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Ligando a estratégia preventiva de alto-risco ao mercado da indústria biomédica: implicações para a saúde pública

Resumo

Este artigo aborda os conceitos de Geoffrey Rose sobre estratégia preventiva como base para análise teórico-crítica da abordagem atual para a prevenção de doenças. A proposta de Rose de um “continuum de risco e severidade” ampliou as possibilidades das ações preventivas ao classificar duas abordagens: a estratégia de alto risco (EAR) e a estratégia populacional (EP). Ambas produzem paradoxos: a EAR, apesar de apresentar boa relação dano-benefício, oferece pouco impacto para a saúde pública; a EP tem maior impacto sobre a saúde pública, mas oferece benefícios mínimos em nível individual. Argumentamos que a EAR tem sido mal utilizada ao reduzir pontos de corte para intervenções preventivas para impactar a morbimortalidade atribuída a doenças específicas. Isso tende a medicalizar a prevenção, produzindo mais fenômenos relacionados à doença por meio de técnicas de rastreamento, induzindo reações afetivas individuais que exigem ação no presente para garantir melhor saúde no futuro. Tal contexto abre caminho para a prática de uma medicina preventiva especulativa, que percebe a saúde como mercadoria, mas ignora suas implicações para os serviços de saúde pública.

Palavras-chave:
Prevenção de Doenças; Saúde Pública; Prevenção Quaternária; Medicalização; Mercantilização; Medicina Baseada em Evidências

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