NECROLÓGIO OBTUARY
Professor Associado - Universidade Federal de Uberlândia
Sexta de dez filhos de casal que aguardou seu nascimento para viajar com a família no lombo de burros, como dizia a própria Lindioneza, do Piauí para o Maranhão e, dali para o norte de Goiás, hoje Estado do Tocantins. À beira da Belém-Brasília, fixaram residência construída pelas próprias mãos do pai onde, como forma de subsistência, serviam comida principalmente para caminhoneiros. Lá, Lindioneza, ainda uma criança pequena, trabalhou como garçonete.
Com cerca de 10 anos de idade veio para Uberlândia para estudar em troca do trabalho como doméstica/babá. Havia perdido poucos anos letivos porque, embora sempre fosse uma das melhores estudantes da classe, em um período morou em local que não tinha escola.
Continuou como ótima aluna e, após estudar na Escola Estadual de Uberlândia (Museu), fez curso preparatório (cursinho) e foi aprovada no vestibular para a Faculdade de Medicina e Cirurgia de Uberlândia (FEMECIU). No mesmo ano em que se casou (1981), se formou na Faculdade de Medicina (FAMED) já pertencente à Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
Tendo sido selecionada em primeiro lugar, mudou-se para São Paulo e cursou Residência em Saúde Pública na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Nesta cidade, cursou também o mestrado e o doutorado na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Durante o período em que se titulava, foi responsável pelas notificações de acidentes por animais peçonhentos no Estado de São Paulo e distribuição dos soros para o tratamento destes envenenamentos, trabalhou como médica no Hospital Vital Brazil, onde iniciou suas pesquisas e foi responsável por centros de saúde desta cidade.
Durante este período, teve dois filhos que criou com verdadeira paixão. Eram considerados suas maiores motivações de vida. O primeiro atualmente está terminando o Curso de Medicina na Universidade de São Paulo e a segunda, o Curso de Psicologia na UFU.
Finalmente, juntamente com o marido, retornou a Uberlândia onde trabalhou como professora da FAMED/UFU, até o final de sua vida.
Realizou estudos experimentais e, sobretudo, de epidemiologia e epidemiologia clínica, relacionados aos acidentes por animais peçonhentos e, mais recentemente, referentes às causas externas (acidentes e violências). Interessada em metodologia científica escreveu capítulos de livros e um livro sobre os fundamentos científicos em saúde.
Em Uberlândia, desde o início da década de 90, atuou como professora substituta da graduação e, posteriormente, como professora da Medicina Preventiva e Comunitária, e do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde (PPGCS). Foi também docente responsável pelo Centro de Saúde Escola Jaraguá, Gerente de Gestão de Informações Hospitalares do Hospital de Clínicas de Uberlândia. Atuou em várias comissões como a de Ética em Pesquisa da UFU e as Comissões de Documentação e Estatística, de Revisão de Prontuários e de Ensino e Pesquisa do HCU. Neste hospital, criou o Núcleo Hospitalar de Epidemiologia e o Centro de Referência em Atendimento à Pessoa Vítima de Violência que hoje, da mesma forma que o Laboratório de Informática do PPGCS, leva o seu nome.
Lindioneza Adriano Ribeiro era Professora Associada do Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal de Uberlândia.
Destacou-se, como pesquisadora, realizando trabalhos praticamente sem recursos financeiros, mas de grande interesse para o país, como quando deu subsídios para que se diminuísse a dose do soro equino no tratamento do envenenamento por Bothrops ou que se parasse de produzir soro contra a aranha tarântula (Lycosa sp), com sensível diminuição dos custos com estes tratamentos. Este último, é listado como um dos mais citados na literatura entre todos aqueles em que figura como autor algum pesquisador da UFU.
Foi pesquisadora do CNPq (Bolsista de Produtividade em Pesquisa) e, embora tenha nos deixado com apenas 54 anos, deixou também um legado de publicações que, entre outros, inclui cerca de 60 trabalhos em revistas científicas, dois livros e 12 capítulos de livros, além de quase duas centenas de resumos publicados em anais de congressos ou revistas científicas.
Perdeu-se assim, em 2009, um ser humano, uma profissional e uma trabalhadora da saúde que deixará saudades e fará falta em muitos lares, locais e campos de trabalho.
Lindioneza Adriano Ribeiro (* 1954 2009)
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
26 Fev 2010 -
Data do Fascículo
Dez 2009
