Acessibilidade / Reportar erro

Meningite meningocócica: avaliação em período pré-epidêmico e epidêmico no Rio de Janeiro (1973-1975)

Resumos

São relatadas observações acumuladas nos períodos pré-epidêmico e epidêmico (1973-1975) do atual surto de meningoencefalite meningocócica na área do Grande Rio, e realizados estudos bacteriológicos baseados em 1.000 casos suspeitos de meningoencefalite e submetidos à punção lombar, no Hospital Estadual São Sebastião. É proposto e discutido esquema simples e eficaz para processamento bacteriológico dos LCR suspeitos, a partir da colheita e pronta semeadura do material. É também discutida a real contribuição da bacterioscopia no diagnóstico presuntivo das meningoencefalites, definindo-se as limitações da técnica. Foi obtido elevado grau de isolamento de microorganismos, variando de 3%, para líquores entre zero e 10 células/mm' e 72%, para líquores acima de 1000 células/mm³. No decorrer do estudo, foram isoladas e caracterizadas 356 amostras bacterianas, assim discriminadas: N. meningitidis, 281; Haemophilus sp., 22; Enterobacteriaceae, 15; D. pneumoniae, 26; bastonetes gram negativos oxidattvos, 3; estreptococo beta hemolitico, 1 e enterococo, 1. As amostras de meningococos eram, em 15% dos casos, do grupo sorológico A, em 2% do grupo B e em 14%, do grupo sorológico C. Os testes de sensibilidade, em disco, aos agentes antimicrobianos principalmente utilizados na quimioprofilaxia e tratamento da doença meningocócica revelaram alto grau de sensibilidade das amostras ensaiadas a todos os agentes testados. A resistência à sulfadiazina sódica, em testes realizados segundo as normas preconizadas pela Food and Drug Administration (F.D.A.), revelaram elevado grau de resistência, particularmente dos meningococos do grupo C.


Data from the pre-epidemic period and from the present epidemic of meningococcal meningoencephalitis in the Great Rio de Janeiro area are presented. A thousand suspected cases were bacteriologically studied after lumbar spinal puncture at the Hospital Estadual São Sebastião, in Rio de Janeiro. Aiming at a rapid and simple diagnostic procedure to be applied to spinal fluids errors and hazards of some techniques, based on stained microscopic slides and limited choice of culture media, are discussed. Isolation of etiologic agents varied from three per cent in specimens with less than 10 white cells/mm³ to 72 per cent with fluids containing more than a thousand cells/mm³. The distribution of 356 isolated strains correspended to: Neisseria meningitidis (281); Haemophilus sp. (22); Enterobacteriaceae (15); pneumococci (26); Gram-negative oxidative rods (3); beta hemolytic streptococci (1) and enterococci (1). Serologically the meningococci corresponded to 51 per cent group A, 2 per cent group B and 14 per cent group C strains. The remaining strains were not grouped with the mentioned available diagnostic sera or demonstrated spontaneous agglutination. Very few cases of resistance to antibioties were found by using the diffusion sensitivity tests with discs of the common antimeningococcal drugs. Sulphadiazine resistence was frequent, however, particularly within the group C meningococcal isolations, when the dilution tests in solid media, according with the Food and Drug Administration (U.S.AJ instructions were employed.


Meningite meningocócica: avaliação em período pré-epidêmico e epidêmico no Rio de Janeiro (1973-1975)

Nélson Jerônimo Lourenço; João Ramos Costa Andrade; Alexandre Ad'er Pereira; José Augusto Adler Pereira; Maria Cristina Maciel Plotkoviski; Paulo Peixoto de Araújo; Maria Lúcia de Barcellos Pereira; Ricardo Marques Dias; José Francisco de Melo; Frederico Rangel Araújo; Leyla Carvalho Gomes; Luiz André Viana Fernandes; Ítalo Suassuna

RESUMO

São relatadas observações acumuladas nos períodos pré-epidêmico e epidêmico (1973-1975) do atual surto de meningoencefalite meningocócica na área do Grande Rio, e realizados estudos bacteriológicos baseados em 1.000 casos suspeitos de meningoencefalite e submetidos à punção lombar, no Hospital Estadual São Sebastião.

É proposto e discutido esquema simples e eficaz para processamento bacteriológico dos LCR suspeitos, a partir da colheita e pronta semeadura do material. É também discutida a real contribuição da bacterioscopia no diagnóstico presuntivo das meningoencefalites, definindo-se as limitações da técnica.

Foi obtido elevado grau de isolamento de microorganismos, variando de 3%, para líquores entre zero e 10 células/mm' e 72%, para líquores acima de 1000 células/mm3. No decorrer do estudo, foram isoladas e caracterizadas 356 amostras bacterianas, assim discriminadas: N. meningitidis, 281; Haemophilus sp., 22; Enterobacteriaceae, 15; D. pneumoniae, 26; bastonetes gram negativos oxidattvos, 3; estreptococo beta hemolitico, 1 e enterococo, 1.

As amostras de meningococos eram, em 15% dos casos, do grupo sorológico A, em 2% do grupo B e em 14%, do grupo sorológico C.

Os testes de sensibilidade, em disco, aos agentes antimicrobianos principalmente utilizados na quimioprofilaxia e tratamento da doença meningocócica revelaram alto grau de sensibilidade das amostras ensaiadas a todos os agentes testados. A resistência à sulfadiazina sódica, em testes realizados segundo as normas preconizadas pela Food and Drug Administration (F.D.A.), revelaram elevado grau de resistência, particularmente dos meningococos do grupo C.

ABSTRACT

Data from the pre-epidemic period and from the present epidemic of meningococcal meningoencephalitis in the Great Rio de Janeiro area are presented. A thousand suspected cases were bacteriologically studied after lumbar spinal puncture at the Hospital Estadual São Sebastião, in Rio de Janeiro.

Aiming at a rapid and simple diagnostic procedure to be applied to spinal fluids errors and hazards of some techniques, based on stained microscopic slides and limited choice of culture media, are discussed.

Isolation of etiologic agents varied from three per cent in specimens with less than 10 white cells/mm3 to 72 per cent with fluids containing more than a thousand cells/mm3. The distribution of 356 isolated strains correspended to: Neisseria meningitidis (281); Haemophilus sp. (22); Enterobacteriaceae (15); pneumococci (26); Gram-negative oxidative rods (3); beta hemolytic streptococci (1) and enterococci (1).

Serologically the meningococci corresponded to 51 per cent group A, 2 per cent group B and 14 per cent group C strains. The remaining strains were not grouped with the mentioned available diagnostic sera or demonstrated spontaneous agglutination.

Very few cases of resistance to antibioties were found by using the diffusion sensitivity tests with discs of the common antimeningococcal drugs. Sulphadiazine resistence was frequent, however, particularly within the group C meningococcal isolations, when the dilution tests in solid media, according with the Food and Drug Administration (U.S.AJ instructions were employed.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

BIBLIOGRAFIA

Recebido para publicação em 20.6.1975.

Comunicação do Serviço de Microbiologia e Imunologia da U.E.R.J. e Hospital Estadual São Sebastião (Diretor: Dr. Waldyr Tavares, Diretor da Divisão Médica: Dr. Linandro Dias e Chefe do Laboratório de Patologia Clínica: Dr. Jayme Kac).

  • 1. ABBOTT, J. D. & GRAVES, J. F. R. - Serotype and sulphonamide sensitivity of meningococci isolated from 1966 to 1971. J. Clin. Pathol., 25: 528-530, 1972.
  • 2. ALEXANDER, H. E. - The Haemophilus group.. In Dubos, R.J. (Ed.), Bacterial and Mycotic infections of man., J. B. Lippincott Co., Philadelphia, 1952.
  • 3. ANDERSON, T. G. - Testing of susceptibility to antimicrobial agents and assay of antimicrobial agents in body fluids. In Blair, J. E., Lennette, E. H. & Truant, J. P. (Eds.), Manual of Clinical microbiology, American Society Microbiology, Bethesda, 1970.
  • 4. AUSTRIAN, R. - The pneumococci - Identification in cultures of blood and body fluids. In Graber, C. D. (Ed.), Rapid diagnostic methods in medical microbiology., Williams & Wilkins Co., Baltimore, 1970.
  • 5. BRIODY, B. A. - Eystemic infections involving the central nervous system., In Briody, B. A. & Gillis, R. E. (Eds.), Microbiology and infectious diseases. McGraw-Hill Inc., U.S.A., 1974.
  • 6. BRITT, E. M., NEEDHAM, G. M., BALO WS, A. & TRUANT, J. P. - Processing of specimens and the initiation of primary cultures and smears., In Blair, J. E., Lennette, E. H. & Truant, J. P. (Eds.), Manual of clinical microbiology, American Society for Microbiology., Bethesda, 1970.
  • 7. CARY, S. G. - The Neisseria, In Graber, C. D. (Ed.), Rapid diagnostic metihods in medical microbiology., Williams & Wilkins Co., Baltimore, 1970.
  • 8. COHN, H. J., BARTHOLOMEW, J. W. & JENNISDN, M. W. - Staining methods., In Society of American Bacteriologists, Comitee on Bacteriological Technic, Manual of Microbiological Methods., McGraw-Hill Inc., New York, 1957.
  • 9. CORBETT, W. P. & CATLIN, B. W. - Galactosidade activity of lactose-positive Neisseria. J. Bacteriol., 95: 52-57, 1968.
  • 10. DUKES, C. D. - The Haemophilus and Bordetella, In Graber, C. D. (Eds.), Rapid diagnostic methods in medical microbiology, Williams & Wilkins, Co., Baltimore, 1970.
  • 11. EYKYN, S. J., THOMAS, R. D. & PHILLIPS, I. - Haemophilus influenzae meningitis in adults. British Med. J., 1: 463-465, 1974.
  • 12. HERNANDÉZ, P. M., VALENZUELA, M. T. & MAY A, L. R. - Meningoencefalitis bacterianas. Rev. lat-amer. Microbiol., 15: 159-164, 1973.
  • 13. HOLLIS, D. G. WIGGINS, G. L. & SCHUBERT, J. H. - Sarological studies of ungroupable Neisseria meningitidis J. Bacteriol., 95: 1-4, 1968.
  • 14. HOLLIS, D. G. WIGGINS, G. L. & WEAVER, R. E. - Neisseria lactamicus sp. n., a lactose-fermenting species resembling Neisseria meningitidis Appl. Michobiol., 17: 71-77,1969.
  • 15 JAMES-HOLMQUEST, A. N., WENDE, R. D., MUDD, R. L. & WILLIAMS, R. P. - Comparison of atmospheric conditions for culture of clinical specimes of Neisseria gonorrheae Appl. Microbiol., 26: 466-469, 1973.
  • 16. KELLOGG JR., D. S., PEACOCK JR., W. L., DEACON, W. E., BROWN, L. & PIRKLE, C. I. - Neisseria gonorrheae I. Virulence genetically linked to clonal variation. J. Bacteriol., 85: 1274-1279, 1963.
  • 17. KING, E. O. The Identification of ununsual pathogenic gram negative bactéria. Center for Disease Control, Atlanta, 1974.
  • 18. LE VIGUELLAUX, J. - La méningite cérebro-spinale á méningocoques. Epidemiologie et problemes prophylactiques. Méd. Trop., 34: 405-419, 1974.
  • 19. McCARTY, M. - The Neisseriae, In Davis, B. D., Dulbecco, R., Eisen, H. N., Ginsberg, H. S. & Wood, W. B. (Eds.), Microbiology., Harper & Row Inc., U.S.A., 1973.
  • 20. McCARTY, M. - Host-parasite relations in bacterial infections., In Davis, B. D., Dulbecco, R., Eisen, H. N., Ginsberg, H. S. & Wood, W. B. (Eds.), Microbiology., Harper & Row Inc., U.S.A., 1973.
  • 21. MINISTÉRIO DA SAÚDE, FUNDAÇÃO SESP - Doença meningocócica no Estado da Guanabara. Boletim Epidemiológico, 6: 171, 1974.
  • 22. MORRAIS, J. S., MUNFORD, R. S., RISI, J. B., ANTEZANA, E. & FELDMAN, R. A. - Epidemic disease due to serogroup C Neisseria meningitidis in São Paulo, Brazil., J. Infect. Dis., 129: 568- 571, 1974.
  • 23. SOLÉ-VERNIN, C. - Estudos sobre os estreptococos. An. Microbiol., 4: 11-20, 1956.
  • 24. SUASSUNA, I. & SUASSUNA, I. R. - Enterobactérias: Diferenciação bioquímica. Rev. Bras. Patol. Clin., 1: 8-18, 1969.
  • 25. SUASSUNA, I., LOURENÇO, N. J. AN-DRADE, J. R. C. & PEREIRA, A. A. - Neisseria lactamicus em portadores. Causa de erro no diagnóstico de meningococos. Rev. Bras. Patol. Clin., 11: 32, 1975.
  • 26. THAYER, J. D., DEACON, W. E. & GARSON, W. - Gonococcus - procedures for isolation and identification., Center for Disease Control, Atlanta, 1963.
  • 27. Young, V. M. - Haemophilus, In Blair, J. E., Lennette, E. H. & Truant, J. P. (Eds.), Manual of clinical microbiology, American Society for Microbiology, Bethesda, 1970.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Jun 2013
  • Data do Fascículo
    Out 1975

Histórico

  • Aceito
    20 Jun 1975
  • Recebido
    20 Jun 1975
Sociedade Brasileira de Medicina Tropical - SBMT Caixa Postal 118, 38001-970 Uberaba MG Brazil, Tel.: +55 34 3318-5255 / +55 34 3318-5636/ +55 34 3318-5287, http://rsbmt.org.br/ - Uberaba - MG - Brazil
E-mail: rsbmt@uftm.edu.br