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Comunicação organizacional, microcefalia e estéticas da diferença: análise de 2 (dois) anos de discursos do governo federal frente à epidemia do vírus Zika1 1 Esse artigo se constitui como um dos resultados finais do projeto de pesquisa “Políticas da diferença e estéticas da diferença: análise de acontecimentos públicos contemporâneos”, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), desenvolvido entre agosto de 2018 e julho de 2019. O projeto foi coordenado por Rayza Sarmento, professora do Departamento de Ciências Sociais, e Rennan Mafra, professor do Departamento de Comunicação Social, ambos da Universidade Federal de Viçosa, tendo como bolsistas de iniciação científica Adriana Helena Almeida de Freitas, Gabrielle Marques e Amanda Rocha. O projeto foi realizado no âmbito de uma parceria entre os grupos de pesquisa GCODS - Grupo de Pesquisa em Gênero, Comunicação, Democracia e Sociedade e DIZ - Grupo de Pesquisa em Discursos e Estéticas da Diferença. Tais discussões foram essenciais para o delineamento conceitual empreendido nesse texto. ,2 2 Este trabalho é resultante de dois artigos apresentados em congressos, como forma de aprimoramento científico dos argumentos levantados durante o andamento do projeto de pesquisa citado em nota anterior. Tratam-se dos artigos “Comunicação organizacional, microcefalia e estéticas da diferença: análise de discursos do Governo Federal frente à epidemia do vírus do Zika” e “Comunicação organizacional, identidades e estéticas da diferença: análise de 2 (dois) anos dos discursos do Governo Federal frente à epidemia do vírus Zika”, apresentados, respectivamente, nos eventos IV Seminário Internacional de Comunicação Organizacional - Sico (que ocorreu entre 07 e 09 de novembro de 2018 na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) - Belo Horizonte - MG) - e XIII Congresso da Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação Organizacional e Relações Públicas - Abrapcorp (que ocorreu entre 7 a 9 de maio de 2019 na Faculdade Cásper Líbero - São Paulo - SP). Após as contribuições advindas dos debates acadêmicos, apresentamos este artigo como um compilado dos resultados finais da pesquisa.

Organizational communication, microcephaly and aesthetics of difference: analysis of 2 (two) years of the Federal Government’s discourses in face of the Zika virus’ epidemic

Resumo

Este artigo objetiva analisar formas de afetação da diferença presentes na comunicação organizacional do governo federal em meio ao contexto do aumento do número de nascimentos de crianças com microcefalia no Brasil, durante a epidemia do vírus Zika, entre novembro de 2015 e novembro de 2017. Suas bases conceituais discutem a comunicação e o regime estético das/nas organizações, diante da aparição pública da microcefalia, que afeta discursos oficiais a partir de estéticas da diferença, reveladoras de cenários de vulnerabilidade. A metodologia pautou-se por uma análise interpretativa do discurso organizacional, tendo como suporte empírico publicações sobre a microcefalia no Blog da Saúde, do Ministério da Saúde. Como resultados, os tratamentos discursivos sinalizam, progressivamente, posturas de: impassibilidade (em relação a mulheres/crianças); erradicação do vetor (prioridade da ação pública); confissão (admissão circunscrita de um desafio de saúde pública); admissão expandida; atribuição de aparência (naturalidade); e atrofiamento (microcefalia associada unicamente à erradicação do vetor). Conclui-se que, à exceção dos tratamentos de admissão expandida e atribuição de aparência, todos os outros revelam abordagens que podem colaborar com o apagamento da existência de seres humanos, com visíveis marcas sociais de vulnerabilidade, por apostas discursivas que, ironicamente, reforçam uma personificação do vetor transmissor do Zika.

Palavras-chave:
Comunicação Organizacional; Estética; Diferença; Microcefalia; Vírus Zika

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