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Infecções pelos vírus das hepatites B e C e o carcinoma hepatocelular na Amazônia oriental

Hepatitis B and C virus infection and the hepatocellular carcinoma in the east Amazon, Brazil

Resumos

Com o objetivo de contribuir para um melhor conhecimento do envolvimento das infecções pelos vírus das hepatites B e C, na etioepidemiologia do CHC na Amazônia Oriental, estudou-se 36 pacientes em Belém-PA. Foram avaliados marcadores sorológicos e a pesquisa do HBV-DNA e HCV-RNA pela reação em cadeia da polimerase. Observou-se etilismo em 33,3% e cirrose em 83,3%. Marcadores sorológicos das infecções pelo HBV e HCV foram encontrados respectivamente em 88,9% e 8,3%. O HBsAg foi encontrado em 58,3%; anti-HBc em 86%; anti-HBe em 85,7; HBeAg em 9,5%; anti-HBc IgM em 57,1%. O HBV-DNA foi detectado em 37,7% e em 65% dos HBsAg positivos; o HCV-RNA em 8,5% e em 100% dos anti-HCV positivos. AFP esteve alterada em 88,9% e acima de 400ng/ml em 75% dos casos. Conclui-se que a infecção pelo HBV parece ter importância na etiologia do CHC e ressalta-se a importância de implementar programas de vacinação e detecção precoce do tumor.

Hepatite B e C; Hepatoma; Sorologia; Biologia molecular


In order to contribute to a better understanding of the possible role of hepatits B and C in the etiopathogenis of HCC in the East Amazon, there were studied 36 patients in Belém/PA. Serological hepatitis markers were evaluated and polymerase chain reaction assays were used to detect HBV-DNA and HCV-RNA. Alcohol abuse was observed in 33.3% and cirrhosis in 83.3%. In 88.9% of the sample, one or more hepatitis B markers were positive. Also, 8.3% those patients had anti-HCV simultaneously positive. The HBsAg serological test was positive in 58.3%; anti-HBc in 86%; anti-HBe in 85.7%; anti-HBe in 9.5%; IgM anti-HBc in 57.1%. The HBV DNA was found in 37.7% and in 65% of the HBsAg positive. The HCV RNA was detected in 8.5% and in 100% of' the patients positive to anti-HCV. The AFP was above the normal value in 88.9% of patients, with levels up to 400ng/ml in 75% of them. In conclusion, hepatitis B virus infection seems to be important in the etiology of HCC and improving measures such immunization and screening in the risk population should be emphasyzed.

Hepatitis B and C; Hepatocellular carcinoma; Serology; Molecular biology


Infecções pelos vírus das hepatites B e C e o carcinoma hepatocelular na Amazônia oriental

Hepatitis B and C virus infection and the hepatocellular carcinoma in the east Amazon, Brazil

Esther Castello Branco Mello MirandaI,II; Lizomar de Jesus Pereira MoiaI; Ivanete do Socorro Abraçado AmaralI; Maria Silvia de Brito BarbosaI; Simone Regina Souza da Silva CondeI; Marialva Tereza Ferreira de AraújoII; Ermelinda do Rosário Moutinho da CruzII; Samia DemachkiII; Gilberta BensabathIII; Manoel do Carmo Pereira SoaresIII

IPrograma de Hepatopatias Crônicas da Fundação Hospital Santa Casa de Misericórdia do Pará, Belém, PA

IIUniversidade Federal do Pará

IIIInstituto Evandro Chagas da Fundação Nacional de Saúde, Belém, PA

Endereço para correspondência Endereço para Correspondência: Profª Esther Castello Branco M. Miranda Rua Oliveira Belo 535, Umarizal 66090-000 Belém, PA, Brasil Tel: 91 242-9022 e-mail: miranda@amazon.com.br

RESUMO

Com o objetivo de contribuir para um melhor conhecimento do envolvimento das infecções pelos vírus das hepatites B e C, na etioepidemiologia do CHC na Amazônia Oriental, estudou-se 36 pacientes em Belém-PA. Foram avaliados marcadores sorológicos e a pesquisa do HBV-DNA e HCV-RNA pela reação em cadeia da polimerase. Observou-se etilismo em 33,3% e cirrose em 83,3%. Marcadores sorológicos das infecções pelo HBV e HCV foram encontrados respectivamente em 88,9% e 8,3%. O HBsAg foi encontrado em 58,3%; anti-HBc em 86%; anti-HBe em 85,7; HBeAg em 9,5%; anti-HBc IgM em 57,1%. O HBV-DNA foi detectado em 37,7% e em 65% dos HBsAg positivos; o HCV-RNA em 8,5% e em 100% dos anti-HCV positivos. AFP esteve alterada em 88,9% e acima de 400ng/ml em 75% dos casos. Conclui-se que a infecção pelo HBV parece ter importância na etiologia do CHC e ressalta-se a importância de implementar programas de vacinação e detecção precoce do tumor.

Palavras-chaves: Hepatite B e C. Hepatoma. Sorologia. Biologia molecular.

ABSTRACT

In order to contribute to a better understanding of the possible role of hepatits B and C in the etiopathogenis of HCC in the East Amazon, there were studied 36 patients in Belém/PA. Serological hepatitis markers were evaluated and polymerase chain reaction assays were used to detect HBV-DNA and HCV-RNA. Alcohol abuse was observed in 33.3% and cirrhosis in 83.3%. In 88.9% of the sample, one or more hepatitis B markers were positive. Also, 8.3% those patients had anti-HCV simultaneously positive. The HBsAg serological test was positive in 58.3%; anti-HBc in 86%; anti-HBe in 85.7%; anti-HBe in 9.5%; IgM anti-HBc in 57.1%. The HBV DNA was found in 37.7% and in 65% of the HBsAg positive. The HCV RNA was detected in 8.5% and in 100% of' the patients positive to anti-HCV. The AFP was above the normal value in 88.9% of patients, with levels up to 400ng/ml in 75% of them. In conclusion, hepatitis B virus infection seems to be important in the etiology of HCC and improving measures such immunization and screening in the risk population should be emphasyzed.

Key-words: Hepatitis B and C. Hepatocellular carcinoma. Serology. Molecular biology.

As infecções crônicas pelo vírus da hepatite B (HBV) e pelo vírus da hepatite C (HCV) estão associadas à maioria dos casos de CHC2 23. No Brasil, cerca de 68,5% dos casos estão relacionados à etiologia viral9. Por meio de técnicas de hibridização molecular, demostrou-se que a integração do HBV-DNA, no cromossoma do hospedeiro, ocorre durante o curso de infecção persistente pelo HBV e precede o aparecimento do CHC21. O desenvolvimento de CHC em ratos transgênicos reforça o papel trans-ativador do gene HBxAg na carcinogênese15. O HCV-RNA não se integra ao genoma do hospedeiro, mas por levar a doença necro-inflamatória, agiria como promotor da carcinogênese por aumentar as chances de rearranjamentos nas seqüências do DNA3. Entretanto, alguns estudos mostram a persistência e replicação do genoma do HCV no CHC mesmo ausência de cirrose6. OCHC é muito freqüente em determinados locais, como a China, sudeste Asiático e África. A incidência varia com a área geográfica, raça, sexo e idade10. No Brasil, foram registrados, no ano de 1992, 3.827 óbitos em virtude de neoplasia maligna de fígado e vias biliares, segundo dados do Ministério da Saúde7. Contudo, em conseqüência da falta de registros que expressem a verdadeira situação, não existem ainda informações seguras quanto à incidência do CHC. Observam-se variações decorrentes de grandes diferenças regionais e alguns dados sugerem uma incidência elevada na Amazônia8. Devido a escassez de dados relacionados à incidência dos marcadores sorológicos das hepatites virais em pacientes com CHC em nosso meio, ressalta-se a necessidade de estudos que contribuam para um melhor conhecimento do envolvimento das infecções pelos vírus das hepatites B e C na etioepidemiologia do CHC.

CASUÍSTICA E MÉTODOS

As observações foram feitas em Belém-PA, Brasil em pacientes atendidos em três hospitais públicos no período de jan/1992 a jan/1999. Para efeito de definição de caso de CHC utilizaram-se os seguintes critérios: sinais e sintomas clínicos com diagnóstico compatível pela US abdominal e/ou TC de abdome e níveis de AFP acima de 400ng/ml; e/ou diagnóstico histopatológico. Investigou-se 36 pacientes, sendo 24 com diagnóstico histopatológico de CHC e doze que atenderam aos outros critérios já especificados. Avaliou-se a clínica, etilismo (consumo igual ou superior a 80g/dia de etanol), sorologia para os marcadores das hepatites virais, dosagem sérica de AFP, exames de biologia molecular (pesquisa dos ácidos nucléicos virais HBV-DNA e HCV-RNA). Biópsia hepática foi realizada conforme indicações e restrições. Os exames sorológicos para as hepatites B, C, e D (para os casos HBsAg positivos) e a dosagem de AFP foram realizados com métodos imunoenzimáticos (ELISA). Todos os soros foram examinados para o HBsAg, antiHBc, anti-HBs e anti-HCV. Os testes para o HBsAg e anti-HBc foram realizados com kits do laboratório Organon Teknika® e os positivos para o HBsAg foram testados para o HBeAg, anti-HBe, anti-HBc IgM e anti-HD. A detecção do anti-HBs e dosagem de AFP foram realizadas com kits do Laboratório Abbott®, considerando-se como valor de referência 10ng/ml. As dosagens de AFP foram avaliadas até a diluição de 74.000ng/ml. Para detecção do anti-HCV, utilizaram-se kits do laboratório Ortho® (OrthoTM HCV 3.0 ELISA Test System). Em todos os testes sorológicos, os resultados foram considerados duvidosos quando a densidade óptica ficou 20% acima ou abaixo do valor de corte, para o EIA e MEIA. A pesquisa do anti-HCV foi suplementada por Ensaio Immunoblot, Recombinant Immunoblot Assay (RIBA II e/ou LiateK III). Considerou-se como caso anti-HCV positivo, aqueles soros que tiveram o diagnóstico suplementado por Immunoblot positivo. Realizou-se coletas específicas de soro para a pesquisa (qualitativa e quantitativa) do HBV-DNA e o HCV-RNA com kits do Laboratório ROCHE (AMPLICOR HBV MONITORTM, Amplicor® HCV e AMPLIcor-HCV MONITORTM), que utilizam a reação em cadeia pela polimerase (PCR) para amplificação e hibridização do DNA e RNA. Utilizou-se para análise estatística os programas EPI INFO (versão 6.0) e Bioestat for Window (versão 1.0)1. Os testes utilizados foram: Qui-quadrado, Kruskal-Wallis, Komorogov-Smirnov e Mann-Witheney. Estabeleceu-se em 0,05 (5%) o nível de rejeição (p < 0,05).

RESULTADOS

Nos 36 pacientes estudados, houve predomínio do sexo masculino (p<0,01) com 86,1% (31/36) pacientes masculinos e 13,9% (5/36) femininos (relação M/F 6,2 /1). Média e mediana encontradas foram respectivamente de 50,8 e 53,0 anos (amplitude 6-81). A faixa etária predominante foi entre 50 e 60 anos (p<0,05).

O Estado do Pará foi responsável por 88,9% da casuística, sendo os restantes do Maranhão (5,6%) e do Amapá (5,6%). Belém (27,8%) foi o município de procedência mais freqüente, seguido por Altamira (PA) (8,3%), Macapá (AP) e Turiaçu (MA) com 5,6% (Figura 1).


Lavrador (38,9%) foi a ocupação mais freqüente. Cinquenta e três por cento dos pacientes eram procedentes da zona rural e 47% da zona urbana. Em relação aos sintomas e sinais, dor abdominal e hepatomegalia foram os mais freqüentes encontrados em 94,4% dos pacientes. Etilismo foi encontrado em 33,3% e cirrose em 83,3% dos casos. Mediante a aplicação da classificação de Child-Pugh, estes pacientes apresentaram-se em 53,3% como classe C e 26,7% como classe B.

A análise dos marcadores sorológicos das hepatites virais demostrou que 88,9% (32/36) dos casos apresentavam um ou mais marcadores do HBV e do HCV, sendo o HBsAg positivo em 58,3% (21/36) dos casos. Foram anti-HCV positivos, 8,3% (3/36) dos casos. Algum marcador do HBV esteve presente em todos os casos anti-HCV positivos. O anti-HD não foi encontrado. O anti-HBc foi o marcador mais freqüente, sendo positivo em 86% (31/36); associado ao HBsAg em 58,3% (21/36) e associado ao anti-HBs em 25% (9/36). O anti-HBc isolado foi positivo em 2,8% (1/36) dos casos. Em 11,1% (4/36) dos casos não observou-se a ocorrência de marcador sorológico de infecção pelo HBV ou pelo HCV (Figura 2).


Os pacientes HBsAg positivos (21/36), também foram testados para o anti-HBc IgM, HBeAg, anti-HBe. O HBeAg foi encontrado 9,5%, o anti-HBe em 85,8% dos casos. Em 4,7% (1/21) ambos estavam negativos. O anti-HBc IgM foi positivo em 57,1% dos casos. A positividade do anti-HBc IgM no total de casos estudados foi de 33,3% (12/36). Não ocorreu positividade para o anti-HBc IgM entre os casos com ausência de marcador de infecção do HBV. Entre os casos anti-HBc IgM positivos, (12/21), dois foram também HBeAg positivos (2/21). Comparando-se os casos HBsAg-positivos e os HBsAg-negativos e a idade em anos, observou-se que a mediana de idade dos casos positivos e dos casos negativos são respectivamente 46 e 65 anos (p<0,0035). Já para os casos anti-HCV positivos e os anti-HCV negativos, a comparação entre as medianas de idade respectivamente de 68 e de 51 anos não foi significativa.

O HBV-DNA e o HCV-RNA foram pesquisados em 97,2% dos pacientes. O HBV-DNA foi positivo em 37,7% (13/35) e entre os 21 casos HBsAg positivos, foi positivo em 65% (13/20) como mostra a Tabela 1.

Houve concordância com sete casos anti-HBc IgM positivos e com dois casos HBeAg positivos O HBV-DNA quantitativo realizado em 20 casos HBsAg positivos variou de 1.283 a 1.160.00 cópias/ml (média geométrica=53,51E+031). O HCV-RNA foi positivo em 8,5% (3/35) dos casos e em concordância com os três casos anti-HCV positivos pelo teste de imunnoblot. O HCV-RNA quantitativo variou de 1.643 a 214.185 cópias por ml.

A dosagem de AFP, realizada em todos os pacientes, mostrou amplitude de 2,0 a 74.792ng/ml. Em 11,1% a titulação foi inferior a 10ng/ml. Em 75% mostrou-se acima de 400ng/ml e em 27,8% a titulação foi igual ou superior a 70.000ng/ml. Os casos HBsAg-positivos, apresentaram mediana de AFP de 9.800ng/ml e os HBsAg-negativos de 412ng/ml (p=0,0074). Os níveis de AFP foram maiores naqueles indivíduos que evoluíram para o óbito e nos portadores de doença hepática crônica (p<0,05). Os casos HBsAg positivos eram mais jovens (p=0,0035) e com níveis mais elevados de AFP (p=0,0014), em relação aos casos HBsAg negativos.

DISCUSSÃO

A associação do CHC com as infecções pelo HBV e HCV apresenta no Brasil variações regionais.O HBsAg sérico varia em percentuais de 12,5% a 71,4%9.Na amostra estudada em 88,9% encontrou-se um ou mais marcadores do HBV e desses, em 8,3% em concomitância com o marcador de infecção pelo HCV. Houve predomínio da infecção pelo HBV com positividade do HBsAg de 58,3%. Maiores percentuais têm sido encontrados em regiões da Ásia e África, onde o HBsAg sérico é detectado em 45% a 80% dos pacientes com CHC1.Em relação ao anti-HBc, apresenta-se geralmente em percentuais elevados principalmente em áreas de elevada endemicidade19. Nos pacientes ora estudados, o anti-HBc foi o marcador sorológico mais freqüente, encontrando-se positivo em 86%. O anti-HBs e o antiHBc foram encontrados em 25% dos casos. O desaparecimento tardio do HBsAg poderia estar relacionado a sérias complicações, como o CHC, sendo este evento observado especialmente em pacientes masculinos e com idade acima de 45 anos11.

Encontrou-se nos casos estudados o HBeAg em 9,5% e o anti-HBe em 85,8%. Nos CHC HBsAg positivos, o anti-HBe é mais freqüente que o HBeAg que se apresenta positivo em menos de 20-35% dos casos em conseqüência de baixos níveis de replicação viral21 22. O sistema HBeAg/anti-HBe tem sido encontrado em percentuais de 16,6% e 83,4% na Espanha20 e na África do Sul em 32,3 e 68,6%22. Uma fase não replicativa da infecção pelo HBV, antecede o CHC em pacientes HBsAg positivos e os marcadores séricos de replicação viral, estão presentes em percentuais inferiores a 30%21. Na amostra estudada, o anti-HBc IgM foi encontrado em 57,1% dos casos HBsAg positivos, semelhante ao encontrado em outros estudos16.

Os resultados dos exames biomoleculares mostraram percentuais do HBV-DNA em 37,7% do total de casos e em 65% dos casos HBsAg positivos. Em outros relatos, o HBV-DNA foi encontrado em percentuais variáveis de 26,7% a 80%15 22 . Contudo, percentuais mais elevados (100%) também têm sido encontrados16 20. Não encontrou-se o HBV-DNA em soros de pacientes HBsAg negativos, ou com marcadores de infecção passada pelo HBV. Entretanto, outros estudos referem a presença do HBV-DNA em casos de CHC HBsAg negativos17 20. O anti-HCV foi positivo em 8,3% dos pacientes e sempre associado a algum marcador do HBV. Elevada associação entre HCV e CHC tem sido encontrada em vários países, como na Itália5, Espanha20 e Japão23. No Brasil, observa-se uma tendência de maior participação do HCV em estados do sul e sudeste e em populações urbanas, com percentuais de anti-HCV entre 8 e 50% e freqüência média de 26,9%9. Em 11,1% dos pacientes, todos os marcadores foram negativos. Estes achados sugerem que outros fatores etiológicos, poderiam estar relacionados ao desenvolvimento do CHC. Condições climáticas regionais poderiam favorecer a contaminação de alguns alimentos pelas aflatoxinas (principalmente aflatoxina B) que estariam implicadas como importantes co-fatores na gênese do CHC. O percentual de etilismo observado foi semelhante a média encontrada Brasil. Encontrou-se cirrose associada em 83,3% dos pacientes avaliados. Em um estudo multicêntrico no Brasil, ocorrência de cirrose associada ao CHC foi encontrada em 71,2%9.

O comportamento da AFP na presente casuística foi semelhante ao encontrado em regiões de alta incidência do CHC13.Encontrou-se uma associação positiva entre os níveis mais elevados de AFP com o HBsAg e a presença de doença hepática crônica. Achados semelhantes foram encontrados no Zaire13 e no Japão18.Devido ao crescimento silencioso e reservado prognóstico do CHC, programas com avaliações periódicas da AFP e US têm sido utilizados com conseqüente melhora na sobrevida12. Como resultados contraditórios têm sido observados em alguns locais5, questiona-se quais populações seriam beneficiadas com estes programas deinvestigação, qual a freqüência que estes testes devem ser realizados e se a detecção precoce realmente prolonga a sobrevida em pacientes com cirrose11 24. Em algumas regiões, medidas como a vacinação de crianças contra o HBV levaram a redução da incidência do CHC24. A maioria dos casos avaliados encontrava-se em estágio avançado de doença, sem possibilidade de terapêutica curativa. Portanto, em populações de risco, os recursos utilizados no diagnóstico precoce, ainda não são práticas de rotina, ressaltando-se a importância da implementação de medidas preventivas para as infecções virais relacionadas.A Amazônia brasileira passa por um momento de transformações eco-epidemiológicas de diversas ordens e medidas de prevenção para as hepatites B e C estão sendo aplicadas e implementadas. Por isso ressalta-se a necessidade de se monitorar prospectivamente a etioepidemiologia do CHC na região.

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    • Publicação nesta coleção
      26 Set 2014
    • Data do Fascículo
      2004
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