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Outsiders: um conceito de difícil operacionalização na Ciência Política

Outsiders: a hard concept to operationalize in Political Science

RESUMO

Introdução:

O sucesso eleitoral de outsiders, isto é, aqueles que constroem suas carreiras fora dos partidos políticos estabelecidos, não é novo, mas é cada vez mais presente na Europa, nos Estados Unidos e na América Latina. Como definir esse fenômeno e aplicar o conceito?

Materiais e métodos:

Através de pesquisa de alta sensibilidade nas bases Web of Science, Scopus, SciELO Brasil, Redalyc e Google Scholar foram selecionados 30 documentos para esta revisão de escopo. A partir da análise dos artigos, examinou-se como o fenômeno tem sido tratado na Ciência Política e quais as bases empíricas para a definição do político outsider.

Resultados:

Três dimensões mostraram-se essenciais para identificar outsiders: 1) partidária, 2) discursiva e 3) profissional. A primeira dimensão verifica se o indivíduo ganhou proeminência dentro ou fora dos partidos tradicionais. A segunda dimensão examina se esse líder tem uma retórica anti-establishment político. A terceira dimensão investiga se ele já possuía uma posição na política institucional antes de lançar-se na disputa eleitoral. Constatou-se que na maioria dos estudos há uma tendência de se chamar de outsiders líderes e partidos políticos que utilizam um discurso de crítica exacerbada à classe política.

Discussão:

Ainda permanecem alguns desafios conceituais e metodológicos nesse campo de estudos. Ao lado de diferentes ênfases em determinadas variáveis pelas áreas que abordam o fenômeno (ciência política, comunicação política), há dificuldades para se operacionalizar o conceito de outsider tal como estabelecido na literatura. Diferentes tipos de outsiders já foram identificados nos casos de eleições presidenciais. Entretanto, para aplicar esse modelo aos cargos legislativos é preciso refinar o conceito e incorporar nas análises o estudo das carreiras políticas.

Palavras-chave
políticos outsiders; discurso anti-establishment; partidos políticos; carreiras políticas; revisão de escopo

ABSTRACT

Introduction:

While the electoral success of political outsiders, individuals who build their careers outside established political parties, is not a novel phenomenon, it has become increasingly prominent in Europe, the United States, and Latin America. How can we define and apply this concept in Political Science?

Materials and methods:

We conducted a high-sensitivity search across key academic databases, including Web of Science, Scopus, SciELO Brasil, Redalyc, and Google Scholar, ultimately selecting 30 documents for this scoping review. Through the analysis of these papers, we examined how the political outsider phenomenon has been addressed within the field of Political Science and the empirical foundations employed to define this concept.

Findings:

Our analysis found three key dimensions for identifying political outsiders: 1) political party, 2) discursive, and 3) professional. The first dimension assesses whether individuals have risen to prominence within or outside traditional political parties. The second dimension examines whether these leaders employ an anti-establishment rhetoric. The third dimension investigates whether they held prior positions in institutional politics before entering electoral contests. We found a recurring trend in most studies to categorize leaders and political parties as outsiders when they employ a discourse characterized by vehement criticism of the political class.

Discussion:

The research on political outsiders continues to grapple with enduring conceptual and methodological challenges. In addition to the varying emphases on specific variables across disciplines addressing this phenomenon (political science, political communication), difficulties in operationalizing the concept of outsiders persist within the existing literature. While various types of outsiders have been identified in presidential elections, applying this model to legislative positions requires a more refined concept and the incorporation of political careers in the analyses.

Keywords
political outsiders; anti-establishment discourse; political parties; political careers; scoping review

I. Introdução1 1 Agradeço aos pareceristas anônimos da Revista de Sociologia e Política pela valiosa contribuição ao aprimoramento deste artigo.

O objetivo deste artigo é estabelecer bases conceituais para a identificação de atores políticos como outsider. Como veremos ao longo desta Introdução, existem muitos exemplos de líderes neófitos ocupando cargos políticos de relevância em democracias pouco ou muito consolidadas na Europa, Estados Unidos e América Latina. Entretanto, a definição do que caracteriza um outsider na política não parece ser consensual na literatura.

Outsider é um termo da língua inglesa utilizado para transmitir diversos significados relacionados ao não pertencimento. Ser outsider é ser de fora, um forasteiro, um estranho em relação a um lugar ou grupo específico. No contexto da Ciência Política, o uso do termo outsider para designar figuras políticas é usado de diferentes formas. Alguns dos chamados outsiders não tinham nenhuma experiência política antes de se eleger, outros tinham alguma experiência, mas não tinham vínculos com os partidos tradicionais. Muitos - se não todos - desses líderes outsiders que tiveram sucesso em eleições são caracterizados pelo tipo de discurso que propagam e não pela localização em relação ao sistema partidário (Barr, 2009Barr, R.R. (2009) Populists, outsiders and anti-establishment politics. Party Politics, 15(1), pp. 29-48. DOI
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). Isso significa que os observadores tendem a dar mais ênfase para a questão de que esses atores têm um discurso crítico à classe política, e por isso são classificados como anti-establishment (Schedler, 1996Schedler, A. (1996) Anti-political-establishment parties. Party Politics, 2(3), pp. 291-312. DOI
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) e/ou populistas. Essa questão ganha mais proeminência do que a análise exclusiva sobre se esses atores são novatos ou não em relação à dinâmica política tradicional (Carreras, 2012Carreras, M. (2012) The rise of outsiders in Latin America, 1980-2010: an institutionalist perspective. Comparative Political Studies, 45, pp. 1451-1482. DOI
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).

O objetivo deste artigo é realizar uma revisão bibliográfica de escopo sobre outsiders na política para tentar entender os motivos de sua indefinição. As principais questões que pretendemos responder são:

  • Q1) Como a literatura aborda o fenômeno político dos outsiders?

  • Q2) Há uma definição consensual de outsiders políticos?

  • Q3) é possível operacionalizar o conceito para utilizá-lo para tratar de cargos tanto do executivo, quanto do legislativo?

A motivação para empreender tal revisão é promover uma intersecção entre duas agendas de pesquisa na Ciência Política. A primeira é a que investiga os motivos pelos quais diversos países têm virado as costas para a classe política e para os partidos tradicionais, tendo preferido eleger atores estranhos à política. Esses líderes, em geral, possuem um forte discurso de crítica ao status quo, tendências autoritárias e populistas. Exemplos emblemáticos dessa discussão são as obras de Levitsky & Ziblatt (2018)Levitsky, S. & Ziblatt, D. (2018) Como as democracias morrem. São Paulo: Zahar. e Norris & Inglehart (2019)Norris, P. & Inglehart, R. (2019) Cultural backlash: Trump, Brexit, and authoritarian populism. Cambridge: Cambridge University Press..

Enquanto tais obras fornecem uma discussão ampla e, ao mesmo tempo, profunda das mudanças sociais, econômicas e políticas que favorecem a ascensão de outsiders ao cargo de Presidente, elas se preocupam menos em conceituar o que caracteriza o outsider enquanto ator político. Esse tipo de discussão importa a outra agenda de pesquisa, sobre o perfil das elites políticas e, mais especificamente, os padrões de carreira na política e a profissionalização dos políticos (Cotta & Best, 2007Cotta, M., & Best, H. (eds) (2007) Democratic representation in Europe: diversity, change, and convergence. New York: Oxford University Press.; Searing, 1987Searing, D.D. (1987) New roles for postwar British politics: ideologues, generalists, specialists, and the progress of professionalization in parliament. Comparative Politics, 19(4), pp. 431-452. DOI
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). Neste artigo, estamos interessados em saber como conceituar e identificar um outsider político. Seja ele o presidente da maior democracia do mundo ou um membro do parlamento nacional de uma democracia qualquer, como poderíamos identificá-lo e caracterizá-lo de acordo com a literatura?

A seguir, apresentamos alguns exemplos da ocorrência do fenômeno, e como eles possuem origens diversas do ponto de vista profissional e partidário:

A invasão militar russa à Ucrânia em fevereiro de 2022 levou uma grande parte da população global a conhecer Volodymir Zelensky, o presidente novato da Ucrânia. Antes de sua eleição em 2019, Zelensky era um comediante, roteirista e diretor de TV sem qualquer experiência na política. Ele ficou muito popular ao interpretar, em um programa de humor, um cidadão indignado contra a corrupção que se torna presidente do país. Em 2019, ele disputou a presidência com outros 44 candidatos. No primeiro turno, apenas quatro conseguiram conquistar mais de 10% dos votos. Zelensky teve 30,4%, seguido pelo então presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, que teve 16% e com quem disputou o segundo turno. O estreante superou adversários com larga experiência política, concorrendo pelo recém-fundado partido “Servo do Povo”, mesmo nome do show de TV que estrelava (Figus et al., 2020Figus, A., Alberti, A. & de Serio, L. (2020) Ukraine a country in crisis between Europe, Russia, and a complex electoral process. Geopolitical, Social Security and Freedom Journal, 3(1), pp. 87-119. DOI
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). Com essa vitória, o ucraniano entrou para o rol de presidentes outsiders da nova onda das democracias.

O sucesso eleitoral de indivíduos que constroem suas carreiras fora da esfera partidária não é novo, mas tem se tornado um fenômeno mais disseminado geograficamente na última década, atingindo democracias mais consolidadas. Se nos anos 1990 países da América Latina viram muitos líderes de fora do establishment partidário chegarem ao cargo de Presidente, como Alberto Fujimori, no Peru, Hugo Chávez na Venezuela, Fernando Lugo no Paraguai, Lúcio Gutiérrez e Rafael Correa no Equador, atualmente é possível observar esse fenômeno também na Europa e nos Estados Unidos.

Em 2017, na França, o ex-ministro da Fazenda Emmanuel Macron se elegeu à presidência por um partido recém-fundado por ele próprio, o En Marche, em sua primeira candidatura à eleição. Na Itália, Beppe Grillo, um ator e humorista, fundou em 2005 um movimento chamado Cinque Stelle, que não se identifica como partido político tradicional, mas que em 2013 conseguiu eleger 25% dos representantes na Câmara dos Deputados. Finalmente, nos EUA o empresário e apresentador de TV Donald Trump se elegeu ao cargo máximo do país em 2016 derrotando a candidata Hillary Clinton, representante mor do establishment político americano.

Mas, afinal, o que todos esses agentes têm em comum? Com base em que se pode chamá-los de outsiders?

O artigo está dividido em seis seções. Além dessa Introdução, a seção seguinte apresenta o estado da arte da literatura sobre políticos outsiders. Em seguida, apresentamos os materiais e os métodos utilizados no desenvolvimento da pesquisa. Em resultados, elencamos os principais achados da pesquisa, que mostra a quais temas o fenômeno dos outsiders políticos está mais atrelado, como o discurso anti-establishment e o populismo. Na sequência, a seção de discussão do artigo enfatizamos o debate acerca das questões de pesquisa levantadas, e os problemas e desafios das definições encontradas de políticos outsiders. Por fim apresentamos as conclusões.

II. Outsiders na política: por onde começar

A literatura sobre políticos outsiders está em sua grande maioria escrita na língua inglesa ou espanhola. São pouquíssimos os trabalhos que tratam desse tema no Brasil, ou que estejam traduzidos para o português. Os poucos estudos publicados (Marenco, 1997Marenco, A. (1997) Nas fronteiras do campo político: raposas e outsiders no Congresso Nacional. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 33, pp. 87-101. Disponível em: http://anpocs.com/images/stories/RBCS/33/rbcs33_06.pdf Acesso em: 2 de nov. 2023.
http://anpocs.com/images/stories/RBCS/33...
; Oliveira et al., 2019Oliveira, V., Menezes-Filho, N., Komatsu, B. & Hott, H.A. (2019) Outsiders na política melhoram a gestão municipal? Policy Paper n° 36. São Paulo: Centro de Políticas Públicas do Insper, pp. 1-35. Available at: <https://www.insper.edu.br/wp-content/uploads/2019/01/Policy-Paper-Outsiders.pdf>. Accessed at: 2 nov. 2023.
https://www.insper.edu.br/wp-content/upl...
; Paiva & Alves, 2020Paiva, D. & Alves, V.S. (2020) O voto dos desiludidos: a ascensão de um prefeito outsider e o declínio dos partidos tradicionais em São Paulo. In: A. Lavareda & H. Telles (org) Eleições municipais: novas ondas na política. Rio de Janeiro: FGV, pp. 143-164.) analisam casos empíricos de alguns atores outsiders na política brasileira, mas sem oferecer uma discussão teórica robusta sobre o termo e o seu significado para o sistema político.

As principais obras que tratam de outsiders na arena política (Kenney, 1998Kenney, C.D. (1998) Outsider and anti-party politicians in power: new conceptual strategies and empirical evidence from Peru. Party Politics, 4(1), pp. 57-75. DOI
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; Barr, 2009Barr, R.R. (2009) Populists, outsiders and anti-establishment politics. Party Politics, 15(1), pp. 29-48. DOI
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; Carreras, 2012Carreras, M. (2012) The rise of outsiders in Latin America, 1980-2010: an institutionalist perspective. Comparative Political Studies, 45, pp. 1451-1482. DOI
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) exploram seus sucessos em disputas presidenciais. Esses estudos se destacam por discutir a definição mais adequada de outsider e em todos os casos os autores identificaram diferentes tipos de outsiders.

Os outsiders, enquanto atores políticos, são muitas vezes caracterizadas como populistas ou anti-establishment. Kenney (1998) vislumbrou a necessidade de definir duas dimensões das relações dos políticos com os sistemas partidários: classificá-los como outsiders (de fora) ou insiders (de dentro), dependendo de sua origem vis-à-vis o sistema partidário, e como antipartido ou tolerante a partidos, dependendo de seu discurso sobre o sistema partidário. Dessa forma, outsiders seriam aqueles líderes que ganharam proeminência fora do sistema partidário nacional, enquanto insiders seriam aqueles que ganharam destaque dentro do sistema partidário, mesmo que posteriormente tenham rompido com seus antigos partidos e criado novos.

Em relação ao discurso, Kenney considera como antipartidos aqueles líderes que rejeitam os partidos estabelecidos e a política partidária, e como tolerante a partidos aqueles que reconhecem os partidos como organizações essenciais à política democrática. A partir dessas classificações, Kenney identificou quatro categorias diferentes de agentes: 1) outsider e antipartido; 2) outsider e tolerante a partidos; 3) insider e antipartido; e 4) insider e tolerante a partidos.

Da mesma forma, Barr (2009), diante da indiferenciação conceitual de três fenômenos que costumeiramente são tratados nos estudos de forma conjunta (outsiders na política, populismo e políticos anti-establishment), propôs novas ferramentas analíticas para diferenciar os três fenômenos, baseado em três fatores-chaves: os apelos utilizados pelos atores para construir apoio, a localização dos atores políticos com relação ao sistema partidário e os vínculos entre cidadãos e políticos.

Para Barr, os outsiders devem ser assim caracterizados a partir da localização deles vis-à-vis o sistema partidário. Desse modo, se um político tradicional (insider) é aquele que ganha proeminência dentro dos partidos estabelecidos e competitivos, e ajuda a manter o sistema político, um outsider é alguém que ganha proeminência fora desses partidos, ou como político independente, ou em associação com partidos novos, ou, ainda, com partidos que só se tornaram competitivos recentemente. Nesse sentido, partidos pequenos e não-competitivos, mesmo que antigos, não são considerados como parte do sistema partidário estabelecido.

Uma complicação derivada dessa classificação dual (insider-outsider) de Barr diz respeito a políticos que abandonam seus partidos tradicionais de origem para formar um novo. Para compreender esse comportamento político, Barr oferece uma categoria intermediária, reconhecendo como rebelde (Maverick) aquele político que cresce em um partido tradicional, mas o deixa para se filiar ou fundar outro, novo, e concorrer às eleições por ele; ou, ainda, aquele que não sai do partido, mas faz nele uma reestruturação radical.

Exemplos desse tipo de outsiders rebeldes são Jair Bolsonaro, no Brasil, e Andrés Manuel López Obrador, no México, eleitos em 2018. Em ambos os casos, não se trata de políticos sem experiência, mas do curioso movimento de se elegerem por partidos sem relevância no sistema partidário de seus países. Bolsonaro era um político com longa experiência parlamentar, mas que nunca ocupou qualquer posição de relevância na Câmara dos Deputados. Ele se filiou a um partido marginal ao sistema político, o PSL, apenas visando sua eleição ao cargo de Presidente em 2018. López Obrador também era um indivíduo com longa carreira política, que rompeu com seu antigo partido (PRD) e fundou, em 2014, um novo partido, o Movimiento Regeneración Nacional (MORENA), pelo qual se elegeu a Presidente pela primeira vez em 2018. Ambos derrotaram candidatos dos partidos tradicionais do sistema, o PT e o PSDB no Brasil, e, no México, foi a primeira vez que um candidato do PAN ou do PRI não venceu as eleições presidenciais desde os anos 1990.

A definição do outsider e do maverick reside exclusivamente na sua localização no sistema partidário. Não tem, portanto, relação com o tipo de discurso usado pelo candidato. é comum, no entanto, que outsiders e mavericks, pela posição que ocupam no sistema partidário, usem como apelo eleitoral um discurso anti-establishment. Para Barr, o político anti-establishment é aquele que, para conquistar eleitores, diz que a elite política não representa verdadeiramente os interesses do povo e se coloca como alternativa para melhor representá-lo. No entanto, o uso desse tipo de discurso não depende da localização do ator no sistema partidário: embora ele tenha mais apelo quando é proferido por alguém que está fora da classe política (outsider), ou que rompeu com ela (maverick), ele também pode ser utilizado por atores de dentro do sistema político (insiders) que conseguem convencer seu eleitorado de que não fazem parte da elite política, como Collor de Mello no Brasil em 1989.

Carreras (2012Carreras, M. (2012) The rise of outsiders in Latin America, 1980-2010: an institutionalist perspective. Comparative Political Studies, 45, pp. 1451-1482. DOI
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), ao tratar do tema de outsiders em eleições presidenciais na América Latina, a exemplo de Barr, montou sua tipologia baseado apenas nas origens partidárias e políticas dos candidatos. A finalidade da classificação foi mostrar quão fora do sistema político cada tipo de outsider está.

A tipologia de Carreras admite três tipos de outsiders: 1) amadores: são políticos com pouca ou nenhuma experiência que competem eleitoralmente por partidos tradicionais; 2) mavericks (rebeldes): são políticos que já pertenceram a partidos do sistema, mas decidiram concorrer eleitoralmente por partidos novos; e 3) full outsiders: são políticos que não têm uma carreira política prévia e competem em eleições presidenciais por um partido recém-criado. Por fim, o insider é aquele político que não cabe na definição de outsider, pois já acumula experiência política e faz parte de um partido consolidado, ou seja, é o político tradicional.

Após essa breve apresentação dos principais artigos que tratam de outsiders na política, expomos uma revisão de escopo com o objetivo de mapear o estado atual das pesquisas sobre o tema e responder às nossas questões de pesquisa.

III. Metodologia para a seleção dos documentos da revisão

Para encontrar estudos que auxiliassem na tarefa de analisar o fenômeno dos outsiders na política, optamos pela revisão de escopo. De acordo com Arksey & O'Malley (2005)Arksey, H. & O'Malley, L. (2005) Scoping studies: towards a methodological framework. International Journal of Social Research Methodology: Theory and Practice, 8(1), pp. 19-32. DOI
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, dentre os vários tipos de revisões bibliográficas, as de escopo são mais adequadas para examinar a extensão, o alcance e a natureza da atividade de pesquisa sobre determinado assunto, resumir e disseminar achados de pesquisa e identificar lacunas na literatura existente. Para realizar a revisão, primeiramente foram feitas pesquisas sobre “políticos outsiders” nas bases Scopus Elsevier e Web of Science. A busca foi realizada em maio de 2021 e procurou somente artigos ou papers sobre o tema.

Para a busca nas bases foi utilizado o termo “outsiders”, adicionalmente o termo “politics” e suas variações, e ainda o termo “establishment” e suas variações. Após alguns testes, verificou-se a necessidade de adicionar à string alguns termos que estavam enviesando a busca, com a finalidade de excluí-los dos resultados, como os termos “immigrants” e “refugees”.

Assim, a string utilizada no levantamento da literatura na base Scopus foi a seguinte:

( ( TITLE-ABS-KEY ( politic* AND outsiders AND *establish* ) AND NOT TITLE-ABS-KEY ( *migrant* OR refugees OR labor OR market) ) ) AND ( SUBJMAIN ( 3312 ) OR SUBJMAIN ( 3320 ) ).

Na string utilizada Web of Science, os resultados foram refinados por categorias da própria base: Political Science ou International Relations ou Sociology ou Social Sciences Interdisciplinary, e por tipos de documento: article ou proceedings paper.

TóPICO: ((politic* AND outsiders AND *establish*) NOT(*migrant* OR refugee OR market OR labor))

Na base Scopus, a string escolhida obteve 75 resultados, e na base Web of Science, 56 documentos. Removidas as duplicatas, restaram 97 artigos. A seleção manual foi feita conforme os critérios do Quadro 1. A seleção dos 22 textos que permaneceram na revisão final foi feita pela autora deste trabalho a partir da leitura dos resumos dos 97 artigos. O método de seleção principal foi a exclusão daqueles artigos que não se relacionavam ao tema de atores outsiders na política, mas que ainda assim foram filtrados pelas strings. Os documentos selecionados são trabalhos que, de alguma forma, abordam o tema dos outsiders na política institucional.

Após a leitura desses 22 artigos, concluiu-se que o conjunto de estudos encontrados apresenta duas lacunas: poucas definições conceituais sobre outsiders na política - apenas 35% dos textos propuseram uma definição clara -, e poucos estudos sobre outsiders no âmbito do poder Legislativo. Assim, em novembro de 2021, novas buscas foram empreendidas em outras plataformas indexadoras, desta vez nas bases SciELO (coleção Brasil), Redalyc e Google Scholar. O foco da nova rodada de buscas foi encontrar textos que, além de abordar políticos outsiders, oferecessem alguma definição ou discussão sobre o conceito.

As novas bases utilizadas não possuíam recursos tão avançados de busca como as anteriores, o que nos obrigou a utilizar strings mais simples e que, consequentemente, apresentaram resultados menos refinados e mais numerosos. Nas buscas na SciELO Brasil e Redalyc, apenas o termo “outsiders” foi utilizado. Na primeira base foram encontrados 22 artigos, mas nenhum que abordasse o fenômeno.

Na base Redalyc, 942 artigos foram encontrados através da stringoutsider OR outsiders”, filtrados pela disciplina “política”. Os primeiros 100 resultados foram considerados e, após a leitura dos títulos e resumos, apenas dois documentos foram selecionados. Removidas as duplicatas, somente um novo artigo foi adicionado, somando, então, 23 documentos.

Na base Google Scholar, a stringparty AND outsiders” foi utilizada, resultando em muitos milhares de artigos (543.000). Os primeiros 100 resultados foram considerados e examinados conforme os critérios de inclusão e exclusão (Quadro 1). Após a leitura do título e resumo desses documentos, 14 foram selecionados e, excluídas as duplicatas, restaram 10 artigos. Depois de analisar a Introdução desses 10 artigos, apenas quatro foram selecionados para a leitura integral. Nessa fase, não se demonstrou adequado selecionar os textos apenas com base na leitura dos resumos, pois nem sempre ficou claro se haveria um debate sobre o conceito de político outsider no desenvolvimento do texto.

Quadro 1
Critério para a seleção dos textos de interesse na Scopus e Web of Science

Ainda, artigos relevantes foram encontrados em outras fontes, como nas referências bibliográficas de Carreras (2012Carreras, M. (2012) The rise of outsiders in Latin America, 1980-2010: an institutionalist perspective. Comparative Political Studies, 45, pp. 1451-1482. DOI
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), e a partir de buscas mais específicas no Google Scholar com strings que não se mostraram eficazes para uma revisão de escopo, mas que eventualmente pinçaram artigos interessantes. Após a leitura de todo o texto de alguns artigos encontrados usando esse método, três foram selecionados por apresentarem conteúdo imprescindível para os objetivos desta revisão.

Resumindo, na primeira e mais abrangente fase da pesquisa, 22 artigos das bases Scopus e Web of Science foram escolhidos para compor a revisão de escopo. Na segunda fase, mais específica, oito artigos foram escolhidos: um da base Redalyc e quatro do Google Schoolar. Foram somados a esses 27 artigos os três encontrados em outras fontes, somando, assim, 30 documentos no total.

A Figura 1 mostra o fluxo de identificação, triagem e inclusão dos textos que compõe a revisão.

Figura 1
Fluxograma PRISMA

Finalmente, os textos escolhidos foram analisados tendo como base uma ficha de leitura cujo objetivo foi identificar pontos específicos dos textos e auxiliar na tarefa de destacar e agrupar as principais características dos estudos observados. As questões da ficha serão apresentadas na próxima seção.

IV. Resultados

Os resultados da pesquisa foram organizados em uma série de Quadros. O objetivo foi sintetizar cada artigo destacando o foco de análise, a abrangência e o período estudado, bem como alguns aspectos metodológicos e os principais achados.

Os Quadros mostram a variedade de abordagens metodológicas e temáticas dos estudos sobre outsiders na política. A chegada de outsiders à presidência de seus países, por exemplo, é explorada tanto a partir do contexto político, como a partir da retórica dos candidatos, ou em função do comportamento do eleitorado. Os casos da América Latina e da Indonésia mostram que a ascensão de outsiders envolveu questões como declínio econômico, crise de confiança nos partidos e nas instituições e personalismo dos líderes. No caso dos EUA, a retórica de Trump e a identificação de parte do eleitorado com seu discurso, bem como a rejeição do establishment político, foram os aspectos mais abordados.

Os estudos sobre a Europa, por sua vez, tendem a enfatizar mais as características dos partidos, a retórica dos atores e o comportamento do eleitorado. A Itália se destaca nesse cenário. Os artigos sobre o país abordam a sequência de acontecimentos que culminaram na reforma eleitoral italiana de 1993, resultado de um longo e persistente processo de mobilização em torno do tema, que acabou por enfraquecer o establishment político e alavancar partidos outsiders (Donovan, 1995Donovan, M. (1995) The politics of electoral reform in Italy. International Political Science Review, 16(1), pp. 47-54.). Os partidos de centro-direita, principalmente Lega Nord e Forza Itália, protagonizaram um longo período de hegemonia, mas que acabou com a renúncia de Berlusconi em 2011. O legado da abordagem antipolítica desses partidos permitiu que novos movimentos populistas emergissem e redirecionassem a crítica contra os próprios partidos de centro-direita que estavam envolvidos em casos de corrupção (Fella & Ruzza, 2013Fella, S. & Ruzza, C. (2013) Populism and the fall of the centre-right in Italy: the end of the Berlusconi model or a new beginning? Journal of Contemporary European Studies, 21(1), pp. 38-52. DOI
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). O populismo do movimento político Cinque Stelle (M5S) e seu impacto no sistema partidário são analisados à luz da tradição populista na cultura política italiana, juntamente com o constante apelo da liderança carismática. O M5S ganhou destaque mundial por suas características peculiares: a velocidade com que conquistou cadeiras no parlamento, as inovações tecnológicas da organização, a atuação dos principais líderes, Beppe Grillo e Gianroberto Casaleggio, a dinâmica da organização e o seu caráter anti-establishment e parapartidário (Tronconi, 2018Tronconi, F. (2018) The Italian Five Star Movement during the crisis: towards normalisation? South European Society and Politics, 23(1), pp. 163-180. DOI
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).

Os Quadros 2, 3, 4, 5, 6 e 7 apresentam informações sintetizadas sobre cada artigo. Eles foram organizados a partir do foco da análise dos estudos. Os artigos podem focar apenas nas instituições, nos contextos histórico-políticos, nos partidos, no comportamento do eleitorado, nas retóricas dos atores, no perfil de elites políticas e, por fim, em estratégias conceituais (quando os textos discutem a noção de outsider).

O Quadro 2 trata de desenhos institucionais que podem propiciar o surgimento de líderes outsiders e do impacto institucional que a eleição de outsiders pode causar na relação executivo-legislativo.

Adicionalmente, apresenta artigos sobre o contexto político e/ou econômico que propiciou a ascensão de líderes outsiders à presidência de seu país. A maioria são estudos de caso sobre países da América Latina. Um deles é sobre os Estados Unidos da América e outro sobre a Indonésia. São estudos muito particulares e contextuais, é difícil sistematizar um resultado a partir deles.

Quadro 2
Síntese do conteúdo dos artigos selecionados com foco em Instituições e em contextos histórico-políticos

O Quadro 3 é formado exclusivamente de estudos sobre partidos europeus dos anos 1990 até 2017, evidenciando, assim, a importância do fenômeno do surgimento de novos partidos com discurso anti-establishment na Europa. A gama de estilos dos estudos é variada, há estudos comparados, de caso, descritivo e agregado. A maioria deles foca na retórica adotada pelos novos partidos, mas versam também sobre outras estratégias usadas por eles para ganhar adeptos e votos. O processo de passagem desses partidos da posição de protesto às coalizões de governo também é abordado. Apenas um dos estudos, sobre a França, discute as estratégias dos partidos tradicionais, e não dos outsiders, e aponta como uma estratégia errada propiciou o cenário para o surgimento de um líder outsider, Emmanuel Macron, eleito presidente em 2017.

Quadro 3
Síntese do conteúdo dos artigos selecionados com foco em partidos

O Quadro 4 possui um grupo diversificado de estudos que tratam de países da Europa e da América Latina. A maioria é de estudos comparados entre vários países. A gama de atores analisados também é ampla. Seus achados, no entanto, vão na mesma direção ao associarem o surgimento de líderes outsiders ou populistas à baixa confiança do eleitorado nas instituições políticas. Um deles também associa a abundância de candidatos novatos em eleições presidenciais com a polarização do eleitorado.

Quadro 4
Síntese do conteúdo dos artigos selecionados com foco em comportamento do eleitorado

O Quadro 5 traz os estudos que focaram no discurso dos atores políticos. A retórica de Donald Trump foi tratada em três dos seis artigos analisados e foi considerada muito eficaz na comunicação com o eleitorado, não só pelo conteúdo anti-establishment político, mas também pela ausência de formalidade. Os partidos e líderes italianos também ganharam proeminência nesse tema, lá há um longo histórico e diversos exemplos de partidos novos e antigos que adotaram a retórica anti-establishment político. Alguns desses estudos sobre a Itália mostraram como partidos e líderes que já foram outsiders tentaram manter essa pecha mesmo quando há anos já faziam parte de coalizões governamentais com partidos tradicionais e eram confrontados a adotar o mesmo modo modus operandi deles.

Quadro 5
Síntese do conteúdo dos artigos selecionados com foco na retórica dos atores políticos

O Quadro 6 destaca o grupo de estudos de maior relevância para esta pesquisa. Esses estudos se concentraram na elaboração de estratégias para conceituar de forma apropriada uma variedade de atores políticos que compartilham certas características, mas que muitos autores frequentemente generalizam como "homogêneos", quando, na realidade, apresentam distinções significativas entre eles. Schedler fez um esforço para diferenciar partidos anti-establishment dos antissistemas e dos antipolítica. Andrés demonstrou as diversas formas como o termo outsider é usado, e citou grande número de exemplos de cada tipo considerado outsider. As obras de Barr & Kenney já foram discutidas anteriormente neste artigo.

Quadro 6
Síntese do conteúdo dos artigos selecionados com foco em estratégias conceituais

Por fim, o Quadro 7 mostra os estudos focados no perfil das elites políticas. Todos eles trataram de casos na América Latina. Carreras mostrou como um presidente outsider compõe um gabinete ministerial com mais quadros técnicos e independentes de partidos. Os demais trataram de membros do parlamento e demonstraram que há uma pequena mudança no perfil das elites políticas com a entrada de outsiders no Legislativo.

Quadro 7
Síntese do conteúdo dos artigos selecionados com foco em perfil de elites políticas

Todos os Quadros contêm muitos exemplos de atores políticos que são tratados empiricamente como outsiders, tanto líderes como partidos. é possível perceber que na maioria dos casos não há uma preocupação em embasar a caracterização de outsider. Em geral, os textos simplesmente assim rotularam os líderes e partidos políticos, descreveram aspectos de suas lideranças, principalmente a retórica utilizada por eles (anti-establishment) e a suas habilidades de organizar novos movimentos e partidos políticos que se contrapõem aos tradicionais e obtêm sucesso nas eleições.

Como um dos objetivos desta revisão é encontrar uma base comum para a definição de outsiders políticos, apresentamos no Quadro 8 as definições conceituais encontradas nos artigos selecionados.

Quadro 8
Definições do conceito de outsiders políticos presentes na literatura analisada

Dentre os 30 textos selecionados, apenas 13 apresentaram definições de outsiders. Na seção seguinte discutiremos com mais detalhe as definições predominantes. Em geral, elas giram em torno da relação do agente com o sistema partidário e da experiência profissional na política. Algumas exceções são encontradas, como Freschi & Mete (2020), que consideraram outsiders as candidatas mulheres e aqueles que sempre perdem eleições. Andres (2016) oferece vários tipos de definições possíveis, entre elas o “azarão” de uma disputa eleitoral, aquele candidato que ninguém acredita que tem potencial de ganhar. Essa definição é interessante, pois por vezes candidatos insiders são definidos como outsiders somente por serem o “azarão” da disputa.

O restante dos estudos trouxe o tema dos outsiders políticos de alguma forma, mas se ocupou de discutir outros conceitos ou contextos que não a caracterização de outsiders. No Quadros 2 a 7 é possível visualizar que todos os artigos chamaram certos atores de outsiders, embora não tenham apresentado propriamente uma definição para o termo.

No Quadro 9, apresentamos os resultados da tabulação das fichas utilizadas para guiar as leituras dos textos. A partir delas foi possível identificar os assuntos que são tratados conjuntamente com o tema outsiders na política.

Quadro 9
Resultados obtidos na análise do corpus de artigos utilizando a ficha de leitura

A partir da tabulação das fichas de leituras, percebemos que grande parte dos textos são estudos de caso (47%) que têm como tema principal um líder específico que disputou eleições presidenciais (53%). Já as eleições para o parlamento são pouco enfatizadas nessas pesquisas, somando apenas 30% dos casos. Outro achado importante é que, curiosamente, poucos textos analisados apresentam o tema de políticos outsiders como o principal, já que apenas 33% deles o fazem. Aparentemente, esse fenômeno dos políticos outsiders é tratado em conjunto com outros temas, principalmente a ascensão de líderes e partidos anti-establishment e/ou populistas (37% e 40%), ou a associação desses líderes a movimentos sociais, cívicos ou políticos de contestação (40%).

V. Discussão

Tendo explorado a literatura, relembremos as questões de pesquisa: Q1) Como a literatura aborda o fenômeno político dos outsiders?; Q2) Há uma definição consensual de outsiders políticos? Q3) é possível operacionalizar o conceito para utilizá-lo para tratar de cargos tanto do executivo, quanto do legislativo?

Acerca da primeira questão, a principal preocupação era verificar o prisma pelo qual os estudos de ciência política enxergam o fenômeno, vimos que a maioria dos artigos são estudos de caso e estão focados em eleições presidenciais. Ainda, grande parte dos estudos que abordam atores outsiders não necessariamente se detêm em explorar o tema e o conceito de outsiders na política, mas sim outras características do líder ou do partido que o autor considera outsider, dentre as quais se destacam o tipo de discurso que esses atores sustentam (e que geralmente é fundado na retórica anti-establishment). O tema não é muito explorado por estudos da área de elites políticas.

Uma porcentagem considerável de estudos (43%) se preocupou em estabelecer uma definição de políticos outsiders, o que nos leva à segunda questão de pesquisa: há uma definição consensual de outsiders políticos? Há uma definição mais ou menos consensual, mas ao mesmo tempo, diversos estudos utilizam esse termo indiscriminadamente e pressupõe-se que o contexto político do estudo explique o motivo pelo qual aquele ator ou partido é considerado outsider. Dito isso, as principais dimensões que caracterizam os outsiders vistos na literatura e sintetizados no Quadro 8 são as seguintes:

  • 1)

    Dimensão partidária (relevância em relação ao sistema partidário): a irrelevância pode ser uma característica de partidos novos ou recém fundados, ou de antigos que se tronaram competitivos recentemente, como movimentos políticos que se tornam partidos posteriormente ao sucesso eleitoral de seu líder (Carreras, 2014Carreras, M. (2014) Outsiders and executive-legislative conflict in Latin America. Latin American Politics and Society, 56(3), 70-92.; Barr, 2009Barr, R.R. (2009) Populists, outsiders and anti-establishment politics. Party Politics, 15(1), pp. 29-48. DOI
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    ). Esses partidos geralmente não são aqueles em torno dos quais as disputas eleitorais acontecem e nem essenciais para uma coalizão de governo (McDonnell & Newell, 2011McDonnell, D. & Newell, J.L. (2011) Outsider parties in government in Western Europe. Party Politics, 17(4), 443-452. DOI
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    ; Petrarca et al., 2022Petrarca, C.S., Giebler, H. & Weßels, B. (2022) Support for insider parties: the role of political trust in a longitudinal-comparative perspective. Party Politics, 28(2), pp. 329-341. DOI
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    ). Os outsiders geralmente são associados a esse tipo de partido.

  • 2)

    Dimensão discursiva: o discurso de crítica exacerbada à classe política estabelecida e aos partidos tradicionais é um elemento que, embora não tenha sido muito abordado no Quadro 8, acaba por aparecer como uma variável essencial em uma série de estudos analisados aqui (Ceron et al., 2021Ceron, A., Gandini, A. & Lodetti, P. (2021) Still “fire in the (full) belly”? Anti-establishment rhetoric before and after government participation. Information Communication and Society, 24(10), pp. 1460-1476. DOI
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    ; Kellner, 2017Kellner, D. (2017) Brexit Plus, whitelash, and the ascendency of Donald J. Trump. Cultural Politics, 13(2), pp. 135-149. DOI
    DOI...
    ; Fella & Ruzza, 2013Fella, S. & Ruzza, C. (2013) Populism and the fall of the centre-right in Italy: the end of the Berlusconi model or a new beginning? Journal of Contemporary European Studies, 21(1), pp. 38-52. DOI
    DOI...
    ; Van Kessel, 2012Van Kessel, S. (2012) A matter of supply and demand: the electoral performance of populist parties in three european countries. Government and Opposition, 48(2), pp. 175-199. DOI
    DOI...
    ; Hartlab, 2015Hartleb, F. (2015) Here to stay: anti-establishment parties in Europe. European View, 14(1), pp. 39-49. DOI
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    ). Muitos caracterizam esse discurso como populista, mas por influência de autores que se esforçaram em definir com mais rigor esse tipo de discurso, como Scheadler (1996), preferimos chamar essa retórica de anti-establishment político.

Para definir indivíduos como outsiders, além das dimensões partidárias e discursiva, é preciso examinar também a dimensão profissional:

  • 3)

    Dimensão profissional: Carreras (2012Carreras, M. (2012) The rise of outsiders in Latin America, 1980-2010: an institutionalist perspective. Comparative Political Studies, 45, pp. 1451-1482. DOI
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    ; 2014Carreras, M. (2014) Outsiders and executive-legislative conflict in Latin America. Latin American Politics and Society, 56(3), 70-92.) defende que para identificar um outsider, é preciso olhar para a experiência política prévia do indivíduo e considerar se ele já desempenhou alguma atividade na política ou na administração pública. Assim, não se pode considerar um outsider legítimo um indivíduo que se elege por um partido novo, mas que previamente foi, por exemplo, um ministro de Estado.

Quanto à última questão de pesquisa, sobre a possibilidade ou não de operacionalizar o conceito para tratar de cargos tanto do executivo, quanto do legislativo, nos deparamos com uma tarefa complexa. Mesmo com essas três dimensões claramente definidas, ainda há complicadores na tarefa de definir um político como outsider e de aplicar esse conceito a casos empíricos, principalmente se pretendemos expandir essa definição para outros cargos que não o de presidente. São complicadores:

  • a)

    Nuanças do que pode ser considerado experiência prévia na atividade política.

  • b)

    A posição política para o qual ele foi eleito na política institucional.

  • c)

    Dificuldade de caracterizar partidos marginais e novos em sistemas multipartidários como os da América Latina.

Em relação ao primeiro tópico, precisamos nos questionar sobre o que pode ser de fato considerada “atividade política”. Além dos cargos eletivos, os cargos não eletivos, como ministro e secretário de estado, ou chefe e assessor de gabinete parlamentar, também são atividades muito relevantes e que deveriam ser qualificadas como experiências políticas prévias a uma eleição. No entanto, quando tomamos toda a administração pública, o posto de direção de uma autarquia e de chefia de departamento de órgão público podem ser assim consideradas? E como ficaria a experiência fora da política institucional, como a atuação na direção de uma associação profissional, de sindicatos, movimentos sociais e estudantis e outros tipos de ativismo político?

Quanto ao segundo tópico, a maioria dos estudos sobre políticos outsiders aborda candidatos que se elegeram à presidência de um país (53 % dos casos). Um outsider chegar à presidência é um evento muito relevante, mas um outsider se eleger ao cargo de prefeito, governador e deputado seria considerado relevante da mesma forma, na mesma escala?

Sobre a esfera legislativa, Donatello & Levita (2017) analisaram as características sociológicas dos deputados nacionais de países de Mercosul entre 2003 e 2015 e classificaram como outsiders aqueles que iniciaram a carreira fora dos partidos políticos e que, ao mesmo tempo, exerciam funções fora da política como principal atividade profissional antes de assumirem uma cadeira no Legislativo. Assim, para ser considerado um outsider, o deputado não podia ter iniciado sua trajetória política nem em partido político e nem em organização estudantil. Além disso, sua atividade principal exercida antes de assumir o cargo não poderia ser nem na política e nem na administração pública. Sendo assim, podemos dizer que não é adequado classificar como outsiders os indivíduos que se elegeram pela primeira vez a um cargo político, pois sem saber a atividade principal desempenhada antes da sua candidatura não é possível saber ao certo se ele é realmente um outsider.

Por fim, a dificuldade de classificar partidos como novos ou marginais em sistemas multipartidários como o do Brasil é outro complicador. Nos artigos aqui estudados, os partidos novos e anti-establishment da Europa eram claramente identificáveis dada a natureza de seus sistemas partidários. No caso dos estudos sobre América Latina, os partidos eram na verdade movimentos sociais que se tornaram veículos eleitorais para seus candidatos à Presidência. A definição do que seria um partido novo ou marginal irá variar de um sistema partidário para outro, ou seja, apesar de existir bases comuns para a definição, ela será mais contextual do que generalizadora.

A limitação da classificação dual outsider-insider já havia sido identificada por Barr (2009), Carreras (2012Carreras, M. (2012) The rise of outsiders in Latin America, 1980-2010: an institutionalist perspective. Comparative Political Studies, 45, pp. 1451-1482. DOI
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) e Kenney (1998), que ofereceram alternativas intermediárias a esses dois tipos ideais. Porém, trabalhando com casos empíricos para além das corridas presidenciais, vislumbra-se a necessidade de aprimorar essa classificação. Uma maneira mais eficiente de operacionalizar o conceito de outsider seria uma escala que considere todas essas nuances. Assim, não seria possível decretar se tal indivíduo é um outsider ou um insider, mas sim o quão fora da política ele estava antes de se eleger.

VI. Conclusões

O artigo realizou uma revisão de escopo sobre políticos outsiders e buscou responder à três questões de pesquisa:

Q1) Como a literatura aborda o fenômeno político dos outsiders? Concluiu-se que o faz de maneira muito diversificada e contempla pelo menos seis grandes áreas de estudo, conforme demonstrado nos Quadros 2 a 7. Outsiders em eleições presidencias, seu discurso e as relações deles com as instituições políticas e o eleitorado são as questões mais abordadas. Não há um nicho de pesquisa consolidado sobre o tema.

Q2) Há uma definição consensual de outsiders políticos? Há uma definição mais ou menos consensual. Apesar do uso um tanto indiscriminado do termo, podemos dizer que, em geral, o outsider preenche ao menos duas destas três características: 1) concorre em eleições por um partido novo ou marginal ao sistema partidário; 2) não tem experiência na política institucional; 3) adota um discurso anti-establishment político. Para distinguir os diferentes tipos de outsider que podem surgir numa eleição presidencial, há a tipologia de Carreras (2012Carreras, M. (2012) The rise of outsiders in Latin America, 1980-2010: an institutionalist perspective. Comparative Political Studies, 45, pp. 1451-1482. DOI
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).

Q3) é possível operacionalizar o conceito para utilizá-lo para tratar de cargos tanto do executivo quanto do legislativo? é possível, mas demanda maior desenvolvimento do tema. Embora haja uma tipologia já definida para candidatos à presidência, a aplicação dos tipos de outsider político para atores que almejam cargos no legislativo não foi largamente explorada, com exceção de alguns poucos estudos (Donatello & Levita, 2017Donatello, L.M. & Levita, G. (2017) ¿Renovación de las elites o renovación de las élites políticas? Los diputados outsiders en los países del Mercosur (2003-2015). RIPS: Revista de Investigaciones Políticas y Sociológicas, 16(2). DOI
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; Ortiz de Rozas et al., 2020Ortiz de Rozas, V., Levita, G. & Rodrigo, C. (2020) Neither CEOs nor outsiders. Changes and continuities at the Argentine Congress in 2015. Revista Uruguaya de Ciencia Política, 29(2), pp. 115-137. DOI
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). Contudo, essas operacionalizações são feitas ad hoc e dificilmente podem ser generalizadas para outros contextos.

A principal contribuição desse artigo foi oferecer uma ampla revisão e organização dos estudos sobre outsiders na política. Não foi encontrado nada parecido com o que apresentamos na literatura até então. Na Q1 mostramos as diferentes ênfases em determinadas variáveis pelos estudos que abordam o fenômeno. Na Q2, evidenciamos que os estudos que focam na definição de outsiders se atêm mais à localização dos atores vis a vis o sistema partidário e à experiência política deles. No entanto, empiricamente, a variável da retórica dos atores é a mais utilizada para caracterizá-los. Com a Q3 jogamos luz sobre a necessidade e a complexidade de expansão do conceito de outsider para outros cargos eletivos além do de Presidente.

Em termos de avanço na agenda de pesquisa relacionada, primeiramente reiteramos que são diversas. Assim, consideramos que contribuímos com a análise das estratégias conceituais, pois mostramos e organizamos as variáveis predominantes na literatura da Ciência Política para definir outsiders. Outra contribuição foi a discussão sobre o conceito para pensar uma mudança no perfil das elites políticas em cargos no legislativo. Demonstramos que é uma tarefa mais complexa. Uma proposta de avanço dessa agenda é operacionalizar o conceito de outsider por meio de uma escala que mensure o quão fora do sistema político e partidário o ator estava antes de vencer eleições, utilizando como base a tipologia de outsiders e o estudo das carreiras políticas.

Algumas limitações desta revisão são dignas de menção. Poucos livros apareceram nos resultados, isto é, trabalhos de maior fôlego, com maior documentação e sistematização. Outra limitação foi a dificuldade de filtrar estudos usando o termo “outsider” na string de busca. Como mencionado na Introdução, esse termo é usado na língua inglesa para se referir a situações que frequentemente não se relacionam a novos atores que entram na política eleitoral tradicional. Em consequência, os resultados são altamente poluídos com artigos sobre temas diversos, o que dificultou a seleção dos textos para esta revisão e, consequentemente, a sistematização dos resultados. As bases Scopus e Web of Science possuíam recursos de buscas mais sofisticados, o que permitiu resultados mais refinados. Já as bases SciELO Brasil, Redalyc e Google Scholar apresentaram resultados muito numerosos e pouco refinados que dificultaram a pesquisa.

A seguir apresentamos o Quadro 10 com a finalidade relatar as etapas cumpridas na elaboração dessa revisão de escopo.

Quadro 10
PRISMA-Scr Checklist
  • 1
    Agradeço aos pareceristas anônimos da Revista de Sociologia e Política pela valiosa contribuição ao aprimoramento deste artigo.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Nov 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    09 Dez 2022
  • Revisado
    17 Ago 2023
  • Aceito
    22 Set 2023
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