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Os empresários enquanto elite e a política: uma agenda de pesquisa

Businesspeople as an elite and politics: a research agenda

Abstract

Introdução:

O uso da expressão “elite” está presente desde as primeiras obras até as pesquisas mais recentes sobre a relação entre empresariado e os diversos âmbitos da política no Brasil. Este artigo propõe uma revisão crítica dessa literatura como forma de verificar as implicações desse uso na construção de uma nova agenda de pesquisas.

Materiais e métodos:

Foram analisadas 80 obras entre livros e artigos publicadas desde meados da década de 1960 ao final da década de 2010 sobre o Brasil e outros países da América Latina. Os trabalhos foram selecionados a partir de sua contribuição para o estudo dos empresários como elite.

Resultados:

Verificou-se que uma parte significativa dessa literatura utiliza a expressão elite de forma pouco rigorosa, enquanto para outra parte a expressão comporta referências a questões e métodos que caracterizam os estudos de elites. Isso indica a presença de uma agenda de pesquisa diversificada e perene, ainda que difusa. Além disso, há uma dinâmica semelhante quando analisamos alguns estudos sobre outros países latino-americanos.

Discussão:

Apesar da natureza difusa dessa agenda, os trabalhos analisados indicam que é possível encontrar contribuições importantes para a caracterização do estado atual deste tipo de pesquisa. Este percurso pela literatura permitiu uma sistematização de questões teóricas, problemas de pesquisa e procedimentos metodológicos que contribuem para o fortalecimento das análises dos empresários enquanto elite e de sua relação com a política.

Palavras-chave
empresários; elites políticas; elite econômica; elite empresarial; revisão crítica

ABSTRACT

Introduction:

The term “elite” has consistently featured in scholarly literature, spanning from earlier works to the most recent research examining the interplay between the world of business and various facets of Brazilian politics. This article provides a critical review of this body of literature, with the intention of assessing the implications of the usage of this term in shaping a novel research agenda.

Materials and methods:

We analyzed a total of 80 publications, comprising books and articles, spanning the period from the mid-1960s to the close of the 2010s about Brazil and other Latin American countries. These works were selected for their significant contributions to the study of businesspeople as an elite group.

Findings:

We observed that a substantial portion of this literature employs the term “elite” with varying degrees of rigor, while another segment integrates references to concepts and methodologies characteristic of elite studies. This points to the existence of a multifaceted and enduring, albeit somewhat scattered, research agenda. A similar pattern emerges when we examine studies focused on other Latin American nations.

Discussion:

Despite the scattered nature of this research agenda, the examined works indicated that it is possible to find significant contributions to delineate the present state of research in this field. Our comprehensive literature review allowed for a systematization of theoretical inquiries, research questions, and methodological approaches that enrich the analysis of businesspeople as an elite and their intricate relationship with politics.

Keywords
businesspeople; political elites; economic elite; business elite; literature review

I. Introdução1 1 Este trabalho integra projeto de Bolsa de Produtividade em Pesquisa do CNPq. Meus agradecimentos nada protocolares a quem avaliou a primeira versão deste artigo.

As obras fundamentais da Sociologia e da Ciência Política já indicam a importância da questão dos empresários, expressão genérica que aqui se refere aos proprietários e/ou controladores do capital e responsáveis pelas atividades empresariais voltadas para o lucro privado. Mesmo que sob diversos enfoques teóricos e denominações, a importância deste grupo e dos indivíduos que o compõem na formação e nas características das sociedades capitalistas é óbvia. Mas quando consideramos a análise do seu comportamento, identificados como classe dominante, burguesia, capitalistas, empresariado, elite econômica, elite empresarial, executivos, homens de negócio, mercado ou simplesmente empresários, percebemos que ela tende a se dar em torno de três abordagens, não excludentes: 1- enquanto coletivo, seja como classe social ou conjuntos difusos (mercado, setor privado, livre iniciativa etc.); 2- enquanto indivíduos específicos; 3- enquanto instituições, que podem ser empresas, entidades de representação (sindicatos, federações, confederações e associações patronais, câmeras de comércio) ou as que comportam presença relevante de empresários (institutos, think tanks etc.).

Tais abordagens podem se referir às relações entre empresários e economia, gerência, sociedade, cultura ou política, mas em todas dificilmente se pode deixar de se reportar a um grupo reduzido ou até a indivíduos que, de uma forma ou de outra, representariam essas formas de manifestação do comportamento dos empresários passíveis de análise, em especial de natureza acadêmica. O enfoque teórico e a forma de considerar esses indivíduos e interpretar o seu comportamento certamente muda de acordo com o referencial teórico, mas não tem como ser desconsiderado. Isso ocorre também na mídia e no senso comum.

Enfim, considerando que a empresa, as instituições que contam com a presença de empresários ou mesmo a classe não deixam de se expressar através de indivíduos e nem agem como um todo, ou seja, não contemplam a presença ou a participação direta de todos que comporiam tal coletivo ou que seriam por elas representados, coloca-se de forma inevitável a importância destes indivíduos que ocupam as posições de destaque em tais instituições ou até no poder público. Isso torna necessária a localização e a caracterização desses indivíduos, que aqui chamamos de elites do empresariado, no sentido daqueles que se destacam no exercício da atividade empresarial ou das formas de manifestação de seu comportamento coletivo, nos termos acima definidos2 2 Estamos considerando as proposições de Aron a partir das ideias de Pareto. Para Aron, não é preciso buscar um sentido profundo, metafísico ou moral para a noção de elite: “trata-se de uma categoria social, objetivamente perceptível”. Portanto, a elite é “composta dos que mereceram boas notas no concurso da vida, ou tiveram sorte na loteria da existência social” (Aron, 2000, p. 411). .

Tais elites podem se manifestar de formas distintas, por vezes confundidas e sobrepostas, a despeito de suas diferenças: a elite econômica, composta pelos altos dirigentes de grandes empresas, e a elite empresarial, que contempla os dirigentes de entidades de representação empresarial (Costa, 2014Costa, P.R.N. (2014) Elite empresarial e elite econômica: o estudo dos empresários. Revista de Sociologia e Política, 22(52), pp. 47-57. DOI
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). Como vimos acima, pode ser considerada também a presença dos empresários nas elites políticas ou em partes delas, como os ministros de Estado, os chefes do poder Executivo ou os parlamentares3 3 Sobre este último aspecto, ver Costa et al. (2014). .

E localizar e analisar o comportamento destas elites no estudo da relação entre empresários e política é também importante em função dos ganhos analíticos, seja quando a pergunta é sobre uma ou várias instituições ou sobre as formas coletivas empresariais acima mencionadas.

Este artigo realiza uma revisão crítica, a partir dos critérios de Grant & Booth (2009)Grant, M.J. & Booth, A. (2009) A typology of reviews: an analysis of 14 review types and associated methodologies. Health Information & Libraries Journal, 26(2), pp. 91-108. DOI
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, orientada pelas seguintes perguntas: como se daria a análise da relação entre empresários e política quando se remete à questão da, ou simplesmente se usa a expressão, elite? Quais seriam as questões teóricas, os problemas de pesquisa e os procedimentos metodológicos adotados? Nosso objetivo não é simplesmente constatar a presença dessa questão, a existência dessa abordagem ou caracterizar o escopo dessa produção, já volumosa e diversificada, mas destacar as contribuições dos estudos já realizados, fortalecer a agenda de pesquisa sobre os empresários e servir como base para novas pesquisas. Portanto, mais um ponto de partida, ou “launch pad”, do que de chegada, como indicam Grant & Booth (2009, p. 93).

II. Metodologia

Esta revisão crítica parte de experiências pessoais de pesquisa sobre o Brasil, mas sobretudo na definição dos objetivos e do problema de pesquisa e do modelo de análise. Foram contemplados trabalhos que remetem à relação entre empresários e política, em especial àqueles que contemplam o uso da expressão elite ou se caracterizam por estudar os empresários usando procedimentos típicos de estudos sobre elites ou estudos de elites. Para tanto, remetemos às proposições de Hofmann-Lange (2007)Hoffmann-Lange, U. (2007) Methods of elite research. In: R.J. Dalton & H.-D. Klingemann (eds) The Oxford handbook of political behavior. Oxford: Oxford University Press, pp. 79-82. e de Codato (2015)Codato, A.N. (2015) Metodologias para a identificação de elites: três exemplos clássicos. In: A.N. Codato & R.M. Perissinotto (eds) Como estudar elites. Curitiba: Editora da UFPR, pp. 15-30., ajustadas aos objetivos deste artigo, as quais se referem às questões relacionadas à identificação e à caracterização dos membros da elite que se pretende estudar e ao estudo de suas relações de poder frente a outras elites e às instituições, públicas ou privadas4 4 Para detalhes sobre estudo de elites ver Hofmann-Lange (2007) e Codato (2015). Sobre estudo dos empresários enquanto elite na pesquisa empírica, ver Costa (2015). .

Nessa frente, estão presentes trabalhos de meados da década de 1960 até os dias de hoje. Além disso, agregamos alguns estudos mais recentes sobre países da América Latina, por entendermos que trazem ganhos em relação aos nossos objetivos e porque em alguns trabalhos clássicos sobre a relação entre empresários e política no Brasil, a comparação, e até a pretensão de estender a análise sobre o caso brasileiro para outros países da região se mostrou presente.

Seja pela questão do poder econômico, seja por suas implicações políticas, os estudos sobre os empresários enquanto elite frequentemente trazem alguma referência à política e àqueles que exercem a representação de interesses empresariais, ou à participação de empresários na composição de diversas elites políticas.

Os textos foram analisados a partir dos seguintes critérios: 1- como se dá a abordagem: se apenas usa a expressão elite ou se realiza um estudo sobre elites; 2- qual é a questão que orienta o estudo; 3- quais são os procedimentos metodológicos adotados; e 4- quais são as questões teóricas, explícitas ou subjacentes.

III. Os empresários enquanto elite e a política na literatura

No Brasil, antes e depois dos anos 1960 e 1970, surgiram importantes trabalhos de natureza ensaística, ou seja, de interpretação do processo de formação da sociedade capitalista no Brasil, que trazem inferências acerca da burguesia nesse processo5 5 Como Sodré (1967), Jaguaribe (1958), Fernandes (1984) e Gorender (1981). Sobre a forma como a literatura sobre desenvolvimento econômico e industrialização caracteriza o capital privado nacional, ver Costa & Borck (2015). . São também de grande relevância os trabalhos que contemplam a presença dos empresários no estudo das elites políticas, como os de Love & Barickman (1982Love, J. (1982) A locomotiva. Rio de Janeiro: Paz e Terra.; 2006Love, J. & Barickman, B.J. (2006) Elites regionais. In: Por outra história das elites. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas.), os quais consideram os dirigentes de grandes empresas no estudo das elites políticas paulistas na Primeira República (1889-1937), e o de Dreifuss (1981)Dreifuss, R.A. (1981) 1964: a conquista do Estado - ação política, poder e golpe de classe. Petrópolis: Vozes., que propõe o conceito de “elite orgânica” na análise das relações entre empresariado e elites políticas no contexto do Golpe de 64.

Os primeiros estudos sociológicos surgem nas décadas de 1960 e 1970. Tais trabalhos baseiam-se em pesquisas empíricas sobre os altos dirigentes de grandes empresas, sejam eles pensados como classe, burguesia, capitalistas, patrões, elite econômica ou simplesmente empresários, e indicam, de um lado, a relevância sociológica atribuída aos dirigentes de grandes empresas, ou seja, a elite econômica, e de outro, a utilização de procedimentos metodológicos e, em menor grau, às questões teóricas, características dos estudos sobre elites.

Cardoso abre esse período com seu estudo sobre os empresários industriais. As entrevistas com os “empreendedores” que dirigiam grandes indústrias visavam, de um lado, verificar sua participação no desenvolvimento econômico do Brasil e, de outro, estudar os empresários a partir das consequências das transformações no capitalismo brasileiro sobre as “funções empresariais”. Cardoso considera os industriais como “classe social”, tentando apreender as condições sociais de formação da “burguesia industrial”, a sua “mentalidade”, ou a forma como tomam consciência dos problemas do desenvolvimento econômico, e as suas perspectivas políticas (Cardoso, 1964Cardoso, F.H. (1964) Empresário industrial e desenvolvimento econômico no Brasil. São Paulo: Difel.).

Cardoso afirma que as “elites dirigentes da economia” tornaram-se também “elites políticas”, pois o êxito das empresas exigia que se ultrapassasse o âmbito dos negócios e se interferisse no sistema político, disputando-o com os novos grupos gerados pela própria dinâmica da produção moderna, proprietários ou não. O autor entende que os empresários não tinham condições econômicas e sociais nem para se constituírem enquanto “classe”, nem para definir e dirigir o modelo de desenvolvimento econômico. E as associações e entidades de representação empresarial padeceriam das mesmas limitações de sua “classe” (Cardoso, 1964Cardoso, F.H. (1964) Empresário industrial e desenvolvimento econômico no Brasil. São Paulo: Difel.).

Para Cardoso, “… a explicação da mentalidade, dos valores e das ideologias, das possibilidades de atuação dos empresários latino-americanos, tanto como chefes de empresa, como em sua atuação organizada como classe social”, dependeria das condições específicas de cada contexto social (Cardoso, 1967Cardoso, F.H. (1967) Las elites empresariales en America Latina. In: A.E. Lipset & S.M. Solaris (eds) Elites y desarrollo en America Latina. Buenos Aires: Paidós, pp. 105-124., p. 124).

Cardoso estudou as “possibilidades de ação” e o “modo de ser” das “elites empresariais latino-americanas” em comparação com a Europa e os EUA. Novamente, tais elites são reduzidas às “elites industriais” e a pesquisa se baseia em entrevistas com altos dirigentes de empresas, usando variáveis como ocupação dos pais, nível educacional, trajetória até a gerência, incentivos para exercer a função empresarial, aspectos da personalidade e autodefinição (Cardoso, 1967Cardoso, F.H. (1967) Las elites empresariales en America Latina. In: A.E. Lipset & S.M. Solaris (eds) Elites y desarrollo en America Latina. Buenos Aires: Paidós, pp. 105-124.).

Quando volta à questão das “elites empresariais” na América Latina, Cardoso atribui a este conceito uma acepção “ambígua”: de um lado, seriam os “novos grupos” surgidos no interior das “classes produtoras”, devido à heterogeneidade do sistema de classes e ao papel de liderança que podem ser desempenhados por “subgrupos específicos”. De outro, remeteria à transformação do “padrão estrutural das sociedades latino-americanas” e de seus mercados nacionais (Cardoso, 1969Cardoso, F.H. (1969) Mudanças sociais na América Latina. São Paulo: Difel.). Mas, nesse texto o autor não recorre a uma pesquisa específica, somente àquilo que entende ser a história latino-americana. Por fim, em outro trabalho, Cardoso mantém a questão da classe, mas não a noção de elite ou o estudo sobre elite (Cardoso, 1993Cardoso, F.H. (1993) A construção da democracia. São Paulo: Siciliano.).

Martins, em sua análise sobre a “formação histórica” e o “comportamento social” da “burguesia nacional” ou do “empresário industrial”, também analisa os “grandes industriais”. A questão era o papel dos empresários na crise “pós-desenvolvimentista” que marcava o Brasil dos anos 1960. Martins aplicou questionários aos dirigentes dos maiores grupos industriais do Rio de Janeiro e de São Paulo. As perguntas tratavam de temas como o relacionamento com as empresas estrangeiras, o setor agrário, a política e a ocupação dos pais e avós. Ele conclui que os “setores industrializantes” não se aproximavam do “modelo schumpeteriano de empreendedor” e tenderam a se acomodar ao perfil excludente, autocrático e dependente do modelo de desenvolvimento econômico que marcou o capitalismo brasileiro (Martins, 1968Martins, L. (1968) Industrialização, burguesia nacional e desenvolvimento. Rio de Janeiro: Saga.).

O trabalho de Bresser Pereira vai na mesma direção ao analisar os “empresários industriais e administradores”, verificando, a partir de entrevistas com dirigentes de grandes indústrias, o seu papel na industrialização e no desenvolvimento econômico e político do Brasil. Suas questões tratavam das origens étnicas e sociais, da mobilidade social e da carreira dos dirigentes das empresas paulistas. Mais uma vez, há a referência ao modelo schumpeteriano (Bresser-Pereira, 1974Bresser-Pereira, L.C. (1974) Empresários e administradores no Brasil. São Paulo: Brasiliense.).

Bresser Pereira constata que os industriais pertenciam às classes médias e que a ascensão social teria se dado por etapas, desde seus avôs, que na maioria eram imigrantes. O autor defende que a ideia de Hélio Jaguaribe de uma “burguesia nacional” capaz de liderar o desenvolvimento econômico no Brasil em bases capitalistas e nacionalistas somente faria sentido até meados dos anos 1950, dado que, posteriormente, uma série de fatores novos teria inviabilizado o seu surgimento. Mas, para o autor, isso não significa que a “burguesia industrial” era uma abstração ou um grupo sem um mínimo de coesão, dado que possuiria certa “identidade de classe” (Bresser-Pereira, 1974Bresser-Pereira, L.C. (1974) Empresários e administradores no Brasil. São Paulo: Brasiliense.).

Posteriormente, Bresser Pereira passou a tratar da questão dos empresários através da noção de “alianças de classe”. O mesmo ocorreu em trabalho mais recente com Diniz (Bresser-Pereira & Diniz, 2009Bresser-Pereira, L.C. & Diniz, E. (2009) Empresariado industrial, democracia e poder político. Novos Estudos - CEBRAP. DOI
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) e em outro de autoria própria (Bresser-Pereira, 2015Bresser-Pereira, L.C. (2015) A construção política do Brasil. São Paulo: 34.). Quando aparece a questão das “elites” diante da política econômica de Lula da Silva e Dilma Roussef, o autor não repete o estudo sobre elites que havia feito anteriormente (Bresser-Pereira, 2013Bresser-Pereira, L.C. (2013) Empresários, o governo do PT e o desenvolvimentismo. Revista de Sociologia e Política, 21(47), pp. 21-29. DOI
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).

Diniz, na sua “caracterização da ideologia e da atuação política da burguesia industrial” brasileira no processo decisório que envolvia conselhos técnicos do governo e as associações de classe no período 1930-1945, utiliza expressões como: “elites dominantes” para se reportar ao conjunto complexo e dinâmico que envolve classes de grupos de interesse dominantes; “elite industrial”, para se referir a um pequeno número de empresas de grande porte; “elite burguesa”, quando trata de conflitos entre essa e outras elites que comporiam a coalizão dominante; finalmente, “elites rurais tradicionais” e “elites industriais emergentes”, ao constatar certa complementaridade de interesses entre elas (Diniz, 1978Diniz, E. (1978) Empresário, Estado e capitalismo no Brasil: 1930/1945. Rio de Janeiro: Paz e Terra.).

Boschi se refere às “elites industriais” para estudar os “tipos de vínculos” entre a “burguesia industrial nacional” e o aparelho de Estado no contexto de uma sociedade em desenvolvimento capitalista, e as condições para a “hegemonia burguesa”. Daí a questão da iniciativa da “burguesia local” na criação de um “quadro institucional” para a integração do mercado e para sua expansão como classe. Através de entrevistas de natureza não estruturada com altos dirigentes, tanto de grandes empresas quanto de entidades de representação da indústria, Boschi buscou informações sobre os “valores e posições da elite industrial” ou “das elites industriais nacionais” (Boschi, 1979Boschi, R.R. (1979) Elites industriais e democracia. Rio de Janeiro: Graal.).

Em trabalhos posteriores, em coautoria com Eli Diniz, são usadas expressões como “entidade de classe” e “elites empresariais” para analisar a relação entre empresariado industrial e desenvolvimento e, de forma relativamente livre, “empresariado”, “elites empresariais” e “elites econômicas”, em geral se referindo ou a grandes empresários ou a entidades de classe. Em um destes trabalhos, fica evidente o uso meramente descritivo da expressão “elite”, associada à pesquisa que buscava articular informações sobre as entidades de representação e os posicionamentos de dirigentes de tais entidades e de grandes empresas industriais (Diniz & Boschi, 2003Diniz, E. & Boschi, R.R. (2003) Empresariado e estratégias de desenvolvimento. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 18(52), pp. 15-33.).

Por sua vez, Gomes, ao analisar a atuação da “burguesia brasileira” no processo de produção da legislação social, ou seja, das normas que regulam a relação entre capital e trabalho no Brasil no início do Século XX, toma como objeto entidades de representação empresarial. é interessante destacar que Gomes constata que não se trata da ação do comércio e da indústria como um todo, mas sim de uma “elite” e conclui: “… esta elite empresarial representa, de fato, um conjunto de elementos bastante significativos para o conhecimento do setor” e que se trata de um conjunto de empresários muito atuantes, familiarizados com os problemas da “liderança” e experientes em como solucioná-los (Gomes, 1979Gomes, A.M. de C. (1979) Burguesia e trabalho: política e legislação social no Brasil 1917-1937. Rio de Janeiro: Campus., p. 29).

O mesmo ocorre no ensaio de Fernandes sobre a revolução burguesa no Brasil, que utiliza brevemente a expressão “elite” para se referir às “classes burguesas” (1984). Isso ocorre também em obra recente, organizada por Freitas & Pinho (2020)Freitas, S. & Pinho, C. (orgs) (2020) Empresariado e poder político no Brasil: uma perspectiva multidimensional. São Paulo: Alameda., em particular no estudo de Casimiro sobre o Grupo Lide, tido como um grupo de grandes empresários que seriam a “elite das classes dominantes” (Casimiro, 2020Casimiro, F.H.C. (2020) Grupo de Líderes Empresariais (LIDE): o seleto “clube dos milionários” da “nova direita” brasileira. In: S.S. Freitas & C.E.S. Pinho (eds) Empresariado e poder político no Brasil: uma perspectiva multidimensional. São Paulo: Alameda, pp. 285-317.).

Podemos mencionar ainda o trabalho de Gálvez sobre os conflitos entre setores do que chama de “elite empresaria” em relação à política econômica na Argentina da virada da década de 1990 para a de 2000, recorrendo a declarações de dirigentes de grandes empresas e entidades de representação empresarial (Gálvez, 2013Gálvez, E. (2013) Divisiones y conflictos dentro de la elite empresaria argentina durante el modelo de valorización financiera. Trabajo y Sociedad, 15(21), pp. 91-100.), reforçando a importância da análise dos conflitos internos ao empresariado.

Ainda no final dos anos 1970 e início dos anos 1980, a atenção dos pesquisadores no Brasil voltou-se mais para as entidades de representação, sua agenda de interesses e de ações e a relação com os resultados do processo decisório, ficando em segundo plano o estudo das características dos dirigentes de tais entidades e, em particular, como eles pensavam. Interessante notar que, segundo Castelani, processo semelhante ocorreu também na Argentina, ou seja, nos anos 1960 surgiram trabalhos importantes sobre as elites do empresariado, mas que não tiveram continuidade (Castelani, 2016Castelani, A. (2016) Las marcas distintivas de la élite económica argentina de los años noventa. Política / Revista de Ciencia Política, 54(1), pp. 85-121). Voltaremos a essa questão mais adiante.

Tal processo nos ajuda a entender a mudança de rumo na questão sociológica e nos procedimentos metodológicos ocorrida nos estudos sobre o empresariado brasileiro, marcada pela análise da força política das entidades de representação empresarial. Os trabalhos de Diniz e Gomes acima citados, os de Costa (1999)Costa, V. (1999) A Armadilha do Leviatã. Rio de Janeiro: Uerj. e Leopoldi (2000)Leopoldi, M.A.P. (2000) Política e interesses: as associações industriais, a política econômica e o Estado na industrialização brasileira. São Paulo: Paz e Terra. são marcos dessa mudança.

Isso se reflete em muitos outros estudos sobre os industriais ou outros setores, como os de Minella (1988)Minella, A. (1988) Banqueiros: organização e poder político no Brasil. São Paulo: Anpocs/Espaço e Tempo., Costa (1998)Costa, P.R.N. (1998) Democracia nos anos 50: burguesia comercial, corporativismo e parlamento. São Paulo: Hucitec., Mancuso (2007bMancuso, W.P. (2007b) O lobby da indústria no Congresso Nacional. São Paulo: EDUSP/HUMANITAS/FAPESP., 2007aMancuso, W.P. (2007a) O empresariado como ator político no Brasil: balanço da literatura e agenda de pesquisa. Revista de Sociologia e Política, 28, pp. 131-146. DOI
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) e Schneider (2004)Schneider, B.R. (2004) Business politics and the state in twentieth-century Latin-America. Cambridge: Cambridge University Press.6 6 Schneider usa a expressão elite na explicação das variações na organização empresarial nos países latino-americanos, mas não recorre ao estudo sobre elites. Leopoldi usa a expressão “elite industrial” para se referir a nomes como Roberto Simonsen, Jorge Street e Euvaldo Lodi na análise da “identidade de classe” entre industriais e industrialização na região Sudeste (Leopoldi, 2000, p. 296). , e que teve prosseguimento nos diversos trabalhos posteriores de Diniz e Boschi7 7 Além das obras mencionadas neste artigo, uma coletânea dos trabalhos de Eli Diniz e Renato Boschi pode ser encontrada em Swako, Moura et al. (2016). .

No início dos anos 1990, Diniz procurou contemplar as elites do empresariado em seu estudo sobre a relação entre empresariado e “projeto neoliberal” na América Latina nos anos 1980. Os países incorporados na pesquisa foram a Argentina, México e Uruguai. No entanto, sua análise sobrepõe os empresários presentes no processo constituinte àqueles que dirigiam as grandes empresas e as entidades de representação empresarial, portanto, se referindo de forma genérica àquelas que seriam as “lideranças empresariais”, sem um detalhamento de quem seriam ou de suas características (Diniz, 1991Diniz, E. (1991) Empresariado e projeto neoliberal na América Latina: uma avaliação dos anos 80. Dados, 34, pp. 349-377.). Outro exemplo desse uso mais descritivo da expressão elite, não só no Brasil, pode ser encontrado na análise de Castañeda (2018)Castañeda, N. (2018) Business interest groups and policy-making in South America. In: C. Rigorizzi & P. Wylde (eds) Handbook of South American governance. New York: Routledge, pp. 1-27. sobre a relação entre grupos de interesse empresariais e processo decisório na América Latina nos dias de hoje.

Esse viés também está presente na coletânea organizada por Cimini, Cabria et al. (2018Cimini, C., Cabria, J.V.B. & Silva, R.R.M. da (orgs) (2018) Elites empresariais, estado e mercado na América Latina. Belo Horizonte: FACE/UFMG., p. 25), na qual há referência às “elites empresariais”, mas igualmente como forma de tratar dos “grandes empresários”, inclusive deixando claro que não se pretende “estabelecer uma definição rigorosa de elites empresariais”. Embora remeta a questões importantes, contemple trabalhos e apresente inferências sobre países da América Latina e resgate o tema clássico da relação entre empresariado e desenvolvimentismo, a obra não se propõe como um estudo sobre as elites do empresariado8 8 Esta obra contempla um capítulo que analisa a composição da “elite empresarial”, referindo-se não exatamente a indivíduos, mas a um grupo de grandes empresas de diversos setores durante o período Kirchner, na Argentina (Gaggero & Schorr, 2018). .

Doctor, por sua vez, analisa o processo de formulação das políticas de Estado através do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) durante o primeiro Governo Lula da Silva (2002-2005), com o objetivo de avaliar o impacto do comportamento e do diálogo entre as “political and economic elites” latino-americanas sobre o processo de democratização na região (Doctor, 2007Doctor, M. (2007) Lula's development council. Latin American Perspectives, 34(6), pp. 131-148. DOI
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). Assim, embora recorrendo à questão da “economic elite” e a um critério posicional, ou seja, a participação dos empresários no CDES, não há um estudo das características desse grupo, sobre, por exemplo, seu recrutamento, e a preocupação é mais em pensá-los a partir da questão da relação entre o “corporativismo”, o processo decisório e a questão do funcionamento e das perspectivas da democracia.

Podemos citar também o trabalho de Payne (1995), que se refere a “business leaders” e a “business elite” para tratar da relação entre empresários e democracia na transição para a democracia entre 1986 e 19929 9 Entre 1986 e 1988, Payne aplicou questionários ao que chama da “leaders” industriais: diretores de importantes entidades de representação da indústria e “presidentes, diretores e gerentes” de empresas industriais nacionais e multinacionais (Payne, 1995). . Nesse trabalho, podemos constatar a utilização do método reputacional no processo de localização e composição do objeto, ou seja, daqueles que teriam maior reconhecimento por parte de seus pares.

A questão da elite se apresenta em outros trabalhos, mas também de forma latente. Em 2005, Marcovitch produziu três volumes com a biografia de importantes empreendedores pioneiros do Brasil (2006). Lópes-Ruiz (2007)López-Ruiz, O. (2007) Os executivos das transnacionais e o espírito do capitalismo: capital humano e empreendedorismo como valores sociais. Rio de Janeiro: Azougue. analisou os “executivos” das empresas transnacionais que atuam no Brasil e a relação entre os valores que orientam suas condutas e a preservação do capitalismo.

Toledo (2010)Toledo, D.G.C. (2010) As redes empresariais da elite industrial de Sao Paulo - 1992-2004. São Paulo: Papagaio. estudou as “redes empresariais” da “elite industrial” de São Paulo através da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP). Em 2011, o Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil publicou uma coletânea de entrevistas com importantes empresários paulistas (CPDOC, 2011CPDOC (2011) Elites empresariais paulistas. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas. Disponível em: <https://cpdoc.fgv.br/elitesempresariais>. Acesso em: 24 de out. 2023.
https://cpdoc.fgv.br/elitesempresariais...
)10 10 Tais entrevistas podem ser acessadas no site do CPDOC, conforme endereço indicado em CPDOC (2011). . Em relação ao Peru, Durand (2002)Durand, F. (2002) Business and the crisis of Peruvian democracy. Business and Politics, 4(3), pp. 319-341. DOI
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analisou a elite empresarial no governo Fujimori e, entre outras fontes, usou entrevistas com presidentes e diretores das principais associações e conglomerados peruanos.

A mídia brasileira tem trazido alguma contribuição para o estudo dos empresários enquanto elite, apesar da ausência de um material do tipo Quem é quem do empresariado. A Gazeta Mercantil, fundada em 1920 e extinta em 2009, promovia levantamentos sobre os empresários mais importantes e publicou uma coletânea em seis volumes intitulada História Empresarial Vivida, que contém entrevistas com grandes empresários acerca de questões relacionadas à gestão empresarial (Aquino, 1988Aquino, C. (1988) História empresarial vivida. São Paulo: Gazeta Mercantil.). Mais recentemente, as revistas Exame e Istoé Dinheiro e o jornal Valor Econômico passaram a publicar levantamentos sobre as maiores e mais importantes empresas, as quais contém entrevistas com alguns de seus dirigentes.

Algumas biografias e autobiografias de empresários também podem ser fontes de informação. Podemos citar desde a biografia do Barão de Mauá, empresário brasileiro do período do Império (Caldeira, 1995Caldeira, J. (1995) Mauá - empresário do império. São Paulo: Companhia das Letras.), passando por relatos de experiências empresariais (Correa, 2014Correa, C. (2014) Sonho grande. Rio de Janeiro: Sextante.), até as autobiografias de Eike Batista (Batista, 2011Batista, E. (2011) O X da questão. Rio de Janeiro: Sextante.) e Abílio Diniz (Diniz, 2004Diniz, A. (2004) Caminhos e escolhas. Rio de Janeiro: Campus.).

Entretanto, há também pesquisas que claramente se debruçaram sobre a questão das elites do empresariado, no caso, sobre a elite empresarial brasileira, voltadas para a análise das trajetórias e dos valores políticos dos dirigentes de entidades de representação empresarial11 11 Ver Costa & Engler (2008), Costa (2007), Costa et al. (2012), Costa (2012) e Costa et al. (2014). e da presença dos empresários na composição do Senado Federal no Brasil12 12 Ver Codato et al. (2017) e Costa et al. (2014). . Coradini (2007)Coradini, O.L. (2007) Engajamento associativo-sindical e recrutamento de elites políticas: tendências recentes no Brasil. Revista de Sociologia e Política, 28, pp. 181-203. vai na mesma direção ao verificar a presença, entre outras categorias, dos empresários na elite parlamentar, inclusive chamando a atenção para o fato de que a carreira dos parlamentares que se identificavam como empresários era marcada pela passagem pela direção de entidades empresariais, ou seja, por aqueles que aqui identificamos como elite empresarial.

Engler trata da relação entre elite econômica e elite política ao pensar os prefeitos empresários, articulando estudo sobre elites com a análise da presença dos empresários na política (Engler, 2018Engler, I.G.F. (2018) Ricos e políticos: uma análise da origem familiar, trajetória profissional e carreira política dos 30 deputados federais brasileiros com maior patrimônio econômico da 55a Legislatura (2015-2019). Colombia Internacional, 95, pp. 137-164. DOI
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). Desse mesmo autor, outro trabalho interessante é a análise da relação entre, de um lado, as posições sociais ocupadas e as trajetórias profissionais e, de outro, o recrutamento e a permanência na política (Engler, 2020Engler, I.G.F. (2020) Empresários e política no Brasil. Curitiba: Appris.).

Há também estudos sobre os dirigentes das cooperativas empresariais, que se constituem enquanto grandes empreendimentos econômicos e que estão entre as mais importantes empresas13 13 Sobre as cooperativas empresariais, ver Costa & Stöberl (2016) e Costa & Stöberl (2022). do país. Também Serna (2018) chama a atenção para a relação entre os “empresários cooperativistas” e as elites políticas no contexto da ascensão da esquerda ao poder no Uruguai.

Alguns trabalhos sobre elite econômica consideram a relação entre o mercado e o Estado no que diz respeito à direção de agências estatais de relevante papel econômico, como os estudos sobre a chamada porta giratória (revolving door) entre o setor privado o setor público, ou a que remete à relação entre elite econômica e elites estatais14 14 Sobre a nomeação da diretoria no Banco Central do Brasil, ver Olivieri (2007). Sobre a relação entre elites econômicas e elites estatais no Brasil, na Argentina e no México, ver Perissinotto et al. (2014). . Incluímos, ainda, Castelani & Dulitzky (2018Castellani, G. & Dulitzky, A. (2018) The reverse revolving door: participation of economic elites in the public sector during the 1990s in Argentina. Latin American Business Review, 19(2), pp. 131-156. DOI
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; 2016Castelani, A. (2016) Las marcas distintivas de la élite económica argentina de los años noventa. Política / Revista de Ciencia Política, 54(1), pp. 85-121), que tratam da elite econômica na Argentina a partir da questão da revolving door entre o mercado e os órgãos públicos.

Bustamante chama a atenção para a importância dos estudos sobre as elites chilenas e, entre outras proposições, destaca a necessidade da análise das relações de rede e de uma etnografia que permita apreender as relações entre as elites econômicas, políticas e culturais (Bustamante, 2013Bustamante, B.G. (2013) El estudio de las élites en Chile: aproximaciones conce ptuales y metodológicas. Intersticios Sociales, 6, pp.1-20.). Em outro trabalho desse autor sobre o desenvolvimento teórico dos estudos acerca das elites na América Latina, embora exclusivamente sobre os casos da Argentina e Chile, o avanço dessa agenda é relacionado à retomada da democracia. Ele menciona as contribuições, dentre outros, de Castelani, a ser tratada mais adiante, e Dulitzky (2016)Dulitzky, A. (2016) Locales versus globales: empresas extranjeras y perfiles directivos en Argentina (1976- 2001). Política / Revista de Ciencia Política, 54(1), pp. 123-156. DOI
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, cujos trabalhos também fazem parte dessa agenda (Bustamante, 2016Bustamante, B.G. (2016) élites políticas, económicas e intelectuales: una agenda de investigación creciente para la ciencia política. Política / Revista de Ciencia Política, 54(1), pp. 7-17. DOI
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).

A prosopografia, que permite analisar as características de um grupo de empresários, pode ser encontrada no trabalho de Leandro Losada sobre o impacto das elites sociais, políticas e econômicas sobre a política e a sociedade na Argentina na virada do século XIX para o XX (Losada, 2016Losada, L. (2016) élites sociales y élites políticas en Argentina. Buenos Aires 1880-1930. Colombia Internacional, 87, pp. 219-241. DOI
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)15 15 Sobre a análise prosopográfica no estudo das elites políticas, a qual pode ser útil para o estudo dos empresários, ver Heinz & Codato (2015). .

Um trabalho exemplar em termos teóricos e metodológicos da agenda para a qual buscamos contribuir é o de Ana Castellani, que chama a atenção para a escassez de estudos de uma “perspectiva sociológica” sobre a “elite econômica”. Tal perspectiva se daria a partir do critério posicional e consideraria os dirigentes de grupos econômicos e das entidades de representação do “capital” na Argentina. Castellani (2016) chama de “elite corporativa” o que aqui chamamos de elite empresarial.

é interessante notar a importância dada por Castellani às variáveis típicas de estudos sobre elite: perfil sociodemográfico, trajetórias familiar, educacional e ocupacional e, em especial, a participação em formas de associação. Por fim, a autora mostra a necessidade de desdobrar esse tipo de pesquisa em uma análise dos valores e dos comportamentos concretos dessa elite, permitindo a verificação das condições e dos resultados de sua ação e de sua própria condição enquanto elite.

Outro trabalho que se aproxima dessa problemática e é igualmente interessante para mostrar que, mais importante do que o uso da expressão elite, é a recorrência aos procedimentos analíticos dos estudos sobre elite, é o de Dulitzky acima mencionado, que estuda o perfil dos dirigentes de grandes empresas na Argentina dos anos 1970 a 1990 (Dulitzky, 2016Dulitzky, A. (2016) Locales versus globales: empresas extranjeras y perfiles directivos en Argentina (1976- 2001). Política / Revista de Ciencia Política, 54(1), pp. 123-156. DOI
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).

Ossandón (2012)Ossandón, J. (2012) Hacia una cartografía de la élite corporativa en Chile. In: E. Ossandón & J. Tironi (ed) Adaptación. La empresa chilena después de Friedman. Santiago de Chile: Ediciones Universidad Diego Portales. igualmente usa a expressão “elite corporativa”, que também denomina “empresarial” em um sentido mais amplo do que o que foi utilizado por Castellani (2016), e reforça a constatação da escassez de estudos sobre esse assunto no Chile. Ossandón inclui os dirigentes do Banco Central e de agências de regulação e os think tanks que possuem papel relevante no processo de definição da política econômica, se aproximando da abordagem de Olivieri (2007)Olivieri, C. (2007) Política, burocracia e redes sociais: as nomeações para o alto escalão do Banco Central do Brasil. Revista de Sociologia e Política, 29, pp. 147-168. DOI
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, e até aqueles que seriam amigos, familiares e membros de clubes dos quais os dirigentes de empresa frequentariam. Ossandón (2012)Ossandón, J. (2012) Hacia una cartografía de la élite corporativa en Chile. In: E. Ossandón & J. Tironi (ed) Adaptación. La empresa chilena después de Friedman. Santiago de Chile: Ediciones Universidad Diego Portales. traz outra questão importante, a História de Empresas, campo de estudo mais próximo da Economia e da Sociologia Econômica e com grandes possibilidades de contribuir para o estudo dos empresários enquanto elite, embora ainda tenham que ser construídas análises que promovam tal aproximação16 16 No Brasil, a História de Empresa pode ser exemplificada pelos trabalhos de Costa e Prates (Costa & Prates, 2018). .

Esta abordagem acerca da posição de elite está presente de forma muito interessante no trabalho de Luci & Gessaghi, que propõem uma “perspectiva relacional” acerca daqueles que ocupam posições no mundo empresarial e nas famílias tradicionais na Argentina. Segundo as autoras, no processo de reprodução dessas posições, de um lado se articulam fatores históricos e institucionais, mesmo que isso não signifique a existência de uma institucionalização desse processo. E, de outro, é necessária outra condição típica de elites, ou seja, uma “competência social específica”, porém inserida em uma “trama coletiva”, na qual se articulam características adstritas e adquiridas, individuais e coletivas, familiares e meritocráticas (Luci & Gessaghi, 2016Luci, F. & Gessagui, V. (2016) Familias tradicionales y élites empresarias en Argentina: individuación y solidaridad en la construcción y sostén de las posiciones de privilegio. Política / Revista de Ciencia Política, 54(1), pp. 53-84. DOI
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). O estudo comparativo de interlocking directorates de Cárdenas (2016) também é sugestivo no tratamento desta abordagem.

Enfim, esses trabalhos voltados para a perspectiva relacional mostram como podem ser diversas as formas de abordagem e de comparações possíveis no estudo dos empresários enquanto elites. A isso inclui-se as possibilidades de boas hipóteses de trabalho para a análise da relação entre empresários e política, embora essa questão ainda tenha sido pouco explorada, como mostra o estudo do caso do Panamá realizado por Cárdenas e Rivera, interessante e sugestivo para pensar outros países da América Latina (Cárdenas & Rivera, 2020Cárdenas, J. & Rivera, F.J.R. (2020) Business elites in Panama: sources of power and state capture [Occasional Paper], pp. 1-19. Disponível em: <https://www.econstor.eu/handle/10419/244381>. Acesso em: 24 oct. 2023.
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).

Em seu estudo sobre a relação entre elites econômicas rurais e financeiras e suas entidades de representação na Argentina, Heredia acrescenta uma abordagem importante e ainda rara na literatura, que é a comparação entre as elites do empresariado de setores econômicos distintos. Mas, a importância de seu estudo se dá, para os nossos objetivos, principalmente por considerar os setores financeiro e rural, ultrapassando os limites das pesquisas sobre a indústria (Heredia, 2003Heredia, M. (2003) Reformas estructurales y renovación de las élites económicas en Argentina: estudio de los portavoces de la tierra y del capital. Revista Mexicana de Sociología, 65(1), pp. 77-115. DOI
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). Entretanto, Heredia se aproxima dos trabalhos mais recentes sobre o empresariado brasileiro, como os de Eli Diniz, Renato Boschi e Wagner Mancuso, que se voltam mais para a história e o comportamento das entidades de representação do empresariado ao usar a expressão elite, e quando menciona alguns personagens, o faz enquanto inflexões de processos internos e externos a estas.

Boschi & Gaitán (2015)Gaitán, F. & Boschi, R. (2015) Estado, atores predominantes e coalizões para o desenvolvimento: Brasil e Argentina em perspectiva comparada. Brasília: IPEA. analisam, entre outros fatores, o papel das “elites políticas econômicas e do trabalho”, que seriam as “elites estratégicas”, em relação às políticas voltadas para o desenvolvimento no Brasil e na Argentina nas últimas décadas. Em outro trabalho, Diniz, Boschi & Gaitán enfatizam a natureza mais descritiva do uso do conceito de elite: “las elites predominantes, definidas de modo simple como aquellas que tienen capacidad diferencial de influir en el ciclo de políticas públicas” (2012, p. 16).

Voltado para a análise de uma situação crítica, o trabalho de Spalding (2018)Spalding, R.J. (2018) Los empresarios y el estado en la Nicaragua post-revolucionaria: el reordenamiento de las élites y la nueva estrategia de colaboración. In: A.N. Codato & F. Espinosa (ed) élites en las américas: diferentes perspectivas. Los Polverines: Editora UFPR e Ediciones UNGS, pp. 145-186. mostra a importância do recrutamento na análise da relação entre elites econômicas e empresariais e governo. Enfim, a ausência de uma caracterização do processo de recrutamento dessas elites não compromete a pertinência da análise, mas deixa de avançar na compreensão das particularidades daqueles que resultaram desse processo de recrutamento, considerando o papel decisivo que tiveram nas formas em que se deu aquela relação.

Ainda que não caiba estender o debate para a produção para além da América Latina, podemos mencionar o estudo de Pearson sobre o caso da China (Pearson, 1997Pearson, M.M. (1997) China's new business elite: the political consequences of economic reform. California: University of California Press.). Segundo a autora, no contexto da acelerada transição da economia planejada para a de mercado ocorrida no final dos anos 1970, surge uma “China's new business elite”, decorrente da importância dada a esse grupo e a revitalização de suas associações por parte do governo, com o objetivo de promover a industrialização e dar maior autonomia aos operadores de grandes recursos econômicos. Daí a sua grande importância política, embora a autora seja cética em relação ao papel que essa elite poderia exercer na democratização ou mesmo na promoção de novas relações entre sociedade e Estado na China. Pearson considerou, de um lado, os chineses que dirigiam empresas estrangeiras autorizadas a operar no país, e, de outro, os empresários privados17 17 O critério posicional foi complementado pela verificação da renda, da educação formal e do seu prestígio, com dados de um survey sobre a elite administrativa de Xangai (Pearson, 1997). .

Por sua vez, o trabalho de Serna (2013)Serna, M. (2013) Globalización, cambios en la estructura de poder y nuevas elites empresariales: una mirada comparada de Uruguay. Revista de Sociologia e Política, 21(46), pp. 93-103. DOI
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sobre as elites econômicas no Uruguai também é exemplar no que diz respeito à agenda que aqui está sendo valorizada, seja pela discussão teórica e metodológica do estudo das elites do empresariado e pela defesa do ganho analítico desse tipo de investigação para a compreensão de processos históricos recentes, seja pela ênfase na questão clássica da relação com a política. A partir da análise da composição das elites, no momento identificado como o “último ciclo de globalização econômica neoliberal”, Serna chama a atenção para os impactos da internacionalização e da profissionalização dos executivos e da forma de gestão, as redes em que estão inseridos e suas novas formas de “capital social18 18 Espinoza (2018) analisa as redes familiares e suas conexões com as instituições políticas para pensar relações entre a elite política e elite econômica na Bolívia desde meados da década de 2000, destacando um processo de cooptação dos membros da elite econômica pelo governo. .

Em outro estudo, Serna propõe uma “Sociologia Política das elites” e analisa as mudanças no recrutamento, na composição e na mobilidade das elites políticas e econômicas, entendidas como os dirigentes de grandes empresas, no “ciclo pós liberal”, marcado pela ascensão da esquerda, que ocorreu no Uruguai entre o final da década de 1990 e o final dos anos 2000 (Serna, 2018Serna, M. (2018) Nuevas élites políticas y económicas en el giro a la izquierda en Uruguay. In: A.N. Codato & F. Espinoza (ed) élites en las Americas: diferentes perspectivas. Los Polverines: Editora UFPR/Editora UNGS, pp. 283-318.). Serna utiliza em sua análise o que entende ser as três dimensões básicas da Teoria das Elites: os que ocupam a cúpula das instituições e estruturas de poder e a distância em relação aos dirigidos (“hierárquica-altimétrica”), a diferenciação entre as ocupações e tarefas de direção, em particular as elites políticas e as elites econômicas (“funcional”) e as convergências, divergências, renovação e reconversão entre os membros das elites em um dado momento (“conflitiva contextual”) e também a prosopografia (Serna, 2018Serna, M. (2018) Nuevas élites políticas y económicas en el giro a la izquierda en Uruguay. In: A.N. Codato & F. Espinoza (ed) élites en las Americas: diferentes perspectivas. Los Polverines: Editora UFPR/Editora UNGS, pp. 283-318.).

Trata-se de um caso clássico do uso da metodologia do estudo de elites para a análise dos empresários, em particular de suas relações com a política, do qual podemos destacar os seguintes resultados e ganhos analíticos: compreensão do processo de interlocking entre elite política e econômica, inclusive através de eventos sociais não oficiais e articulações com câmaras empresariais, e a análise da força política da elite econômica e das relações entre empresários e governos de esquerda.

A questão da profissionalização também está presente na comparação entre Brasil e Argentina feita por Donatello, mas de outro ponto de vista, o da articulação entre as elites do empresariado, que seriam externas ao campo político, e as elites políticas, no caso, parlamentares (Donatello, 2017Donatello, L.M. (2017) Legisladores representantes empresariales en Argentina y Brasil: la emergencia de una categoría de especialistas. Revista de Sociologia e Política, 25(63), pp. 139-158. DOI
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), embora seja necessário tomar cuidado quando se relaciona autoidentificação dos parlamentares com o exercício efetivo da representação política de interesses. Por sua vez, Wolff (2018)Wolff, J. (2018) Las élites políticas y económicas em Bolivia y Ecuador: convivir con gobiernos posneoliberais. In: élites en las Américas: diferentes perspectivas. Curitiba/Los Polvorines: Edutora UFPR/Ediciones UNGS, pp. 73-114. analisa as elites políticas e econômicas, estas entendidas como os dirigentes de empresas e organizações de representação do empresariado, comparando a Bolívia e o Equador no contexto da chegada da esquerda aos governos dos países latino-americanos.

IV. Discussão

Vimos que a literatura que utiliza a expressão elite na análise da relação entre empresários e política no Brasil transitou, de forma não linear, da consideração de sua participação na composição de elites políticas, passando por pesquisas empíricas baseadas em procedimentos típicos de estudos de elites, desembocou na predominância de trabalhos sobre as entidades de representação, nos quais, quando presente, a expressão assumia uma natureza meramente descritiva. Entretanto, isso não implicou na ausência da recorrência a esses procedimentos e da consideração dos empresários enquanto elites na sua relação com a política.

A literatura apresentada trata da agenda de pesquisa sobre empresários enquanto elite na sua relação com a política, ainda que de forma difusa. Isso é relevante quando se considera que foi essa a forma como ocorreu seu desenvolvimento, sendo possível perceber contribuições importantes para a construção e a composição dessa agenda, independentemente da intenção de autores e autoras em produzir especificamente estudos sobre elites.

Assim, mesmo sem um conceito claro e preciso e com a recorrência errática da expressão elite e dos procedimentos de estudos sobre elites, foi se constituindo uma agenda de pesquisa específica, a dos empresários enquanto elite, dentro de outra mais ampla, que é a dos empresários enquanto atores políticos, no Brasil e em outros países latino-americanos.

As observações acima nos permitem complementar trabalhos importantes sobre o empresariado enquanto ator político no Brasil, como o de Mancuso (2007bMancuso, W.P. (2007b) O lobby da indústria no Congresso Nacional. São Paulo: EDUSP/HUMANITAS/FAPESP.)19 19 Ver, em particular, a Tabela 2, que condensa as proposições em relação à questão dos “atores” no estudo do empresariado enquanto ator político (Mancuso, 2007b). , ao chamar a atenção para necessidade do tratamento da questão das elites do empresariado e do estudo de elite como forma de compreender as particularidades e o desenvolvimento histórico da relação entre empresários e política.

Mas, o que pretendemos destacar das proposições acima comentadas é o conjunto de indicações e sugestões de procedimentos analíticos, seja pelo aspecto teórico, seja pelo metodológico, que vão no sentido de compor uma agenda de pesquisa acerca dos empresários enquanto elites e atores políticos.

Nesse sentido, podemos destacar aquilo que é mais óbvio, ou seja, a importância dada à propriedade e principalmente ao controle do capital, o que reforça a necessidade de estudar aqueles que exercem a função capitalista, o mesmo ocorrendo em relação à forma de desempenho das atividades empresariais e a relação disso com o desenvolvimento econômico, de preferência em perspectiva comparada entre países em situação semelhante ou diferente.

Outro aspecto importante é que, além da necessidade de atentar para a dinâmica histórica das condições concretas para o empresariado se constituir enquanto classe, ou seja, atuarem de forma coletiva, é fundamental considerar as condições de formação das elites dessa classe, seja aquela especificamente voltada para o exercício da função capitalista nas empresas mais importantes, seja aquela que assume o papel de representação política, em especial através das entidades empresariais.

Esse percurso pela literatura sugere também que a análise do comportamento da classe passa pela observação das formas através das quais ela se manifesta na luta política, suas instituições e seus representantes. Assim, mesmo quando se considera que a natureza de classe estaria na determinação da ação dessas instituições e desses representantes, isso não exclui a consideração dos comportamentos dos indivíduos que seriam esses representantes e os dirigentes das instituições que representariam a classe.

Em sua análise crítica da Teoria das Elites, Saes se refere a o que denomina como “minoria politicamente ativa” ou “minoria dominante” e chama a atenção para a questão de quem essa elite representa. Ou seja, se a elite busca realizar seus próprios interesses ou aqueles que seriam do coletivo do qual advém e do qual em geral foi selecionada (Saes, 1994Saes, D. (1994) Uma contribuição à crítica da teoria das elites. Revista de Sociologia e Política, 3, pp. 7-19. Disponível em: <https://revistas.ufpr.br/rsp/article/view/39376/24193>. Acesso em: 17 de mar. 2023.
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).

Por isso, a consideração dos empresários enquanto classe, seja qual for o fundamento teórico e as respectivas relações de causalidade pressupostas, exigiria a consideração da elite que dela deriva e de seu comportamento, dado que, como sugere Pareto, essa elite é composta por aqueles que desempenham de forma mais competente as atividades relacionadas a essa função capitalista e que melhor respondem aos desafios enfrentados pela classe, seja no campo econômico, seja no político, seja no cultural ou ideológico. Assim, como vimos nos exemplos dos trabalhos de Cardoso, Martins e Bresser Pereira, a necessidade de considerar os indivíduos que compõem o que estamos chamando de elites do empresariado.

Em relação a esse ponto, podemos destacar a observação de Gomes (1979) de que as “frações de classe” vinculadas aos setores empresariais não agem como um todo, mas através de suas “elites”, e que essas seriam fundamentais para o estudo do comportamento de tais frações.

Nesse sentido, as formas como os empresários tomam consciência do processo de desenvolvimento econômico, ou aquilo que Cardoso (1964) chamou de “mentalidade”, bem como o que pensam da política, da democracia, de suas instituições e de si próprios enquanto atores políticos, também são de grande relevância, dado que são dimensões desse grupo que, mesmo quando se entende que são determinadas por outros aspectos estruturais, se expressam exclusivamente através da ação de suas elites. Daí a importância da compreensão do processo de recrutamento, das características adstritas e adquiridas, das ideias etc. daqueles que compõem tais elites.

Aqueles que compõem as elites do empresariado o fazem por terem sido os melhores no exercício das atividades relacionadas à inserção do grupo na sociedade e por demonstrarem efetivamente a capacidade de se reportar a esse grupo, ou seja, de alcançar na relação com seus pares a condição de elite e o consentimento para a sua permanência nessa condição.

Assim, no caso dos empresários, não se trata de uma consciência coletiva da condição de empresariado, capitalistas, classe dominante ou burguesia, bem definida e precisa, ou de um processo totalmente racional de seleção que testa muitos e seleciona os melhores, mas sim de uma articulação entre as condições objetivas que, em um determinado contexto, se colocam para o coletivo dos proprietários e controladores dos meios de produção, e as particularidades pessoais (origem social, trajetórias, valores etc.) que objetivamente também só se manifestam em uma parte menor do próprio coletivo, o que lhes permite ocupar posições de destaque, seja no exercício da atividade gerencial propriamente dita, seja no exercício da direção de instituições de representação de interesses ou de formulação de ideias, em especial quando se trata da relação com a política ou da participação em outras elites políticas. Essa seria uma contribuição muito importante dos estudos sobre elite e da Teoria das Elites para os estudos dos empresários, em especial na sua relação com a política.

E como todo esse processo impacta também na forma de organização institucional da ação coletiva, ou seja, das entidades de representação, o estudo da elite empresarial (Costa, 2014Costa, P.R.N. (2014) Elite empresarial e elite econômica: o estudo dos empresários. Revista de Sociologia e Política, 22(52), pp. 47-57. DOI
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) também se mostra fundamental na análise da criação, do funcionamento, dos posicionamentos e do comportamento de tais entidades, dado que essa é uma dimensão fundamental da constituição dos empresários enquanto atores políticos.

Assim, a importância de saber quem são, o que pensam e o que fazem os dirigentes de grandes empresas e de entidades de representação empresarial e que promovem as ações mais relevantes no âmbito da economia e da política relativas à iniciativa privada, se apresenta como um reforço tanto para uma abordagem institucionalista, ou seja, voltada para a atuação das empresas e entidades, a exemplo de algumas das abordagens acima mencionadas, quanto de uma Sociologia Política, voltada para as características sociais, o comportamento ou até mesmo a cultura política dos empresários.

Vimos que alguns trabalhos clássicos sobre empresários e política no Brasil pretenderam estender suas inferências para outros países da América Latina. Mesmo que se entenda que isso poderia ser questionado, seja em relação aos objetivos analíticos, seja quanto a adoção rigorosa do método comparativo, não se pode obscurecer a necessidade de comparações como forma de valorizar os dados e as inferências, quando possível, em uma perspectiva diacrônica.

Este breve e não exaustivo percurso pela literatura mostra que já há uma tradição e uma diversidade relevantes, reforçando a importância da combinação entre o estudo do empresariado enquanto elite e uma Sociologia Política da democracia nos países latino-americanos, ainda mais considerando as recentes alternâncias entre governos de esquerda e de direita na região.

Esse ponto abre espaço para a análise da relação entre elites do empresariado e questões complexas e que atingem profundamente o funcionamento da democracia, tais como as forças armadas, a corrupção e o financiamento de campanha20 20 A relação entre CEOs de empresas brasileiras e corrupção foi estudada por Paz & Costa (2016). . Outros temas correlatos seriam a presença do empresariado nas disputas políticas, o lobby empresarial, o controle sobre a mídia, relação com o Judiciário e sua elite e os processos de crise político-institucional, como os processos de impeachment de Presidentes21 21 A atuação das elites empresariais foi muito importante no processo de impeachment de Dilma Rousseff e ainda está por ser analisado, mas já produziu algumas reflexões, como as Ianoni & Cunha (2018) e Ianoni (2017), além do trabalho de Donatello (2017). . Além disso, essa agenda comportaria também articulações com outras questões, como as pesquisas sobre gênero e raça, dada a tendência à predominância de homens brancos, ao menos no Brasil, no mundo corporativo e entre as elites do empresariado.

Diante da diversidade desta agenda difusa sobre o empresariado enquanto elite na sua relação com a política caracterizada a partir da revisão da literatura aqui proposta, elencamos, no Quadro 1, as questões teóricas, o seu desdobramento enquanto problemas de pesquisa e os procedimentos metodológicos ou estratégias de abordagem empírica relativas a esta agenda. A própria literatura revisada, inclusive suas lacunas, sugere que os itens indicados podem ser sobrepostos, articulados e combinados de diversas maneiras e que outros poderiam ser acrescentados. Mais uma vez, o objetivo é funcionar como ponto de partida para os estudos que se aproximem da questão que guiou essa revisão.

Quadro 1
Questões teóricas, problemas de pesquisa e procedimentos metodológicos no estudo dos empresários enquanto elite na sua relação com a política

V. Considerações finais

Em primeiro lugar, temos clareza de que outros trabalhos certamente poderiam ser contemplados nesta análise, mas entendemos que o percurso feito é suficiente para atender aos objetivos propostos. Além disso, na forma como aqui foi tratada, a questão do estudo sobre elites a respeito dos empresários, ou do empresariado enquanto elite não pretendeu ser uma panaceia sociológica ou propor uma única e obrigatória abordagem possível sobre a relação entre empresários e política.

Ao contrário, buscamos nos apoiar nas próprias experiências de análise aqui contempladas para defender a importância desta agenda de pesquisa, a qual se beneficia não apenas dos trabalhos comentados, como também de suas lacunas, limites, incompletudes e ausências.

Em segundo lugar, a referência a trabalhos sobre outros países da América Latina mostrou que há semelhanças no que diz respeito à constituição desta agenda de pesquisa. Portanto, a comparação com outros países é fundamental não apenas no que diz respeito às bases empíricas e aos casos históricos, mas também em relação às abordagens, no sentido de aperfeiçoar a forma como são construídas as análises, o que remete a necessidade de revisões de literatura em seus diversos formatos. Daí a importância de fomentar parcerias internacionais no trabalho de consolidação e desenvolvimento desta agenda.

A valorização dos estudos das elites dos empresários não constitui mero preciosismo, mas sim um esforço de caracterização daqueles a quem se atribui importância nos processos históricos, pelas suas ações e inações, e que, em função disso, ocupam papel de destaque nas análises de tais processos. Exatamente por isso, não podem ser meramente referidos de forma genérica como se tais características fossem irrelevantes sociologicamente.

Por fim, as perspectivas indicam que a área de estudos dos empresários enquanto elite pode e deve ser mais intensamente desenvolvida em toda América Latina. Esta agenda deveria se apoiar, de forma crítica e especializada, na experiência de pesquisa sobre outros tipos de elite, bem como sobre outras questões ainda ausentes. A incorporação das questões desse tema clássico da Ciência Política e da Sociologia deve se articular com a consideração das particularidades daqueles indivíduos que, nas economias capitalistas latino-americanas, exercem as funções capitalistas, bem como as implicações disso sobre a política, a sociedade e a cultura e suas perspectivas futuras.

  • 1
    Este trabalho integra projeto de Bolsa de Produtividade em Pesquisa do CNPq. Meus agradecimentos nada protocolares a quem avaliou a primeira versão deste artigo.
  • 2
    Estamos considerando as proposições de Aron a partir das ideias de Pareto. Para Aron, não é preciso buscar um sentido profundo, metafísico ou moral para a noção de elite: “trata-se de uma categoria social, objetivamente perceptível”. Portanto, a elite é “composta dos que mereceram boas notas no concurso da vida, ou tiveram sorte na loteria da existência social” (Aron, 2000Aron, R. (2000) As etapas do pensamento sociológico. São Paulo: Martins Fontes., p. 411).
  • 3
    Sobre este último aspecto, ver Costa et al. (2014)Costa, P.R.N., Costa, L.D. & Nunes, W. (2014) Os senadores-empresários: recrutamento, carreira e partidos políticos dos empresários no Senado brasileiro (1986-2010). Revista Brasileira de Ciência Política, 14, pp. 227-253. DOI
    DOI...
    .
  • 4
    Para detalhes sobre estudo de elites ver Hofmann-Lange (2007)Hoffmann-Lange, U. (2007) Methods of elite research. In: R.J. Dalton & H.-D. Klingemann (eds) The Oxford handbook of political behavior. Oxford: Oxford University Press, pp. 79-82. e Codato (2015)Codato, A.N. (2015) Metodologias para a identificação de elites: três exemplos clássicos. In: A.N. Codato & R.M. Perissinotto (eds) Como estudar elites. Curitiba: Editora da UFPR, pp. 15-30.. Sobre estudo dos empresários enquanto elite na pesquisa empírica, ver Costa (2015)Costa, P.R.N. (2015) Os empresários enquanto elite: a pesquisa empírica. In: R.M. Perissinotto & A. Codato (eds) Como estudar elites. Curitiba: Editora da UFPR, pp. 170-220..
  • 5
    Como Sodré (1967)Sodré, N.W. (1967) História da burguesia brasileira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira., Jaguaribe (1958)Jaguaribe, H. (1958) O problema do desenvolvimento econômico e a burguesia nacional. São Paulo: CIESP., Fernandes (1984)Fernandes, F. (1984) A revolução burguesa no Brasil. Rio de Janeiro: Guanabara. e Gorender (1981)Gorender, J. (1981) Burguesia brasileira. São Paulo: Brasiliense.. Sobre a forma como a literatura sobre desenvolvimento econômico e industrialização caracteriza o capital privado nacional, ver Costa & Borck (2015)Costa, P.R.N. & Borck, I.S.F.S. (2015) O capital privado nacional na literatura sobre desenvolvimento no Brasil. Cadernos CEEED - UFBA, 7, pp. 13-56..
  • 6
    Schneider usa a expressão elite na explicação das variações na organização empresarial nos países latino-americanos, mas não recorre ao estudo sobre elites. Leopoldi usa a expressão “elite industrial” para se referir a nomes como Roberto Simonsen, Jorge Street e Euvaldo Lodi na análise da “identidade de classe” entre industriais e industrialização na região Sudeste (Leopoldi, 2000Leopoldi, M.A.P. (2000) Política e interesses: as associações industriais, a política econômica e o Estado na industrialização brasileira. São Paulo: Paz e Terra., p. 296).
  • 7
    Além das obras mencionadas neste artigo, uma coletânea dos trabalhos de Eli Diniz e Renato Boschi pode ser encontrada em Swako, Moura et al. (2016)Swako, J., Moura, R. & D'Avilla Filho, P. (orgs) (2016) Estado e sociedade no Brasil: a obra de Renato Boschi e Eli Diniz. Rio de Janeiro: Faperj/INCT/PPED/Idea D..
  • 8
    Esta obra contempla um capítulo que analisa a composição da “elite empresarial”, referindo-se não exatamente a indivíduos, mas a um grupo de grandes empresas de diversos setores durante o período Kirchner, na Argentina (Gaggero & Schorr, 2018Gaggero, A. & Schorr, M. (2018) A elite empresarial nos governos kirchneristas, Argentina (2003-2015). In: C. Cimini, J.V.B. Cabria & R.R.M. da Silva (orgs) Elites empresariais, Estado e mercado na América Latina. Belo Horizonte: FACE/UFMG, pp. 60-96.).
  • 9
    Entre 1986 e 1988, Payne aplicou questionários ao que chama da “leaders” industriais: diretores de importantes entidades de representação da indústria e “presidentes, diretores e gerentes” de empresas industriais nacionais e multinacionais (Payne, 1995).
  • 10
    Tais entrevistas podem ser acessadas no site do CPDOC, conforme endereço indicado em CPDOC (2011).
  • 11
    Ver Costa & Engler (2008)Costa, P.R.N. & Engler, í.G. da F. (2008) Elite empresarial: recrutamento e valores políticos (Paraná, 1995-2005). Opinião Pública, 14(2), pp. 486-514. DOI
    DOI...
    , Costa (2007)Costa, P.R.N. (2007) Empresariado, instituições democráticas e reforma política. Revista de Sociologia e Política, 28, pp. 99-116. DOI
    DOI...
    , Costa et al. (2012)Costa, P.R.N. (2012) A elite empresarial e as instituições democráticas: cultura política, confiança e padrões de ação política. Opinião Pública, 18(2), pp. 452-469. DOI
    DOI...
    , Costa (2012)Costa, P.R.N., Roks, T.J. & Santos Filho, G. de O. (2012) Recrutamento, valores e padrões de ação política da elite empresarial. Revista de Sociologia e Política, 20(43), pp. 221-246. DOI
    DOI...
    e Costa et al. (2014)Costa, P.R.N. (2015) Os empresários enquanto elite: a pesquisa empírica. In: R.M. Perissinotto & A. Codato (eds) Como estudar elites. Curitiba: Editora da UFPR, pp. 170-220..
  • 12
    Ver Codato et al. (2017)Codato, A., Massimo, L. & Costa, L.D. (2017) Social positions and political recruitment: a study of Brazilian senators. Tempo Social, 29(3), p. 111. DOI
    DOI...
    e Costa et al. (2014)Costa, P.R.N., Costa, L.D. & Nunes, W. (2014) Os senadores-empresários: recrutamento, carreira e partidos políticos dos empresários no Senado brasileiro (1986-2010). Revista Brasileira de Ciência Política, 14, pp. 227-253. DOI
    DOI...
    .
  • 13
    Sobre as cooperativas empresariais, ver Costa & Stöberl (2016)Costa, P.R.N. & Stöberl, P.R. (2016) Cooperativas e representação política empresarial no Brasil: o caso do cooperativismo rural no Paraná. Política & Sociedade, 15(32), pp. 258-251. DOI
    DOI...
    e Costa & Stöberl (2022)Costa, P.R.N. & Stöberl, P.R. (2022) Os condicionantes institucionais e sociais do recrutamento da elite política do cooperativismo agroindustrial. Revista de Economia e Sociologia Rural, 60(30), pp. 232-252. DOI
    DOI...
    .
  • 14
    Sobre a nomeação da diretoria no Banco Central do Brasil, ver Olivieri (2007)Olivieri, C. (2007) Política, burocracia e redes sociais: as nomeações para o alto escalão do Banco Central do Brasil. Revista de Sociologia e Política, 29, pp. 147-168. DOI
    DOI...
    . Sobre a relação entre elites econômicas e elites estatais no Brasil, na Argentina e no México, ver Perissinotto et al. (2014)Perissinotto, R.M., Costa, P.R.N., Nunes, W. & Ilha, A. (2014) Elites estatais e industrialização: ensaio de comparação entre Brasil, Argentina e México (1920-1970). Revista de Economia Política, 34(3), pp. 503-519. DOI
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    .
  • 15
    Sobre a análise prosopográfica no estudo das elites políticas, a qual pode ser útil para o estudo dos empresários, ver Heinz & Codato (2015)Heinz, F. & Codato, A.N. (2015) A prosopografia explicada para cientistas políticos. In: A.N. Codato & R.M. Perissinotto (ed) Como estudar elites. Curitiba: Editora da UFPR, pp. 249-275..
  • 16
    No Brasil, a História de Empresa pode ser exemplificada pelos trabalhos de Costa e Prates (Costa & Prates, 2018Costa, A.D. & Prates, R. (2018) EMBRAER - Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A. (Brazilian aerospace conglomerate): Brazilian aircraft flying around the world. Journal of Evolutionary Studies in Business, 3(2), pp. 23-56.).
  • 17
    O critério posicional foi complementado pela verificação da renda, da educação formal e do seu prestígio, com dados de um survey sobre a elite administrativa de Xangai (Pearson, 1997Pearson, M.M. (1997) China's new business elite: the political consequences of economic reform. California: University of California Press.).
  • 18
    Espinoza (2018)Espinoza, F. (2018) El dilema de Bolivia: la élite cruceña (camba). In: A. Codato & F. Espinoza (ed) élites en las Américas: diferentes perspectivas. Curitiba/Los Polverines: Editora UFPR/Editora UNGS, pp. 219-244. analisa as redes familiares e suas conexões com as instituições políticas para pensar relações entre a elite política e elite econômica na Bolívia desde meados da década de 2000, destacando um processo de cooptação dos membros da elite econômica pelo governo.
  • 19
    Ver, em particular, a Tabela 2, que condensa as proposições em relação à questão dos “atores” no estudo do empresariado enquanto ator político (Mancuso, 2007bMancuso, W.P. (2007b) O lobby da indústria no Congresso Nacional. São Paulo: EDUSP/HUMANITAS/FAPESP.).
  • 20
    A relação entre CEOs de empresas brasileiras e corrupção foi estudada por Paz & Costa (2016).
  • 21
    A atuação das elites empresariais foi muito importante no processo de impeachment de Dilma Rousseff e ainda está por ser analisado, mas já produziu algumas reflexões, como as Ianoni & Cunha (2018) e Ianoni (2017), além do trabalho de Donatello (2017)Donatello, L.M. (2017) Legisladores representantes empresariales en Argentina y Brasil: la emergencia de una categoría de especialistas. Revista de Sociologia e Política, 25(63), pp. 139-158. DOI
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Nov 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    16 Fev 2023
  • Revisado
    01 Ago 2023
  • Aceito
    07 Set 2023
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