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O camponês e seu corpo

The peasant and his body

Le paysan et son corps

Baseado em um estudo da cidade em que passou a infância (no Béarn, no Sudoeste da França), realizado nos anos 1960, combinando história, estatística e etnografia, o autor demonstra como as posições econômicas e sociais influenciam no crescimento da taxa de celibato em uma sociedade camponesa baseada na primogenitura graças à mediação da consciência incorporada que os homens adquirem de sua posição social. A cena de um baile local em que os solteiros reúnem-se à parte serve para iluminar e dissecar o choque cultural entre o campo e a cidade e a conseqüente desvalorização dos jovens do campo quando as categorias urbanas de julgamento penetram no mundo rural. Como sua educação e sua posição social leva as jovens a serem sensíveis à "apresentação" (aparência, vestimenta, porte, comportamento), bem como abertas aos ideais urbanos, elas assimilam os padrões culturais vindos da cidade mais rapidamente que os rapazes, o que condena os últimos a serem medidos por metros que os desvalorizam aos olhos de suas potenciais cônjuges. Como o camponês internaliza, por seu turno, a imagem desvalorizada que os outros formam de si a partir das categorias urbanas, ele passa a perceber seu próprio corpo como um corpo "encamponizado" ["em-peasanted"], carregado dos traços das atividades e das atitudes associadas à vida rural. A má consciência que ele tem de seu corpo leva-o a romper a comunhão com ele e a adotar uma atitude introvertida que amplifica a vergonha e o sem-jeito produzidos pelas relações sociais marcadas pela extrema segregação dos sexos e pela repressão do compartilhamento das emoções.

celibato; casamento; campesinato; habitus; cultura local; relações de gênero; Béarn


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