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Soldagem??? Hirrrrrrrcc!!!

EDITORIAL

Fui solicitado, meio que de surpresa, a preparar o Editorial para o próximo número de S&I. Confesso que não tenho lido muito a revista, embora tenha sempre colaborado, e até bem intensamente, como revisor de artigos, durante pelo menos 10 anos. A primeira coisa que fiz foi ver o que tem sido apresentado nos editoriais dos últimos seis números.

Em 2010, os Profs. Paulo J. Modenesi e Alexandre Q. Bracarense falam da necessidade de mais colaboradores para a revista, em todos os níveis, no primeiro número. Na edição seguinte, os Profs. Alejandro D. Scotti e Rafael Q. Puchol falam dos trabalhos do CIS em Cuba e sua interação com outras instituições, além do papel de S&I na divulgação dos trabalhos. Na revista seguinte, o Prof. Stephen Liu fala da falta de pessoal e incentivos para a área de soldagem nos EE.UU., situação que não é muito diferente no Brasil, agravada pela pouca normalização nacional, como registra o Prof. Sérgio R. Barra, no último número de 2010, além de ressaltar o papel da Petrobras no desenvolvimento da soldagem nacional. Em 2011, novamente o prof. Alexandre Q. Bracarense fala da necessidade de mais artigos e colaboradores para se manter a revista, além de ampliar o rol de assuntos tratados, particularmente os Ensaios Não Destrutivos, os END. No último número publicado, a Profa. Luísa Quintino fala da "I European-South American School of Welding and Correlated Processes", realizada em maio de 2011 em Ouro Preto/MG e seus desdobramentos.

Embora com pouco tempo para refletir mais profundamente, alguns fatos chamam a atenção: primeiro, todos esses editoriais foram escritos por profissionais da academia, nenhum da indústria; segundo, vem ocorrendo uma diminuição no interesse pela área de fabricação em geral e pela soldagem em particular, apesar do reconhecimento de sua importância estratégica; terceiro, há dificuldade em se conseguir artigos e colaboradores para manter a Revista S&I com a qualidade e periodicidade necessárias; e por fim, faltam concentração e coordenação na ação dos diversos setores interessados para se minorar esses problemas, nas esferas do governo, das empresas e das escolas.

A mim, parece evidente que esses são assuntos interligados e que não podem ser tratados de forma independente. A soldagem e técnicas conexas teem uma grande importância estratégica, aparentemente reconhecida por todos, mas que não resulta em políticas e práticas de incentivo e reconhecimento profissional, revelada pelos baixos salários, pouco ou nenhum incentivo à especialização real e pouca ou nenhuma valorização do conhecimento técnico/científico específico.

A indústria reclama de falta de recursos humanos capacitados, mas não promove nem valoriza a capacitação profissional nem o conhecimento técnico. A pesquisa é feita apenas na academia, com o objetivo de se publicar, não interessa o que, apenas "quilos e quilos" de artigos inúteis e requentados, que alimentam as estatísticas governamentais. Os problemas técnicos são escondidos ou ignorados ou, quando isso não é mais possível, resolvidos com a compra de consultoria ou tecnologia externa à empresa ou ao país, solução que muitas vezes não se sustenta, por falta de pessoal capaz.

As escolas "inventam" cursos de treinamento, com um olho na técnica e outro, bem mais gordo, no mercado. Alunos têm de investir seu tempo e recursos na realização de cursos de treinamento "da moda", que de uma hora para outra podem perder todo seu valor.

Um exemplo emblemático é a procura de advogados, economistas, odontólogos e profissionais de outras áreas completamente alheias à técnica pelos cursos de "Inspetor de Soldagem". Enquanto esses "burocratas da soldagem" recebem salários supervalorizados, os técnicos da fabricação, que realmente entendem de soldagem e seus problemas e são os verdadeiros responsáveis pela fabricação, se perguntam se vale a pena ter conhecimento e competência técnica ou investir para adquiri-los.

Li uma nota há poucos dias atrás, numa importante revista semanal de circulação nacional, sobre o vexame da tentativa de fabricação de grandes navios petroleiros no país, anunciada no governo passado com grande estardalhaço. É outro exemplo típico de que faltam conhecimentos, engenheiros, técnicos e operários devidamente capacitados para essa e outras empreitadas envolvendo soldagem, e em muitas outras áreas, claro.

Neste quadro, não surpreende que a nossa S&I carece de pessoal e material para levar avante seus objetivos e ideais. Há pouca pesquisa, tanto em quantidade e qualidade, não por falta de demanda, mas por falta de incentivos reais e valorização do que realmente interessa. Há poucos profissionais disponíveis e capazes para colaborar, pelos mesmos motivos, na indústria, na escola, no governo.

Depois dessas reflexões e desabafos, apesar de todos os problemas, venho mais uma vez conclamar os colegas, particularmente os da área de inspeção e END, para fazermos um esforço no sentido de começar a mudar essa situação, enviando artigos, agilizando os processos de revisão, discutindo os problemas e propondo soluções, não aquelas "de efeito retórico", mas aquelas que realmente vão ao encontro de nossos anseios e das necessidades do país.

Prof. Paulo Villani Marques

Depto Enga. Mecânica - UFMG

  • Soldagem??? Hirrrrrrrcc!!!

    Depois de mais de duas décadas de atuação intensa na área de ensino, pesquisa e extensão em soldagem, decidi há alguns anos atrás me afastar da pesquisa e da pós-graduação, por uma série de razões que já discuti no BOLETIM da UFMG (Nº 1344 - Ano 28 - 11.04.2002 e Nº 1650 - Ano 35 - 27.4.2009. Depois disso, tenho militado no ensino de soldagem na graduação em engenharia mecânica na UFMG e no treinamento de profissionais de nível técnico e superior, atuantes na indústria, em cursos da UFMG e outras instituições. Com isso, meu contato com a "área científica" ficou reduzido.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      27 Out 2011
    • Data do Fascículo
      Set 2011
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