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Mudanças e continuidades na reflexão sobre gênero, sexualidade, raça e classe na América Latina

O Número 37 de Sexualidad, Salud y Sociedad - Revista Latinoamericana é especialmente significativo na trajetória da publicação e no trabalho coletivo que a materializa. Formalmente traz algumas mudanças editoriais importantes. Adotamos o sistema de publicação contínua, nova modalidade em que há um único número anual, cujos artigos são publicados à medida que são aprovados, o que imprime nova dinâmica à rotina do trabalho que desenvolvemos desde o lançamento da revista em 2009. A substituição de seus três números anuais por um número único implicou um processo (ainda em curso) de adaptação de toda a Equipe Editorial. Para além, é certo, de ter substituído três momentos de aumento de ritmo e tensão, que precediam a publicação quadrimestral, por um, concentrado agora no encerramento de um único número. Ainda sob o aspecto formal, procedeu-se também à atualização da política editorial, além de termos criado a seção Entrevistas.

Coordenada a partir do Brasil e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Sexualidad, Salud y Sociedad vive vicissitudes particulares. Algumas são muito concretas, como a progressiva escassez de recursos públicos brasileiros voltados ao apoio a publicações científicas e ao campo científico em geral. Outras são mais abstratas e dizem respeito aos desafios colocados aos saberes científicos acerca da sexualidade sobre um pano de fundo em que prevalece a ideia de que a moralidade sexual pública, ou seja, aquela incorporada às políticas públicas, leis, decisões judiciais e ao ensino público deve refletir a moralidade sexual da maioria (supostamente evangélica e católica) e configurar, portanto, o modo como o Estado (universidades incluídas) a regula.

Não iremos abordar aqui substantivamente o conteúdo dos textos publicados nesse Número. Seu conjunto continua a refletir a riqueza da reflexão latino-americana sobre temas cruciais como racismo, covid-19, violência obstétrica, masculinidade, população LGBTQIA+, corporalidades, gênero, migração, deslocamentos urbanos, HIV-AIDS (apenas para destacar alguns), situados no horizonte das agendas articuladas sob a consigna dos “direitos sexuais e reprodutivos” nos últimos cinquenta anos. Destacamos, mesmo assim, o artigo do sociólogo Eric Fassin, que abre o presente Número, mas o conecta ao número anterior, uma vez que se produz em diálogo com a reflexão da antropóloga colombiana Mara Viveros Vigoya (2020VIVEROS VIGOYA, Mara. 2020. “Los colores del antirracismo (en Améfrica Ladina)”. Sexualidad, Salud y Sociedad - Revista Latinoamericana, n. 36 p.19-34. http://doi.org/10.1590/1984-6487.sess.2020.36.02.a
https://doi.org/10.1590/1984-6487.sess.2...
) publicada no Número 36 de Sexualidad, Salud y Sociedad. O diálogo dos dois, originalmente um “dueto” ocorrido no âmbito da 32ª Reunião Brasileira de Antropologia realizada entre 3 de outubro e 6 de novembro de 2020, impulsiona a necessária continuidade dos debates sobre a importância da reflexão articulada (interseccionada) sobre gênero, sexualidade, raça e classe para a dinâmica das lutas antirracistas, antissexistas e anti-lgbtqia+fobia em diferentes países ladino-amefricanos, na expressão cunhada pela antropóloga brasileira Lélia Gonzalez, oportunamente lembrada por Viveros em seu artigo.

Ressaltamos também que, nesse Número, a nova seção é inaugurada com duas entrevistas que cruzam reflexões feministas e maricas - para utilizar a categoria proposta em uma delas - tendo, como entrevistadas, a antropóloga brasileira Maria Filomena Gregori, professora da Unicamp e pesquisadora do Núcleo de Estudos Pagu e o intelectual ativista boliviano Edgar Soliz Guzmán. Como entrevistadores, respectivamente, a antropóloga Sílvia Aguião e o sociólogo Nicolas Wasser.

Na Seção Resenhas, destacamos a apresentação do histórico livro da saudosa psiquiatra e psicanalista Neuza Santos Souza, Tornar-se negro ou As vicissitudes da identidade do negro brasileiro em ascensão social (1983), merecidamente reeditado.

A Equipe Editorial de Sexualidad, Salud y Sociedad percebe o seu o seu Número 37 como mais um fruto do comprometimento de toda uma extensa rede de profissionais com os estudos sobre sexualidade e saúde desenvolvidos a partir das perspectivas e abordagens das ciências humanas e sociais. Gostaríamos aqui de reconhecê-la e agradecer. Em uma camada mais expandida dessa rede, a Revista existe pelo contínuo apoio de quem nos confia seus textos, seja na forma de artigos, de resenhas e agora, com a criação da Seção Entrevistas, também de depoimentos, relatos de trajetórias e diálogos. Em uma camada mais interna, a Revista conta com o apoio de seu Conselho Editorial, que reúne pesquisadores e intelectuais que atuam na América-Latina ou que produzem conhecimento significativo sobre ou para o desenvolvimento das temáticas da Revista na Região. Ainda mais próximos à lida cotidiana com o processo editorial, temos pareceristas, especialistas de toda a Região que graciosamente (nos vários possíveis sentidos da expressão) são cruciais para o processo editorial. Agradecemos nominalmente ao final deste Editorial às pessoas que, como pareceristas, colaboraram com a Revista ao longo de 2021.

No círculo do fazer cotidiano, a Revista tem existido pelo competente trabalho de estudantes e de profissionais dedicados à pesquisa, ao ensino e ao apoio técnico, vinculados à UERJ e, através do Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM), ao seu Instituto de Medicina Social. Nesse círculo, agradecemos o trabalho desenvolvido até o corrente ano pela professora Cláudia Mora, que deixa a Equipe Editorial, e damos boas vindas à equipe ao professor Horacio Sívori, à pesquisadora e pós-doutorado Bárbara Pires, ao técnico Marcos Paulo Nascimento e à bolsista e graduanda da UERJ, Ethiene Costa, que, junto com as bolsistas do CLAM, tem cuidado da divulgação da Revista no Facebook, no Twitter e no Instagram, além do próprio site do CLAM. Ao trabalho mais cotidiano da Equipe Editorial, tem se agregado com certa regularidade o trabalho de colegas de outros centros de pesquisa e de reflexão que submetem à Revista propostas de dossiês. Neste número publicamos o Dossiê Autoetnografias, escritas de si e produções de conhecimento corporificado. Como ressaltam Fabiene Gama, Gustavo Antonio Raimondi e Nelson Filice de Barros em sua Apresentação, trata-se de uma coletânea pioneira que visa propiciar uma base conceitual mais sólida para as pessoas que se proponham a explorar o campo da autoetnografia, além de oferecer um conjunto de possibilidades narrativas e metodológicas. Como escrevem: “São trabalhos que falam sobre morte, doença crônica, deficiência, maternidade, produção de conhecimento, justiça social e outros temas. E provêm de áreas do conhecimento tão diversas quanto a Antropologia, a Sociologia, a Comunicação e a Saúde Coletiva”.

Desejamos, enfim, às pessoas que leem a nossa Revista, que aproveitem os textos disponibilizados pelo Número 37. Mesmo atravessando momento histórico adverso em tão múltiplos sentidos, temos alguma razão para comemorar.

A equipe editorial

Nominata de Pareceristas - Sexualidad, Salud y Sociedad - Revista Latinoamericana - 2021

Alessandra Rinaldi; Alexandre Goncalves; Ana Paula da Silva; Ana Paula Jacob; Angelo Brandelli Costa; Anna Vencato; Aureliano Silva Junior; Barbara Gomes Pires; Bruno Dallacort Zilli; Camila Firmino; Camilo Albuquerque de Braz; Carla Gomes; Carlos Henning; Carolina Parreiras Cezar Nogueira; Claudia Carneiro da Cunha; Cleiton Vieira do Rego; Cristina Dias; Cristina Herrera; Cyntia Hernández; Daniela Conegatti Batista; Diego Sempol; Djenane Oliveira; Ernesto Meccia; Fabiano Gontijo; Fátima Weiss de Jesus; Fernanda Belizario; Gibran Teixeira Braga; Giovana Tempesta; Guilherme Passamani; Gustavo Saggese; Heloisa Buarque de Almeida; Henrique Nardi; Ianne Macêdo; Jaciane Milanezi; Jair Ramos; Janaína Hallais; Jimena de Garay Hernández; José Miguel Nieto Olivar; Lara Facioli; Leila Auxiliadora Sant’ Ana; Luciana Hartmann; Luís Augusto Vasconcelos da Silva; Luisa Fernanda Espitia Pérez; Luiz Augusto Vieira Júnior; Marcio Zamboni; Marcos Nascimento; Margareth Gomes; Mariana Pombo; Martinho Tota; Matheus França; Mauro Brigeiro; Nádia Meinerz; Natalia Magnone Alemán; Nicolas Wasser; Núria Calafell Sala; Olívia Nogueira Hirsh; Otávio Contatore; Pâmela Siegel; Pedro Lopes; Ramon Reis; Raphael dos Santos; Roberto Efrem Filho; Rodrigo Parrini; Rogerio Azize; Sara Souza Mendonça; Sigifredo Leal Guerrero; Silvana Nascimento; Simone Mendonça; Soraya Fleischer; Telma Low Silva Junqueira; Thiago Coacci; Thiago Melício; Thiago Soliva; Tiago Duque; Victor Hugo Barreto; Victoria Barreda; Vitor Andrade.

Bibliografía

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Fev 2022
  • Data do Fascículo
    2021
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