RESUMO
Introdução: Este artigo é uma revisão de escopo da literatura sobre a relação entre fake news e eleições. O objetivo é identificar os métodos mais frequentemente utilizados nas análises, os principais referenciais teóricos mobilizados e as características mais destacadas pelos pesquisadores ao estudar essa interação. Pretende-se também contribuir para o debate acerca dos desafios enfrentados pelas democracias contemporâneas diante da proliferação da desinformação.
Materiais e métodos: Os artigos analisados na revisão foram selecionados por meio de buscas nas bases Scopus e Web of Science, utilizando a string de busca“fake news” AND election, considerando o período entre 2014 e 2022. Para a inclusão dos trabalhos, foram aplicados três critérios principais: (a) o estudo deveria ser empírico e original, baseando-se em fontes de dados primárias ou secundárias; (b) a análise deveria investigar explicitamente a relação entre fake news e processos eleitorais democráticos; e (c) as perguntas de pesquisa deveriam estar claramente focadas na relação entre fake news e eleições. O corpus final foi composto por 54 artigos, cujos dados foram analisados com auxílio dos softwares SPSS, NVivo e VOSviewer.
Resultados: A maioria dos estudos é exploratório. Grande parte dos artigos confirma a relevância das fake news para a compreensão do ambiente político atual, embora nem todos demonstrem diretamente sua influência sobre os resultados eleitorais. Uma minoria dos trabalhos subestima o impacto das fake news, valendo-se principalmente de abordagens quantitativas que se limitam à mensuração do alcance percentual de notícias falsas. Contudo, o baixo impacto identificado em alguns casos não permite concluir que as fake news sejam irrelevantes, especialmente considerando o caráter sistêmico e amplificador dos ambientes digitais.
Discussão: Esta revisão de literatura evidencia a importância de uma abordagem mais ampla e integrada que analise a interação das fake news com diversos aspectos do sistema político. Os trabalhos examinados sugerem que o principal prejuízo causado pelas fake news reside na deterioração da qualidade das discussões políticas públicas. Foram identificados dois efeitos negativos principais: (a) corrupção das informações sobre fatos que sustentam o debate público, resultando em compreensões distorcidas e decisões sociais inadequadas; e (b) mobilização afetiva provocada pelas fake news, com significativas implicações políticas mesmo quando o conteúdo é explicitamente reconhecido como falso pelos cidadãos. Assim, fake news têm impactado profundamente tanto a racionalidade quanto a emotividade das interações políticas contemporâneas.
Palavras-chave
fake news
; eleições; democracia; desinformação; comunicação política
ABSTRACT
Introduction: This article presents a scoping review of the literature on the relationship between fake news and elections, focusing on the research methods most used, the main theoretical frameworks adopted, and the key themes highlighted by scholars studying this connection. Our study also aims to contribute to the broader debate on the challenges that contemporary democracies face in an era of widespread disinformation.
Materials and methods: We selected the articles for this review through searches on Scopus and Web of Science, using the query string “fake news” AND election, and covering publications from 2014 to 2022. To be included, studies had to meet three main criteria: (a) they needed to present original empirical research based on primary or secondary data sources; (b) their analysis had to explicitly examine the relationship between fake news and democratic electoral processes; and (c) their research questions had to clearly focus on the connection between fake news and elections. The final sample consisted of 54 articles, which we analyzed using SPSS, NVivo, and VOSviewer.
Results: Most studies adopted an exploratory approach. Many confirmed the relevance of fake news in understanding the current political landscape, although not all demonstrated its direct impact on electoral outcomes. A smaller number of studies downplayed the influence of fake news, often relying on quantitative methods that focused solely on measuring the percentage reach of false news. However, the limited effects found in some cases do not imply that fake news is irrelevant, especially given the systemic and amplifying nature of online environments.
Discussion: This review underscores the need for a broader, more integrated approach to studying the interaction between fake news and various aspects of the political system. The articles reviewed suggest that the most significant harm caused by fake news is the erosion of public political discourse. Two primary negative effects emerged: (a) the distortion of factual information that underpins public debate, leading to distorted understandings and poor collective decisions; and (b) the emotional mobilization triggered by fake news, which can have major political consequences, even when citizens recognize the content as false. In this way, fake news has profoundly impacted both the rational and emotional dimensions of contemporary political interactions.
Keywords
fake news; elections; democracy; disinformation; political communication
I. Introdução1
As mídias digitais têm se tornado lócus primordial de discussão e obtenção de informação política no mundo. O relatório da Reuters (Newman et al., 2022) mostra que, em 2022, 83% dos brasileiros buscavam notícias na internet e 75% utilizavam um smartphone para ter acesso. A formação de uma esfera pública digital impõe desafios às sociedades democráticas e aos seus analistas.
O termo fake news entrou para o vocabulário político contemporâneo com a eleição americana de 2016, vencida por Donald Trump. A partir daí, práticas identificadas como fake news foram adotadas como arma política por populistas, especialmente de extrema direita, ao redor do mundo. No Brasil, Jair Bolsonaro utilizou essas práticas nas eleições de 2018 e 2022.
Desde então pesquisas de várias áreas do conhecimento têm se empenhado em analisar as características dos embustes digitais e formando uma miríade de concepções acerca do papel e influência das fake news nas democracias. Em comum há o entendimento de que as fake news nasceram em meio às particularidades da comunicação através das mídias sociais digitais e do alcance que elas proporcionam.
Apesar do curto período de experiência com o fenômeno das fake news, ainda não se formalizou um método ou teoria específica para estudá-las por haver uma pluralidade de proposições metodológicas (Gomes & Dourado, 2019). Os estudos estão espalhados por diversas áreas do conhecimento e são geralmente explorações do tema que buscam colaborar com um corpo teórico em formação. Por esse motivo este trabalho se propôs a identificar e sintetizar como as fake news têm sido estudadas em sua relação com as eleições.
Mendonça et al. (2023) argumentam que tal fenômeno já faz parte do repertório do confronto político contemporâneo. Embora o uso da mentira de forma estratégica não seja novidade nem na política e tampouco na história, ainda é necessário salientar que as fake news possuem particularidades ao serem comparadas com outras formas do uso da mentira, principalmente por estarem ligadas inextricavelmente às ferramentas digitais.
Allcott & Gentzkow (2017) se esforçaram para conceitualizar fake news como “artigos de notícias que são intencionalmente e comprovadamente falsos e que podem enganar os leitores” (Allcott & Gentzkow, 2017, p. 213). Entretanto, de forma mais substantiva, Farkas & Schou (2018) se apropriam da noção de significantes flutuantes, do filósofo político argentino Ernesto Laclau e da cientista política belga Chantal Mouffe, para mostrar que o significante fake news, enquanto significante flutuante, é usado “por projetos políticos fundamentalmente diferentes e muitas vezes profundamente opostos como meio de construir identidades políticas, conflitos e antagonismos” (Farkas & Schou, 2018, p. 300). Dessa forma, é possível ver não apenas fake news enquanto significante flutuante, mas seus próprios conteúdos acabam fazendo parte de uma disputa política que luta por validação e que varia de acordo com o projeto político que os maneja. O significante flutuante surge então da incapacidade de um elemento se fixar completamente a uma cadeia discursiva que está sempre em expansão (não suturada). Sendo assim,
se aceitamos o caráter incompleto de toda fixação discursiva e, ao mesmo tempo, afirmamos o caráter relacional de toda identidade, o caráter ambíguo do significante, sua não fixação a qualquer significado, só pode existir na medida em que haja uma proliferação de significados. Não é a pobreza de significados, e sim, ao contrário, a polissemia que desarticula uma estrutura discursiva (Laclau & Mouffe, 2015, p. 188).
Logo, uma definição específica de fake news antes da busca pela amostra dos trabalhos pode ser mais adequada, como Vosoughi et al. (2018), que definem “news” como “qualquer história ou afirmação com uma declaração e um boato que se espalha ou se difunde como o fenômeno social de uma notícia pelo Twitter” (Vosoughi et al., 2018, p. 1). Para fins deste trabalho, é necessário algum entendimento prévio do que são as fake news antes de aprofundarmos a análise da literatura que as relaciona com eleições. Adotamos aqui a definição de fake news como alegações falsas ou inverificáveis, mas com pretensão de veracidade jornalística, construídas e divulgadas por meios digitais que podem ser construídas intencionalmente ou não. Tais alegações geram conflitos com outras visões do mundo social e disputam a hegemonia do discurso político.
Budak et al. (2024) publicaram na revista Nature uma revisão de literatura que apontava para alguns pressupostos e afirmações que não se sustentam quando há verificação empírica desses efeitos. Entretanto, tal revisão não explicita o método para a seleção dos trabalhos analisados, a forma como foram analisados, o quão abrangente ou específica foi a busca, características metodológicas ou epistemológicas de cada artigo que tenha produzido tais resultados, entre outras questões metodológicas. O presente artigo apresenta uma Revisão de Escopo (RE) que analisa a relação entre fake news e eleições com a finalidade de identificar os métodos utilizados, aportes teóricos mais constantes nas análises, o que os pesquisadores têm identificado como características de tal relação e de contribuir substantivamente com o debate sobre o momento das democracias no mundo.
Primeiro, faremos a exposição do percurso metodológico utilizado para a seleção dos artigos analisados. Na seção seguinte, os dados serão descritos e por fim este artigo trará uma análise substantiva e breves conclusões sobre o balanço do corpus.
II. O desenho da pesquisa: uma revisão de escopo sobre fake news e eleições
A prática de agrupar de forma sistemática diversos estudos sobre um mesmo tema ou pergunta para inferir algo a partir da síntese de tais estudos tem ampla tradição nas ciências da saúde. Diante da diversidade de manuais para a elaboração de uma RE, utilizamos as sete etapas do protocolo de Cooper (2016) por apresentar sistematização próxima da utilizada por Petticrew & Roberts (2006) e por se esforçar em não apenas reproduzir o uso da sistematização das revisões de literatura nas ciências sociais, mas também em tentar adequá-la tendo em vista as idiossincrasias epistemológicas e ontológicas das ciências da saúde e das ciências sociais (Petticrew, 2001; Dacombe, 2017). Como buscamos uma visão ampla da relação entre fake news e eleições que permita uma síntese dos resultados, assim como identificar fragilidades e caminhos a seguir, a questão de pesquisa para a Revisão de Escopo reflete essa abrangência (Grizenti, 2024; Juliano et al., 2023; Codato et al., 2021; Cordeiro & Soares, 2019), já que uma Revisão de Escopo difere de uma Revisão Sistemática. Elaboramos então a pergunta: quais as características, influências e implicações da relação entre fake news e eleições?
A partir dela definimos que fake news e eleições seriam as principais variáveis de interesse para a síntese. A busca foi feita no Scopus e no Web of Science, através da linha de busca “fake news” AND election, com um intervalo temporal entre 2014 e o presente (11/08/2022), pois, apesar de o significante fake news ganhar os significados atualmente utilizados no senso comum, nos discursos políticos e na academia a partir de 2016, encontrar algum trabalho que já mencionasse o fenômeno como tal antes da eleição que elegeu Donald Trump nos Estados Unidos poderia ampliar o escopo da síntese.
Após a busca, utilizamos o primeiro filtro automático, permanecendo apenas os trabalhos escritos nos idiomas inglês, francês, espanhol e português. Em um segundo momento, foi aplicado outro filtro para que permanecessem apenas artigos empíricos e artigos de revisão. Apesar de revisões estarem entre os critérios de exclusão, foi percebido em pesquisa piloto que alguns artigos empíricos estavam classificados erroneamente como revisão pelo indexador da base de dados, por isso os incluímos neste momento para avaliarmos manualmente em uma etapa seguinte.
O terceiro filtro automático foi o de excluir todas as categorias de áreas que tradicionalmente não tem uma intersecção frequente com as Ciências Humanas e Sociais, permanecendo apenas as áreas mostradas no Quadro 1. Foram obtidos 176 resultados no Scopus e 206 no Web of Science. Os artigos foram importados no Endnote Online para que fossem encontradas possíveis entradas repetidas. Após a exclusão dos duplos, permaneceram 270 trabalhos para a leitura dos resumos.
Após a leitura dos resumos e aplicação dos critérios mostrado no Quadro 2, formou-se uma amostra de 57 artigos, porém, durante as leituras integrais, três apresentaram discrepâncias2 com o que foi apresentado nos resumos, todo o processo de seleção está ilustrado na Figura 1. Finalizou-se com um corpus formado por 54 artigos, mostrados no Apêndice A e cujos dados foram coletados para análise nos softwares SPSS, Nvivo e VOSviewer.
Para realizar as análises e coletar os dados que possibilitariam responder à pergunta da síntese e dar uma visão geral sobre o corpus coletado, foram elaboradas variáveis a respeito de diversos aspectos da produção. Em seguida as variáveis foram agrupadas em quatro dimensões: (a) variáveis cientométricas; (b) variáveis metodológicas; (c) variáveis substantivas e; (d) variáveis conclusivas. As perguntas e a grade de leitura para a análise estão no Apêndice B.
III. Um retrato da produção acadêmica sobre a relação entre fake news e eleições
III.1. Métodos e ferramentas analíticas mais frequentes no corpus
Para definir a abordagem metodológica presente nos artigos analisados em nossa revisão foram utilizadas três grandes categorias: qualitativa, quantitativa e métodos mistos. As abordagens quantitativas e de métodos mistos foram as mais frequentes, sendo utilizadas em 21 (39%) e 20 (37%) trabalhos respectivamente. As abordagens qualitativas corresponderam a 13 (24%) trabalhos no corpus.
Os modelos estatísticos variaram conforme a pergunta e o objeto analisado, sendo a principal operação a regressão linear para estudar a correlação entre variáveis, além do uso de estatísticas descritivas. Também foram empregados alguns modelos menos comuns, como o teste de Mann-Kendall, utilizado por Pierri et al. (2020) para analisar tendências na forma como as fake news se espalharam no Twitter durante a eleição do Parlamento Europeu, na Itália, em 2019. Eles concluíram que mesmo após serem desmentidas, as fake news ainda possuem grande poder de pautar a discussão pública e que textos semelhantes aos circulados nas redes italianas circularam em redes de outros países da União Europeia durante o período. Com relação a análise de conteúdo, Bardin e Krippendorff se destacam como principais autores citados.
As fontes de dados mais frequentes foram: o Twitter em 16 artigos (30%), seguido por survey em 11 artigos (20%). O Facebook aparece em 8 (15%) e empresas de fact-checking em 6 artigos (11%). Ficou claro no corpus a presença de três principais agendas de pesquisa com base no lócus da coleta de dados para a análise. Com exemplos, que citaremos adiante, as três agendas são as seguintes: (a) estudos baseados nas mídias sociais e nas redes formadas na distribuição e consumo de fake news (por exemplo, Baptista & Gradim, 2022; Cinelli et al., 2020; Canavilhas et al., 2019); (b) estudos baseados em survey para analisar a percepção, crença ou opinião de eleitores com relação às fake news (por exemplo, Allcott & Gentzkow, 2017; Wang, 2020; Halida, 2020); e (c) estudos que focam suas análises nas fake news detectadas por plataformas de checagem de fatos (por exemplo, Dourado & Salgado, 2021; Rodriguez-Hidalgo et al., 2021; Mutahi & Kimari, 2020).
Nos estudos focados nas fake news e em seu espalhamento nos ambientes digitais, destaca-se a pesquisa de Golovchenko et al. (2020). Por meio da coleta de tweets, os autores identificaram o conteúdo e a forma como as fake news criadas pela Agência de Pesquisa de Internet russa se espalharam no contexto das eleições americanas de 2016. O estudo também investigou se essa produção de conteúdo, direcionada a um público americano, contribuiu para a vitória de Donald Trump e se pode ser caracterizada como interferência estrangeira. Os pesquisadores argumentam que, embora seja difícil associar diretamente a vitória de Trump à influência das fake news russas, encontraram elementos no padrão de divulgação de notícias falsas tanto a favor quanto contra Trump e Clinton, sugerindo uma tentativa de confundir a esfera pública estadunidense. Essa estratégia, semelhante à guerra de desinformação da Segunda Guerra Mundial, tinha como objetivo desestabilizar o sistema eleitoral. O padrão das fake news não indicava simplesmente para a vitória de Trump. Para os pesquisadores, as evidências são interpretadas “como uma tentativa de aumentar a polarização nos Estados Unidos e enfraquecer seu tecido político interno” (Golovchenko et al., 2020, p. 24).
Das análises que têm as empresas de fact-checking como fonte de dados, o trabalho de Dourado & Salgado (2021) identificou através das fake news mais populares durante a pré-campanha eleitoral de 2018 no Brasil se o contexto sociopolítico influenciou a forma como as fake news sobre o ex-presidente Lula foram criadas e espalhadas. As pesquisadoras concluíram que o contexto de polarização contribuiu para a forma como as fake news eram criadas (claramente pró ou anti Lula) e para seus conteúdos que focavam pessoalmente no líder eleitoral do PT.
Os surveys são utilizados no corpus com a tentativa de medir o impacto das fake news nos indivíduos. O exemplo clássico é o de Allcott & Gentzkow (2017), porém o estudo de Guther et al. (2019) sobre a deserção do voto em Clinton na eleição de 2016 pelos eleitores que votaram em Obama na eleição de 2012 apresenta um desenho de pesquisa especialmente propício para explicar os impactos das fake news em eleições. Ao mostrarem um conjunto de três fake news a uma população de pessoas que votaram em Obama em 2012, 89% dos que não acreditavam em nenhuma das manchetes votaram em Clinton, mas a proporção caía para 61% entre os que acreditavam em uma das fake news e chegava a 17% entre os que acreditavam em duas ou nas três, mostrando uma relação entre acreditar nas fake news sobre Obama e Clinton e ter abandonado o voto no Partido Democrata.
Ao cruzar as variáveis de fonte dos dados e técnicas de análises, percebeu-se que a maioria das pesquisas (95%) que utilizaram análise de conteúdo faziam parte do grupo que estudou as fake news em seus locais de difusão nas mídias sociais digitais ou nas plataformas de fact checking para verificar a linguagem usada. Enquanto uma ligeira maioria (57%) dos usos de métodos estatísticos foram feitos por pesquisas que focaram em survey e na análise da percepção dos eleitores sobre as fake news.
O Quadro 3 resume o resultado encontrado ao cruzarmos a área de filiação dos autores dos artigos com as metodologias e fontes de coleta de dados. Os departamentos de Comunicação estiveram presentes em 16 pesquisas que utilizaram o Facebook (8) e o Twitter (8), já os de Ciência Política utilizaram essas fontes 8 vezes (3 Facebook, 5 Twitter). O Quadro 3 também elenca textos a partir do departamento do primeiro autor.
Com relação às instituições eleitorais dos países estudados, devido ao interesse na eleição de 2016 dos Estados Unidos, a maioria dos trabalhos estuda eleições no âmbito do poder executivo, em sistemas eleitorais majoritários e em sistemas de governo presidencialistas. Há estudos analisando eleições proporcionais mesmo em nível supranacional, como as do Conselho Europeu (Szebeni et al., 2021; Cinelli et al., 2020; Giglietto et al., 2020; Pierri et al., 2020), porém, além de em menor quantidade, esses estudos não relacionam o sistema eleitoral com incidência, divulgação ou características das fake news. O foco nas eleições majoritárias e em sistemas presidencialistas parece ser algo contingente nas pesquisas, entretanto, parece-nos interessante analisar se o sistema eleitoral ou o cargo eletivo mantém qualquer correlação com a produção e difusão das fake news.
III.2. Análise substantiva acerca das características das fake news segundo o corpus
Fake news são um fenômeno digital. Todos os artigos do corpus reconhecem isso ao citarem de alguma forma as mídias sociais digitais. A maioria dos trabalhos revisados se empenharam em deixar claro o que estão chamando de fake news. Em 37 trabalhos (ou 69% do total) houve preocupação em delimitar a especificidade das fake news em relação à simples mentira ou subterfúgio de outrora. Grande parte das definições são derivadas do conceito criado por Allcott & Gentzkow (2017) que define fake news como sendo “artigos de notícias que são intencionalmente e comprovadamente falsos e que podem enganar os leitores” (Allcott & Gentzkow, 2017, p. 213).
Tal definição parte de uma visão econômica que assume que indivíduos teriam um estímulo financeiro para produzir informação jornalística de baixo custo para lucrar com ferramentas de remuneração por propaganda e cliques na internet. Usando o software Nvivo foi possível observar a frequência das palavras em todas as 37 definições de fake news presentes no corpus e com isso formar a nuvem de palavras da Figura 2.
Fica claro ao observar a nuvem que a intenção de enganar é algo recorrente nas concepções de fake news do corpus. Não fosse pelos adjetivos “político” e “online” que timidamente aparecem na representação, os dois principais caracterizadores que tornam as fake news diferentes de qualquer outro tipo de embuste ficariam desaparecidos atrás da “intenção”. O estímulo econômico existe e por isso a definição de Allcott & Gentzkow (2017) se mantém influente, porém, como será demonstrado, as pesquisas relacionando fake news e eleições menosprezam características estruturais das mídias sociais digitais e partem de uma discussão nebulosa e sem muita definição para termos como “polarização”, minimizando também o caráter político do fenômeno.
Alguns artigos veem os efeitos das bolhas como um fator relevante para a popularidade das fake news, uma vez que as fake news mais populares se espalhariam através de grupos de Facebook com interesses semelhantes (Baptista & Gradim, 2022). Sawyer (2020) argumenta que muitas comunidades online acabam formando câmaras de eco em torno de personalidades populistas. As pessoas nessas comunidades reafirmariam suas crenças e ficariam mais suscetíveis a teorias da conspiração.
Uma das hipóteses na literatura para o sucesso das fake news é a de que indivíduos busquem acolhimento afetivo em grupos de interesses similares e que as fake news entrem nesses grupos reafirmando valores e crenças anteriores presentes nesses indivíduos e produzindo viés de confirmação através de uma heurística emotiva (Shirsat et al., 2022; Morales-I-Gras, 2020). Nesta perspectiva, as câmaras de eco seriam lugar privilegiado para a disseminação de fake news, como atesta a pesquisa de Bovet & Makse (2019), que ao pesquisarem a influência das fake news no Twitter na eleição estadunidense de 2016, perceberam que dos 171 milhões de tweets analisados, 25% levavam a sites e notícias de fake news, sendo eles compartilhados principalmente por apoiadores de Trump.
Entre os 17 estudos do corpus que exploram a hipótese das câmaras de eco (Baptista & Gradim, 2022; Shirsat et al., 2022; Cinelli et al., 2020; Golovchenko et al., 2020; Halida, 2020; Lee & Hosam, 2020; Mutahi & Kimari, 2020; Sawyer, 2020; Bovet & Makse, 2019; Canavilhas et al., 2019; Grinberg et al., 2019; Bakir & Mcstay, 2018; Gaumont et al., 2018; Jang et al., 2018; Nelson & Taneja, 2018; Allcott & Gentzkow, 2017), há poucas ressalvas quanto aos efeitos. Grinberg et al. (2019), estudando as fake news no Twitter na eleição de 2016 dos Estados Unidos, assumiram que as câmaras de eco não teriam tanta força na disseminação de fake news, pois identificaram que a maioria das contas analisadas estavam expostas a notícias verdadeiras. Entretanto, no mesmo estudo, perceberam o viés ideológico como sendo um fator na atitude de disseminar fake news. Os autores relatam que menos de cinco por cento dos usuários que foram classificados como de esquerda ou de centro compartilhavam fake news, enquanto 11% e 21% dos que estavam caracterizados respectivamente como de direita ou extrema direita o faziam (Grinberg et al., 2019, p. 3).
Apenas sete artigos (13%) (Baptista & Gradim, 2022; Giglietto et al., 2020; Morales-I-Gras, 2020; Canavilhas et al., 2019; Bakir & Mcstay, 2018; Jang et al., 2018; Nelson & Taneja, 2018) discutem o papel dos algoritmos na indústria das fake news. A agência dos indivíduos de seguirem ou não o que lhes apetece é o que serve de argumento para os autores minimizarem a influência dos algoritmos e, no geral, os estudos são inconclusivos acerca da capacidade dos algoritmos em serem responsáveis pela exposição a fake news. Entretanto, Bakir & McStay (2018) estudaram o que chamam de “economia das emoções” para entender o sucesso das fake news na eleição de 2016 nos Estados Unidos e perceberam que os algoritmos, ao darem relevância maior aos conteúdos que mais engajam as audiências, acabam privilegiando uma forma de comunicação mais emocional, o que facilita a circulação de fake news, que como veremos adiante, tem como característica apelar para a emoção.
O estudo de Nelson & Taneja (2018) é o único do corpus que claramente admite não haver influência dos algoritmos nos padrões de consumo da informação pelos usuários de mídias sociais digitais. Utilizando dados quantitativos relacionados aos padrões de acesso dos usuários da internet, coletados a partir de uma empresa de análise de tráfego de dados, argumentam que, com base em seus achados, fake news é um fenômeno restrito a pequenas audiências de usuários assíduos e que não há nada que os algoritmos façam que possa mudar isso.
Com relação à linguagem e estética das fake news, é importante lembrar que a ação democrática sempre teve a linguagem como principal meio. O convencimento, o discurso, são próprios da democracia e parte das advertências de Weber (2011) sobre o demagogo erige-se sobre uma crítica da forma de difusão da informação na sociedade de massa. A desconfiança que Weber tinha do jornalista no início do século XX é análoga no zeitgeist atual à provocada pelas mídias sociais digitais, pois tais meios transformam todos e todas com acesso à internet em não apenas consumidores de informação, mas em “notáveis representantes da demagogia” em potencial. Dentre os artigos presentes no corpus, 11 (20%) analisam os padrões linguísticos e estéticos das fake news.
Na índia, segundo a pesquisa de Badrinathan (2021), a principal mídia social digital utilizada para espalhar fake news foi o aplicativo Whatsapp. Nele, a principal forma adotada pelas fake news era a de imagens modificadas e de vídeos editados. No Brasil, Dourado & Salgado (2021) ao analisarem as fake news sobre o ex-presidente Lula da Silva expostas por iniciativas de fact-checking perceberam a prevalência de expressões pejorativas, uso de imagens e vídeos, além da mimetização do formato jornalístico como tentativa de legitimar o discurso. Com o foco na legitimação das fake news na eleição nigeriana em 2019, Igwebuike & Chimuanya (2021) através de análise do discurso perceberam que as estratégias de legitimação das fake news se baseavam em padrões que continham a autoridade de supostos experts no assunto tratado ou figuras públicas, apelo à emoção, apelo a uma certa moralidade e racionalizações falaciosas, além do uso de montagem de imagens, linguagem emotiva, discurso de ódio e verbos coercitivos. Vociferar ódio, ataques pessoais, se basear em algum fato ocorrido e agressividade foram padrões também encontrados em outros países e por outros pesquisadores que se debruçaram sobre a linguagem das fake news (Ng & Taeihagh, 2021; Perez-Curiel et al., 2021; Canavilhas & Andrade, 2019; Bakir & Mcstay, 2018).
Tamanha truculência encontrada nos padrões da linguagem e estética das fake news invariavelmente remete à ascensão da nova extrema direita no mundo. No corpus fica evidenciado a proximidade desses grupos com o fascismo, nazismo, supremacistas brancos entre outros movimentos representantes de ameaças aos direitos humanos e a minorias sociais. Entre os artigos do corpus, 22 (ou 41%) se preocuparam em identificar os vieses ideológicos das fake news, como mostra o Quadro 4. é importante salientar que algumas pesquisas possuíam um viés de seleção claro, já que estudavam grupos usados pela extrema direita ou temas importantes a eles. A quantidade de trabalhos com viés de seleção está indicada no Quadro 4 com (VS).
Os temas mais recorrentes também nos remetem a grupos nacionalistas de extrema direita. Nos 21 (39%) artigos que identificaram os temas mais comuns nas fake news, a trinca imigração, fraude na eleição e corrupção esteve presente como temas mais recorrentes em 16 estudos3 (30% do corpus e 76% dos que identificaram espectro político nas fake news) como mostra o Quadro 5. A pesquisa de Halida (2020) afirmou, com base em survey conduzida na Indonésia, que o tempo utilizando o Facebook não tinha relação com a crença em fake news, entretanto o viés ideológico, sim.
Todos os estudos se referem de alguma forma às mídias sociais digitais, reforçando mais uma vez a característica digital do fenômeno. Entretanto, apenas 20 (37%) se ocupam em analisar elementos estruturais de determinado ambiente digital que proporcionariam um impacto das fake news nas eleições. Facebook e Twitter foram as mídias digitais mais analisadas. A escolha pelo Facebook foi justificada na maioria dos artigos pela popularidade, enquanto o Twitter pela relevância na esfera pública, uma vez que mensagens de políticos e personalidades no Twitter muitas vezes são reproduzidas pela mídia tradicional. O Twitter também era, no tempo coberto pelos artigos, uma plataforma mais amigável para os pesquisadores por conta de sua API, o que pode explicar um volume maior de trabalhos.
Uma das particularidades das mídias digitais que chama atenção para a divulgação de fake news é a possibilidade de compartilhar links para sites externos. Isso é usado principalmente no Facebook, Twitter e Whatsapp e acaba funcionando como um legitimador, um fator de autoridade em uma discussão na qual os indivíduos envolvidos usam a ferramenta para atribuir validade a um determinado argumento (Morales-I-Gras, 2020).
III.3. Influências e implicações das fake news nas eleições
é presente na discussão sobre as transformações da democracia abordar a questão da polarização. Entre os artigos que revisamos, 21 (39%) se dedicaram a esse tema. Dentre esses, 16 (30% do corpus e 76% dos que examinaram as implicações na polarização) falaram que as fake news têm relação com a polarização, enquanto um estudo (Golovchenko et al., 2020) foi ambíguo com relação a este impacto e quatro (7% do corpus e 19% entre os que estudaram polarização), apesar de estudarem essas influências, foram inconclusivos (Ng & Taeihagh, 2021; Perez-Curiel et al., 2021; Szebeni et al., 2021; Halida, 2020).
Em survey realizada por Lee & Hosam (2020) foi possível verificar que as pessoas que se identificavam como republicanos e estavam expostas a mídia partidária de direita continuaram, em 2019, com o mesmo nível de crença em fake news que tinham em 2016, enquanto quem se identificava como democrata e era mais exposto a mídia partidária de esquerda ficou menos propenso a acreditar em fake news. Os autores acreditam que esse seria um dos fatores que pode fazer a polarização aumentar, pois “muitas das associações significativas [na pesquisa] resumem as profundas divisões na política americana hoje: brancos de afro-americanos; democratas de conservadores; espectadores da MSNBC dos telespectadores da Fox.” (Lee & Hosam, 2020, p. 19), demonstrando que fake news é uma das variáveis relacionadas à fragmentação da esfera pública.
As fake news tiveram papel central no engajamento do eleitorado na eleição de 2017 na Coreia do Sul. As fake news se concentraram principalmente em torno do impeachment da presidente Park Geun-hye e contribuíram para a polarização da esfera pública. Eleitores de até 40 anos tendiam a apoiar o partido progressista e eram menos suscetíveis às fake news, enquanto idosos a partir de 60 anos apoiavam o partido conservador e mostravam maior propensão a acreditar nelas (Seon-Gyu & Mi-Ran, 2020). Efeito semelhante foi percebido por Dourado & Salgado (2021) e por Ribeiro & Ortellado (2018) no Brasil. O contexto de hostilidade e polarização entre os eleitores pró e anti-Lula no período pré-eleitoral de 2018 favoreceu a efervescência do debate público nas mídias digitais com fake news e linguagem odienta. Para Ribeiro & Ortellado (2018), desde 2014 a política nos ambientes digitais tem se dividido em dois lados excludentes tendo como pivô principal a opinião sobre o Partido dos Trabalhadores (PT).
é possível inferir que nos trabalhos analisados o fenômeno que os autores e autoras do corpus chamam de polarização possui uma correlação com as fake news. Embora não denote causalidade, o corpus demonstra como as fake news ganham força em contextos de alta volatilidade política e polarização, acirrando ainda mais a competitividade, a agressividade e a aceleração da desconstrução de uma esfera pública ampla para o surgimento de uma fragmentada. Tal síntese caminha em direção ao argumento de Habermas (2022) sobre a desintegração da esfera pública encontrar expressão no fato de que, para uma parte da população, não é possível analisar as fake news criticamente, logo, não apenas o acúmulo de fake news é preocupante, mas a incapacidade de identificá-las tendo como critério para acreditar ou não unicamente o seu posicionamento partidário (político/ideológico/identitário). Com tal argumento, Habermas chama a atenção para o fato de que “tal fenômeno sintomático não deva ser separado de temas da teoria política” (Habermas, 2022, p. 167), o que se alinha à visão que expusemos na introdução deste artigo. Seguindo o conceito de significante flutuante de Laclau & Mouffe (2015), entendemos que o aumento da pluralidade de significados e valores na esfera pública - constantemente em confronto, especialmente nas mídias sociais digitais - é um elemento político que deve ser considerado nas análises sobre fake news.
Como visto anteriormente nos artigos do corpus que analisaram os temas mais frequentes das fake news, a contestação ao sistema eleitoral é um padrão em diversos países. Oito (15%) estudos do corpus analisaram fake news que incitavam essa contestação. O caso mais emblemático de efeito de tais contestações sem dúvida é o de Donald Trump, nos Estados Unidos, em 2016 e 2020. Mas outros exemplos como Jair Bolsonaro, no Brasil, em 2018 e 2022; no Quênia, pelo partido Jubilee, em 2017; no Zimbabue, por apoiadores de Nelson Chamisa, nas eleições de 2018, entre outros, também apontam para uma relação qualitativa entre os discursos e narrativas disseminados nessas mensagens e os efeitos produzidos por esses líderes e seus seguidores. Ainda que não indiquem uma relação monocausal entre fake news e ataque às instituições democráticas, é importante manter a atenção a casos como esses principalmente devido aos seus desdobramentos, como a anulação da eleição no Quênia em 2017 (Mutahi & Kimari, 2017) ou desfechos violentos como a invasão ao Capitólio no Estados Unidos em 2021, o não reconhecimento do resultado e adiamento da posse do vencedor no Zimbabue em 2018 (Ncube, 2019; Chibuwe, 2020) e os bloqueios de estradas e invasões às sedes dos poderes da República no Brasil em 2022 e 2023. O argumento aqui não é apontar as fake news como causa desses acontecimentos, nenhuma pesquisa presente nesta revisão é capaz disso, mas chamamos atenção para as fake news como elemento politicamente relevante.
Afinal, as fake news têm influência tão forte nos eleitores a ponto de decidirem os resultados de uma eleição? Desde Allcott & Gentzkow (2017) que essa pergunta vem sendo colocada e não foi diferente no corpus estudado. Em números absolutos, 17 artigos se ocuparam em tentar responder se as fake news têm implicações nos resultados de uma eleição, representando 30% do corpus. Sete artigos (13% do corpus e 41% entre os que analisaram a influência nos resultados) concluíram que as fake news são capazes de influenciar os resultados de uma eleição (Dourado & Salgado, 2021; Barrera et al., 2020; Davis & Straubhaar, 2020; Sawyer, 2020; Seon-Gyu & Mi-Ran, 2020; Wang, 2020; Zimmermann & Kohring, 2020), enquanto dois artigos (4% do corpus e 12% dos que analisaram esta relação) afirmam que as fake news não têm força suficiente para influenciar os resultados de uma eleição (Mutahi & Kimari, 2020; Allcott & Gentzkow, 2017). Os oito artigos restantes tiveram resultados inconclusivos ou ambíguos (Baptista & Gradim, 2022; Nath & Ray, 2022; Ng & Taeihagh, 2021; Golovchenko et al., 2020; Canavilhas et al., 2019; Gunther et al., 2019; Momoh, 2019; Pérez-Curiel & García-Gordillo, 2018).
Ao estudarem a produção do antipetismo no Brasil, Davis & Straubhaar (2020) creditam a vitória de Bolsonaro à forma de divulgação de fake news anti-PT pelo Whatsapp. A difusão foi capaz de burlar várias leis eleitorais, demonstrando o quanto a legislação eleitoral brasileira foi pega de surpresa pelo fenômeno. Numa análise qualitativa, os autores chegaram aos seus resultados a partir dos conteúdos das mensagens que analisaram e suas conclusões são amparadas na reprodução de algumas fake news pela TV Record que, na interpretação dos autores, reforçavam o sentimento de antagonismo ao PT. Trata-se de uma pesquisa que tem um alcance descritivo e que carece de dados que justifiquem ou embasem uma relação causal.
Em uma análise quantitativa do interesse da população em teorias da conspiração anti-Obama e anti-Clinton, Sawyer (2020) percebeu uma relação entre o interesse em teorias da conspiração e o voto em Trump por estados. Na eleição de 2017, na Coreia do Sul, Moon Jae-in venceu as eleições com maioria dos votos dos jovens mobilizados em um movimento de combate às fake news e ao conservadorismo, dando base para Seon-Gyu & Mi-Ran (2020) afirmarem que as fake news foram responsáveis pela mobilização que levou os jovens a votarem.
As iniciativas de checagem de fatos sempre estiveram presentes nas eleições dos Estados Unidos e ganharam mais força após Donald Trump. Embora úteis, elas estão longe de solucionar o problema das fake news e ainda são capazes de criar outros (Uscinski & Butler, 2013). Alguns estudos levantaram a hipótese de que desmentir uma fake news não é suficiente para mudar a percepção do eleitor sobre o objeto do embuste ou de mudar seu voto. Isso foi percebido por Barrera et al. (2020) em survey com os eleitores de Marine Le Pen, o que demonstra a força do viés de confirmação provocado pelas fake news. Entretanto, como nos lembra Wang (2020), o que vemos é uma correlação entre fake news e comportamento eleitoral e não uma relação de causa e efeito, pois vários outros fatores entram como condicionantes do comportamento eleitoral. No caso dos sul-coreanos, por exemplo, as fake news resultaram numa influência contrária, ou seja, na mobilização política dos jovens contra o candidato que as fake news tentavam privilegiar.
IV. Conclusão
A análise do corpus permitiu entender que o principal ônus causado pelas fake news está na qualidade das discussões políticas, já que características do seu emprego tornam o diálogo ainda mais difícil. Isso não tem necessariamente a ver com a verdade externa, factual, objetiva. Ao percebermos que ter ligação com um “fato real” é um dos padrões das fake news, sobra entender seu caráter simbólico, já que mesmo após o sujeito ser exposto ao escrutínio dos fatos, ele permanece crédulo, fiel a seus valores apriorísticos. Tendo como padrão a linguagem emotiva, não raramente são mobilizados sentimentos de ódio. Essa linguagem impõe uma dificuldade ao debate e ao reconhecimento pluralista. Sendo assim, a polarização não se dá pela diferença de visões de mundo, ao contrário, essas são cada vez mais plurais na esfera pública. O que se percebeu é que os valores de um grupo específico são utilizados com mais frequência em fake news nas mídias sociais digitais. Os impactos disso em eleições podem ser variados: vão desde tentativas de se impugnar resultados, isolar grupos sociais em bolhas ou criar confusão generalizada entre eleitores. Porém, o que se mostrou recorrente no corpus foi o aumento do engajamento nas discussões e a polarização das opiniões. Dessa forma, as fake news teriam um efeito dual, de engajar mais pessoas na esfera pública, porém, através da não aceitabilidade do outro, de sua subjugação e apagamento, ou seja, trata-se de uma participação com premissas violentas.
O corpus mostrou tratar-se predominantemente de análises exploratórias, tentativas de entender o fenômeno dos embustes digitais e suas peculiaridades, revelando uma necessidade de olhar para a interação entre fake news e demais aspectos do mundo político. Neste ponto, percebemos a preponderância de três agendas de pesquisa para se estudar a relação entre fake news e eleições.
A partir da coleta e análise de conteúdo em mídias sociais, diversas pesquisas buscaram entender como as fake news se espalham nos ambientes digitais, como as redes são formadas e quais são suas principais características e tendências. Utilizando surveys e métodos estatísticos, outros estudos procuraram identificar padrões no consumo de fake news, investigar os fatores que levam as pessoas a acreditar nelas, analisar quais intervenções são mais eficazes para reduzir essa crença e compreender se acreditar em fake news influencia a escolha do voto. Já a partir da coleta de materiais em agências de fact-checking, analisaram a estrutura, a linguagem e a estética das fake news, com o uso de métodos como a semiótica e a análise de conteúdo.
A maioria dos artigos da amostra corrobora com a relevância das fake news, embora nem todos consigam demonstrar sua influência direta nas eleições. Os artigos do corpus que subestimam o impacto das fake news são minoria e se valem de uma abordagem metodológica quantitativa. Todavia não é possível deduzir a irrelevância das fake news a partir do seu alcance no lócus estudado. Pelo caráter sistêmico dos ambientes digitais, uma fake news surgida no Twitter, por exemplo, não fica restrita ao Twitter e nem ao quantitativo de pessoas que foram expostas a ela nesse ambiente, uma vez que minorias ativas podem produzir efeitos que uma maioria apática não conseguiria. é necessário desenvolver metodologias capazes de triangular diversas evidências para que as análises avancem para além das redes de perfis difusores de fake news, análise de conteúdo e survey.
São muitas as limitações desta pesquisa. Mesmo que o Scopus e o Web of Science sejam dois dos maiores indexadores científicos na atualidade, eles ainda possuem escopo reduzido. Além disso, a opção por incluir apenas artigos exclui possíveis achados presentes em livros e outras formas de comunicação científica. Entretanto, acreditamos que a principal contribuição deste trabalho é fazer uma apresentação dos diferentes esforços de pesquisa que têm se dedicado ao importante tema das fake news. Os termos de busca e filtro empregados garantiram que tivéssemos trabalhos tanto sobre países centrais, como Estados Unidos, Inglaterra e França, quanto de países que costumam aparecer pouco no registro da literatura em língua inglesa, a exemplo da Nigéria, do Zimbábue, de Taiwan e do Quênia. Como fenômeno global, é importante que se identifique as lógicas transnacionais das fake news, para que se elabore respostas mais elucidativas, mas sem perder de vista as especificidades dos contextos nacionais.
Informação de financiamento
Este artigo não contou com nenhum tipo de financiamento.
Declaração de uso de IA
Todas as ideias e argumentos apresentados neste artigo foram elaborados pelo autor, sem o uso de ferramentas de IA.
Contribuições dos autores (CRediT)
Eduardo Grizenti: Conceituação, metodologia, análise formal, investigação, redação do manuscrito original, redação-revisão e edição, visualização. Samuel Barros: Supervisão, metodologia, redação do manuscrito original, redação-revisão e edição, visualização. Roberta Resende: Supervisão, metodologia, redação do manuscrito original.
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Agradecemos aos comentários e sugestões dos pareceristas anônimos da Revista de Sociologia e Política.
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Dois eram artigos normativos sobre como regular as fake news e um era uma revisão de literatura.
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Incluindo o que no Quadro 5 está classificado como Mulçumanos e Imigração (VS).
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Apêndice B - Livro de códigos
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
04 Ago 2025 -
Data do Fascículo
2025
Histórico
-
Recebido
08 Jul 2024 -
Revisado
09 Dez 2024 -
Aceito
17 Mar 2025



Fonte: adaptado pelos autores a partir de
Fonte: elaborado pelos autores, 2024.