010
    • Aceito
      Jan 2011
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