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Simuliidae (Diptera: Culicomorpha) no Brasil: V - Sobre o Simulium (Chirostilbia) friedlanderi sp.n. e a revisão do Simulium (C.) laneportoi Vargas, 1941

Simuliidae (Diptera: Culicomprpha) in Brazil: V - On Simulium (Chirostilbia) friedlanderi sp.n. and the revision of Simulium (C.) laneportoi Vargas, 1941

Resumos

Uma espécie nova, Simulium friedlanderi, do subgênero Simulium (Chirostilbia) Enderlein é descrita, sendo a mesma procedente do norte da Província Hidrogeológica do Centro-Oeste, subprovíncia Alto Paraguai. Simulium (Chirostilbia) laneportoi Vargas, 1941 é revisada, sendo o Simulium (C.) dekeyseri Shelley e Py-Daniel, 1981 colocada em sua sinonimia, e apresentando uma distribuição geográfica tanto no norte da Província Hidrogeológica do Centro-Oeste, subprovíncia Alto Paraguai, como no sudeste da Província Hidrogeológica do Escudo Central. São apresentadas chaves diferenciativas para larvas e pupas do grupo pertinax.

Simuliidae


A new species, Simulium friedlanderi spn.n., subgenus Simulium (Chirostilbia) Enderlein, is described. S. friedlanderi was found in the north of the west-central Hydrogeological Province, Upper Paraguay subprovince. Simulium (Chirostilbia) laneportoi Vargas, 1941 is revised and Simulium (C.) dekeyseri Shelley & Py-Daniel, 1981 is considered synonymous with it. S. (C.) laneportoi is present in the north of the west-central Hydrogeological Province, Upper Paraguay subprovince, and the southeast of the Central Shield Hydrogeological Province. Diferential keys are presented for larvae and pupae of the pertinax-group.

Simuliidae


TAXONOMIA

Simuliidae (Diptera: Culicomorpha) no Brasil. V — Sobre o Simulium (Chirostilbia) friedlanderi sp.n. e a revisão do Simulium (C.) laneportoi Vargas, 1941

Simuliidae (Diptera: Culicomprpha) in Brazil. V — On Simulium (Chirostilbia) friedlanderi sp.n. and the revision of Simulium (C.) laneportoi Vargas, 1941

Victor Py-Daniel

Departamento de Ecologia, Divisão de Entomologia, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, INPA/CNPq — Caixa Postal 478 — 69000 — Manaus, AM — Brasil

RESUMO

Uma espécie nova, Simulium friedlanderi, do subgênero Simulium (Chirostilbia) Enderlein é descrita, sendo a mesma procedente do norte da Província Hidrogeológica do Centro-Oeste, subprovíncia Alto Paraguai. Simulium (Chirostilbia) laneportoi Vargas, 1941 é revisada, sendo o Simulium (C.) dekeyseri Shelley e Py-Daniel, 1981 colocada em sua sinonimia, e apresentando uma distribuição geográfica tanto no norte da Província Hidrogeológica do Centro-Oeste, subprovíncia Alto Paraguai, como no sudeste da Província Hidrogeológica do Escudo Central. São apresentadas chaves diferenciativas para larvas e pupas do grupo pertinax.

Unitermos: Simuliidae, classificação.

ABSTRACT

A new species, Simulium friedlanderi spn.n., subgenus Simulium (Chirostilbia) Enderlein, is described. S. friedlanderi was found in the north of the west-central Hydrogeological Province, Upper Paraguay subprovince. Simulium (Chirostilbia) laneportoi Vargas, 1941 is revised and Simulium (C.) dekeyseri Shelley & Py-Daniel, 1981 is considered synonymous with it. S. (C.) laneportoi is present in the north of the west-central Hydrogeological Province, Upper Paraguay subprovince, and the southeast of the Central Shield Hydrogeological Province. Diferential keys are presented for larvae and pupae of the pertinax-group.

Uniterms: Simuliidae, classification.

Simulium friedlanderi, dentro do subgênero Chirostilbia, posiciona-se no grupo pertinax, que é composto das seguintes espécies: S. pertinax Kollar, 1832 (revisada por D'Andretta e D'Andretta2, 1950); S. spinibranchium Lutz, 1910 (revisada por Py-Daniel e Shelley4, 1981); S. laneportoi Vargas6, 1941; S. serranus Coscaron1, 1981. S. friedlanderi é a terceira espécie neotropical cujas pupas apresentam 11 + 11 filamentos branquiais terminais < as outras duas pertencem ao gênero Mayacnephia: pachecolunai (León, 1945) e atzompensis (Diaz Nájera, 1962), e estão localizadas exclusivamente na América Central (Guatemala e México) >.

Após ter coletado topótipos de S. laneportoi Vargas6, 1941 e de S. dekeyseri Shelley e Py-Daniel5, 1981, e compará-los com os respectivos tipos, ficou evidenciado que são idênticas e, portanto, S. dekeyseri é sinônimo de S. laneportoi.

Simulium (Chirostilbia) friedlanderi sp.n.

FÊMEA — Desconhecida.

MACHO — Coloração geral castanha-preta (exemplar retirado do envólucro pupal). Comprimento da antena (Fig. 1) = 0,53-0,56 mm. Proporção entre os segmentos III-V do palpo maxilar (Fig. 3) = 1:1,19:2,9-3,0; vesícula sensorial (Fig. 2) do terceiro segmento do palpo maxilar, subretangular, pequena. Mesonoto castanho-preto com setas amarelas esparsas ao longo do mesmo. Mesonoto apresentando, em vista lateral uma faixa de pruina alvacenta, que o circunda (indo da região posterior até a dorso-anterior); com luz frontal apresenta 1 + 1 manchas pruinosas laterais e 1 + 1 pequenas manchas pruinosas dorso-anteriores. Catepisterno mais largo do que alto. Asas com as veias Sc e R com setas. Calcipala e pedisulco bem desenvolvidos (Fig. 5). Relação comprimento/largura do basitarso posterior = 5,3-5,5. Fêmures e tíbias de todas as pernas apresentando escamas lanceoladas, finas, entremeadas com setas filiformes. Basimero mais longo que o distimero (Fig. 4). Basimero pouco mais largo que longo. Distimero subquadrático e com um pequeníssimo espinho afilado (pouco esclerotizado) subapicalmente. Placa ventral segundo a Figura 6. Esclerito mediano (Fig. 8) alargado na sua metade apical e com uma acentuada incisão mediana, longitudinalmente. Endoparâmeros (Fig. 7) com dentes conspícuos.


PUPA — Comprimento do casulo, dorsal = 3,4-5,0 mm / ventral (base) = 3,1-3,9 mm / ventral (porção anterior) = 1,25-2,5 mm. Comprimento máximo dos filamentos branquiais, aproximadamente = 1,24mm (os filamentos não são retilíneos, mas enrolados). Casulo em forma de "sapato" (Figs. 9-12) com os 7/8 anteriores apresentando tiras conspicuamente entremeadas, e no 1/8 posterior a trama é pouco visível. As brânquias estão sempre dentro do casulo (na porção anterior); brânquias (Figs. 13-14) de cor acinzentada, compostas de 11 filamentos terminais, com as bases muito mais largas que os ápices < da base comum, grossa, partem 4 troncos principais (o dorsal posterior, o primeiro lateral, o segundo lateral e o dorsal anterior): o tronco dorsal posterior bifurca-se dando dois secundários, estes subdividem-se dando um total de 4 terminais (um dos terminais do primeiro secundário é conspicuamente reduzido); o tronco principal do primeiro lateral permanece simples, dando, portanto, apenas um terminal; o tronco principal do segundo lateral bifurca-se dando dois terminais; o tronco dorsal anterior bifurca-se dando um terminal e um secundário, este secundário bifurca-se dando um terminal e um terciário, este terciário bifurca-se dando dois terminais >. Cabeça apresentando grande quantidade de tubérculos, pequenos, arredondados. Estojos antenais (Fig. 16) apresentando enrugamentos em cada área correspondente aos segmentos da antena da forma adulta (uma fileira de enrugamentos por segmento). Estes enrugamentos não apresentam espinhos. Tórax com tubérculos pequenos, arredondados e/ou espiniformes, em toda a sua extensão. Ornamentação do frontoclipeo (Fig. 17) com 1 + 1 tricomas faciais apresentando 6 ramificações e 2+2 tricomas frontais com 5-7 ramificações (as tricomas faciais são do mesmo tamanho que as frontais). Tórax (Fig. 15) com a quetotaxia sendo 5+5 tricomas centro-dorsais com 3-7 ramificações; 1 + 1 tricomas supralaterais simples ou bífidas; 3+3 tricomas laterais com 1-7 ramificações (as 1 + 1 tricomas mais inferiores são longas e com curvatura subapical; as 2+2 tricomas superiores são multi-ramificadas. Tergitos abdominais (Fig. 19) apresentando uma diminuição de pigmentação castanha no sentido antero-posterior. Tergito I apresentando-se totalmente castanho. Tergitos II-V sem áreas anteriores com dentículos. Tergito I com 3 + 3 microse-tas, simples, na região centro-anterior; com 2+2 setas fronto-laterais (uma curta e espiniforme e a outra filiforme, bífida e/ou trífida, longa). Tergito II com 5 + 5 setas espiniformes grandes e esclerotizadas (sendo 4+4 setas, com o ápice no sentido longitudinal do abdome e 1 + 1 setas, transversais, frontais ao espaço entre as duas setas mais externas, ou apenas frontais a seta mais externa; em conjunto com as 1 +1 setas transversais aparecem sempre 1 + 1 setas, filiformes, longas, bífidas e/ou trífidas). Tergitos III-IV com 4+4 ganchos simples, na região posterior e 1 +1 setas, espiniformes, transversais, frontais ao espaço entre os dois ganchos mais externos. Tergitos VI-IX com 1 + 1 áreas anteriores apresentando dentículos (nos tergitos VI-VII apenas dentículos do tipo pequeno, nos tergitos VIII-IX dentículos dos tipos grande e pequeno). Tergito V com 4-5+4-5 setas espiniformes, simples ou bífidas, no terço posterior. Tergitos VI-VII com 3 + 3 setas espiniformes simples ou bífidas, no terço posterior. Tergito VIII com 2+2 setas do mesmo tipo e localização. Espinhos terminais do abdome pequenos. Ao longo do abdome, ao nível pleural, existem 3+3 setas espini-filiformes, por segmento. Esternitos III-VIII (Fig. 18) apresentando, anteriormente, áreas com dentículos em forma de pente (no segmento III é uma faixa contínua).


Segmento esternal III com 2 + 2 setas. Segmentos esternais V-VIII divididos por áreas membranosas estriadas, longitudinais, medianamente (no seg. VIII as estrias são um pouco esclerotizadas). Placas esternais do segmento V com 2+2 ganchos simples e/ou bífidos, muito próximos, e com 2 + 2 setas espini-filiformes, latero-externas aos ganchos mais externos. Segmentos esternais VI-VII com 2 + 2 ganchos (os internos simples e/ou bífidos; os externos simples), com 3 + 3 setas espini-filiformes (1 + 1 setas frontais aos ganchos externos; 1 + 1 setas entre os ganchos externos e internos; e 1 + 1 setas = no segmento VI, latero-externas aos ganchos mais externos; no segmento VII, frontais as setas interganchos). Nas membranas intersegmentares, tanto dos tergitos como dos esternitos, existem 1 + 1 microsetas, espiniformes, translúcidas. As membranas intersegmentares anteriores, apresentam várias áreas esclerotizadas, dispersas.

LARVA — Coloração geral cinza com faixas escuras nos segmentos (material no álcool). Comprimento do corpo = 5,75-5,56 mm. Máxima largura da cápsula cefálica = 0,66-0,69 mm. Contorno do corpo como nas Figuras 20-21. Apódema cefálico (Fig. 22) castanho com setas simples, muito pequenas. Manchas da cabeça positivas. Antenas ultrapassando (pouco) os ápices das hastes dos leques cefálicos. Proporção entre os segmentos antenais (Figs. 23-24) I-II-III = 1:1-1,27:1,37-1,52; o segundo segmento é mais claro que os segmentos I e III. Leques cefálicos normais, com 43-47 raios. Escleritos cervicais (Fig. 22) sub-elipsóides, pequenos e livres na membrana. Hipostômio (Fig. 29) com 6-9 + 6-9 setas laterais e 2+2 setas no disco. Dentes hipostomiais: 1 + 1 dentes pontas, 1 dente central, 3 + 3 dentes intermediários (os 1 + 1 dentes medianos, menores), 2+2 dentes laterais e 4.74.4.7 serrilhas conspícuas; os dentes central, pontas e intermediários apresentam uma projeção basilar. Fenda gular (Fig. 30) profunda e subtriangular. Proporção entre a ponte pré-gular / hipostômio = 1:1,53-1,69. Esclerito labral segundo a Figura 25. Mandíbula (Figs. 27-28) com 2 dentes externos, 1 dente apical (com 7-11 nodulos antero-laterais); 9 dentes pré-apicais (o segundo dente é sempre mais longo que o primeiro), 6-7 dentes internos, 2 dentes marginais (o segundo menor que o primeiro); sem setas supra-marginais; com 1 PLM simples, retilíneo ou curvo e com o ápice ultrapassando a margem inferior da mandíbula. Esclerito lateral do pseudópodo como na Figura 26. Esclerito anal como na Figura 31. Disco anal com 105-122 fileiras de ganchos e com 16-20 ganchos por fileira. Brânquias anais compostas de 3 ramos, com 20-24 lóbulos em cada um.


ETIMOLOGIA — Simulium friedlanderi é uma homenagem ao naturalista Mario Mauricio C. Friedlander, proprietário da Chácara Morada Terra, localidade tipo desta espécie.

DISCUSSÃO — S. friedlanderi apresenta como extrema diferença, de todas as espécies de Chirostilbia, a forma e o número dos filamentos branquiais da pupa. As outras características estão inter-relacionadas, independentemente, e são parte comum com as outras espécies do grupo pertinax e parte comum com as espécies do grupo distinctum.

Os principais caracteres diagnósticos estão presentes nas chaves de diferenciação larval e pupal.

BIONOMIA — As formas imaturas de S. friedlanderi apenas foram encontradas em substratos rochosos, sendo que a luz solar não incidia diretamente no criadouro.

Não foram observadas fêmeas, desta espécie, picando seres humanos durante as coletas.

MATERIAL EXAMINADO — BRASIL, Mato Grosso: Chapada dos Guimarães, Córrego Colônia-Abaixo, um dos formadores do rio Jamacá, localidade denominada Chácara Morada Terra, 1 exúvia pupal (6087-1) em lâmina — PARATIPO, 1 pupa e 4 larvas (no álcool), INPA — 6087, 05.V.1984, V. Py-Daniel leg.; 1 macho (retirado da pupa) + a respectiva exúvia pupal (6099-1) em lâmina — HOLÔTIPO, exúvia pupa l (6099-2) em lâmina, 1 pupa (macho) e 5 larvas (no álcool), INPA — 6099, 27.IX.1984, V. Py-Daniel e Ulysses C, Barbosa legs.; 4 pupas (machos), 2 exúvias pupais com os respectivos casulos (todo o material no álcool), INPA — 6156, 06.IV.1986, V. Py-Daniel e M. M. C. Friedlander legs.; 1 exúvia pupal com o respectivo casulo e 2 larvas (no álcool); INPA — 6172, 05.V.1986, Renato Cintra leg.

Simulium (Chirostilbia) laneportoi Vargas, 1941

Simulium pilosum Lane e Porto, 1940: 190, Figs. 2-5 (nec Knowlton e Rowe, 1934).

Simulium lane-porteroi Smart, 1945: 507 (erro).

Simulium lane portoi Vargas, 1941: 118 (nom.nov. para pilosum).

Simulium (Chirostilbia) dekeyseri Shelley e Py-Daniel, 1981: 23-32 (novo sinônimo),

Como descrição básica para esta espécie pode ser usada a feita para S. (C.) dekeyseri, por Shelley e Py-Daniel5, 1981.

Caracterização complementar e correções:

FÊMEA — Comprimento da antema com 0,44 mm. Fronte subisométrica, índice frontal = 0,96. Proporção entre os segmentos III-V do palpo maxilar = 1:0,9-1,2:2,1-2,6. Maxila com 26-30 dentes (11-13 / 1 / 13-16). Mandíbula com 4-9 dentes na borda externa e 25-30 dentes na borda interna. Oitavo esternito abdominal com 1 + 1 área com um número de setas variando entre 15-17.

MACHO — Comprimento da antena = 0,43-0,51 mm. Proporção entre os segmentos III-V do palpo maxilar = 1:1,1-1,3:2,5-3,1. Veia alar Sc com setas. Distimero com um pequeníssimo espinho afilado (pouco esclerotizado) subapical (Fig. 32).


PUPA — Comprimento do casulo, dorsal = 2,8-3,8 mm / ventral (base) = 2,4-3,9 mm / ventral (porção anterior) = 0-0,94 mm. Comprimento dos filamentos branquiais = 1,57-2,4 mm. Casulo podendo ter a forma de "sapato" ou de "chinelo" (Figs. 33-34); a trama do casulo é inclusa e visível. Estojos antenais sem espinhos. Brânquias compostas de 8 filamentos terminais finos e longos (Figs. 35-36). Ornamentação do fronto-clipeo (Fig. 38) com 1 + 1 tricomas faciais (bífidas e/ou trífidas) e 2+2 tricomas frontais (simples e/ou bífidas e/ou trífidas). Tricomas faciais tão longas quanto ou menores que as tricomas frontais. Tórax com a quetotaxia (Fig. 37) sendo 5 + 5 tricomas centro-dorsais, desde bífidas até múltiplas (8 ramificações); 1 + 1 tricomas supra-laterais simples ou bífidas; 3 + 3 tricomas laterais simples ou bífidas (a tricoma mediana é muito maior que a superior ou que a inferior). Tergitos abdominais (Fig. 39) apresentando uma diminuição de pigmentação castanha no sentido antero-posterior. Tergitos I e II apresentando-se totalmente castanhos. Tergitos II-V (um maior número de dentículos nos tergitos II e III; os tergitos IV e V podem, apenas, ter 1 + 1 dentículos) com áreas anteriores apresentando dentículos). Tergito I sem áreas anteriores apresentando dentículos. Tergito I com 1 + 1 setas fronto-laterais longas, filiformes, simples e/ou bífidas e 3 + 3 setas espiniformes, curtas e simples, na região centro-anterior. Tergito II com 5 + 5 setas espiniformes (sendo 4+4 setas grandes, com esclerotização acentuada, com o ápice no sentido longitudinal do abdome e 1 + 1 setas, pequenas, transversais, frontais ao espaço entre as duas setas mais externas, ou apenas frontais a seta mais externa; em conjunto com as 1 +1 setas transversais aparecem sempre 1 + 1 setas, filiformes, longas, simples, pouco esclerotizadas). Tergitos III-IV com 4 + 4 ganchos simples, na região posterior e 1 + 1 setas, espiniformes, transversais, frontais ao espaço entre os dois (2) ganchos mais externos. Tergitos VI-IX com 1 + 1 áreas anteriores apresentando dentículos (no tergito VI apenas dentículos do tipo pequeno, no tergito VII apenas do tipo pequeno ou tanto pequenos quanto grandes; nos tergitos VIII-IX sempre dentículos pequenos e grandes). Tergito V com 4-5 + 4-5 setas espiniformes simples e/ou bífidas e/ou trífidas, no terço posterior. Tergito VII 3 + 3 setas espiniformes, no terço posterior, simples ou bífidas; o tergito VIII com 2+2 setas do mesmo tipo e localização. Espinhos terminais do abdome pequenos. Ao longo do abdome, ao nível pleural, existem 3 + 3 setas espiniformes (por segmento). Esternitos III-VIII (Fig. 40) apresentando, anteriormente, áreas com dentículos em forma de pente (nos segmentos III-IV, é uma faixa contínua). Segmento esternal III com 2 + 2 setas, espini-filiformes, pequenas, fronto-laterais. Segmento esternal IV com apenas 3 + 3 setas simples, espiniformes. Segmentos esternais V-VIII divididos por áreas membranosas estriadas, longitudinais, medianamente. Placas esternais do segmento V com 2 + 2 ganchos bífidos, muito próximos, e com 2 + 2 setas espini-filiformes, latero-externas aos ganchos externos. Segmentos esternais VI-VIII com 2+2 ganchos (os externos simples, os internos bífidos), com 3 + 3 setas espini-filiformes (as 1 + 1 setas frontais aos ganchos externos; 1 + 1 setas entre os ganchos externos e internos; e 1 + 1 setas: no segmento VI, latero-externas aos ganchos mais externos; no segmento VII, frontais as setas inter-ganchos). Nas membranas intersegmentares, tanto dos tergitos como dos esternitos existem 1 + 1 microsetas, espiniformes, translúcidas. Não foram observadas áreas esclerotizadas nas estrias das membranas intersegmentares.


LARVA — Coloração geral cinza, com faixas pouco visíveis nos segmentos (material no álcool). Comprimento do corpo = 5,63-7,50 mm. Máxima largura da cápsula cefálica = 0,59-0,70 mm. Contorno do corpo como nas Figuras 41-42. Apódema cefálico (Fig. 43) castanho com setas simples, muito pequenas. Manchas da cabeça positivas. Antenas desde com o mesmo tamanho das hastes dos leques cefálicos, até ultrapassando (um pouco) os ápices das mesmas. Proporção entre os segmentos antenais (Figs. 44-45) I-II-III = 1:1,03-1,36:1,33-1,69. Leques cefálicos normais, com 38-45 raios. Escleritos cervicais (Fig. 43) subelipsóides, pequenos e livres na membrana. Hipostômio (Fig. 51) com 6-9 + 6-9 setas laterais e 2-3 + 2-3 setas no disco. Dentes hipostomiais: 1 + 1 dentes pontas, 1 dente central, 3 + 3 dentes intermediários (decrescem de tamanho no sentido externo-interno, 2 + 2 dentes laterais e 5-9 + 5-9 serrilhas conspícuas; os dentes central, pontas e intermediários apresentam uma projeção basilar. Fenda guiar (Fig. 49) profunda e subtriangular. Proporção entre a ponte pré-gular / hipostômio = 1:1,05-3,13. Esclerito labral segundo a Figura 46. Mandíbula (Fig. 48) com 2 dentes externos, 1 dente apical (com 8-13 nodulos antero-laterais); 5-6 dentes pré-apicais (sendo que decrescem de tamanho no sentido antero-posterior), 9-10 dentes internos (entre os dentes pré-apicais e os internos ocorrem mais duas fileiras de dentes, 7-9 dentes em cada), 2 dentes marginais (o segundo menor que o primeiro); sem setas supramarginais; com 1 PLM simples, curvo ou sinuoso e com o ápice ultrapassando a margem inferior da mandíbula. Esclerito lateral do pseudópodo como na Figura 47. Esclerito anal segundo a Figura 50. Disco anal com 100-116 fileiras de ganchos e com 15-18 ganchos por fileira. Brânquias anais compostas de 3 ramos, com 19-30 lóbulos em cada um.


BIONOMIA — S. (C.) laneportoi Vargas, 1941 apresenta as suas formas imaturas associadas tanto à vegetação periférica dos cursos d'água, como aos substratos rochosos, sendo que a luz solar pode incidir direta ou indiretamente sobre os mesmos. As fêmeas (na localidade tipo) apresentam uma acentuada antropofilia (com uma intensidade de ataque do tipo bimodal: ao amanhecer e ao entardecer).

DISCUSSÃO — Na descrição de pilosum ( = laneportoi), Lane e Porto3 colocaram como localidade tipo: Ponce, Chapada, Mato Grosso (600 mts. de altitude), VIII — 34 (S.F.A. col.); mas no rótulo do tipo está escrito: Mato Grosso — Ponte Alta. Portanto, S. laneportoi tem, na realidade, como localidade tipo, Ponte Alta. Nas duas localidades, que não são muito distantes entre si, eu coletei fêmeas de S. laneportoi picando, como também larvas e pupas (na localidade Ponte Alta: rio Ponte Alta, afluente do Rio das Cascas; na localidade Coronel Ponce, regionalmente conhecido como Capim Branco: rio São Lourenço, Cachoeira do São Lourenço).

MATERIAL EXAMINADO — Pertencente a Faculdade de Saúde Pública da USP. Mato Grosso, Ponte Alta, Simuliun pilosum Lane e Porto, 1939 (= Simulium laneportoi Vargas, 1941): 1 fêmea — HOLÓTIPO, em alfinete, com a cabeça entre lamínulas (S-122, T-1213, núm. 1348); 1 fêmea — PARATIPO, em alfinete (S-122, T-1216, núm. 1349). Mato Grosso, Chapada (600 mts.), Ponce, Simulium laneportoi (det. M. A. Vulcano, 1943), 1 fêmea em alfinete (S-393, T-3921, núm. 5331), J. Lane, leg.. Pertencente ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia — DISTRITO FEDERAL, Brasília: Córrego Cachoeirinha, Simulium (Chirostilbia) dekeyseri — 3 fêmeas (INPA — 6173-1 a 6173-3 / PARATIPOS) em alfinetes, com as respectivas exúvias pupais e casulos no álcool, 2 machos (INPA — 6173-7, 6173-8 / PARATIPOS) em alfinetes, com as respectivas exúvias pupais e casulos no álcool, 2 machos (INPA — 6173-7, 6173-8 / PARATIPOS) em alfinetes, com as respectivas exúvias pupais e casulos no álcool, 1 fêmea (INPA — 6173-6 / PARATIPO) e respectiva exúvia pupal no álcool, 24.VII.1975, A. J. Shelley e V. Py-Daniel legs.; 1 fêmea (INPA — 6174) em alfinete, 3 machos (INPA — 6174-1, 6174-4, 6174-9) em alfinete e respectivas exúvias pupais no álcool, 1 macho em alfinete e 1 fêmea em álcool (INPA — 6174-2) e as respectivas exúvias pupais também no álcool, 1 fêmea (INPA — 6174-3) em alfinete e a respectiva exúvia pupal no álcool, 1 fêmea e 1 macho (INPA — 6174-6, 6174-7) com as respectivas exúvias pupais em lâmina, 1 macho e 1 fêmea (INPA — 6174-5, 6174-8) com as respectivas exúvias pupais no álcool, 5 exúvias pupais (INPA — 6174) em lâminas, 160 larvas (INPA — 6174) no álcool, 5 pupas e 4 exúvias pupais (INPA — 6174) no álcool, 15.111.1976, V. Py-Daniel e A. J. Shelley e Benedito legs.. Córrego S/Nome, afluente do Córrego Cachoeirinha, 1 pupa e 1 larva (INPA — 6175), no álcool, 15.03.1976, V. Py-Daniel e A. J. Shelley e Benedito legs. MATO GROSSO, Ponte Alta, rio Ponte Alta (afluente do Rio das Cascas) — 1 fêmea (INPA — 6094-1), em alfinete, coletada picando pessoa, 1 macho e 1 fêmea (INPA — 6094), retirados das pupas (em lâminas, junto com as respectivas exúvias pupais), 3 larvas em lâmina, 521 larvas no álcool (INPA — 6094), 47 pupas e 61 exúvias pupais no álcool (INPA — 6094), 04.05.1984, V. Py-Daniel e Ulysses C. Barbosa legs. Coronel Ponce ("Capim Branco"), rio São Lourenço — 1 fêmea e 1 macho (respectivamente INPA — 6095-1 e 6095-2) em alfinete e as exúvias pupais correspondentes no álcool, 1 macho e 1 fêmea (6095) retirados das pupas, junto com as respectivas exúvias pupais em lamina, 3 larvas em lâmina, 58 larvas no álcool (INPA — 6095), 5 exúvias pupais em lâmina e 51 exúvias pupais no álcool (INPA — 6095), 28 pupas (INPA — 6095) no álcool, 03-04.05.1984, V. Py-Daniel e Ulysses C. Barbosa legs..

CHAVE DIFERENCIAL PARA LARVAS DO GRUPO PERTINAX

1. Número de fileiras de ganchos do disco anal maior que 100 (104-122); número de lóbulos das blânquias anais maior que 18 (19-30) ... 2.

. Número de fileiras de ganchos do disco anal menor que 100 (80-92); número de lóbulos das brânquias anais menor que 18 (11-16 ......... 3.

2. Segundo dente pré-apical da mandíbula maior que o primeiro .................... S. friedlanderi

. Segundo dente pré-apical da mandíbula menor que o primeiro ............ S. laneportoi

3. Os 3 + 3 dentes intermediários do hipostômio apresentando um padrão: o mediano menor que os outros dois ......... S. spinibranchium

. Os 3+3 dentes intermediários do hipostômio apresentando um padrão diferente do acima

....... 4.

4. Dentes hipostomiais intermediários apresentando a seguinte configuração: decrescem de tamanho no sentido do externo para o interno; cutícula larval sem setas ............................ S. serranus

. Dentes hipostomiais intermediários apresentando a seguinte configuração: o externo muito maior que os outros dois que são subiguais; cutícula larval com setas.................................. S. pertinax

CHAVE DIFERENCIAL PARA AS PUPAS DO GRUPO PERTINAX

1. Casulo com trama individualizada e expansão dorsal; filamentos branquiais em número de 11; brânquias em disposição circular; ramificações das tricomas faciais em número de 6; tricoma torácica "latero-inferior" curva e longa; tergito abdominal I com microsetas; tergito abdominal II sem dentículos fronto-laterais ... S. friedlanderi

. Casulo com trama não individualizada ou sem trama, sempre sem expansão dorsal; filamentos branquiais em número de 8; brânquias com filamentos em disposição paralela ou subparalela; ramificações das tricomas faciais abaixo de 5 (1-4); tricoma torácica "latero-inferior" retilínea (grossa) e curva; tergito abdominal I com setas espiniformes; tergito abdominal II com dentículos fronto-laterais...................................2.

2. Com áreas esclerotizadas nas estrias das membranas abdominais; esternito abdominal III com setas ..................... ................. 3.

. Sem áreas esclerotizadas nas estrias das membranas abdominais; esternito abdominal III sem setas................................................................................ 4.

3. Casulo sem trama; brânquias afiladas; tricomas torácicas laterais no máximo trifidas (1-3); tricomas cefálicas faciais maiores que as tricomas frontais; esternito abdominal IV com 3+3 setas pequeñas, subiguais.................S. pertinax

. Casulo com trama inclusa; brânquias conspicuamente mais largas na base que no ápice; tricomas torácicas laterais múltiplas (6-11); tricomas cefálicas faciais menores que as tricomas frontais; esternito abdominal IV com 3 + 3 setas, sendo a interna conspicuamente esclerotizada .......................................................S. spinibranchium

4. Tergito abdominal V sem dentículos anteriores; ramo secundário do ramo branquial principal mediano bifurcando-se muito acima da bifurcação do primeiro terminal ......... S. serranus

. Tergito abdominal V com dentículos anteriores; ramo secundário do ramo branquial principal mediano bifurcando-se próximo da bifurcação do primeiro terminal............................. S. laneportoi

AGRADECIMENTOS

Ao Dr. O. P. Forattini pelo empréstimo dos tipos da Coleção Entomológica do Laboratório de Entomologia da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo.

Recebido para publicação em 27/1/1987

Reapresentado em 2/5/1987

Aprovado para publicação em 13/5/1987

Trabalho financiado, em parte, pelo Programa POLONOROESTE/CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).

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  • 5. SHELLEY, A. J. & PY-DANIEL, V. Simuliidae of Goiás State and the Federal District (Brasília). 1 - A description of Simulium dekeyseri new species. Mem. Inst. Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 76:23-33, 1981.
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Jan 2005
  • Data do Fascículo
    Ago 1987

Histórico

  • Revisado
    02 Maio 1987
  • Recebido
    27 Jan 1987
  • Aceito
    13 Maio 1987
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