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Internações hospitalares por causas externas no Estado de São Paulo em 2005

Hospital admissions due to external causes in the State of São Paulo in 2005

INFORMES TÉCNICOS INSTITUCIONAIS

Internações hospitalares por causas externas no Estado de São Paulo em 2005

Hospital admissions due to external causes in the State of São Paulo in 2005

Grupo Técnico de Prevenção de Acidentes e Violências. Centro de Vigilância Epidemiológica "Prof. Alexandre Vranjac". Coordenadoria de Controle de Doenças. Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo - CVE/CCD/SES-SP

Correspondência | Correspondence Correspondência | Correspondence: Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo Av. Dr. Arnaldo, 351 1º andar sala 135 01246-901 São Paulo, SP, Brasil E-mail: agencia@saude.sp.gov.br

A análise epidemiológica das hospitalizações por causas externas representa um grande desafio à saúde pública. Sua investigação encontra dificuldades em diversos pontos, tais como o preenchimento inadequado dos prontuários, sistemas de informações hospitalares com maior ênfase no faturamento e a falta de integração destes entre os sistemas de saúde público e privado. Os obstáculos devem ser estudados e superados, pois é significativo o impacto social da morbi-mortalidade por causas externas. Apesar dessas limitações, a produção de informações a partir dos dados das internações hospitalares permite visualizar um quadro mais completo do problema. Essa visão é essencial para a elaboração de estratégias de enfrentamento, devendo envolver diversas áreas.

Em 2005, verificou-se que as internações por causas externas no sistema público de saúde geraram um custo de aproximadamente R$157 milhões, situando-se em terceiro lugar por custo, e a sexta causa das internações. Em 1997, estimou-se que os custos hospitalares por causas externas no Brasil situaram-se em torno de 0,1% do produto interno bruto (PIB) e cada internação apresenta um gasto por dia 60% maior que a média paga pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

O presente trabalho descreve a morbidade hospitalar por causas externas entre a população residente no Estado de São Paulo, em 2005. Trata-se da atualização da análise e divulgação de dados do Grupo Técnico de Prevenção de Acidentes e Violências do Centro de Vigilância Epidemiológica "Prof. Alexandre Vranjac", órgão da Coordenadoria de Controle de Doenças, da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (GTPAV/CVE/CCD/SES-SP).

O banco de dados utilizado foi o Sistema de Internações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH/SUS), construído com os dados que compõem a Autorização de Internação Hospitalar (AIH), documento obrigatório nas internações realizadas pelo SUS. Atualmente, esse banco contém os códigos relativos ao tipo de causa externa, além da natureza da lesão (acessíveis desde 1992) e é disponibilizado para a SES-SP pela Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados). Foram selecionados os casos classificados no Capítulo XIX e XX da CID-10, seja no diagnóstico principal ou secundário.

As variáveis demográficas analisadas foram sexo e faixa etária. Os tipos de causas externas analisadas foram as seguintes: acidentes de transporte (V01 a V99), quedas (W00 a W19), lesões autoprovocadas (X60 a X84) e agressões (X85 a Y09). Todos os demais códigos foram compilados na categoria de outras causas externas. As taxas foram calculadas por 100.000 habitantes. Os dados populacionais para a construção dessas taxas foram baseados nos Censos de 1991 e 2000, disponibilizados no site do Datasus.* * Disponível em http://www.datasus.gov.br [acesso em 25 out 2006]

Os resultados da pesquisa mostram que no ano de 2005, o grupo das causas externas representou a quinta causa de internação nos hospitais públicos e conveniados ao SUS no Estado de São Paulo (Tabela 1). Elas foram responsáveis por 10% do total de internações, com coeficiente de internação de 501,1/100.000 habitantes. Observou-se variação segundo o sexo da vítima: entre os homens as causas externas ocuparam o segundo lugar como causa de internação (12,9% do total), atrás apenas das doenças do aparelho respiratório e incidência de 709,8/100.000. Entre as mulheres, as causas externas ocuparam o sétimo lugar (6,6% do total) de internações e incidência de 300,6/100.000.

Série histórica

A análise da série histórica, considerando o período de 1998 a 2005, mostrou tendência de aumento de 9,3% na incidência de internação por causas externas. Em 1999 e 2000 estes coeficientes decresceram, conforme observado na Figura 1, mas iniciaram crescimento desde então, variando segundo o tipo de causa externa. Os acidentes de transporte apresentaram diminuição na incidência em 3,7%, enquanto as quedas não intencionais aumentaram em 21,1% e as agressões em 48%.


Associação com sexo e idade

A incidência em relação ao sexo e idade é apresentada na Figura 2. Observa-se que os homens apresentaram coeficientes maiores em quase todas as faixas etárias, sendo esta diferença mais acentuada entre as vítimas com idades entre cinco e 49 anos. A partir desta idade há tendência de diminuição nesta diferença segundo o sexo, sendo que as taxas na população feminina superam as masculinas a partir dos 80 anos de idade.


Nos homens, o risco de internação por causa externa para a faixa etária de 80 anos e mais é 5,1 vezes maior que para os menores de um ano. Nas mulheres, esta variação foi ainda maior, cerca de 8,4 vezes. Considera-se que este risco aumentado é decorrente, principalmente, das quedas não intencionais.

Em relação aos tipos de causas externas, as quedas não intencionais representaram quase a metade das hospitalizações (48,2% do total), seguidas pelo grupo classificado como outras causas externas (21,5% do total). Nesta última categoria estão os procedimentos médico-cirúrgicos, seqüelas de causas externas e queimaduras. Os acidentes de transporte representaram 17,1% do total, as agressões 6,9% e as lesões autoprovocadas 1,3%.

A Figura 3 mostra a tendência de crescimento de hospitalizações por quedas e agressões com o aumento da idade. No entanto, em relação aos acidentes de transporte observou-se um pico de internações na faixa etária dos 20 a 29 anos. Constatou-se o aumento do risco de internação por lesões decorrentes de quedas não intencionais na idade de 80 anos e mais, 8,4 vezes maior que para os menores de um ano. As taxas de internações decorrentes de agressões na faixa de 80 anos e mais superaram as de internações por acidentes de transporte.


Analisando-se as quedas por sexo e idade verificou-se que os homens apresentaram coeficientes maiores até os 69 anos. A partir dessa idade as mulheres apresentam maiores taxas para internação segundo este tipo de causa externa (Figura 4). Em relação a acidentes de transporte, os homens apresentaram incidência maior em todas as faixas etárias, com diferença acentuada entre os 10 e 29 anos (Figura 5).



Letalidade

Buscou-se medir a taxa de letalidade hospitalar como um indicador de gravidade do tipo de causas externa. As agressões apresentaram a maior taxa de letalidade hospitalar (6,6%), seguidas pelos acidentes de transporte (4,8%) e lesões autoprovocadas (3,7%). Quando esta letalidade é analisada segundo sexo, essa mesma ordem foi mantida entre as mulheres: agressões (6,1%), acidentes de transporte (4,9%) e lesões autoprovocadas (2,2%). Porém, entre homens as agressões ficaram com 6,8%, lesões autoprovocadas com 5,2% e acidentes de transporte com 4,7%, e a maior letalidade por lesões autoprovocadas foi observada na faixa etária dos 20 a 39 anos.

Distribuição geográfica

A Tabela 2 mostra a distribuição dos coeficientes de internações segundo as Diretorias Regionais de Saúde (DIR), tendo sido observado que 11 delas apresentaram valores maiores que a média para o Estado de São Paulo.

Comentários

A diminuição (-3,7%) nas taxas de internações por acidentes de transporte entre 1998 e 2005 correlaciona-se com a redução das taxas de mortalidade por este tipo de causa externa, observada nos últimos anos. Possivelmente essa tendência reflete as medidas que vêm sendo tomadas na segurança viária. Citam-se o estabelecimento do Código Brasileiro de Trânsito, a maior fiscalização, obrigatoriedade do uso do cinto de segurança, campanhas de conscientização da população, maior número de itens de segurança nos veículos, melhor desenho das estradas, entre outras. Porém, é preciso avançar ainda mais na prevenção, com abordagem multidisciplinar e intersetorial.

Por outro lado, a tendência decrescente não é verificada em relação às quedas e agressões. O aumento da morbidade hospitalar decorrente de quedas provavelmente reflete o envelhecimento geral da população brasileira. A maior incidência entre as mulheres idosas deve-se, possivelmente, à maior longevidade do sexo feminino, portanto mais vulneráveis. Ressalte-se que este é um fenômeno mundial, cujas medidas de prevenção apresentam impacto positivo significativo. As quedas na mortalidade por homicídios e o crescimento das internações por agressões é um fenômeno ainda não amplamente conhecido e investigado. Porém, são consistentes com os dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, que também mostraram queda nos homicídios e aumento das lesões corporais. Também merece maior aprofundamento o fato de idosos com 80 anos e mais apresentarem incidências de internação por agressões maiores que pelos acidentes de transporte.

O fato de algumas Regionais de Saúde do interior paulista terem apresentado incidências superiores à do Estado pode ser porque esses municípios possuem serviços médicos de referência. Assim, podem receber maior demanda de pacientes vítimas de traumas e a análise foi realizada segundo DIR de residência. Cabe ressaltar que entre as limitações da análise dos dados de morbidade no Brasil, encontra-se o fato de que estes dados são fortemente influenciados pela oferta de serviços.

Como outras limitações do trabalho, cita-se o fato de que este banco não inclui os casos atendidos em hospitais não conveniados com o Sistema Único de Saúde. No entanto, a literatura indica que o volume de internações no SUS pode minimizar algumas dessas falhas e a não-validação da qualidade desta informação, o que deve acontecer também com os outros agravos.

É importante ressaltar que pela magnitude aqui apresentada, a prevenção dos acidentes e violências deve entrar na agenda de prioridades das diversas instâncias dos governos. Não é assunto somente para a saúde pública, mas para outras instituições envolvidas, como a Segurança Pública, Educação e Promoção Social, bem como interesse de todos os cidadãos. Espera-se que estudos deste tipo forneçam as bases para a adoção de políticas de prevenção e melhoria da atenção prestada a essas vítimas.

Texto de difusão técnico-científica da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.

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    Disponível em
    http://www.datasus.gov.br [acesso em 25 out 2006]
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      04 Jul 2007
    • Data do Fascículo
      Fev 2007
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